A EDUCAÇÃO, A EAD E O DIREITO AUTORAL

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Transcrição:

ISSN: 1981-3031 A EDUCAÇÃO, A EAD E O DIREITO AUTORAL Lisiane de Melo Cavalcanti Manso 1 Resumo O presente artigo aborda a questão do direito à educação sob o ponto de vista da educação a distância (EAD) a legislação autoral (LDA) vigente. Justifica-se em razão dos óbices existentes para desenvolvimento da EAD no tocante aos direitos autorais que trazem restrições quanto ao acesso à informação e conhecimento. Objetiva observar a disponibilização de conteúdos pela EAD no processo de direito à educação, restringidos pelas previsões trazidas na legislação autoral, procurando ampliar a o debate de mudança da referida legislação para atendimento do direito educacional. A metodologia aplicada é de natureza descritiva e bibliográfica, baseada nas fontes disponíveis em livros, publicações especializadas e sites da internet. Traz o questionamento da necessidade de adequação da legislação autoral para fins educacionais, considerando os debates e discussões realizadas para mudança do direito autoral no Brasil atendendo os direitos à informação e ao conhecimento. Palavras chaves: Direito à Educação Direito Autoral Educação a Distância. INTRODUÇÃO O direito à educação no Brasil é um direito previsto constitucionalmente e que contempla todo cidadão, sendo, portanto, responsabilidade do Estado e da família. A previsão trazida no art. 205 da Constituição Federal brasileira, traz expresso exatamente que A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Com essa previsão, apreende-se ser o acesso à educação um direito de todos como conseqüência do direito à informação e ao conhecimento. Nesse campo, a educação a distância (EAD) tem possibilitado o acesso amplo à educação. No entanto, o seu desenvolvimento tem encontrado óbices de natureza autoral, em razão da legislação restritiva na área, vigente no Brasil. É nesse sentido que o presente artigo pretende abordar a questão do direito ao acesso à educação, a EAD e a legislação autoral, observando-se os debates e consensos encontrados para adoção de uma política que contemple a educação e o direito autoral de forma equilibrada, no atendimento dos direitos envolvidos. 1 Mestranda em Educação Brasileira, lisiane@hotmail.com,universidade Federal de Alagoas (Ufal).

2 DESENVOLVIMENTO O direito a educação tornou-se alvo de debates e discussões após a previsão dada pelo artigo 205 da Constituição Federal. Essa previsão constitucional define as regras relacionadas à educação e que será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento do cidadão, preparando-o para a cidadania e qualificando- o para o trabalho, estabelecendo, ainda, a educação básica como obrigatória, universal e gratuita, bem como outras determinações acerca dos ensinos profissional e superior. Tal previsão atendeu às exigências dos tratados e convenções internacionais consignadas pelo país, marcando o retorno à ordem democrática no Brasil, revogando a legislação autoritária do período ditatorial, resultado da Assembléia Constituinte, legalmente convocada e eleita, e reunindo a maioria dos setores organizados do país, seja público ou privado, trazendo para o debate os mais diversos problemas da sociedade brasileira e conseguindo, por fim, avanços no sentido de estabelecer as condições para o exercício da democracia e da cidadania. Com a Constituição Federal de 1988, a educação tornou-se direito de todos e dever do Estado e da família, deverá ser exercida em atendimento aos princípios da igualdade, liberdade, pluralismo, gratuidade, valorização do educador, gestão democrática e qualidade. Essa previsão traz o atendimento da democratização educacional aos anseios de construção de uma sociedade livre, justa e solidária, de garantia do desenvolvimento nacional, de erradicar a pobreza e a marginalização, reduzindo as desigualdades sociais e regionais, promovendo o bem estar de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação, tudo em atendimento aos princípios da prevalência dos direitos humanos, da autodeterminação dos povos, da solução pacífica dos conflitos, da cooperação entre os povos para o progresso da humanidade e da isonomia e equidade, expressos nos direitos e garantias fundamentais. Nesse sentido, conforme Leonardo (2011, p. 3) Embora a Constituição Federal de 1988 não tenha explicitamente considerado em seu artigo quinto a educação como um direito fundamental, essa pode ser entendida como extensão do direito à vida, já que a finalidade básica da educação é formar para a liberdade, para a cidadania e para a dignidade. Tal reflexão incorpora o direito à educação no contexto dos direitos fundamentais e garantias individuais elencados no art. 5º da Constituição Federal. E, dessa forma, conforme o autor mencionado, se observa ser indubitável a questão de que o direito à educação é uma

