Palavras- chaves: Educação Infantil, Corpo, Educação Física, Dança.



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Transcrição:

A EDUCAÇÃO FÍSICA PENSANDO A DANÇA COMO CONTEÚDO EXPRESSIVO E VIVO NA EDUCAÇÃO INFANTIL Paulo Maciel Cordeiro Martins 1 Andressa Sandrine Silva de Jesus² Maria do Carmo Morales Pinheiro³ O presente trabalho expõe uma experiência de estágio na Educação Infantil, com turmas de Jardim I e II, em um Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) de Catalão/GO. Nos propusemos a trabalhar com o conteúdo dança como arte de manifestação subjetiva (instintiva, espontânea), enfatizando esse tipo de conteúdo como forma de linguagem corporal, expressiva de sentimentos e de liberdade de anseios. Partimos do pressuposto de que tais propriedades acabam sendo negligenciadas pelas instituições de ensino e na maioria das vezes utilizam de um ensino disciplinador, que adestra e treina o corpo para uma indisponibilidade às próprias emoções, enfim, para o que estamos chamando de domesticação de corpos. Buscamos, também, discutir como essa proposta, de um corpo expressivo em prol da liberdade em oposição a um modelo tradicional e opressor, pode ser alcançada através da dança na Educação Infantil dentro das aulas de Educação Física (EF). Assim, problematizamos a não presença do professor de Educação Física ministrando as aulas de EF que seriam imprescindíveis para trabalhar nessa perspectiva de transformação dos corpos, pois necessita-se de determinadas especificidades para essa enorme e enriquecedora transição que é a junção entre movimento e corpo. Expomos, neste trabalho, o processo teóricometodológico do conteúdo dança na interface com a literatura, música, teatro e artes em geral tendo como eixo norteador o universo lúdico atrelado a movimentos corporais primitivos, vivência das melodias e contação de história, além da exploração de sons com o próprio corpo, dança circular e exploração de movimentos numa proposta de exercitar a espontaneidade de um corpo que é brincante. Como resultado, trazemos a evolução dos alunos que demonstraram em sua corporalidade a transição de um corpo adestrado/domesticado para um corpo capaz de exteriorizar liberdade e criatividade. Sendo assim, entendemos que a EF desafia o método tradicional e hegemônico escolar, utilizando como principal recurso o movimento a partir das atividades expressivas e espontâneas, para se desvincular de aulas tradicionais, começando pelo modo e pelo espaço de aprendizado, que se diferenciam de salas de aula com carteiras enfileiradas e ensino conservador. Palavras- chaves: Educação Infantil, Corpo, Educação Física, Dança. O presente trabalho se refere à sistematização de elementos teórico-metodológicos com vistas à fundamentação e orientação da intervenção pedagógica do estágio II do Curso de Licenciatura em Educação Física da Regional Catalão da Universidade Federal de Goiás 1 Graduando do curso de Educação Física da Universidade Federal de Goiás/Regional Catalão. Bolsista PIBID. E-mail: paulo_ma321@hotmail.com 2 Graduanda do curso de Educação Física da Universidade Federal de Goiás/Regional Catalão. Bolsista PIBID. E-mail: andressasandrine@hotmail.com 3 Professora do curso de Educação Física da Universidade Federal de Goiás/Regional Catalão. Doutora em Educação. E-mail: carmopin@gmail.com

