CONFORTO TÉRMICO DE GALPÕES CUNÍCULAS UTILIZANDO TÉCNICAS DE GEOESTATÍSTCA Patrícia F. Ponciano FERRAZ*¹, Maria Alice J. Gouvêa SILVA², Gabriel A. e Silva FERRAZ³, Raquel S. de MOURA 4, Luis Fillipe L. de MELO 5 *autor correspondente: patricia.ponciano@deg.ufla.br 1,2,3,4,5 Universidade Federal de Lavras, Lavras, Minas Gerais, Brasil Resumo: Para que o coelho tenha um bom desempenho zootécnico, deve-se levar em consideração o ambiente térmico que o animal ficará exposto durante o período produtivo para evitar o estresse térmico dos animais. O objetivo do trabalho foi analisar e comparar a estrutura e magnitude da distribuição espacial da entalpia (H) em dois galpões cunículas, sendo um com lanternim (CL) e outro sem (SL). O experimento foi desenvolvido no Setor de Cunicultura do Departamento de Zootecnia da UFLA. Foram realizadas coletas de temperatura do bulbo seco e umidade relativa do ar durante um minuto, em 48 pontos de 1 m². Posteriormente, calculou-se a entalpia (H) e realizou-se uma análise dos dados utilizando ferramentas da geoestatística que geraram mapas com a espacialização da H, por meio dos valores estimados por Krigagem ordinária. Com base nos resultados, foi observado que a distribuição da H manteve-se heterogênea e acima da faixa considerada como confortável para a produção cunícula durante todo o período experimental, mas, apesar disso, o galpão CL demonstrou estar em condições mais favoráveis que o galpão SL, sendo o lanternim um dos fatores que, possivelmente, podem ter contribuído com a pequena melhora na H no galpão CL. Palavras-chave: conforto ambiental, cunicultura, mapeamento, produção de coelhos Introdução
Para que a atividade cunícula seja eficiente na produção de carne e pele de boa qualidade é necessário, segundo Jaruche et al. (2012), que os coelhos acima de 30 dias de vida estejam submetidos a uma temperatura ideal, compreendida entre 15 e 25 C e umidade relativa entre 60 e 70 % (Ferreira et al., 2012). Neste contexto, para avaliar e melhorar microclima no interior de galpões cunículas pode-se utilizar uma propriedade termodinâmica chamada de entalpia (H) por considerar as variáveis ambientais que mais influenciam no conforto térmico animal, a temperatura do bulbo seco (tbs, o C) e a umidade relativa do ar (UR, %). A geoestatística é uma técnica que pode ser utilizada para avaliar o ambiente térmico interno de criação de animais, pois permite descrever a distribuição das variáveis no interior de uma instalação evitando interpretações de dados de maneira tendenciosas. Desta forma, o objetivo deste trabalho foi caracterizar e comparar o ambiente térmico de dois galpões de coelhos sendo um galpão sem lanternim (SL) e outro com lanternim (CL) por meio da distribuição espacial da H utilizando mapas de isocores confeccionados, a partir, da interpolação por Krigagem. Material e métodos O experimento foi realizado no município de Lavras, MG, em dois galpões cunículas (CL e SL) no setor de Cunicultura do DZO da UFLA durante três dias de fevereiro de 2016. Os galpões possuem orientação na direção Leste-Oeste, 6,20 x 9,60 m de tamanho, pé-direito de 3,40 m, beiral de 1,15 m, telhado de telhas coloniais de barro com inclinação de 30 e as laterais possuem muretas de alvenaria medindo 0,80 m de altura. Para caracterizar o microclima interno dos galpões foram realizadas medições em 48 pontos de coleta de dados durante 1 minuto de tbs, UR e temperatura de globo negro (tgn, o C) na altura 1,0 m, no horário das 12 horas durante o horário
brasileiro de verão. Para coletar os dados de tbs e UR, utilizou-se um sensor com precisão de 0,1 C e 1%, respectivamente. A coleta de dados da tgn foi realizada por meio de 10 sensores de tgn e um fio termopar tipo T convencional básico (cobre/constantan) com precisão de ± 0,3 C. Posteriormente, calculou-se a H por meio da equação desenvolvida por Albright (1990) para a caracterização do ambiente térmico no interior dos galpões. Após os resultados obtidos a partir do cálculo da H dos galpões cunículas, foi realizada a análise geoestatística e a confecção dos mapas das variáveis espaciais utilizando o sistema computacional estatístico R (R Development Core Team, 2014), por meio do pacote geor (Ribeiro; Diggle, 2001). Resultados e discussão Ao realizar as análises de geoestatística, verificou-se que durante o período experimental houve variabilidade espacial da H no