DESENVOLVIMENTO DE INDICADOR DE QUALIDADE DE SANEAMENTO AMBIENTAL URBANO E APLICAÇÃO NAS MAIORES CIDADES PARANAENSES



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DESENVOLVIMENTO DE INDICADOR DE QUALIDADE DE SANEAMENTO AMBIENTAL URBANO E APLICAÇÃO NAS MAIORES CIDADES PARANAENSES 1 PEREIRA, Máriam Trierveiler & 2 GIMENES, Marcelino Luiz mariam.trier@gmail.com 1. INTRODUÇÃO Uma cidade é considerada sustentável na medida em que é capaz de evitar a degradação e manter a saúde de seu sistema ambiental, reduzir a desigualdade social, prover sua população com um ambiente construído saudável, bem como construir pactos políticos e ações de cidadania que permitam a seus habitantes enfrentar desafios presentes e futuros (BRAGA, FREITAS & DUARTE, 2002). A discussão sobre cidades sustentáveis só tomou vulto nos últimos dez anos, graças aos impulsos dados pela Rio-92 e pela Conferência Habitat II. Essas conferências possibilitaram uma reflexão sobre os problemas urbanos e rurais, principalmente devido ao fracasso das políticas de fixação da população rural em todo o mundo, independentemente do contexto político ou econômico e devido à efetividade do fato de que a cidade parece ser a forma que os seres humanos escolheram para viver em sociedade e prover suas necessidades (CPDS, 2004a). A Agenda 21 brasileira recomenda criar e/ou fortalecer órgãos de planejamento urbano e regional reforçando a dimensão ambiental em suas estruturas técnicoburocráticas, aperfeiçoando suas bases de dados sobre unidades territoriais de gestão e planejamento. (CPDS, 2004a). Como as cidades são grandes pólos econômicos, as atividades atraem cada vez mais pessoas para as áreas urbanas. Nesse sentido, é necessária uma profunda reformulação das políticas públicas das áreas urbanas para que as cidades brasileiras se 1

transformem em cidades sustentáveis. Para tanto, algumas questões precisam de especial atenção: a dificuldade de acesso à terra, o déficit habitacional, a carência de saneamento ambiental (abastecimento de água, coleta e tratamento dos esgotos, drenagem pluvial urbana e coleta e tratamento do lixo), a carência de uma política nacional de transporte e de trânsito, e o desemprego e a precarização do emprego (CPDS, 2004b). O Ministério do Meio Ambiente acredita que um sistema de ciência e tecnologia deve incorporar várias dimensões para o desenvolvimento, como social, cultura, ambiental, político, institucional e demográfico. Dessa forma, recomenda que a ciência brasileira adote estratégias para a gestão ambiental, tendo como objetivo, entre outros, atualizar os instrumentos de gestão vigentes garantindo a introdução de indicadores econômicos, culturais e sociais, visando ao equilíbrio do desenvolvimento com a legislação ambiental (CPDS, 2004b). No final da década de 80 surgiram propostas para a construção de indicadores ambientais de sustentabilidade, que seguem três vertentes principais: a biocêntrica, a econômica e a de sustentabilidade e qualidade ambiental (BRAGA, FREITAS & DUARTE, 2002). Os indicadores ambientais existentes são, via de regra, modelos de interação atividade antrópica/meio ambiente que podem ser classificados em três tipos principais: estado, pressão, resposta (YALE UNIVERSITY, 2005). O objetivo dos indicadores é agregar e quantificar informações de modo que sua significância fique mais aparente e seja comparável. Para Bellen (2006), as principais funções dos indicadores são, entre outras, a avaliação de condições e tendências e a comparação entre lugares e situações. Segundo esse autor, bons indicadores devem, entre outros aspectos, possuir ampla base de dados com fácil acesso, devem ser claros nos valores e em seu conteúdo, devem ser relevantes politicamente e suficientes para uma ação política, e devem ser provocativos, levando à discussão, ao aprendizado e à mudança. 2

