19 22 de Outubro de 2014, MINASCENTRO, Belo Horizonte MG



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Transcrição:

2º Simpósio Brasileiro de Saúde e Ambiente 19 22 de Outubro de 2014, MINASCENTRO, Belo Horizonte MG Eixo 1. Desenvolvimento socioeconômico e conflitos territoriais DESENVOLVIMENTO CAPITALISTA E SEUS IMPACTOS NA SAÚDE AMBIENTAL DA POPULAÇÃO DO CABO DE SANTO AGOSTINHO, PERNAMBUCO Carlos Wendell Pedrosa dos Santos Universidade Federal da Paraíba. wendell_santo@yahoo.com.br

RESUMO: Com o surgimento do sistema capitalista de produção, a industrialização trouxe novas formas de interação do processo homem-natureza. O meio ambiente, começa a sofrer os impactos mais devastadores de tal processo. Essa mudança acarreta problemas em todos os níveis, sendo a saúde um dos mais impactados, demonstrando a interdependência das alterações no meio ambiente e as repercussões na saúde humana. A questão da destruição do meio ambiente e seus impactos na saúde da população, não devem continuar sendo analisadas de forma separadas. Trazendo essa análise para a realidade, o município do Cabo de Santo Agostinho oferece um campo extenso para compreensão da relação saúde degradação ambiental doença, pois, os processos de destruição ocasionados pelos projetos industriais que compõe a lógica capitalista de produção rebatem de forma intensa na população que sofre com a exclusão e a desigualdade e, sobretudo, com a precarização da saúde. A construção do Complexo Industrial e Portuário de Suape mudou de forma significativa a realidade de muitos municípios do estado de Pernambuco, mas o Cabo de Santo Agostinho vive em contínua modificação. Construção de estradas, viadutos, destruição de ecossistemas, expulsão de comunidades inteiras, faz com que o reflexo de um crescimento econômico não seja considerado um desenvolvimento social, até porque, pouco foi investido em programas de saúde, saneamento e lazer para a população local e os migrantes que procuram um posto de trabalho. Sem dúvida a saúde ambiental é afetada e faz-se necessário uma mudança nos aspectos atuais de desenvolvimento. PALAVRAS-CHAVE: Desenvolvimento; Industrialização; Meio Ambiente; Saúde. Este artigo é fruto do projeto de dissertação, em andamento, vinculado a Pós- Graduação em Serviço Social da Universidade Federal da Paraíba.

TÍTULO: Desenvolvimento capitalista e seus impactos na saúde ambiental da população do Cabo de Santo Agostinho, Pernambuco. RESUMO: Com o surgimento do sistema capitalista de produção, a industrialização trouxe novas formas de interação do processo homem-natureza. O meio ambiente, começa a sofrer os impactos mais devastadores de tal processo. Essa mudança acarreta problemas em todos os níveis, sendo a saúde um dos mais impactados, demonstrando a interdependência das alterações no meio ambiente e as repercussões na saúde humana. A questão da destruição do meio ambiente e seus impactos na saúde da população, não devem continuar sendo analisadas de forma separadas. Trazendo essa análise para a realidade, o município do Cabo de Santo Agostinho oferece um campo extenso para compreensão da relação saúde degradação ambiental doença, pois, os processos de destruição ocasionados pelos projetos industriais que compõe a lógica capitalista de produção rebatem de forma intensa na população que sofre com a exclusão e a desigualdade e, sobretudo, com a precarização da saúde. A construção do Complexo Industrial e Portuário de Suape mudou de forma significativa a realidade de muitos municípios do estado de Pernambuco, mas o Cabo de Santo Agostinho vive em contínua modificação. Construção de estradas, viadutos, destruição de ecossistemas, expulsão de comunidades inteiras, faz com que o reflexo de um crescimento econômico não seja considerado um desenvolvimento social, até porque, pouco foi investido em programas de saúde, saneamento e lazer para a população local e os migrantes que procuram um posto de trabalho. Sem dúvida a saúde ambiental é afetada e faz-se necessário uma mudança nos aspectos atuais de desenvolvimento. INTRODUÇÃO Segundo Assunção Filho et al (2010), desde a revolução industrial, o meio ambiente passou a sofrer alterações significativas, resultantes de uma corrida desenvolvimentista liderado pelos países detentores de capitais para investimento tecnológico. O Brasil na década de 1950 começa sua industrialização baseada na lógica desenvolvimentista, mudando assim, estruturas econômicas que não se encaixavam nesse modelo. Silva (1981) demonstra que a industrialização (urbano) era apresentada como a fórmula milagrosa, capaz de gerar o desenvolvimento, e o setor agrícola (campo) responsável pelo atraso deveria ceder a sua posição dominante na economia. A modernização do campo implicou na urbanização de áreas que antes eram rurais. Ao analisar as continuidades e descontinuidades da urbanização capitalista e o

