UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA CAMPUS DE PRESIDENTE PRUDENTE FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA A AVALIAÇÃO NA FORMAÇÃO DE EDUCADORES ATRAVÉS DE SUA



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Transcrição:

Avaliação Da Prática Docente A AVALIAÇÃO NA FORMAÇÃO DE EDUCADORES ATRAVÉS DE SUA PRÁTICA DOCENTE Autora: Maria Peregrina de Fátima Rotta Furlanetti Faculdade de Ciências e Tecnologia Universidade Estadual Paulista /UNESP Presidente Prudente- Est. São Paulo rotta@prudente.unesp.br INTRODUÇÃO: Este trabalho tem como objetivo avaliar a prática docente do educador/alfabetizador na sala de aula e nosso trabalho nas capacitações, tanto inicial quanto continuada, através dos trabalhos realizados pelos alunos alfabetizandos, os materiais utilizados e o plano de aula, tendo como ponto de referência as capacitações iniciais e em continuidade oferecidas a cada visita mensal e o planejamento do orientador pedagógico. METODOLOGIA: optamos pela metodologia da pesquisa qualitativa, pois esta se propõe aprofundar a complexidade das relações dos saberes sociais/históricos e nas suas interdependências. Reconhecendo que a prática e os saberes que podem ser observados no educador/alfabetizador e aluno/alfabetizando é resultado da apropriação que fazem da prática e dos saberes históricos-sociais. Entrevistando os alfabetizadores e alfabetizandos e analisando os planos didáticos podemos obter elementos para uma avaliação de nosso trabalho e das práticas docentes utilizadas pelos educadores/alfabetizandores. Estamos nesse programa desde 1998, dando as capacitações e acompanhando os trabalhos dos educadores/alfabetizadores. Durante este tempo tivemos um município que acompanhamos até o final do programa.passaram por nós cem educadores/ alfabetizadores, perfazendo um total de cinco anos de acompanhamento. Durante este percurso tivemos quatro estagiários/graduandos cooperando e intervindo nas ações pedagógicas. RESULTADOS: A prática docente do educador/alfabetizador pouco muda ou quase nada após a capacitação inicial e continuada. Para nós da universidade, a capacitação se torna muito repetitiva, pois não são as mesmas pessoas, o programa não nos dá oportunidade de fazer uma capacitação com continuidade, pois a cada 6 meses trocase os educadores/alfabetizadores. Quanto aos estagiários/graduandos o resultado é

excelente, muito aprenderam, pois estiveram acompanhando todo o processo durante todo o tempo, inclusive participando das capacitações na elaboração, execução e avaliação; fizeram viagens, conheceram outras realidades e aprenderam a lidar com um universo cultural muito diferente do nosso, podemos dizer que aprenderam a ser professor alfabetizador e coordenador pedagógico. CONCLUSÕES: A capacitação quando feita no município da universidade proporciona um maior comprometimento dos educadores/alfabetizadores com o processo, pois, esses se envolvem num clima universitário e conhecem um universo até então estranho porque percebem o quanto é necessário estudar e pesquisar para se envolverem com alfabetizandos, entram em contato direto com a pesquisa e reconhecem a importância e a responsabilidade de se tornar um alfabetizador. Durante nossas visitas, que só acontecem uma vez por mês e por 3 dias em cada município pudemos verificar que os alfabetizadores acabam trabalhando a alfabetização de acordo com as suas experiências enquanto alunos, ou seja, eles acabam utilizando os métodos de alfabetização já conhecidos por eles em sua própria prática de estudante. Verificamos através dos planos de aula e nas visitas às salas de alfabetização examinando os cadernos dos alfabetizandos bem como, os materiais utilizados em sala de aula. Apesar de se envolverem durante a capacitação reconhecemos que para formar educadores/alfabetizadores é necessário muito mais que uma capacitação de 180 horas, porque o nosso público foi de pessoas que não tinham formação de professores e alguns que já tinham essa formação se encontravam defasados em relação às pesquisas recentes sobre alfabetização de jovens e adultos. Reconhecemos, também, que ver a realidade estando dentro do contexto de seus próprios alfabetizandos é difícil, porque a realidade não é fácil compreender quando estamos inseridos no contexto, ou seja, os educadores/alfabetizadores só compreendem a sua realidade de seu próprio ponto de vista, não dando tempo, (cinco meses) de fazer uma leitura desta realidade de maneira que possam sair dela para voltar a ela e transformá-la, tal qual é necessária. Apesar disto, compreendemos o valor das trocas de informações, dos estudos feitos coletivamente e do envolvimento que algumas pessoas tiveram com a EJA e a partir daí desenvolver um compromisso e responsabilidade na sua cidade.