(UFG), realizado no período de 23/02 a 06/07/15 em um Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) da cidade de Catalão- GO. Tivemos como ponto de partida a análise das experiências na pré-escola com turmas de Jardim I e II, pois intentávamos trabalhar com o conteúdo dança como arte de manifestação expressiva de sentimentos e de liberdade de anseios subjetivos. Partimos do pressuposto de que tais propriedades acabam sendo negligenciadas pelas instituições de ensino que não conseguem entender esse lado mais ligado as sensações subjetivas dos alunos, e na maioria das vezes utiliza de um ensino autoritário, de adestramento, disciplinador, enfim, do que estamos chamando de domesticação de corpos. A Educação Infantil exerce um papel de suma importância no desenvolvimento da criança de forma global, ou seja, é capaz de criar disponibilidades e/ou indisponibilidades que irão perpetuar por toda sua vida. Pensando nisto, escolhemos trabalhar com a temática dança e expressão corporal na intervenção de estágio com as turmas do Jardim I e II de um CMEI da cidade de Catalão, conduzido pela disciplina de Estagio Curricular II do curso de Licenciatura em Educação Física da UFG/Regional Catalão. Perante o contato com esse público alvo e com o trabalho do CMEI nas características organizacionais, corpo docente e estrutura pedagógica geral, constatamos que se trata de uma forma tradicional e convencional de educação e de ensino, mesmo que exista um esforço por parte do corpo docente administrativo em criar iniciativas que se desvinculem de práticas educativas tradicionais e hegemônicas, essas iniciativas são encobertas por dificuldades de cunho formativo, organizacional e estrutural. A escola de Educação Infantil em que realizamos nosso estágio mostra a tendência a reproduzir um ensino de institucionalização de corpos, negando o que é da própria natureza humana, como os instintos, os sentimentos e as sensações do corpo. Negligencia a essência do ser humano em se desenvolver em prol da formação humana e erroneamente impõe às crianças um corpo mecânico, obediente, silenciado por certos hábitos e comportamentos socialmente convencionados. Em nossa intervenção tratamos a dança como uma arte que possibilita ao nosso público alvo a oportunidade de descobrir sua essência, vivenciar emoções se libertando das tensões, organizando pensamentos, sentimentos e sensações, processos esses que irão favorecer o desenvolvimento das percepções, da imaginação, da observação, do raciocínio, do controle gestual, que possuem forte influência na aprendizagem. (JESUS et al, 2015). A dança não é algo que está presente na escola, principalmente na Educação Infantil. Contudo, ela, incorporada a educação é indispensável, haja visto que a dança e tão importante para uma criança quanto falar, cantar ou aprender geografia (GARAUDY, 1980). É

fundamental para a criança, que nasce dançando, não desaprender essa linguagem pela influência de uma educação repressiva e frustrante. Pensar a dança como parte do conteúdo programático da Educação Infantil, permite que professores instiguem as crianças a se expressarem, saindo de uma lógica educativa convencional e que já se repete há tanto tempo, para criar outra referência de modo de ser e de estar no mundo. A dança pensada para além da mecânica dos movimentos, proporciona contribuições importantes aos processos de aprendizagem. Dias, Cardoso e Silva, 2014 apud Scarpato 2001 afirmam que o uso da dança na escola favorece a criatividade trazendo inúmeras contribuições ao processo de aprendizagem, além de gerar uma consciência corporal e crítica. Assim, na Educação Infantil, nós, professores, devemos organizar situações e atividades que as crianças possam conhecer e valorizar as possibilidades de expressão do próprio corpo, o que nos faz reiterar a acuidade da dança para o desenvolvimento global da criança, ou seja, desencadeado de forma biopsicossocial. Dessa forma, nos parece ser fundamental que a dança esteja presente na Educação Infantil. O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998) aponta que [...] a dança recria os movimentos, sensibilizando a criança para o valor expressivo dos seus gestos. É também uma importante fonte de prazer, autoconhecimento e sociabilidade, promovendo a construção de novas possibilidades expressivas, [...] enriquece seu potencial expressivo conforme aprende a explorar movimentos leves ou fortes, rápidos ou lentos, percorrendo diferentes áreas do espaço, sozinha ou interagindo com parceiros a partir de uma música, imagem ou outro estímulo (BRASIL, 1998, p. 63). A partir disso nos perguntamos: como pensar o conteúdo dança com crianças de quatro e cinco anos? Como tratar do corpo em movimento, sendo que as crianças são a todo momento contidas em seus cantos, obrigadas a ficarem quietas e caladas a maior parte do tempo? Essas, dentre outras interrogações, nos inquietaram a todo momento, pois não sabíamos como proceder frente a situação, com tão pouco tempo para intervir, pouco mais que dois meses, o que poderíamos fazer para, mesmo que de forma singela, mudar um pouco a realidade daqueles alunos? Como poderíamos mostrar para o grupo gestor e docente que a criança precisa ser ouvida, ser crítica, respeitar e ser respeitada? E mais, como faríamos um trabalho capaz de mostrar que a criança necessita ter liberdade de expressão, ser criativa, enfim, ser, tão somente e simplesmente, criança?

