GINÁSTICA GERAL NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

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Transcrição:

GINÁSTICA GERAL NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR David Breno Barros Cardozo Erika Cristina de Carvalho Silva RESUMO Este artigo tem como objetivo propor a ginástica geral como àquela que irá nortear as aulas de Educação Física no campo da Ginástica, já que esta é elemento presente da cultura corporal e logo deve ser transmitida na escola. A Ginástica geral deverá ser construída pelos Educadores e Educandos de forma planejada tendo uma proposta pedagógica definida a fim de se construir um conhecimento prazeroso que tem possibilidade de interferir na realidade. Palavras-chave: Ginástica, Ginástica geral, Educação Física ABSTRACT This article aims to propose a general fitness as to what will guide the classes of Physical Education in the field of gymnastics, as it is this element of culture body and then be transmitted in school. The Gym will be built by general educators and students in a planned and defined a pedagogical proposal in order to build a pleasurable knowledge that has the potential to interfere with reality. Key words: Gymnastics, General Gymnastics, Fitness RESUMEN Este artículo tiene por objeto proponer una aptitud general sobre lo que guía a las clases de Educación Física en el ámbito de la gimnasia, ya que es este elemento de la cultura, el cuerpo y luego se transmiten en la escuela. El gimnasio será construido por educadores y estudiantes en general de forma planificada y se define una propuesta pedagógica con el fin de construir un placer saber que tiene el potencial de interferir con la realidad. Palabras clave: Gimnasia, Gimnasia General, Fitness 1. INTRODUÇÃO A Ginástica no contexto da Educação Física Escolar foi historicamente construída a partir de determinados modelos, especialmente os das escolas ginásticas da Europa. O caráter esportivizado também foi uma característica marcante. Com o passar dos anos os professores de Educação Física ora tratavam a ginástica com base nestes modelos ou optavam pela sua ausência na escola, perante a alegação de falta de equipamentos e/ou instalações adequadas, confundindo desta forma, as modalidades gímnicas competitivas (artístico-olímpica, rítmica, dentre outras) com a ginástica em si gerando assim a elitização de tal prática. Baseado em tais afirmações, o objetivo deste artigo é propor uma melhor aplicação da ginástica no conteúdo das aulas de Educação Física escolar. Tal proposta

seria concretizada por meio da Ginástica Geral (GG), na medida em que esta tem como perspectiva a integração das diversas manifestações gímnicas (da dança, do teatro, da capoeira, dos elementos circenses) e outros elementos da cultura corporal, sendo sua principal característica a ausência de competição (OLIVEIRA, LOURDES, 2004, p.221). A Ginástica não é algo recente na sociedade. Sua origem remonta à Grécia, como a arte de exercitar o corpo nu (em grego gymnos). Mas foi o século XIX que se constituiu um importante período para a compreensão e expansão da mesma, quando passou a ter um caráter científico, fruto das distintas formas de se pensar os exercícios físicos em países da Europa Alemanha, Suécia, França e Inglaterra- surgindo assim os métodos/escolas de ginástica ou Movimento Ginástico Europeu. Nesta perspectiva, buscou-se imprimir um caráter de utilidade aos exercícios físicos, em que foram negadas as práticas populares de artistas de rua, de circo, acrobatas, funâmbulos, que a apresentavam como espetáculo, trazendo o corpo como centro de entretenimento (SOARES, 1994, 1998, 2001). Precursora da Educação Física, a ginástica científica se afirmou ao longo do século XIX como síntese do pensamento cientifico no Ocidente europeu e integrante dos novos códigos de civilidade, o que vai justificar sua presença no currículo escolar. No Brasil, os métodos ginásticos influenciaram diretamente a constituição da Educação Física e estiveram presentes nos discursos político, médico e pedagógico. Soares (2001, p.113) afirma [...] herdeira de uma tradição cientifica e política que privilegia a ordem e a hierarquia desde sua denominação inicial de ginástica, a hoje chamada Educação Física foi e é compreendida como um importante modelo de educação corporal que integra o discurso do poder. Entretanto vale lembrar que o caráter científico imposto na ginástica não deve ser condenado já que tal cientificidade é de suma importância para o avanço da humanidade, a questão é impedir que tal importância não limite as manifestações corporais e expressivas advindas da criatividade e ludicidade. Daí observarmos a capacidade que a Ginástica Geral possui de reunir nesta gama de manifestações gímnicas um espaço de diálogo com a técnica e o científico. É nesse contexto, no século XIX, que tem inicio o projeto de institucionalização da Educação Física no Brasil (ainda chamada Ginástica), como disciplina obrigatória nas escolas com ideais eugênicos e higiênicos a fim de adestrar e alterar os corpos produzidos por quase três séculos de colonização, conforme Oliveira (1994). Em relação à esportivização da Ginástica, tal processo tem origem na Inglaterra, que ao contrário das demais Escolas Ginásticas, deu ênfase ao desenvolvimento do desporto. A industrialização deste país configurou a sua sociedade em classes, de maneira que a aristocracia e a alta burguesia tinham liberdade para investir seu dinheiro em apostas de cavalos, corredores a pé e mais tarde em semiprofissionais. O desporto constituiu-se então como atividade de ócio destes dirigentes, além de meio de educação social de seus filhos, ao mesmo tempo em que se tornava o trabalho de numerosos profissionais. Assim, a Inglaterra burguesa deu ao mundo o desporto moderno institucionalizado e com regras precisas. Desta forma, aliada à racionalização cientifica e a regra do esporte moderno a ginástica se transforma em um esporte de rendimento à qual poucos têm acesso. Em razão disso temos uma esportivização das expressões gímnicas e uma ginástica como prática elitizada na sociedade contemporânea e excluída no âmbito escolar. 2