A AVALIAÇÃO NA FORMAÇÃO DE EDUCADORES ATRAVÉS DE SUA PRÁTICA DOCENTE Profa. Dra. Maria Peregrina de Fátima Rotta Furlanetti Universidade Estadual Paulista/UNESP Faculdade de Ciências e Tecnologia- Campus Presidente Prudente / SP Introdução A nossa angústia quanto a esse Programa esteve presente desde nosso início em 1998. Quando entramos em contato com a estrutura do programa começamos a nos perguntar se a capacitação inicial de 180 horas, mais a continuada, durante as visitas ao município, seriam suficientes para transformar a prática pedagógica dos alfabetizadores. Porque transforma-la, o leitor pode estar se questionando. Porque se trabalhamos com municípios com grande número de analfabetos precisamos pensar uma prática que dê respaldo suficiente para que os futuros alfabetizadores possam refletir sobre o problema do analfabetismo, tanto como ações na sala de aula, como ações política/pedagógica. Pensando na pedagogia de Paulo Freire como uma compreensão da educação que se compromete com a necessária emancipação permanente de seres humanos, considerados como classe, se põe como um quefazer em consonância com a também histórica natureza humana...(1991:72) procuramos compreender a cultura e o fazer cotidiano das pessoas envolvidas no processo: tanto educadores/ alfabetizadores como alfabetizandos. Tínhamos também a preocupação com os estagiários/graduandos que pouco ou quase nada conheciam sobre Alfabetização de Jovens e Adultos. Como a nossa tese de doutorado foi um estudo sobre um programa de alfabetização de jovens e adultos em nosso município, do qual participamos intensamente durante quatro anos, aceitamos o desafio de conhecer, estudar e pesquisar este novo universo que se apresentava para nós. A partir dessa nossa pesquisa de doutorado pudemos concluir que um professor alfabetizador é aquele que toma como prática educativa o saber ouvir; saber explicar; saber dar atenção e ter compromisso. Vimos também, que o educador

popular é aquele que mais se aproxima dessas características, pois é ele que comunga com os anseios e desejos de libertação e se coloca a serviço das classes populares. Acompanhamos nossos monitores (estagiários dos cursos de licenciatura da UNESP- FCT- Pres. Prudente/SP) nas salas de alfabetização, nos HTPCs-Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo- semanais e nas capacitações semestrais durante esses quatro anos. Vimos a importância da Universidade em parceria com o município, pois é na universidade que se produz e se socializam conhecimentos, e, é no município que estão as pessoas. Formação do Educador Popular Através de entrevistas e de questionários com os monitores e os alfabetizandos, durante nossa pesquisa de doutorado podemos declarar que os cursos de capacitação e os HTPCs, trouxeram momentos de encontros e oportunidades para nos conhecer e, conhecendo-nos, reconstruir a nossa ação pedagógica através do diálogo, trocas de experiências, dos debates, fazendo e refazendo o nosso ato pedagógico.(furlanetti, 2001:199). Podemos declarar que o Educador Popular é um professor que compreende o sentido da tarefa de EJA, compreende a militância e a ação emancipadora de sua prática pedagógica e, também, não se deixa aprisionar pela burocracia dos procedimentos escolarizantes. Algumas ações são particularmente importantes para o Educador Popular que trabalha com EJA, são elas: - o diálogo: o educador tem muito que falar, entretanto tem muito que aprender ouvindo, pois ouvir é escutar paciente e criticamente o outro, é disponibilizar a abertura para o outro, é criar condições para que o outro exerça a capacidade de discordar, de se opor e principalmente de se posicionar; quem escuta, ouve as dúvidas de seus alunos; - o diálogo entre a teoria e a prática: o diálogo apreendido no saber escutar, dá espaço para o aluno falar e o aluno falando, entendemos o processo de seu conhecimento, suas hipóteses, seus questionamentos,e, assim o professor pensa na sua aula, na sua turma e reflete sobre a sua ação pedagógica. A reflexão é o diálogo com sua prática e as teoria conhecidas.