3 extensão do direito à vida, uma vez que a sua finalidade é proporcionar o desenvolvimento da personalidade humana, tornando todos os brasileiros, pessoas com capacidade crítica aprimorada dentro da possibilidade de participação na sociedade. Dessa forma, o direito à educação se insere no Estado Democrático de Direito que se encontra lastrado no princípio da dignidade humana e no exercício da cidadania, de acordo com o que foi observado por Árias e Amaral (2010, p. 1), A educação faz parte das condições para existência digna de uma pessoa. A dignidade humana e o exercício da cidadania estão, por conseguinte, previstos nos artigos 1º e 5º da Constituição Federal, trazendo a educação para as previsões do seu art. 6º como sendo um direito social com objetivo de fazer com que a pessoa possa criar e desenvolver uma vida em sociedade. É com essa condução que Campelo (2011, p. 2) observa ser a educação: [...] o que possibilita o pleno desenvolvimento da personalidade humana, é um requisito essencial da cidadania de um povo, é um pressuposto necessário a evolução de qualquer Estado, pois quanto mais educação recebe a população mais desenvolvida se torna à nação, portanto, a educação representa tanto o mecanismo de desenvolvimento pessoal do indivíduo, como da própria sociedade. Em vista disso, reconhece-se o direito à educação como um direito contemplado constitucionalmente no rol dos direitos sociais, bem como os dispositivos de que trata o título da Ordem social, revelando tanto a aplicabilidade imediata dessas normas, quanto à possibilidade de sua tutela jurisdicional, garantindo-lhe, pois, conforme o autor mencionado, todas as condições de sua aplicabilidade e efetividade. Tais previsões constitucionais levaram à edição da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), por meio da edição da Lei 9394/96 regulamentando o art. 205 da Constituição Federal vigente. E segundo Monteiro (2011), a LDB estabeleceu como princípios a liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber, bem como o pluralismo de idéias e concepções pedagógicas. Por conseqüência, ocorreu a edição do Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (PNEDH), em 2003, que, segundo Sacavino (2006), trouxe a determinação orientadora e fomentadora de ações educativas, incorporando os direitos decorrentes da dignidade do ser humano e a compreensão de uma cidadania democrática, ativa e planetária, embasada nos princípios de liberdade, igualdade e diversidade e na universalidade, indivisibilidade e interdependência dos direitos humanos.

