A COMPLEXIDADE NAS QUESTÕES SÓCIO-AMBIENTAIS: DIMENSÃO TEMPORAL Giselle Watanabe-Caramello, Maria Regina Dubeux Kawamura Investigações sobre as questões sócio-ambientais apontam para a necessidade de substituir a visão simplificadora por outra que contemple aspectos da complexidade e Física do não equilíbrio. Diante disso, esse trabalho analisa os elementos presentes nas considerações temporais, tais como o conceito de tempo construtivo, seus aspectos históricos e influências no desenvolvimento dos sistemas fora do equilíbrio.
A COMPLEXIDADE NAS QUESTÕES SÓCIO- AMBIENTAIS: DIMENSÃO TEMPORAL (Categoria: A. Desafios e debates sócio-ambientais nos conteúdos CTS/CTSA) Introdução: outra linguagem da ciência para tratar os temas sócio-ambientais A questão CTS cada vez mais vem sendo associada às discussões ambientais, em especial, porque elas trazem implicações diretas sobre o nosso modo de lidar com o meio. Nessa associação existem, contudo, diferentes concepções e perspectivas quanto à maneira de tratar as temáticas envolvidas, levando às distintas educações ambientais. Diante disso, acentua-se a dificuldade em associar conhecimento disciplinar específico às discussões mais abrangentes. Ou seja, o discurso trazido pelas diferentes concepções a respeito da educação ambiental (EA) não está claramente associado ao conhecimento disciplinar, relação fundamental se o interesse é a compreensão real do problema. A nosso entender, o distanciamento entre o conhecimento específico e as discussões mais abrangentes ocorre porque há uma tentativa de tratar as questões complexas através de uma linguagem da ciência inadequada, restrita ao determinismo. Especificamente, considerando a abordagem física, parece não ser suficiente apenas analisar as questões sócio-ambientais do ponto de vista de fluxos de massa e energia; trata-se de procurar introduzir nessa abordagem uma visão de ciência mais contemporânea, que é a da complexidade. Em linhas gerais, significa substituir a visão simplificadora por uma outra que contemple dinâmicas e inter-relações, probabilidades e não resultados de maior grau de certeza. Diante disso, o trabalho aqui apresentado, tem o objetivo de analisar os elementos presentes nas considerações temporais que possam contribuir para uma mudança na forma de lidar com essa temática, pautada pela linguagem da complexidade. Metodologia da pesquisa A metodologia e análise da pesquisa estão baseadas numa reflexão teórica aportada em diferentes estratégias. Tais estratégias referem-se às investigações, de cunho concreto, realizadas com alunos e professores; e análise de espaços curriculares, tomando como referência os livros didáticos e currículos escolares (Watanabe- Caramello e Kawamura, 2011). Desse conjunto emergiu a percepção de que o conhecimento físico escolar contribui para uma visão estática da natureza, em que o tempo é apenas uma variável interna. Para fazer frente a essa compreensão, buscouse investigar o papel da dimensão temporal a partir de diferentes olhares da complexidade, tendo como principais referenciais teóricos Morin (2007) e Beck (1998), assim como os aspectos da física de não equilíbrio, discutidos por Prigogine e Stengers (1984), além de outros autores que tratam da EA, como García (2004). A partir dessa base teórica e das reflexões que se estabeleceram, identificam-se aspectos da dimensão temporal a serem privilegiados nas análises das questões sócio-ambientais, visando às especificidades e não generalidades dos sistemas em estudo. Considerações e Resultados A partir dessas reflexões, evidenciou-se não apenas a necessidade de incorporar os aspectos da complexidade nos discursos, mas de articulá-los nos contextos educacional, do ensino e epistemológico. Para estabelecer essa articulação foram propostas as ênfases, que se caracterizam por transcenderem aos temas específicos e conteúdos, estando mais voltadas às abordagens do que aos conceitos. Assim, para