- O diálogo com a teoria: durante as capacitações e os HTPCs o professor dialoga com as teorias, resgatando os conhecimentos adquiridos buscando nas leituras a compreensão do processo de seus alunos fazendo um aprofundamento teórico; - O diálogo com a reflexão: esse é o momento do professor consigo mesmo preparando a aula, organizando os diálogos anteriores e buscando na escuta de sua sala, a reorganização dos conteúdos, do material, das atividades a serem desenvolvidas. Momento extremoso de sua prática, pois ao rever suas experiências com sua turma, pode refazer seu pleno de trabalho. Acreditamos que a formação de professores passa por momentos de prática, e a maioria dos programas de alfabetização de pessoas jovem e adulta enfrenta problemas onde os educadores entram em contato com diferentes situações de sala de aula, porém não possuem elementos (teoria e prática) suficientes para que possam analisar e muito menos junto com outros mais experientes. A imagem de educador que cada professor leva para a sua sala de aula é uma imagem que não é inventada, mas construída nos aprendizados vivenciados na própria história de vida de cada um. Os educadores estão imbuídos de conteúdos tradicionais do ensino. Há necessidade de abordar os conhecimentos de maneira a avançar na capacidade política, crítica, criativa e com autonomia Podemos afirmar que a condição de confiança e credibilidade é tão importante como o diálogo, aliás o diálogo só é estabelecido quando o professor for aceito pela turma e ele só é aceito se o vínculo afetivo for estabelecido. Análise dos dados do PAS Acreditamos que as capacitações são momentos de renovação teórica, de reflexão e discussão com seus parceiros e com pessoas mais experientes. Para iniciar a capacitação no reunimos, o nosso grupo de estagiárias, e analisamos as nossas visitas, levantamos as dificuldades dos educadores/alfabetizadores, e também o material dos alfabetizandos. A partir dessa análise programamos a capacitação. Elaboramos uma apostila com textos sobre: - histórico da EJA no Brasil;

- histórico do PAS; - o que é cidadania; - analfabetos na sociedade letrada; - a função social da escrita; - o adulto como leitor e escritor; - As fases da construção da escrita. Além destes textos elaboramos atividades práticas para o trabalho na sala de aula, com os seguintes temas: - resgatar a identidade trabalhando o nome próprio; - dialogar sobre a história de vida de cada aluno; - resgatar a memória com trabalhos da necessidade do cotidiano : provérbios, ditados populares, cantigas, brincadeiras da infância, etc.. - A comunicação : cartas, bilhetes, ofício, telegramas, emails; - De casa para a escola: receitas culinárias, médicas, de simpatias; - O jornal e os diferentes textos que um jornal possui: entrevistas, reportagens, horóscopos, publicidades, classificados etc; Durante o nosso percurso no PAS fizemos várias apostilas procurando atingir os educadores em suas dúvidas. Procuramos em nossas capacitações dividir o tempo em várias etapas: 1- conhecer os futuros educadores/alfabetizadores através de dinâmicas de grupo e de sociabilidade entre eles e o nosso grupo; 2- iniciamos a parte teórica após conhecer as hipóteses que tenham sobre alfabetização e o programa; 3- fazemos oficinas utilizando técnicas com textos para serem utilizados em sala de aula. A coleção Viver e Aprender também é utilizada nas oficinas para que compreendam que essa coleção não é uma cartilha mas um livro de apoio ao educador e ao alfabetizando.

Procuramos desenvolver em nossas oficinas aulas de arte e de educação física, para que entendam que o jovem e o adulto também tem direito a essas disciplinas. Procuramos deixar um clima agradável, fazemos brincadeiras e amigos secretos e vimos os resultados quando em seus relatos essas pessoas que tão pouco conhecemos se revelam e assim percebemos os momentos que só acontecem pela relação amorosa e de confiança entre os educadores e coordenadores. As visitas às salas de aula nos municípios Essas visitas são planejadas para que tenhamos tempo de conhecer melhor os alfabetizandos e seu local de moradia e de estudos. Conhecer os alfabetizandos a sua linguagem, seus anseios e seus desejos. Essa etapa do trabalho, também é subdividida da seguinte forma: 1. reunião com o coordenador pedagógico e do município; 2. leitura dos planos de aula dos educadores/alfabetizadores; 3. visitas à sala de aula; 4. reunião com os educadores/alfabetizadores; 5. visitas às salas de aula; 6. entrevista individual com cada educador/alfabetizador. A cada visita ao município procuramos levar material pedagógico, de acordo com as dificuldades que o coordenador pedagógico detecta, apesar das dificuldades do próprio coordenador em fazer uma avaliação das dificuldades de seus educadores/alfabetizadores. Por isso procuramos fazer uma reunião com ele e acompanhar o seu trabalho pelos seus planejamentos e também pelos comentários que os educadores/alfabetizadores fazem de seus encontros semanais. Nas reuniões coletivas procuramos dar continuidade ao trabalho da capacitação oferecendo uma oficina discutida, através de telefonemas, anterior à viagem. Nas entrevistas que são individuais pedimos para que levem os cadernos de seus alunos para que possamos fazer uma avaliação diagnóstica dos alfabetizandos e com as observações feita nas salas de aula podemos refletir sobre como dar continuidade às atividades didáticas da sala de aula de cada educador/alfabetizador. Quando os problemas detectados fazem parte da infra-estrutura marcamos encontros com o Secretário de Educação junto com o coordenador do município para esclarecer e oficializar os problemas que surgem na infra-estrutura e que