4 Compreende-se, mediante tal condução, que o acesso à educação é um direito de todos. E, segundo Sacavino (2006, p. 459), nesse sentido, A reafirmação da educação como direito do cidadão e dever do Estado, da sociedade e da família, amplia a definição de educação e do campo de aplicabilidade do princípio do direito. conceber que: Tais entendimentos encontram eco na afirmação de Fichtner (2009, p. 22) ao Educação não é somente a capacitação de um indivíduo com os conhecimentos, as habilidades e os hábitos de que uma sociedade precisa. Educação é a sua participação numa cultura. Educação também obriga a uma formação dos sujeitos, capacitando-os para serem atores da transformação da sociedade de acordo com os seus anseios e necessidades. Vê-se, pois, que a educação se realiza por meio do acesso à informação e ao conhecimento de forma que contemple todos os cidadãos. Isso com base em Sacanivo (2006, p. 457) que considera [...] o direito à educação é mais amplo que o direito à escola, e que os processos educativos permeiam toda a vida das pessoas com diferentes dimensões e fases. Bem como a observação efetuada por Baruffi (2011, p. 1), ao mencionar que a educação é [...] essencial para o desenvolvimento de um país, tem ocupado espaços na academia e nos debates políticos, constituindo-se em bandeira política. Nesse sentido, Aguiar (2009, p. 12) observa que Considerar a informação como ativo social e direito coletivo, tão importante quanto qualquer outro direito, é o mesmo que afirmar que a construção e a garantia da cidadania perpassam a acessibilidade e a usabilidade dessa informação. É em razão disso que Monteiro (2011) advoga que o direito ao acesso à informação e ao conhecimento está direta e explicitamente vinculado à educação. É na esteira de tais expressões que se encontra a Educação a Distância (EAD) que, segundo Novak (2011), desde suas origens, tem como mote principal o acesso ao ensino, à informação e ao conhecimento. Essa modalidade educacional, conforme o autor, consolidouse, ao longo da história, tendo como missão primordial propiciar conhecimento e informações às populações localizadas longe dos grandes centros educacionais, impossibilitadas de freqüentar os cursos presenciais. Sobre a EAD, entende Nunes (2011), ser um recurso de incalculável importância como modo apropriado para atender a grandes contingentes de alunos de forma mais efetiva que outras modalidades e sem riscos de reduzir a qualidade dos serviços oferecidos em decorrência da ampliação da clientela atendida. E que, por isso, segundo o autor epigrafado, a

5 EAD promove o acesso ao conhecimento e à informação que são necessárias ao direito de acesso à educação, uma vez que esta contribui para: [...] a formação cultural da nacionalidade, dando acesso à educação a grandes contingentes afastados das instituições formais de ensino, ou que têm dificuldade de acesso a elas. [...] podem ser veículos muito importantes para a integração social de grandes parcelas da população, principalmente se forem respeitadas as formas comunitárias de organização social e as instituições da sociedade civil (NUNES, 2011, p. 13). Tem-se com isso que a EAD é de fundamental importância à garantia do direito ao acesso à educação. No entanto, o seu desenvolvimento se vê confrontado com uma série de óbices oriundos de questões atinentes à área autoral, em razão da legislação vigente ser restritiva, ferindo a garantia do direito à educação. Mesmo se tornando um modelo que vem atingindo, integrando e possibilitando um acesso maior de estudantes, eclodindo discussões sobre sua efetividade, eficiência e eficácia. Isso porque no presente, as conduções para a prática da EAD ainda encontra óbices para a sua prática plena, existindo de forma bimodal, ou seja, a prática da EAD passa, conforme legislação da área, por momentos presenciais. Observa Aguiar (2009, p. 15) com relação à EAD que: Acreditamos que institucionalizar a mediação do acesso e disseminação de conteúdos em ambientes digitais através desse modelo é fundamental, não somente por motivos econômicos, sociais e culturais, mas, principalmente, por razões político-sociais, visando o direito à informação e o fortalecimento constante da cidadania. Assim, pela via da EAD, a educação, segundo Mizukami (2009), tem possibilitado acesso à informação e ao conhecimento, mas que, no entanto, persistem mecanismos restritivos que dificultam o pleno desenvolvimento dos processos educativos. autoral: Nessa esteira entende Novak (2011, p. 1), que com relação a EAD e a legislação Mais recentemente, a questão do acesso ao ensino assumiu novas conotações, determinadas tanto pela complexificação da sociedade contemporânea como também pelas transformações introduzidas pela informática na educação. Fortalecida por transformações socioculturais e tecnológicas, a Educação a Distância está sinalizando alternativas ao esgotamento de modelos educativos inspirados em concepções de ensino e aprendizagem excessivamente dependentes da presença do educador, em espaços definidos e em tempos rígidos. Em vista disso, o autor assinala que projetos educativos inovadores contribuem para o acesso à educação, por meio de sua forma mecânico-operacional e cognitivo da construção