fato de que se vive um período de mudanças, Santos (1999) propôs a noção de aceleração contemporânea representado por uma sucessão rápida de alterações nas formas de produção do espaço urbano e nas práticas socioespaciais que eles favorecem. Zuquim (2007), na discussão sobre o processo de urbanização, afirma que os municípios em geral não possuem infraestrutura urbana para acompanhar o ritmo de crescimento urbano-industrial preconizado pelos projetos de intervenção do Estado, mas no processo, os gestores estatais e privados esqueceram que ele estava cheio de seres humanos e de organizações sociais. Neste processo, tem-se um acréscimo de novas obras dos homens, a criação de um novo meio a partir daquele que já existia: o que se costuma chamar de natureza primeira já é natureza segunda no novo centro urbano. Dentro deste contexto, o município do Cabo de Santo Agostinho, teve sua economia centrada no desenvolvimento da monocultura da cana-de-açúcar até os anos de 1950. No começo do processo de mudança da base econômica do país o Cabo de Santo Agostinho, tornou-se o centro das atenções da dinâmica econômica de Pernambuco. O Cabo agrícola, exportador, da monocultura açucareira, transforma-se no Cabo Industrial. Apesar da presença forte da cultura da cana ocupando vasta área de seu território, surge o novo Cabo sincronizado com o país da modernização. Esse processo de mudança não alterou apenas a realidade da população, mas também e de forma significativa vem provocando impactos socioambientais com agravamento das condições de saúde da população no município do Cabo e seu entorno. OBJETIVOS Analisar como o desenvolvimento do Complexo Industrial e Portuário de Suape, afeta a saúde e o meio ambiente da população do Cabo de Santo Agostinho PE. MÉTODO A metodologia da pesquisa, dentro de um enfoque da teoria crítica, será abordada a partir de uma perspectiva totalizadora dos fenômenos, compreendida como a mais fecunda para analisar os problemas sociais no momento em que privilegia uma análise que leva em consideração a contradição, a mudança, o momento histórico, a totalidade. Do ponto de vista da abordagem do problema a pesquisa possui um caráter qualitativo, sob o enfoque da pesquisa de campo.