interior dos dois galpões (Tabela 1). Tabela 1 Método REML, modelo esférico e parâmetros estimados dos semivariogramas para a entalpia no interior dos galpões CL e SL às 12 horas em três dias de fevereiro de 2016 Di a 1 2 3 Galpã o Cₒ C₁ Cₒ + C₁ a GD EM DPEM ER DPER CL 0.00 3.27 3.27 1.76 0.00 Forte 0.00 1.56 0.00 0.95 SL 0.00 33.90 33.90 0.97 0.00 Forte 0.00 5.95 0.00 1.01 CL 0.00 7.64 7.64 2.89 0.00 Forte 0.00 1.49 0.00 0.80 SL 0.00 18.76 18.76 5.31 0.00 Forte -0.05 1.79-0.01 0.82 CL 0.00 2.17 2.17 4.30 0.00 Forte -0.02 0.74-0.01 0.92 SL 0.00 24.56 24.56 5.58 0.00 Forte 0.03 2.39 0.01 0.98 C0 Efeito Pepita; C1 - Contribuição; C0+C1 Patamar; a alcance (m); GD Grau de Dependência Espacial; EM - Erro Médio; DPEM - Desvio Padrão do Erro Médio; ER - Erro Médio Reduzido; DPER - Desvio Padrão do Erro Médio Reduzido. Com isso, foi possível observar que devido ao grau de dependência (GD) apresentar-se forte, a distribuição espacial dentro dos galpões não estava
homogênea, o que pode influenciar nas condições térmicas em que os animais ficaram expostos no interior das instalações. Ao analisar os valores de alcance (a) para a determinação do limite da dependência espacial, encontraram-se diferenças importantes que permitiram observar que, o menor e maior valor de alcance de 0,97 m e 5,58 m foi obtido no galpão SL, nos dias um e três, respectivamente. De acordo com a equação proposta por Albright (1990), a H calculada como sendo a ideal para produção de coelhos será de 33,55 a 53,19 kj.kg -1 ar seco. Sendo assim, notou-se que houve grande variação espacial da H no galpão SL nos três dias estudados (Figuras 1d, 1e e 1f) de 68 a 88 kjkg -1 ar seco estando acima da H considerada ideal para a criação de coelhos (33,55 a 53,19 kjkg -1 ar seco), entretanto, no galpão CL (Figuras 1a, 1b e 1c), apesar de não encontrar-se na faixa ideal de H, observou-se que essa variou menos obtendo valores de 60 a 76 kjkg -1 ar seco. Figura 1 - Distribuição espacial da entalpia nos galpões CL nos dias 1 (a), 2 (b) e 3(c) e SL nos dias 1(d), 2(e) e 3(f) durante o horário das 12 horas. A distribuição da H mante-se heterogênea e acima da faixa considerada como confortável para a produção cunícula durante todo o período experimental, mas, apesar disso, o galpão CL demonstrou-se estar em condições mais desejáveis que o galpão SL, sendo o lanternim um dos fatores que, possivelmente, podem ter contribuído com a pequena melhora na H no galpão CL.
Desta maneira, de acordo com Jaruche et al. (2012), os coelhos que são expostos a condições estressantes estão mais susceptíveis a situações de desequilíbrios fisiológicos como, por exemplo, aumento na temperatura corporal, que pode afetar negativamente o consumo de alimentos e água, ganho de peso e conversão alimentar. Por isso, torna-se importante a realização de estudos científicos que ajudem a amenizar os efeitos danosos do estrese por calor e a desenvolver tecnologias específicas para as regiões de clima quente fornecendo informações que orientem as atividades cunículas no Brasil. Conclusão Foi possível comparar, através do uso das técnicas de geoestatística, a variabilidade espacial da H no interior dos galpões CL e SL construídos para alojar coelhos de produção. E, além disso, pode-se concluir que o galpão com lanternim apresentou menor variação na distribuição espacial dos valores de H quando comparado ao galpão sem lanternim. Referências Albright, L. D. Environment control for animals and plants. American Society of Agricultural Engineers Michigan. 1.ed. St Joseph: Michigan, 1990. 453p. Ferreira, W. M.; Machado, L. C.; Jaruche, Y. de G.; Carvalho, G. G.; Oliveira, C. E. A.; Souza, J. D A. S.; Caríssimo, A. P. G. Ed. do autor. Manual prático de cunicultura. Bambuí, 2012. 75p. Jaruche, Y. G.; Filho, D. E. F.; Dias, A. N.; Fernandes, D. P.; Ribeiro, H. O. C.; Siqueira, A. A.; Sima, P. S.; Ornelas, O. T. C.; Cruz, L. J.; Caixeta, V.; Barbosa, P. M. Efeito da densidade de alojamento sobre a homeostase térmica em coelhas em crescimento mantidas em diferentes temperaturas. Revista Brasileira de Cunicultura, 2012. v.1: 1-42p. R Development Core Team. R: a language and environment for statistical computing. Vienna: R Foundation for Statistical Computing, 2017. <http://www.rproject.org/>. 6 Set. 2017. Ribeiro Junior, P. J.; Diggle, P. J. 2001. Geor: A Package For Geostatistical Analysis. R- News, New York, 1:14-18.