2. OBJETIVOS O objetivo desse estudo foi desenvolver um indicador que avaliasse a qualidade do saneamento ambiental urbano e aplicá-lo às cidades paranaenses com mais de 100.000 habitantes. A avaliação da qualidade do saneamento ambiental é mais complexa do que a simples verificação de atendimento de água tratada e esgotamento sanitário, coleta e disposição final de resíduos sólidos e existência de rede de drenagem de águas pluviais. Para que o objetivo fosse alcançado foi necessário: a) identificar as cidades paranaenses com mais de 100.000 habitantes; b) coletar dados sobre saneamento ambiental; c) determinar parâmetros para valoração dos dados escolhidos; d) calcular os índices de qualidade para cada cidade; e) comparar os índices de cada cidade. 3. METODOLOGIA O Indicador de Qualidade de Saneamento Ambiental Urbano (IQSU) faz parte do Indicador de Qualidade Sócio-Ambiental Urbana (IQSAU). O IQSAU é composto de indicadores que formam uma Dimensão Sócio-Econômica (educação, saúde, segurança, emprego e renda, moradia, cultura e lazer), uma Dimensão de Infra-Estrutura e Serviços (mobilidade e acessibilidade, saneamento ambiental, energia elétrica, comunicações), uma Dimensão Ambiental (qualidade ambiental da água, do ar, do solo e das áreas verdes) e uma Dimensão Climática. Os municípios para aplicação do indicador são os que contavam com 100.000 habitantes em 2008: Apucarana, Arapongas, Araucária, Campo Largo, Cascavel, Colombo, Curitiba, Foz do Iguaçu, Guarapuava, Londrina, Maringá, Paranaguá, Pinhais, Ponta Grossa, São José dos Pinhais e Toledo. 3

Desses, a Companhia de Saneamento do Paraná (SANEPAR) atua em 15 municípios. A prefeitura do município de Paranaguá administra o abastecimento de água tratada e tratamento do esgoto doméstico por meio da Companhia de Água e Esgoto de Paranaguá (CAGEPAR). Os dados foram coletados no Ministério das Cidades, disponíveis no Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) (MCIDADES, 2009). Nesta série histórica estão disponíveis dados de água e esgoto de 1995 a 2007. O período de dados de resíduos sólidos é de 2002 a 2006. Os dados de conformidade de água tratada foram fornecidos pela SANEPAR (SANEPAR, 2005; SANEPAR, 2006). Os dados sobre alagamentos e enchentes são da Defesa Civil (SUDERHSA, 2009) e os dados de destino dos resíduos sólidos são da Superintendência de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental (SUDERHSA, 2008). Para o cálculo do IQSU foram desenvolvidos quatro indicadores primários: Indicador de Qualidade do Abastecimento de Água (IQAA), Indicador de Qualidade do Esgotamento Sanitário (IQES), Indicador de Qualidade de Coleta e Disposição de Resíduos Sólidos (IQRS) e o Indicador de Drenagem de Águas Pluviais (IQD). Foram calculados os indicadores para os anos de 2005 e 2006, pois apenas para esse período existem dados para todas as variáveis utilizadas. 3.1. Indicador de Qualidade de Abastecimento de Água (IQAA) Para o cálculo do IQAA foram utilizadas as variáveis mostradas na Tabela 1 com seus respectivos parâmetros. 4

Tabela 1 Variáveis para o cálculo do IQAA e seus parâmetros Códigos Variáveis Parâmetro para IQAA Parâmetro para = 100 IQAA = 0 AA1 Tarifa média de água [R$/m³] < valor mínimo - AA2 Consumo médio per capita de < 150 L/hab.dia > valor máximo água [L/hab.dia] AA3 Índice de atendimento urbano de 100 % 0 % água [%] AA4 Índice de perdas na distribuição 0 % 100 % [%] AA5 Duração média das paralisações < valor mínimo - [horas/paralisação] AA6 Índice de conformidade da água INC = 0 * INC = 100 * tratada [%] * Nota: INC Índice de Não-Conformidade (Equações 1 e 2). INC i %amostrasnci + %mesesnc = i (1) 2 2*INCCT + 2*INCCTT + INCcor + INC + 2*INCCl + 2*INCF + 5*INCTHM + 5*INC turbidez PS INC= (2) 20 Onde: CT coliformes totais CTT coliformes termotolerantes Cl cloro F flúor THM trihalometanos PS parâmetro semestral 5