A escola na atualidade não tem se atentado a fatores afetivos, sociais, emocionais os quais tem impacto sobre a capacidade criadora das crianças, que acabam se tornando mini robôs, sentados ou deitados em berços, com sua interação interceptada pela operacionalidade cotidiana da escola. Os alunos não podem se expressar porque, devem repercutir uma cultura imposta pela sociedade, de obediência e submissão. Os direitos das crianças acabam por ser sabotados, pois elas são impedidas de experimentar em sua infância as várias formas de criar e apreender o mundo, bem como [...] construir novos sentidos, ter novas visões, interagir com brincadeiras e imaginação (OLIVEIRA, 2007). Tentando entender melhor esse corpo repreendido, preso e submisso nos embasamos também nos estudos de Deleuze e Guattari (1996) que nos falam da necessidade que temos de nos libertar dos automatismos e desenvolver a verdadeira liberdade na busca por um corpo sem órgãos 2. Este corpo que carrega consigo a indignação que atrai sobre si a censura e repressão. Percebemos que nas escolas de hoje, ainda há uma grande coerção do corpo. Os alunos são proibidos ou inibidos a não demostrarem suas emoções, não criam, não se expressam, enfim, o corpo passa a ser institucionalizado, e o modelo imposto deve ser seguido à risca, quem foge a esses padrões geralmente é punido e reprimido. Isso enfatiza mais ainda a necessidade de se construir um corpo sem órgãos, algo que não esteja pronto, que não desfaleça nas mesmices de uma sociedade previsível. Entendemos que a EF como área que busca o aprendizado através da cultura corporal de movimento propõe um trato desse conteúdo de forma mais atrativa e significativa para o aluno, pois desafia o método tradicional e hegemônico escolar. Nessa direção, é utilizado como principal recurso o movimento humano, as atividades expressivas e espontâneas a serem aprendidas pelo aluno, começando pelo modo e espaço de aprendizado, que se diferencia de salas de aula com carteiras enfileiradas e ensino conservador. Portanto, vale criticar e refletir a respeito da não presença do professor de Educação Física ministrando as aulas de EF na Educação Infantil, pensando que um profissional apto para trabalhar nessa perspectiva de transformação libertadora de corpos é de grande importância, pois somente o profissional de EF pode trabalhar com essa especificidade de nossa área, a enorme e enriquecedora transição que é a junção entre movimento e corpo. ¹ O Corpo sem Órgãos (ou apenas CsO) é um conceito desenvolvido por Deleuze e Guattari (1996), utilizado em Anti-Édipo e Mil-Platôs. Este conceito, retirado de Artaud, funciona muito mais como uma prática, ou conjunto de práticas, em vez de uma noção bem definida. Faz parte de um estilo de vida nômade. Não compreendemos o Corpo sem Órgãos, o vivemos.

Nas primeiras atividades buscamos conhecer melhor os alunos, até mesmo para que pudéssemos saber como proceder. No primeiro momento os alunos ficaram tímidos e calados, não conseguiram assimilar bem as dinâmicas. Neste momento, vimos que precisavam de estímulos, necessitávamos de uma forma para conseguir atingi-los, por isso optamos por iniciar com brincadeiras cantadas, até mesmo porque na idade deles (cinco anos) avaliamos ser a melhor forma de interagir e explorar capacidades de movimentos, autonomia e criatividade. Sabemos que as brincadeiras cantadas, Segundo Lara et al (2005, p. 01), podem contribuir com grande intensidade no universo infantil, quando o professor leva em consideração a criança em suas condições sociais, capacidades de movimento, autonomia e produção cultural. Ou seja, além de desenvolver as capacidades de expressão corporal e vocal, contribuem para a compreensão da multiplicidade cultural do universo lúdico infantil, bem como para a valorização do brincar no processo educativo [...] (LARA, 2005, p.01). Com isso, utilizamos no primeiro momento da intervenção as brincadeiras cantadas populares, para, enfim, dentro delas instigar a criação de movimentos novos, estimular os alunos a usarem a criatividade, pensar diferente o que aparentemente já estava pronto. Após a fase de adaptação e contato com alunos tentamos avançar, usando como conteúdo, movimentos rudimentares como rastejar, andar, engatinhar, rolar, além de sons produzidos com o próprio corpo (Barbatuques), estorias encenadas e as obras do grupo Palavra Cantada e do Sitio do Pica-Pau Amarelo. Dentro desses conteúdos tentávamos o máximo explorar a criação dos alunos a autonomia, focamos no ritmo e movimentos, tempo, frequência, elementos essenciais para a dança, porém, de forma lúdica. Quando fomos trabalhar as questões de espaço, tempo, ritmo, usamos a imitação, ou seja os alunos teriam que imitar animais, no primeiro momento animais que rastejam, depois quadrupedes, e, por fim, animais que conseguem andar no posição bípede. Fizemos isso em várias velocidades (rápido, lento), usando músicas de diferentes sonoridades. Avaliamos que conseguimos despertar nos alunos algo novo, eles realizaram as atividades e, ao fim, se mostraram satisfeitos. Com o passar das aulas percebemos o quanto os alunos evoluíram no sentido de aprendizagem, sempre quando levamos algo novo, (dança do cavalo guloso, dança da pipoca, história do gigante entre outras) tentávamos mais a frente trazê-las novamente para saber se eles conseguiram elaborar algo da atividade. Percebemos também que os alunos se superaram, conseguiram evoluir, no primeiro momento não conseguiam cantar e nem fazer os movimentos, no segundo momento já estavam fazendo os dois, isso foi muito significativo.