RESULTADOS Em Pernambuco, a Zona da Mata Sul que é composta por 19 municípios, ocupando uma área de 8.738 km2, era conhecida como "região canavieira". Isso porque, constituiu-se uma das regiões de maior potencial econômico do Nordeste, pelos recursos naturais disponíveis (água, solo, etc.), pelas vantagens locacionais (em torno da Região Metropolitana do Recife), com razoável infra-estrutura econômica (próxima a estradas, portos marítimos, aeroportos) e abundante contingente de mãode-obra (ANCORA). Dentre os municípios da Mata Sul, localiza-se o Cabo de Santo Agostinho. O município do Cabo de Santo Agostinho situa-se na porção Sul da Região Metropolitana do Recife (RMR), participando da micro-região do Complexo de SUAPE, no Estado de Pernambuco. Segundo o IBGE (2010), o município possui uma população de 185.025 habitantes, dos quais 87% correspondem à população urbana e menos de 13 % da população rural, tendo uma incidência de pobreza de 57,1%. Dentro deste contexto, o município do Cabo, teve sua economia centrada no desenvolvimento da monocultura da cana-de-açúcar até os anos de 1950. O Setor Canavieiro de Pernambuco, no entanto, não conseguiu estabelecer um processo de desenvolvimento dinâmico, o monopólio da terra garantiu a monocultura canavieira e inibiu o surgimento de outras atividades econômicas, gerando problemas estruturais, tais como: desemprego (estrutural e sazonal) e subemprego, déficits sociais elevados e a degradação do meio natural (ANCORA). No começo do processo de mudança da base econômica do país o Cabo de Santo Agostinho, tornou-se o centro das atenções da dinâmica econômica de Pernambuco. O Cabo agrícola, exportador, da monocultura açucareira, transforma-se no Cabo Industrial. Apesar da presença forte da cultura da cana ocupando vasta área de seu território, surge o novo Cabo sincronizado com o país da modernização. O Cabo Industrial traz consigo perspectivas da diversidade (agrícola e industrial) que ainda está em processo de formação. (BERNARDO, 2006) Segundo Gehlen (2007, 2010) a partir dos meados do século passado, tem início, na área, o processo de urbanização acelerada e desordenada, o que é reforçado, a partir dos anos 60, com a implantação, às margens da BR-101 Sul, do Distrito Industrial do Cabo, primeiro pólo industrial de Pernambuco, atraindo grande número de vilas industriais para a sede. Ainda para a autora, outro importante fluxo de urbanização se deu a partir dos anos 1970, com a construção do Complexo Industrial e Portuario de Suape - CIPS, e do Projeto Turístico Costa Dourada, formando um Polo de Desenvolvimento

Econômico no território da Mata Sul de Pernambuco. Conforme a autora, tal desenvolvimento significou que um elevado número de moradores vinculados às pequenas atividades rurais foram expropriados ou indenizados pelas suas terras vindo fixar-se nos núcleos urbanos da sede do municipios ou em suas imediações. Todos esses processos de mudança no município do Cabo de Santo Agostinho fez surgir várias comunidades e entre elas está a Charneca, Charnequinha e Novo Horizonte. Esse processo de mudança não alterou apenas a realidade da população, mas também e de forma significativa vem provocando impactos socioambientais com agravamento das condições de saúde da população no município do Cabo e seu entorno. Áreas de mangue, matas e encostas, barragem dos rios são utilizadas na construção de grandes investimentos públicos e privados, que não levam em consideração os danos e riscos socioambientais ali causados. O meio ambiente entendido por Coelho (2001) como suporte geofísico condicionante e condicionado pela vida social, sendo historicamente construído mediante o processo de interação entre sociedade e espaço físico é afetado em suas múltiplas dimensões. Freitas (2003) entende que os problemas socioambientais são, simultaneamente, problemas de saúde, uma vez que os seres humanos e a sociedade são afetados. A partir do exposto é possível observa que inúmeros problemas afetam os habitantes do Cabo, não apenas os mais evidentes como a poluição, mas também outros que decorrem de uma rápida mudança ocasionada pela implementação do CIPS como a violência. De acordo com as observações realizadas no local, assim como em conversas informais, dados divulgados pela imprensa, é possível inferir que o número de homicídios e o tráfico de drogas aumentou perceptivelmente com o grande contingente que chegou de outros lugares (cidades e estados). A gravidez de adolescente também chama atenção, assim como o crescimento de doenças sexualmente transmissíveis. A degradação ambiental é permanente. Áreas de mata atlântica foram destruídas para construção de estradas pedagiadas. Boa parte do litoral ostenta construções de torres empresarias e residenciais tirando o sentido público e coletivo da área. As construções impedem que a população se desloque na beira-mar, pois com o avanço do mar, ou a construção cada vez mais próxima a ele, dificultam o acesso e o lazer nessa região. Os investimentos não crescem na mesma proporcionalidade dos lucros do capital na região. Pouco foi feito para aumentar as ações de prevenção de problemas