além da estruturação dos temas e conceitos, trata-se de privilegiar determinadas ênfases nas abordagens escolares. A partir da reflexão teórica desenvolvida, buscouse, portanto, aprofundar os aspectos que caracterizam a ênfase temporal. A necessidade de contemplar a evolução de sistemas, de forma não restrita a seus aspectos locais, mas com a preocupação em situar processos e fenômenos em uma perspectiva evolutiva foram aspectos fundamentais para a identificação da ênfase temporal. Da mesma forma, o tratamento da termodinâmica não pode se restringir às situações de equilíbrio térmico, mas privilegiar a evolução de sistemas abertos, em que a irreversibilidade pode assumir contornos mais abrangentes, relacionados à evolução do universo. Trata-se de fazer frente a um discurso científico restritivo em que prevalece uma visão de natureza morta e inerte em contrapartida à realidade dinâmica e complexa suscitada pelos temas sócio-ambientais. A partir dessa constatação ficou clara a necessidade de considerar a complexidade no contexto educacional, no qual o foco está na formação do indivíduo, evidenciando aspectos que caracterizam o pensamento complexo (MORIN, 2007) assim como a sociedade de risco (BECK, 1998). Isso implica estabelecer uma relação estreita entre homem, natureza e ciência, na qual a evolução temporal evidencia de forma articulada a história geológica, biológica e humana. No contexto do ensino, a complexidade sob a perspectiva da ênfase temporal ganha papel de destaque a partir dos elementos trazidos pela Abordagem Temática (DELIZOICOV et al., 2002) e complexificação do conhecimento (GARCIA, 2004). Do ponto de vista epistemológico, essa ênfase encontra suporte na termodinâmica, considerando a irreversibilidade dos sistemas, em especial, quando Prigogine e Stengers (1984) alertam para a necessidade de se considerar a questão da história geológica e cósmica. A complexidade, sob esse ponto de vista implica considerar a incerteza, probabilidade e imprevisibilidade; significa considerar a flecha do tempo, um sentido privilegiado de acontecimentos. De modo particular, a concepção de um caráter construtivo para o tempo, abrindo sempre novas e imprevisíveis possibilidades, permite estabelecer as relações da história com o mundo físico. No contexto das mudanças climáticas, por exemplo, essa ênfase se explicita na comparação das escalas temporais de diversos processos, de cuja discussão resulta uma percepção mais abrangente do sistema, deslocando o homem do centro das atenções. Emerge, também, de uma discussão das transformações irreversíveis da energia na escala cósmica. Significa, ainda, analisar, no âmbito dos sistemas vivos, a história dos acontecimentos, limite e ciclo da vida. Em suma, essa ênfase chama a atenção, em diferentes contextos, para os discursos embasados por aspectos históricos e suas influências no desenvolvimento dos sistemas, trazendo essa discussão para o interior do próprio conhecimento físico. Esses elementos, a nosso ver, são essenciais para promover reflexões longe das certezas, dando espaço para tratar a história, de um passado ainda pouco conhecido e um futuro imprevisível. Referências Bibliográficas BECK, U. (1997), A reinvenção da política: rumo a uma teoria da modernização reflexiva. In: Beck, U; Giddens, A. e Lash, S. (Org), Modernização reflexiva, p.11-72. São Paulo: Editora da Unesp. DELIZOICOV, D.; ANGOTTI, J. A.; PERNAMBUCO, M. M. (2002) Ensino de Ciências: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez. GARCÍA, J. E. (2004). Educación ambiental, constructivismo y complejidad. Série Fundamentos, n. 21. Espanha: Díada Editora S. L. MORIN, E. (2007). Introdução ao pensamento complexo. 3ª ed. Porto Alegre: Sulina.
PRIGOGINE, I.; STENGERS, I. (1984). A nova aliança. Brasília: Editora Universidade de Brasília. WATANABE-CARAMELLO, G.; KAWAMURA, M. R. D. (2011). Questões ambientais: a demanda por novas abordagens no ensino de Física. In: XIII Encontro de Pesquisa em Ensino de Física. Paraná: Foz do Iguaçu.