Para cada parâmetro analisado (coliformes totais, coliformes termotolerantes, cor, turbidez, cloro, flúor, trihalometanos, parâmetros semestrais) foi verificado o número de amostras não atendidas e o número de meses não atendidos. Esses valores foram transformados em porcentagem do total de amostras e do total de meses. Para cada parâmetro foi calculada a média aritmética da porcentagem de amostras não-conformes e a porcentagem de meses não-conformes (Equação 1). Para calcular o Índice de Não-Conformidade (INC) foi feita uma média ponderada, levando-se em consideração a toxicidade dos compostos analisados, de acordo com a Equação 2. O IQAA foi calculado como a média aritmética simples das variáveis selecionadas, conforme Equação 3. AA1 + AA2 + AA3 + AA4 + AA5 + AA6 IQAA= (3) 6 3.2. Indicador de Qualidade de Esgotamento Sanitário (IQES) Para o cálculo do IQES foram utilizadas as variáveis mostradas na Tabela 2 com seus respectivos parâmetros. 6

Tabela 2 Variáveis para o cálculo do IQES e seus parâmetros Códigos Variáveis Parâmetro para IQES = 100 Parâmetro IQES = 0 ES1 Tarifa média de esgoto < valor mínimo - [R$/m³] ES2 Índice de coleta de esgoto 100 % 0 % [%] ES3 Índice de tratamento de esgoto 100 % 0 % [%] ES4 Índice de atendimento urbano de 100 % 0 % esgoto referido aos municípios atendidos com água [%] para O IQES foi calculado como a média aritmética simples das variáveis selecionadas, conforme Equação 4. ES1 + ES2 + ES3 + ES4 IQES= (4) 4 3.3. Indicador de Qualidade de Coleta e Disposição de Resíduos Sólidos (IQRS) Para o cálculo do IQRS foram utilizadas as variáveis mostradas na Tabela 3 com seus respectivos parâmetros. O IQRS foi calculado como a média das variáveis selecionadas, com peso 2 para a variável de recuperação de materiais recicláveis, conforme Equação 5. 7

Tabela 3 Variáveis para o cálculo do IQRS e seus parâmetros Códigos Variáveis Parâmetro para IQRS = Parâmetro para 100 IQRS = 0 RS1 Taxa de cobertura do serviço de 100 % 0 % coleta de resíduos em relação à população urbana [%] RS2 Custo unitário médio do serviço < valor mínimo > valor máximo de coleta [R$/t] RS3 Taxa de recuperação de 100 % 0 % materiais recicláveis (exceto matéria orgânica e rejeitos) em relação à quantidade total coletada [%] RS4 Custo unitário médio do serviço < valor mínimo > valor máximo de varrição [R$/Km] RS5 Disposição dos resíduos sólidos * Existência de aterro Existência de lixão sanitário Nota: foram consideradas as seguintes disposições: lixão, aterro controlado e aterro sanitário, conforme SUDERHSA (2008). RS1 + RS2 + *2(RS )3RS4 + + RS5 IQRS= (5) 6 8

3.4. Indicador de Qualidade de Drenagem de Águas Pluviais (IQD) O cálculo do IQD foi feito pelo percentual de enchentes ou alagamentos ocorridos no ano sobre o número de meses chuvosos, de acordo com a Equação 6. NE IQD = 100 * 100 (6) 6 Onde: NE número de enchentes ou alagamentos, conforme SUDERHSA (2009). Existem poucos dados sobre enchentes, alagamentos e drenagem pluvial urbana. A maioria dessas informações fica arquivada em setores específicos das prefeituras. Como a aplicação do indicador está sendo feita em vários municípios, seria necessário um banco de dados para que as cidades não precisassem ser visitadas para a coleta de informações. Dessa forma, o IQD fica restrito a apenas uma variável. 3.5. Indicador de Qualidade de Saneamento Ambiental Urbano (IQSU) O IQSU foi calculado como a média aritmética simples dos indicadores primários, conforme Equação 7. IQAA+ IQES+ IQRS+ IQD IQSU= (7) 4 A Tabela 4 mostra os valores do IQSU e a qualidade do saneamento ambiental urbano. 9