Neste artigo pretendemos combater alguns paradigmas -como a concepção de que a ginástica é somente uma modalidade elitista com caráter competitivo- propondo a Ginástica Geral (GG) como um conhecimento a ser vivenciado na escola. A GG é um tipo de ginástica de demonstração, cuja principal característica é a não competitividade, tendo como função a interação social isto é, a formação integral do individuo nos seus aspectos: motor, cognitivo, afetivo e social. Além de procurar resgatar ao núcleo primordial da ginástica, o divertimento, a GG proporciona a satisfação, o desenvolvimento da criatividade, da ludicidade, valorização cultural, da interação social. As atividades da GG são privilegiadas porque são geradas criativa e espontaneamente, a partir do contato com o outro, da percepção e reflexão sobre a realidade em que as pessoas estão inseridas, tendo assim um caráter autônomo que favorece o convívio em novos grupos, fazendo com que o individuo amplie seu mundo e intensifique suas comunicações. Assim podemos considerar a GG como elemento privilegiado no contexto educativo. É claro que GG ainda precisa conquistar a sua identidade e buscar sua amplitude e diversidade tendo como base à ginástica, compreendida como uma prática corporal que, marcadamente desde o inicio do século XIX, sofreu um processo intensivo de sistematização em diferentes países europeus, o qual foi responsável pela configuração de um conjunto de elementos característicos que constituem a ginásticaos gestos gímnicos-, que apesar da multiplicidade de enfoques e da diversidade de manifestações gímnicas existentes na atualidade, podem ser subdivididos em: elementos corporais, exercícios acrobáticos e exercícios de condicionamento físico (sem, com e em aparelhos). Neste sentido, o processo de sistematização e codificação da ginástica permitenos diferenciar uma manifestação gímnica de outras formas de manifestação, ou seja, distinguir a ginástica de outros temas da cultura corporal. Daí podemos perceber as diferenças entre um salto característico da ginástica artística, um salto característico do balé clássico ou um salto característico do voleibol. O salto como gesto ganha significado no contexto da atividade que o caracteriza (AYOUB, 2003, pp. 73-74). A Europa atualmente o principal centro de desenvolvimento e prática da GG. Segundo Souza (1997), este fato se confirma ao observarmos o grande número de clubes e praticantes e a crescente promoção de festivais desta modalidade em diversos países europeus. A GG de acordo com o General Gymnastics Manual (FIG, 1993) compreende as seguintes atividades: - Ginástica e dança: Dança teatro, Dança moderna, Dança Aeróbica, balé, folclore, ginástica jazz, ginástica rítmica, solo, aeróbica e de condicionamento físico; - Exercícios com aparelhos: Ginástica com aparelhos de grande porte (cavalos, paralelas, etc.), Ginástica com aparelhos manuais (bolas, fitas, arcos, etc.), Ginástica com aparelhos não convencionais (caixas, galões de água, bambus, dentre outros), tumling, trampolim, rodas, acrobacias; -Jogos: Pequenos Jogos, Jogos de condicionamento físico, Jogos sociais, Jogos esportivos, Jogos de Reação. Percebemos a rica relação que a GG tem com as diversas manifestações corporais como já foram citadas anteriormente (dança, jogos, lutas, circo), mas cabe distingui-la de tais manifestações mantendo-se, entretanto essa grande interação que a torna tão rica em termos de produção e aprendizagem escolar. Daí a importância do professor de educação física buscar neste universo vasto da GG e isto de forma planejada, meios para construir uma aula que respeite a liberdade criativa de cada 3