atrapalham o bom desempenho do alunos e educadores/alfabetizadores. Conclusões As visitas são de extrema importância porque muitas mudanças são feitas pela prefeitura após o diálogo com os responsáveis (prefeito e secretário de educação), por exemplo: melhora na iluminação das salas de aulas; merendas; transporte para o coordenador efetuar as visitas às salas de aula. Verificamos também a organização do trabalho docente, quando em nossas visitas entrevistamos os alfabetizandos procurando observar o seu caderno. Para nós o caderno do aluno é a concretude da prática do educador/alfabetizador; é no caderno que estão documentadas as atividades que o professor desenvolve na sala de aula, assim, é nesse momento que podemos verificar como o aluno começou, o que já sabia, e quanto foi se desenvolvendo e que tipo de atividades os educador/alfabetizador proporcionou aos seus alunos. Podemos afirmar que todos os educadores/alfabetizadores se utilizam de seu próprio conhecimento já estruturado e sistematizado de quando foi aluno. A alfabetização continua sendo, para o educador/alfabetizador, conceituada como uma forma mecânica, isto é, ele acredita que deva ensinar as letras, seus nomes, depois as sílabas para só então ensinar as palavras. O livro didático Viver e Aprender como pudemos verificar é utilizado, logo no início das aulas, como uma cartilha, assim, eles logo desistem deste apoio, pois acreditam ser muito difícil para seus alunos. Os alfabetizandos também pensam que o livro, da forma como é apresentado, como eles próprios declaram é difícil de ler para quem ainda está no começo. Concluímos que a mudança de educadores/alfabetizadores a cada cinco meses é inviável, porque não se forma um alfabetizador em tão pouco tempo, necessitamos de um tempo para que o diálogo de confiança e credibilidade se estabeleça, tanto dos alfabetizandos para os educadores/alfabetizadores, como para as IES em relação aos próprios educadores/alfabetizadores. 1- esses educadores que selecionamos não são pessoas que já se encontram envolvidas com uma luta para a educação e cidadania, pois a maioria mal terminou o ensino médio;

2- são pessoas que procuram o programa porque acreditam que estão desempregadas, mas na verdade são pessoas que possuem um pedaço de terra e vivem dela; ou seja, precisamos repensar o que é estar desempregado; 3- o curso de capacitação e as visitas para darem continuidade a reflexão sobre alfabetismo e letramento, não dá conta de fazer a mudança conceitual necessária; 4- é muito importante a escolha do coordenador pedagógico do município; quando é escolhida pelo secretário de educação porque tem competência o resultado é mais positivo. No município em que atuamos por cinco anos, pudemos observar que a continuidade dos alfabetizandos para a EJA foi muito importante, mas compreendo que isto se deu graças a uma iniciativa política do governante e também, porque a coordenadora pedagógica escolhida pelo município era uma professora que já atuava na rede municipal e que se envolveu muito com o programa. Em outro município onde a escolha do coordenador foi política partidária não houve entusiasmo para dar continuidade ao programa; sabemos o quanto é difícil a luta por educação de jovens e adultos séria e comprometida, quando a pessoa não tem a vivência e experiência em ser professor com as qualidades de um educador popular o programa acaba sendo um cabide político.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FREIRE, Paulo. Educação na cidade., Editora Cortez, São Paulo, Brasil,1991. FURLANETTI, M.P.F. R. Formação de Professores Alfabetizadores de Jovens e Adultos : O Educador Popular. Tese de Doutorado. UNESP/Marília, 2001.