Aluno: Bernardo Leite Orientador: Rômulo Barroso
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1 Departamento de Ciências Biológicas MIGRAÇÃO VERTICAL DA MEIOFAUNA BENTÔNICA, EM ZONAS ENTREMARÉS, NA PRAIA DO LEBLON, RIO DE JANEIRO/BRASIL. Aluno: Bernardo Leite Orientador: Rômulo Barroso Introdução A meiofauna bentônica tem como definição metazoários distinguidos como menores que a macrofauna, com limites de tamanho formal baseado na largura de malha padronizada das peneiras com 500 micrometros como limite superior e 44 micrometros como limite inferior [1]. Os organismos da meiofauna se movimentam verticalmente e horizontalmente através de espaços entre os grãos de areia, sem ocorrer movimento dos mesmos. Quando descritos os hábitats da meiofauna, a granulometria é um fator chave que determina as condições espaciais e estruturais diretas e indiretas do meio físico e químico do ambiente [2]. Esse grupo é composto por um grande número de filos animais que possuem como principal adaptação ao ambiente intersticial a forma alongada do corpo, que permite o deslocamento pelos interstícios do sedimento. Dentre os filos mais abundantes e diversos na meiofauna, podemos destacar: Annelida, Nematoda, Platyhelmintes, Nemertea e Arthropoda, entre outros. Seu pequeno tamanho, juntamente com dificuldades na extração da meiofauna dos sedimentos e na identificação de espécies pertencentes a diferentes taxas, são provavelmente os principais obstáculos para o estudo da meiofauna bentônica [3][4]. A migração vertical da meiofauna bentônica ao longo da coluna de sedimento está diretamente relacionada a fatores de mudança de gradientes, como as migrações durante os ciclos de marés, onde os organismos tendem a se enterrar durante as marés baixas para evitar a dessecação durante a ausência de água, retornando durante a subida das marés [5]. Apesar desse conhecimento teórico, poucos estudos demonstraram esse comportamento da comunidade meiofaunal durante os ciclos de marés. Nesse contexto, esse projeto tem como objetivo estudar as distribuições verticais das espécies da meiofauna bentônica durante a descida da maré em uma praia urbana do município do Rio de Janeiro-RJ. Objetivo O objetivo deste estudo é descrever as distribuições das espécies em diferentes estratos verticais do sedimento ao longo do tempo de de uma descida de maré, em uma praia urbana do Rio de Janeiro. Metodologia
2 As coletas foram realizadas na praia do Leblon, no município do Rio de Janeiro/RJ, Brasil, no dia 19 de maio de 2016, entre as 14hs e 18hs, em frente ao posto 11. A praia possui características de praia refletiva, com média declividade, tamanhos de grãos maior e incidência de ondas sobre a face da praia [6]. As variáveis meteorológicas e oceanográficas utilizadas foram retiradas do portal SiMCosta, são elas: temperatura média do ar; altura média onda; direção média da corrente; temperatura média da água; umidade média. Foram realizadas 5 amostras no mesmo ponto, com intervalos de 1 hora entre cada amostragem (Figura 1). Em cada amostragem, foram coletados três extratos de sedimento (0-10 cm; cm e cm) num mesmo local, com três réplicas independentes de cada extrato, totalizando nove amostras para cada tempo.. Figura 1. Amostras e intervalos durante a descida da maré. Após o término da coleta, as 45 amostras foram levadas para o laboratório para fixação. As amostras foram anestesiadas com água do mar e cloreto de magnésio, e posteriormente fixadas em frascos de 75ml, com 9ml de solução de em Glutaraldeído, considerado um excelente fixador por ter propriedades de penetração e por precipitar prontamente as substâncias proteicas da célula, assegurando ótima preservação da ultraestrutura [7]. Uma pequena fração de cada amostra foi retirada para posterior análise granulométrica. As amostras foram então triadas em laboratório a partir de um microscópio estereoscópio, e posteriormente quantificadas. Após o término da triagem das 45 amostras, foram feitas análises de Anova comparando os três estratos ao longo do tempo, tendo com tratamentos os extratos. Após a Anova, foi utilizada a análise de Student Newman-Kouls para saber quais extratos se diferenciam dos outros em cada tempo. Resultados e Discussão Dentre as espécies coletadas, foram escolhidas as quatro espécies mais abundantes para serem estudadas, sendo dois representantes do filo
3 Platyhelminthes (um Kalyptorhynchiea e um Proseriata), um representante do filo Annelida (Oligochaeta) e um do filo Nematoda. Foram quantificados um total 970 indivíduos do grupo Kalypthorhynchiea, 600 oligochaetas, 112 proseriatas e 200 nematodas. Para cada grupo foi realizado um gráfico de barras para análise da abundância da mesma, em diferente tempos e estratos. Em cada barra é apresentado também o intervalo de confiança, com 95% de confiabilidade para cada estrato em cada tempo. Figura 2: Abundância de cada grupo em cada extrato (eixo y) ao longo do tempo (eixo x). Cinza escuro: 0-10cm; cinza: 10-20cm; cinza claro: 20-30cm. de barra com desvio padrão para as seguintes grupos: A. kalypthorhynchiea; B. Oligochaeta; C. Proseriata; D. Nematoda. De acordo com os gráficos, no grupo kalipthorhynchiea foi observado um aumento da abundância no estrato superior 0-10 e um declínio nos estratos inferiores a partir do tempo inicial ao final de coleta (Figura 2A). Em oligochaeta a abundância também sofreu um aumento no estrato superior ao longo do tempo, já no estrato intermediário 10-20, a abundância demonstrou um aumento do primeiro para o segundo tempo, e depois estabilizou. No estrato inferior a abundância se comportou de maneira irregular com aumentos e declínios ao longo do tempo (Figura 2B). Em proseriata a abundância também se mostrou irregular, porém está nos três estratos ao longo do tempo (Figura 2C). Em nematoda o gráfico demonstra um aumento da abundância do estrato superior do tempo 3 ao tempo 4 e os estratos inferiores apresentaram um declínio (Figura 2D).