Nas atividades que exigiam criar movimentos como a aula que levamos balões e fitas, percebemos quantos movimentos novos surgiram, variados sons produzidos pela boca e pelo corpo. Se soltávamos alguma música logo alguns alunos se posicionavam no centro da sala para dançar, sem pedirmos nada. Fatos como esse nos faziam ver que o trabalho estava dando fruto. As professoras das turmas, em vários momentos, se espantavam com o que os alunos já estavam conseguindo realizar. Nós conseguimos mais que ensinar algo para as crianças, também apreendemos a respeita-las, a estarmos naquele momento de aula de corpo e alma, criamos laços afetivos, de chegarmos nas aulas e juntarem vários alunos para nos abraçar, ou no momento de irmos embora, muitos reclamarem, pois estavam gostando da aula. Todos esses aspectos perpassam a formação de um professor, pois nesses momentos nos tornamos mais humanos, podendo oferecer para os alunos, além do conteúdo, das atividades e brincadeiras, o nosso carinho. No momento das aulas não nos limitamos a apenas observar os alunos, nós dançamos, rolamos no chão, pulamos, brincamos e cantamos. Consideramos esse desprendimento muito importante na formação de um professor, que jamais deve perder a essência do que é ser criança, do que é se divertir e apreender, sem precisar lançar mão de posturas autoritárias ou da arrogância dos que pensam que o conhecimento parte apenas de uma via, pois acreditamos que o conhecimento é construído mutuamente entre as duas partes, professores e alunos/crianças. REFERÊNCIAS BRASIL, Secretaria Municipal de Educação. Diretoria de Orientação Técnica. Orientações curriculares: expectativas de aprendizagens e orientações didáticas para Educação Infantil, Secretaria Municipal de Educação. São Paulo: MEC/SEF, 2007. Disponível em:< http://arqs.portaleducacao.prefeitura.sp.gov.br/exp/edinf.pdf> Acesso em: 10 de Maio de 2015. CALAZANS, J; CASTILHO, J; GOMES S; (coord.) Dança e educação em movimento. Cortez; 2003. DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: Capitalismo e esquizofrenia. Vol. 3, 34 ed.. Rio de Janeiro: Coleção TRANS, 1996. DIAS, Cristiane França; CARDOSO, Marcélia Amorim; SILVA, Eduardo Rodrigues da. A dança no cotidiano escolar da educação infantil. Revista Digital. Buenos Aires. v. 19, n. 195, p. 1. 2014. GARAUDY R. Dançar a vida. 4 ed. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1980.

JESUS, Andressa Sandrine Silva de. et al. Dança e Expressão Corporal Para Pessoas Com Deficiência Na Regional Catalão da Universidade Federal de Goiás. ENCICLOPÉDIA BIOSFERA, Centro Científico Conhecer - Goiânia, v.11, n.20; p. 2015 LARA. L.; PIMENTEL. G; RIBEIRO, D. Brincadeiras cantadas: educação e ludicidade na cultura do corpo. In: Revista Digital - Buenos Aires - Ano 10 - N 81/Fev., 2005. OLIVEIRA, Zilma Ramos de. Educação Infantil: fundamentos e métodos. 3 ed. São Paulo: Cortez, 2007.