Tabela 4 Valores do IQSU e qualidade do saneamento ambiental urbano Valores do IQSU Qualidade do Saneamento Ambiental Urbano 80-100 Ótima 60-79 Boa 40-59 Regular 20 39 Ruim 0 19 Péssima 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES Os dados estão apresentados de forma desagregada e agregada para que se tenha uma ideia da contribuição de cada indicador primário no resultado final do IQSU. As Tabelas 5 e 6 apresentam os resultados do IQAA, IQES, IQRS, IQD e IQSU para os anos de 2005 e 2006 nos 16 municípios estudados. O município de Paranaguá foi prejudicado na avaliação do IQAA porque não foram fornecidos os dados de qualidade da água tratada. Os municípios de Araucária, Colombo, Curitiba e Pinhais também foram prejudicados nesse indicador, pois os dados das variáveis selecionadas não foram enviados pelas prefeituras ao Sistema Nacional de Informações de Saneamento (SNIS). Os municípios que apresentam IQRS igual a zero não enviaram nenhum dado para o SNIS com relação a resíduos sólidos, de forma que também foram prejudicados. 10

Tabela 5 Valores dos indicadores para o ano de 2005 Município IQAA IQES IQRS IQD IQSU Apucarana 86,1 65,0 0,0 83,3 58,6 Arapongas 88,8 68,2 0,0 83,3 60,1 Araucária 39,1 64,3 0,0 100,0 50,8 Campo Largo 87,0 67,2 0,0 100,0 63,6 Cascavel 65,1 71,0 20,0 100,0 64,0 Colombo 17,6 63,1 0,0 100,0 45,2 Curitiba 39,9 78,6 54,6 83,3 64,1 Foz do Iguaçu 63,3 71,1 26,9 100,0 65,3 Guarapuava 68,8 80,8 49,0 100,0 74,7 Londrina 85,3 83,9 47,6 83,3 75,0 Maringá 66,0 81,3 20,2 83,3 62,7 Paranaguá 78,6 54,1 40,0 83,3 64,0 Pinhais 39,6 66,9 0,0 100,0 51,6 Ponta Grossa 86,0 76,1 0,0 100,0 65,5 São José dos 81,4 69,6 0,0 100,0 62,8 Pinhais Toledo 88,5 69,8 43,1 100,0 75,4 Pode-se perceber que existe falta de informações sobre saneamento ambiental, principalmente quando se trata de resíduos sólidos e drenagem pluvial urbana. Essa carência, paradoxalmente, faz com que os valores de IQRS sejam baixos e os valores de IQD sejam altos. Observando-se o IQSU, percebe-se que os municípios com menores valores não são, necessariamente, os que apresentam piores condições sanitárias, mas são os que menos informações disponibilizam. 11

Em 2006 os valores de IQAA, no geral, foram maiores do que em 2005. Os municípios de Apucarana, Cascavel, Colombo e Ponta Grossa apresentaram os menores valores desse indicador, pois não foi informada a duração das paralisações no fornecimento de água. Com relação ao IQES, os valores de 2005 e 2006 permaneceram praticamente constantes, com uma pequena queda em 2006. Os valores de IQRS também tiveram uma queda nos valores de 2006 com relação a 2005. Apenas o município de São José dos Pinhais, que obteve IQRS igual a zero em 2005, informou seus dados de 2006 para o SNIS. Os demais municípios com IQRS igual a zero em 2005 permaneceram com esse valor em 2006. Tabela 6 Valores dos indicadores para o ano de 2006 Município IQAA IQES IQRS IQD IQSU Apucarana 67,5 63,9 0,0 100,0 57,8 Arapongas 91,0 66,6 0,0 83,3 60,2 Araucária 87,5 65,1 0,0 83,3 59,0 Campo Largo 88,8 65,5 0,0 100,0 63,6 Cascavel 67,4 70,1 42,1 100,0 69,9 Colombo 63,8 62,7 0,0 66,7 48,3 Curitiba 86,1 77,9 42,6 100,0 76,7 Foz do Iguaçu 85,9 72,2 20,3 66,7 61,3 Guarapuava 91,1 79,0 49,2 83,3 75,6 Londrina 86,8 79,0 46,6 100,0 78,1 Maringá 88,3 80,3 39,4 100,0 77,0 Paranaguá 80,1 56,7 20,0 83,3 60,0 Pinhais 86,2 66,7 0,0 100,0 63,2 Ponta Grossa 68,0 75,6 0,0 100,0 60,9 12