6 do conhecimento e de novas aprendizagens, colaborativamente, mediante processos interativos a distância, fazendo uso de conteúdos que se inserem dentro das restrições contidas na legislação autoral. Nesse sentido, vários debates passaram a ser realizados, no sentido de observar a legislação restritiva autoral vigente, notadamente a partir das previsões inseridas na Lei 9610/98, mais conhecida como Lei de Direito Autoral (LDA), no sentido de equilibrar as relações entre os direitos dos autores e o direito de acesso à educação por parte da população brasileira. A lei em questão, segundo Varela (2011), possui a função de resguardar os interesses morais e patrimoniais dos criadores de obras artísticas e intelectuais, reconhecendo a autoria e à proteção da propriedade. Esses direitos se encontram ligados aos direitos fundamentais, tanto de liberdade de expressão dos indivíduos para produzir e disseminar suas opiniões, quanto de acesso à cultura e ao conhecimento. Observa o autor, que desde a implementação da citada lei, essa não sofreu qualquer adaptação que contemplasse as novas demandas por acesso à cultura e ao conhecimento e as novas possibilidades surgidas com as inovações tecnológicas e com o uso cada vez mais expandido e cotidiano da internet, principalmente no concernente ao direito à educação. Essa lei, portanto, segundo Varela (2011, p. 1): [...] tem se mostrado insuficiente e inadequada para dar conta da realização de direitos fundamentais do cidadão e do consumidor. O direito à educação e ao acesso à cultura, à informação e ao conhecimento são direitos constitucionais com parcas condições de se concretizarem sob a égide da atual legislação autoral. Também sobre as previsões da Lei 9610/98, Mizukami (2009) entende que ela é invocada para justificar a legitimidade das ações de repressão à circulação livre de obras, literárias ou audiovisuais, como instrumento de defesa das empresas e de autores. No entanto, ela é pouco observada nos aspectos que garantem os interesses dos usuários. Nesse sentido, entende Veiga (2011, p. 1) que: A Lei dos Direitos Autorais (LDA 9.610/98) e as limitações proporcionadas por ela na seara da Educação têm sido tema de debates nos últimos anos. Segundo a legislação vigente, algumas práticas, como a cópia integral de livros e a digitalização de obras - para que sejam disponibilizadas na internet -, são proibidas. Observa Mizukami (2009, p. 4) que, na citada lei, mais precisamente no inciso II do art. 46, traz que Não constitui ofensa aos direitos autorais: a reprodução, em um só exemplar de pequenos trechos, para uso privado do copista, desde que feita por este, sem intuito de