que acarretam no adoecimento da população. O saneamento básico, por exemplo, continua em muitas áreas do município escorrendo pelas ruas, assim como não existe diariamente coleta de lixo e abastecimento de água potável com regularidade. Doenças como diarréia, infecções e leptospirose ainda fazem parte da realidade. De acordo com Oliveira (2010) essas novas indústrias são recebidas pelos gestores públicos como pela população como progresso, desenvolvimento e geração de empregos. Porém muitas vezes o que se percebe é a exploração de mão de obra não qualificada, importação de serviços (os profissionais de primeiro escalão geralmente são trazidos de outros estados) e os impactos no processo saúde-doença não são avaliados, nem evitados. CONCLUSÃO As transformações que afetam o meio ambiente, intensificadas com a lógica capitalista de produção, como a poluição da água, ar e solo, as mudanças climáticas e atmosféricas, além das questões ligadas ao saneamento, urbanização e industrialização, afetam a saúde humana nas suas múltiplas dimensões: social, biológica, psicossocial e ambiental. Faz-se necessário uma articulação desses fatores no âmbito das políticas governamentais, interferindo assim na totalidade da questão, sem fragmentá-las. A saúde é afetada em suas múltiplas dimensões em alguns casos devido às mudanças que perpassam o crescimento econômico como expulsão dos moradores de suas casas, retiradas de comunidades inteiras e seus deslocamentos para lugares afastados e com alto índice de violência. Saúde e meio ambiente interagem e incidem de forma decisiva na qualidade de vida das pessoas. É necessário numa compreensão de saúde que possa ser entendida numa perspectiva socioambiental, considerando que o sujeito para ser visto como saudável tem que ter acesso a condições socioambientais adequadas. Os investimentos no Cabo de Santo Agostinho não levam em consideração os impactos ambientais e suas repercussões na saúde. A destruição do meio ambiente para construção de estradas, viadutos e empreendimentos imobiliários, leva a um crescimento econômico sem desenvolvimento social, impossibilitando assim, melhores nas condições de vida.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANCORA. A Zona da Mata de Pernambuco. Disponível em: www.ancora.org,br. Acessado em: 20 de setembro de 2011. BERNARDO, J. Sustentabilidade ambiental e sustentabilidade social: os limites e avanços do Programa Coleta Seletiva de Lixo no Município do Cabo de Santo Agostinho, 1998/2004. O AUTOR: 2006. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Pernambuco. CAC. Desenvolvimento Urbano, 2006. COELHO, M. C. N. Impactos ambientais em áreas urbanas teorias, conceitos e métodos de pesquisa. In: GUERRA, A. J. T.; CUNHA, S. B. (Org.). Impactos ambientais urbanos no Brasil. Rio de Janeiro: Bertrabd Brasil, 2001. FREITAS, C. M. de. Problemas ambientais, saúde coletiva e ciências sociais. Ciênc. Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, vol. 8, nº1, 2003. GEHLEN, Vitória. Do rural ao urbano: a conversão do uso da terra na Zona da Mata Sul Pernambuco. Projeto de pesquisa, 2007. GEHLEN, Vitória. Para Além dos Limites do Urbano: áreas Peri-urbanas e questão ambiental. Trabalho apresentado no 37º Encontro Nacional de Estudos Rurais e Urbanos - CERU, São Paulo, 2010. OLIVEIRA, Andrea L. Endemias no território estratégico de Suape Um desafio para vigilância em saúde. Monografia de especialização em saúde pública, Centro de Pesquisa Aggeu Magalhães UFPE, 2010.