São José dos 84,6 59,5 41,0 100,0 71,3 Pinhais Toledo 90,6 69,6 43,3 100,0 75,9 Já os valores de IQD não seguiram uma tendência de 2005 a 2006, pois alguns valores foram maiores e outros, menores. A comparação entre dos valores de IQSU para os anos de 2005 e 2006 estão mostrados no Gráfico 1. Gráfico 1 Comparação entre os valores de IQSU para 2005 e 2006 90,0 80,0 70,0 60,0 50,0 40,0 30,0 20,0 10,0 0,0 2005 2006 Apucarana Arapongas Araucária Campo Cascavel Colombo Curitiba Foz do Guarapuava Londrina Maringá Paranaguá Pinhais Ponta São José Toledo No geral, os valores para 2006 são maiores do que para 2005, com exceção de Apucarana, Foz do Iguaçu, Paranaguá e Ponta Grossa. Entretanto, não se pode afirmar que houve melhoria do saneamento ambiental da maioria das cidades, e sim, que houve maior repasse das informações para o SNIS. 13

5. CONCLUSÕES Após o término desse estudo, podem-se obter algumas conclusões, sendo a principal delas a constatação de falta de informações sobre o saneamento ambiental urbano. Isso implica em dificuldades na gestão e no planejamento urbano. As condições sanitárias de uma cidade têm relações diretas com a saúde pública e com a preservação ambiental. Para que as cidades sejam sustentáveis, é necessário que haja correta gestão do esgoto e dos resíduos sólidos domésticos. Se todos os dados fossem disponibilizados no SNIS o cálculo dos indicadores seria mais fiel à realidade sanitária das cidades. Dessa forma, seria possível verificar e sanar as deficiências de infra-estrutura e serviços, manter o ambiente preservado e reparar a degradação ambiental. 6. REFERÊNCIAS BRAGA, T.; FREITAS, A. P. G.; DUARTE, G. de S. Índice de sustentabilidade urbana. In: XIII Encontro Nacional de Estudos Populacionais. Anais... Ouro Preto: ABEP, 2002. CPDS COMISSÃO DE POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E DA AGENDA 21 NACIONAL. Agenda 21 brasileira: ações prioritárias. 2. ed. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2004a. 138 p.. Agenda 21 brasileira: resultado da consulta nacional. 2. ed. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2004b. 158 p. MCIDADES MINISTÉRIO DAS CIDADES. Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento: série histórica 6. Ministério das Cidades, Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental, Programa de Modernização do Setor Saneamento, 2009. Disponível em: <www.snis.gov.br>. Acesso em: 05/08/2009. 14

SANEPAR COMPANHIA DE SANEAMENTO DO PARANÁ. Relatório Anual da Qualidade da Água. Sanepar, 2005.. Relatório Anual da Qualidade da Água. Sanepar, 2006. SUDERHSA SUPERINTENDÊNCIA DE DESENVOLVIMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS E SANEAMENTO AMBIENTAL. Destinação final: resíduos sólidos urbanos Paraná. SUDERHSA, 2008. Disponível em: <http://www.suderhsa.pr.gov.br/meioambiente/arquivos/file/suderhsa/dest_res_urb anos_pr_jul2008.pdf>. Acesso em 15/08/2009.. Elaboração do Plano Estadual de Recursos Hídricos. Produto 1.2 - Parte D: Avaliação das disponibilidades hídricas, eventos críticos e monitoramento do uso de recursos hídricos. SUDERHSA, 2009. Disponível em: < http://www.suderhsa.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=108>. Acesso em: 15/08/2009. YALE UNIVERSITY. 2008 Environmental Sustainability Index. Yale: Yale Center for Environmental Laws & Policy, 2005. Disponível em: <www.yale.edu/esi>. Acesso em: 01/02/2008. 15