aluno. Lançamos então as principais características diferenciadoras da GG segundo Eliana Ayoub. São elas: Sem finalidade competitiva, a GG esta situada num plano diferente das modalidades gímnicas competitivas, num plano básico, com abertura para o divertimento, para o prazer, para a simplicidade, para o diferente, para a participação irrestrita, para todos; Na ginástica geral, o principal alvo de atenção deve ser a pessoa que a pratica, sendo as suas metas fundamentais promover a integração entre as pessoas e grupos e desenvolver o interesse pela prática da ginástica prazerosa e criativa. A ludicidade, a liberdade de expressão e a criatividade são pontos marcantes na ginástica geral; Devido à sua amplitude e diversidade, a GG engloba atividades no campo da ginástica, dança e jogos e não tem regras rígidas preestabelecidas. Dessa forma, a ginástica geral abre um leque imenso de possibilidade para a prática de atividade corporal, uma vez que não determina limites em relação à idade, gênero, número e condição física ou técnica dos participantes, tipo de material, música ou vestuário, favorecendo a participação e proporcionando uma ampla criatividade; Os festivais são a sua principal forma de manifestação, o que não significa desconsiderar o processo em detrimento do produto final, mas sim valorizar a expressão artística que se vincula à composição coreográfica, à apresentação e ao espetáculo. Embora seja rica em conteúdos educativos a GG ainda é pouco aplicada e conhecida nas escolas por parte dos professores de Educação Física. Nista-Piccolo (1999) ressalta que isso se deve ao fato de que muitos não tiveram vivências anteriores com ginástica e por isso desconhecem o caráter pedagógico no processo de aprendizagem da atividade corporal. Darido (2005, p.74) complementa dizendo que as aulas normalmente baseiam-se em aulas de cunho esportivo porque os professores experimentaram por mais tempo, e provavelmente com mais intensidade, as experiências esportivas. Não que estes desportos (futebol, handebol, vôlei, basquete) não devam ser ensinados, pelo contrário, mas devemos lembrar que a Educação Física deve ser ensinada de forma pluralizada, ou seja, ela é constituída por jogos, esportes, lutas, ginásticas e danças, sendo assim um campo muito rico para trabalharmos e ampliarmos nossos conhecimentos. Trabalhar a GG na escola é um desafio que deve partir de uma proposta pedagógica e metodológica definida, em nosso artigo não produzimos tais objetivos, mas em vista já de propostas definidas podemos perceber claramente a facilidade de se trabalhar a ginástica geral nas escolas se tal seriedade for comprida por todo corpo docente escolar. É observando propostas variadas na área da GG que poderemos também construir na escola um espaço para a GG. Citamos como exemplos de propostas para o ensino da GG a de Nista-Piccolo (1995) e a do Grupo Ginástico Unicamp (Pérez Gallardo e Souza, 1997, PP.83-95). Temos na primeira proposta o objetivo de estimular a liberdade de expressão, a exploração e a descoberta de novas possibilidades de ação, favorecendo o desenvolvimento da criatividade e o intercâmbio de experiências entre os participantes do processo educativo. Já no Grupo Ginástico Unicamp (GGU) encontra-se uma proposta metodológica que busca promover um aumento da interação social e a outra, voltada para a alta possibilidade de exploração dos recursos variados presentes no 4