4 A partir das análises de anova foi observado diferença significativa para Kalypthorhynchiea, Oligochaeta e Proseriata, quando comparado os extratos ao longo do tempo. Para o grupo dos Nematodas não se obteve diferença significativa, com um valor de F maior que 5%, considerando uma confiabilidade de 95% (Tabela 1). Tabela 1: Resultados da análise de Anova (valor de F) quando comparado os estratos entre os tempos, os estratos entre si e os tempos entre si. Grupos Valor de F comparando estratos e tempo Valor de F comparando estratos entre si Valor de F comparando tempos entre si. Oligochaetas ** * * Kalypthorhynchiea *** n/s * Nematoda n/s n/s n/s Proseriata * * n/s Com os resultados do teste de Student Newman-Kouls (Tabela 2), obteve-se para kalypthorhynchiea, no tempo 1, o estrato superior 0-10 mostrou-se diferente dos estratos inferiores, porém o estrato intermediário (10-20) e o inferior (20-30) não se diferenciavam. No tempo 2 não houve diferença significativa entre os estratos. No tempo 3, o estrato superior se diferenciou do estrato superior. No tempo 4, o estrato inferior se diferenciou dos estratos intermediário e superior. E no tempo 5, o estrato superior se diferenciou dos demais estratos inferiores. Para oligochaetas, no tempo 1 o estrato inferior se diferenciou dos outros dois estratos, e no tempo 2 o estrato superior se diferenciou dos dois estratos, não havendo diferença entre eles. O tempo 4 não apresentou diferenças significativa entre os estratos. Em proseriata, no tempo 1 todos os estratos se diferenciam e no tempo 4 e 5 o estrato inferior se diferenciou dos estratos intermediário e superior. Nos tempos 2 e 3 não houveram diferenças significativas entres os estratos. Quando feitas as análises para o grupo nematoda comparando tempo e estratos, não foram apresentadas diferenças significativas entre eles. Tabela 2: Resultados do teste de Student Newman-Kouls, no qual nas linhas se encontram as amostras comparadas entre elas em cada tempo e nas colunas os grupos. Para * representam valores de P entre 0.01 e 0.05; Para ** valores entre 0,001 e 0,01; Para *** valores menores que 0,001; Para N/S valores não significativos, maiores de 0,05, onde não há diferença.
5 Amostras\Táxons Tempo 1 Tempo 2 Tempo 3 Tempo 4 Tempo 5 Kalyptorhynchiea Oligochaeta Proseriata Nematoda 0-10/10-20 *** N/S ** N/S 10-20/20-30 N/S * * N/S 0-10/20-30 *** *** *** N/S 0-10/10-20 N/S ** N/S N/S 10-20/20-30 N/S N/S N/S N/S 0-10/20-30 N/S *** N/S N/S 0-10/10-20 N/S * N/S N/S 10-20/20-30 N/S * N/S N/S 0-10/20-30 * *** N/S N/S 0-10/10-20 N/S N/S N/S N/S 10-20/20-30 * N/S ** N/S 0-10/20-30 ** N/S *** N/S 0-10/10-20 * ** N/S N/S 10-20/20-30 N/S ** * N/S 0-10/20-30 ** *** ** N/S padrões de migração vertical da meiofauna apresentada se mostraram irregulares em alguns grupos e não tão precisos em outros, diferente da hipótese inicial de enterramento para os grupos durante a descida da maré. Algumas variáveis ambientais como a forte precipitação no dia da coleta podem explicar esse processo. Pelo dia da coleta ter tido um índice de precipitação alto, a água doce da chuva pode ter influenciado na migração dos organismos, com um padrão fora do normal, tanto para cima, como para baixo. Para melhor compreender de que forma a precipitação pode ter influenciado nesse processo de migração da meiofauna durante essa coleta, uma réplica desse estudo será realizado em um dia com condições meteorológicas diferentes. Referências Bibliográficas [1] Mare, M. (1942) - A study of marine benthic community with special reference to the microorganism. J Mar Biol Ass UK [2;5] Joint, I.R; Gee, J.M; Warwick, R.M (1982). - Determination of fine scale vertical distribution of microbes and meiofauna in an intertidal sediment. Mar Biol 72: [3] Austen, M.C; McEvoy, A.J; Warwick, R.M (1994) - The specificity of meiobenthic community responses to different pollutants: results from microcosm experiments Mar. Pollut. Bull., 28, pp [4] Harguinteguy, C.A; Cofré, M.N; De Ward, C.T (2012)- Change in the meiofauna community structure of sandy beaches of the Nuevo Gulf (Chubut, Argentina) Pap. Avulsos de Zool. (SÃO Paulo), 52 (34), pp [6] Sperle, M.; Araújo, l.; Martins, C. (1999) - Dinâmica sedimentar em praias arenosas holocênicas: Uma Proposta Metodológica. ABEQUA - Congresso da Associação Brasileira de Estudos do Quaternário, 1(7), Porto Seguro, Brasil. [7] Castro, L (2002) - Processamento de amostras para microscopia eletrônica de varredura. Embrapa 1ª edição. Pelotas, RS. Editado por Oscar Castro. Os
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