LENDO O MUNDO ATRAVÉS DA TRIDIMENCIONALIDADE. Maria Perpétua CEMEI San Martin petasc@clik21.com.br Campinas-SP, Sonia Evangelista Ferreira, CEMEI San Martin petasc@ig.com.br Campinas SP, Silvana Ortiz Vieira Ruiz CEMEI San Martin, Campinas-SP. O presente trabalho surgiu com a idéia de uma exposição para a comunidade ao final do primeiro semestre de 2.006 na CEMEI (Centro Municipal de Educação Infantil) San Martin. Cada turma colocaria em exposição os projetos desenvolvidos ao longo do semestre focando sempre no tridimensional. A nossa turma do Girassol, de crianças de 1ano e 10 meses a 3 anos e meio, apresentou outras formas de se ler o mundo e espaços em que vivemos e usamos em nosso cotidiano, o modo como as crianças exploram os objetos a sua volta, como sentem e agem frente à situações do cotidiano da creche e suas relações com as crianças da mesma idade, de diferentes idades e em suas relações com os adultos. A sala das crianças pequenas foi transformada em uma grande caixa surpresa. Por que grande caixa surpresa? Porque desde o início do ano letivo nós tínhamos uma caixa surpresa onde colocávamos objetos e até mesmo aves( pintinhos, patinhos), roedores (ramister), pele de bode entre outros vivenciando projetos desenvolvidos na turma propiciando às crianças experiênciarem o elemento surpresa oportunizando a cada uma delas desenvolverem a linguagem orla, curiosidade e interesse por outros tipos de atividades que não a habitual, papel e lápis na mesa.
A sala foi toda escurecida com papel pardo de modo que as pessoas que participavam da oficina nada podiam ver a não ser com o auxílio de uma lanterna que o guia, assim denominada a pessoa que conduzia o grupo para explorar os objetos da sala, acendia e movimentava o foco de luz com rápidos fleches de modo a aguçar ainda mais a curiosidade, medo e imaginação dos exploradores. Sentimentos estes que fazem parte do cotidiano da educação infantil, onde as crianças pequenas por meio de histórias contadas ou encenadas exercitam sua imaginação, curiosidade, medos, inseguranças, alegrias e fascinação, ao mesmo tempo. tornando possível experimentar o que o outro experimenta e, assim, dar forma à própria experiência. (RIZZOLI, 2005:6). A grande caixa surpresa era composta de caixas para se tocar como argila, macarrão, gelatina, creme de barbear e por que não, minhocas! Havia um canto especial onde explorava-se com os pés. Com os pés descalços a pessoa auxiliada pelo guia podia sentir no chão, nada menos e nada mais que uma bandeira do Brasil toda feita com grãos de cores variadas (ervilha, milho de pipoca, feijão e arroz pintado de azul) confeccionada pelas próprias crianças que antenadas à Copa do Mundo quiseram demonstrar o quanto estavam torcendo para que o Brasil fosse vencedor, atentas sempre aos fatos que nos rodeiam trazendo estas informações para a creche compartilhando com as demais crianças e adultos formando um grande projeto em comum.
Podia se ver com os fleches de luz como se fosse um jardim, um jardim iluminado de girassóis. O barulho feito pelo celofane quando tocado era de águas, mas não se deixe enganar, era um jardim de girassóis confeccionado pela própria turma do girassol e suas professoras, utilizando diversos materiais e instrumentos para conseguir chegar a textura proposta, propiciando às crianças momentos de exploração de materiais diversos, misturas de cores, ou seja, momentos agradáveis de brincar com os desenhos. Mas não se espante quando algo atrás de você se mexer sem que ninguém esteja por perto é um fantasma disse uma criança que participava da oficina, mas na verdade era um bunner todo decorado com imagens de nossas aventuras e aprendizagens na creche movimentado por outra guia por meio de um pesinho de areia, imagens estas que poderiam ser vistas ao final da exposição quando as luzes eram acesas e o mistério desvendado para os participantes. Para aguçar ainda mais a curiosidade dos exploradores, colocamos um fundo musical de suspense, pois a música aumenta ainda mais nossas sensações possibilitando ao nosso imaginário alçar vôos mais altos. No chão bexigas voadoras que se movimentavam através do ventilador causando a impressão de que algo estava tocando em nossas pernas. Em alguns espaços colocamos colchões que tornavam o nosso chão sólido em algo impreciso, imprevisível e irregular, como foi para nós e nossas
crianças e seus pais, os primeiros dias na creche no período de adaptação quando ao chegarem na creche encontraram pessoas diferentes espaços diferentes. Embora os espaços fossem organizados para recebê-las e mesmo que tenhamos possibilitado a permanência dos pais junto às crianças até que se sentissem seguras para ficarem apenas com as professoras, pois segundo BOVE em seu texto Inserimento a presença de uma pessoa com quem a criança já esteja familiarizada é de grande importância trazendo à ela uma segurança emocional que durará mesmo quando os pais não estiverem mais presentes, trazendo também segurança para experimentar a vida no nosso contexto (a creche), oferecendo a nós professoras a oportunidade de aprender sobre a individualidade de cada criança e observar as diferentes relações entre pais e filhos. (BOVE, 2002:135-147). Ainda Assim a insegurança, o medo, a dor da separação da mãe, do pai, da avó, da tia, era manifesto por meio de choros, linguagem esta que não podemos desprezar, pois é uma das muitas linguagens presentes na vida das crianças pequenas. Assim, a exposição aqui descrita foi desenvolvida atentando sempre às falas das crianças, gestos brincadeiras enfim, ao modo como agem e interagem com o mundo em que vivem, pois as crianças nesta faixa etária nas palavras de Luiz Percival Leme Britto:
(...) assim como os outros lêem com os olhos ou com as mãos. Na primeira infância, ler com os ouvidos é mais fundamental que ler com os olhos. Ao ler com os ouvidos a criança não apenas se insere na interlocução com o discurso escrito organizado numa sintaxe, num léxico e numa prosódia diferente, como passa a compreender as modulações de vida que se enunciam num texto escrito. Ela experimenta a voz escrita. (BRITTO, 2005: VII). Com a exposição propiciamos a outros profissionais d familiares das crianças que freqüentam a creche até mesmo à comunidade, vivenciar as sensações do cotidiano de nossas crianças, outras formas de se ler com manifestações que vão além das manifestações gráficas de interpretar o mundo sem ser através das letras, tão valorizadas por muitos pais que insistem em antecipar a alfabetização das crianças pequenas, mostrando assim a multiplicidade de linguagens que podemos explorar na educação infantil sem cair na armadilha e ceder aos apelos desta sociedade grafocêntrica, percebendo o quanto nós adultos perdemos nossa sensibilidade (capacidade) de ler de outras maneiras, nos prendendo sempre à leitura e escrita das palavras.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOVE,Chiara. Inserimento: uma estratégia para delicadamente iniciar relacionamentos e comunicações. In. EDWARDS,Carolyn e GANDINI, Lella. Bambini: a abordagem italiana à educação infantil. Porto Alegre: Artes Médicas,2.002. BRITTO, L.P.L. Educação infantil e cultura escrita. FARIA, Ana Lúcia G. e MELLO, Suely A. (orgs.). Linguagens Infantis: outras formas de leitura. Campinas, Autores Associados, 2.005. RIZZOLI, Maria Cristina. Leitura com letras e sem letras na Educação infantil do norte da itália. FARIA, Ana Lúcia G. e MELLO, Suely A. (orgs.). Linguagens Infantis: outras formas de leitura. Campinas, Autores Associados, 2.005.