7 lucro. No entanto, para o acesso à informação e ao conhecimento, o texto completo atende às necessidades do direito à educação, mas que mesmo que tal previsão existe entendimentos diferentes entre os doutrinadores e estudiosos da área de direitos autorais. Para tanto, conforme Brasil (2011), uma consulta pública tem sido desenvolvida, incorporando as questões educacionais no contexto dos debates, observando temáticas que envolvem os direitos autorais com relação ao acesso à cultura, à sociedade da informação, aos acervos digitais, ao direito do consumidor, à dignidade humana, entre outros. Na visão de Monteiro (2011), tais debates visam tanto resguardar os interesses morais e patrimoniais dos criadores de obras artísticas e intelectuais, como os direitos de todo cidadão brasileiro ao acesso à educação. No entanto, entende Monteiro (2011, p. 1) que: [...] os direitos autorais deveriam facilitar e promover o acesso aos bens culturais e educacionais por toda a sociedade, de maneira equilibrada. No entanto, a legislação brasileira de direitos autorais acabou por se tornar um entrave à livre difusão cultural, à educação, ao avanço científico-tecnológico e, consequentemente, ao desenvolvimento econômico. É nesse sentido que o autor defende uma reforma na lei de Direito Autoral para atendimento do direito à educação. É também a posição adotada por Mizukami (2009, p. 32) ao observar que Apesar das maiores possibilidades de acesso à informação e ao conhecimento propiciadas pelas novas tecnologias digitais e internet, persistem mecanismos restritivos que dificultam o pleno desenvolvimento dos processos educativos. Tais mudanças, segundo Veiga (2011), traria benefícios para a educação em vários sentidos, podendo, inclusive, trazer a descriminalização do uso de obras para facilitar o acesso de todos os cidadãos brasileiros, por meio da digitalização. E isso é corroborado pelo posicionamento de Amorim e Piva Junior (2011, p. 7) ao mencionarem que: A legislação brasileira ainda não está atualizada a ponto de considerar todos os casos possíveis, em especial no que se refere a direitos morais, autorais, patrimoniais e de distribuição via Internet. Assim, os advogados costumam trabalhar com analogias quando os casos não estão previstos em Lei. Entendem, pois, os autores mencionados, que os projetos de produção de produtos digitais/educacionais para EAD, por suas especificidades, demandam a definição de uma política específica de propriedade intelectual que esteja em conformidade com as demais políticas da escola/organização. Em vista disso, defende Aguiar (2009, p. 14) que: Podemos dizer que a falta de acesso à informação, ou ainda, o acesso limitado e distorcido, pode cercear o exercício pleno da cidadania. Nesse

8 sentido, interessa-nos destacar a dualidade interpretativa da lei brasileira que rege o direito autoral brasileiro (LDA 9.610/98). Essa lei assegura o direito de manifestação e expressão do autor, de um lado. Do outro, restringe a ampliação do direito ao acesso e (re)uso da informação e do conhecimento. Tem-se, portanto, os elementos básicos para requerência de mudança na legislação autoral para atendimento do direito à educação, uma vez que a o direito autoral não se encontra adequado ao avanço tecnológico que se encontra em emergência no tempo atual. CONSIDERAÇÕES FINAIS Observando-se nesse estudo as questões atinentes à educação, a EAD e a legislação dos direitos autorais no Brasil, tem-se, evidenciado que há um desequilíbrio entre as previsões conferidas para as questões autorais, em detrimento da sociedade ao acesso à educação. Tal fato pode ser melhor observado na questão apresentada por Sacavino (2006, p. 458) ao mencionar que A democratização da aprendizagem e a universalização dos direitos educacionais requerem tanto vontade política quanto uma sociedade civil fortalecida, com espaço e voz para poder participar efetivamente do sistema educacional. Isso também baseado no que expressa Árias e Amaral (2010), considerando que a importância da educação é de tal ordem que agrega significado e valor à vida de todas as pessoas, sem discriminação. Tendo-se, portanto, que a educação é direito de todos e dever do Estado e da família, consagrado constitucionalmente para atender toda a dimensão populacional por força do Estado Democrático de Direito lastreado no princípio da dignidade humana e no exercício da cidadania, jamais podendo ser coibido sob qualquer forma de restrição. Por outro lado, o direito autoral também é um direito consagrado constitucionalmente, contemplando todos os autores ao direito das suas obras. Há, indisfarçavelmente, um desequilíbrio entre a legislação autoral e o direito à educação, exigindo, por conseqüência, uma adequação legal para os direitos autorais que contemple o direito à educação, por isso, necessitando de uma mudança que não promova prejuízo a nenhuma das partes e efetive o acesso à informação e ao conhecimento de forma a atender o Estado Democrático de Direito. Tais mudanças com certeza promoveriam maior efetividade à EAD que além de corroborar o acesso à informação e ao conhecimento de forma mais flexível àqueles que dela necessita como efetivaria indubitavelmente o acesso à educação em sua plenitude.

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