universo da GG tradicionais ou não como bambus gigantes, pneus, engradados de refrigerante, jornais, tecidos e outros. Percebemos, que nesta vasta riqueza de possibilidades de se trabalhar a GG na escola, elementos comuns citados nas duas propostas e já mencionados na caracterização da GG. Entre eles destacamos a ampla interação dos alunos ou participantes na construção de uma coreografia, a cooperação, a comunicação, interação social, aprendizagem prazerosa e inclusiva, o respeito à individualidade a fim de vivenciar desta forma valores intrínseca ao homem. E no final do processo que não é o mais importante no processo ensino-aprendizagem da GG, os participantes terão a oportunidade de expor para a comunidade aquilo que foi construído em conjunto e de forma sistematizada. Acreditamos ser este o momento em que o aluno poderá interferir na realidade na medida em que a sua criação agora tem voz, tem sentido, tem razão, tem espectadores, mas esta criação partiu de um planejamento da aula de educação física em relação à GG. Se a Educação Física é tão ampla em conteúdos a serem ensinados, por que não trabalhar a Ginástica Geral, as lutas, e a dança também? Uma maneira de justificarmos a presença desses conteúdos seria através dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNS) descritos em Brasil (2000), que organizaram os objetivos a serem trabalhados da seguinte forma: Esportes, jogos, lutas e ginásticas Atividades rítmicas e expressivas Conhecimento sobre o corpo Fonte: PCNS (2000, p. 46) Através dessa organização de conteúdos, o professor planejará suas aulas de acordo com a série e faixa etária de seus alunos, podendo assim diversificar e abranger informações aos mesmos de uma maneira mais articulada possível. A respeito das ginásticas, os PCNS (BRASIL, 2000, p. 49) a caracterizam como uma prática que pode ser realizada como preparação para outras modalidades, como relaxamento, para manutenção ou recuperação da saúde ou ainda de forma recreativa, competitiva e de convívio social. Logo a ginástica pode ser trabalhada nas escolas se houver um maior interesses dos professores e da comunidade escolar. Deve ser elaborado um plano de aula adequado às diferentes faixas etárias, objetivando que os alunos vivenciem diferentes manifestações culturais, buscando conhecer as experiências e interesses dos alunos, fazendo com que eles tenham autonomia no sentido de dialogar, opinar, para que se trate de uma ação pedagógica, com os devidos objetivos, visando o desenvolvimento integral do aluno para que este se torne um agente da história, em busca da transformação social, tendo sempre em vista que uma produção pedagogia e metodológica deve ser o ponto de partida inicial para se construir as aulas da GG dentro da escola por meio da Educação Física. 5

REFERÊNCIAS AYOUB, E. Ginástica geral e Educação Física Escolar. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 2004 BRASIL. Parâmetros curriculares nacionais: educação física/ secretaria de educação fundamental. 2. ed. - Rio de Janeiro: DP&A, 2000. DARIDO, S. C. Parte 5- Os conteúdos da educação física na escola. In: DARIDO, S. C.; RANGEL, I. C. A. Educação Física na Escola: implicações para a prática pedagógica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005, p. 64-79. FÉDERATION INTERNACINALE DE GYMNASTIQUE (FIG). General gymnastics manual. NISTA-PICCOLO, V. L. Parte 6- Crescendo com a Ginástica. In:. Pedagogia dos esportes. Campinas: Papirus, 1999, p.113-126. OLIVEIRA, V. M. de. Consenso e conflito da educação física brasileira. Campinas: Papirus, 1994. OLIVEIRA, N. R. D. De. ; LOURDES, L. F. C. Ginástica Geral na Escola: uma proposta metodológica. Disponível em: <www.revistas.ufg.br >- Pensar a prática 7/2: p. 221-230, Jul./Dez 2004. Acesso em 14 de setembro de 2007. SOARES, C. Educação física: raízes européias e Brasil. Campinas: Papirus, 1994.. Imagens da educação no corpo: estudo a partir da ginástica francesa no século XIX. Campinas: Papirus, 1998.. Corpo, conhecimento e educação: notas esparsas. In: SOARES, C. (Org.). Corpo e história. Campinas: Autores Associados, 2001. P. 109-129. SOUZA, E. P. M. De. Ginástica geral: uma área do conhecimento da educação física. Campinas. 1997. 163f. Tese (Doutorado em Educação Física) Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas. 6