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Transcrição:

ASSEMBLEIA PARLAMENTAR PARITÁRIA ACP-UE Comissão dos Assuntos Sociais e do Meio Ambiente ACP-UE 3640/B/03 24 de Novembro de 2003 PROJECTO DE RELATÓRIO sobre doenças ligadas à pobreza e a saúde reprodutiva nos países ACP no contexto do 9º FED (Fundo Europeu de Desenvolvimento) Co-relatores: Karin Scheele François Betkou (Madagáscar) Exposição de motivos PR\514370.doc Tradução Externa\MA APP/3640/B

EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS Pobreza e saúde Uma situação deficiente em matéria de saúde diminui a capacidade pessoal, reduz a produtividade e as receitas contribuindo, por isso, para a pobreza. Uma prevalência elevada de doença e uma situação deficiente em matéria de saúde num país prejudica os resultados económicos, enquanto que uma maior esperança de vida, um indicador fundamental do estado da saúde, estimula o crescimento económico. A este respeito, a avaliação da saúde requer uma combinação de informação com base nos rendimentos, nos indicadores e participativa, que conduza à formulação de uma política de desenvolvimento adequada. O investimento nos serviços básicos de saúde nos países em desenvolvimento é apenas uma mera fracção do que é necessário. Os países em desenvolvimento de baixo rendimento gastam apenas $21 per capita por ano em cuidados de saúde, grande parte deles em dispendiosos serviços curativos mais do que em prevenção e cuidados básicos. A Organização Mundial da Saúde (OMS)/Comissão de Macroeconomia e Saúde do Banco Mundial calcularam serem necessários 30 mil milhões de dólares americanos adicionais por ano. Doenças ligadas à pobreza As doenças ligadas à pobreza constituem a principal causa, bem como a consequência de uma pobreza significativa nos países em desenvolvimento, tais como os países ACP, em especial a África Subsariana. A sobrecarga das doenças ligadas à pobreza, especialmente o VIH/SIDA, a malária, a tuberculose (TB) e doenças infecciosas, doenças diarreicas e de pele afectam principalmente os países menos desenvolvidos (PMD). A mortalidade global anual devido a estas três doenças ascende a quase 6 milhões de pessoas e, nalguns países africanos, o VIH já infectou 40 % da população total. A luta contra estas doenças constitui uma das principais estratégias de erradicação da pobreza e de fomento do crescimento económico nos países em desenvolvimento. O VIH/SIDA constitui uma grande ameaça ao desenvolvimento nos países ACP e o impacto é maior nos países ACP menos desenvolvidos. De acordo com o relatório de 2002 do UNFPA, metade das novas infecções verificam-se nos jovens entre os 15-24 anos de idade, muitos dos quais não dispõem de qualquer informação ou serviços de prevenção e desconhecem a epidemia e a forma de se protegerem. O VIH/SIDA contribui igualmente para o abrandamento do crescimento e da actividade económicos nos países mais afectados, uma vez que os recursos humanos produtivos são vítimas da infecção. As estratégias eficazes necessárias para combater a epidemia do VIH/SIDA implicam uma combinação de tratamento, educação e prevenção, tendo de ir para além da medicina e dos cuidados de saúde e de abranger as comunidades locais. Acima de tudo, é indispensável uma liderança política empenhada nesta luta. PR\514370.doc 2/8 APP/3640/B

Combater as doenças ligadas à pobreza O sexto Objectivo de Desenvolvimento do Milénio é consagrado ao combate do VIH/SIDA, da malária e de outras doenças. Este identifica alvos específicos para a incidência do VIH/SIDA e da malária e refere igualmente a tuberculose. Estas três doenças são também objecto de uma grande iniciativa pluridisciplinar, o Fundo Global para o VIH/SIDA, a tuberculose e a malária. Na segunda sessão ordinária da sua Assembleia realizada em Maputo, Moçambique, de 10 a 12 de Julho de 2003, os Chefes de Estado e de Governo da União Africana dedicaram uma sessão especial à análise e ao debate do actual estado do VIH/SIDA, da tuberculose (TB), da malária e de outras doenças infecciosas relacionadas em África. Reiteraram o seu empenho em alcançar os objectivos estabelecidos em matéria de financiamento do sector da saúde nos seus países e reafirmaram o seu empenho em alcançar o objectivo de afectação de 15% do orçamento nacional à saúde. Relativamente à sustentabilidade, as iniciativas com vista ao combate das doenças ligadas à pobreza têm de ser bem integradas nos programas indicativos nacionais (PIN) e nos programas indicativos regionais (PIR) dos países e no sector social da cooperação entre os países ACP do 9º FED. As actividades no âmbito destas iniciativas devem ser concebidas de forma a visar os seus grupos alvo mais desfavorecidos e vulneráveis, tais como as mulheres, os jovens e as crianças através: - De programas de informação, de educação e de comunicação, tendo em conta as dimensões sociais, sanitárias, económicas e culturais das populações; - Do desenvolvimento de serviços que melhorem o acesso aos cuidados primários; - Da formulação de políticas e da identificação de prioridades que confiram prioridade política ao combate das doenças ligadas à pobreza; - Do reforço da cooperação com os parceiros para o desenvolvimento e com organizações internacionais orientadas para a luta contra as doenças ligadas à pobreza, com vista a facilitar o acesso aos medicamentos necessários e produtos para a saúde, bem como água potável de qualidade; e - Do apoio à investigação e ao desenvolvimento, abordando as questões mais importantes das doenças ligadas à pobreza nos países ACP. Iniciativas internacionais A Estratégia Global para o Sector da Saúde relativamente ao VIH/SIDA de 2003 a 2007 da Organização Mundial de Saúde (OMS), salienta a riqueza dos conhecimentos e da experiência recolhidos ao longo de 20 anos de esforços globais no sentido de encontrar uma resposta para o VIH/SIDA. Ou seja, a existência de vastos conhecimentos sobre a forma de prevenção da infecção por VIH e sobre os factores que provocam a sua propagação. Das lições retiradas, estas são algumas das intervenções eficazes na luta contra o VIH/SIDA: Uma forte liderança governamental cria respostas nacionais mais eficazes ao VIH/SIDA; PR\514370.doc 3/8 APP/3640/B

O investimento actual na prevenção, tratamento e cuidados de saúde evita futuros custos humanos e financeiros muito mais elevados; As campanhas abrangentes de informação do público (que incluem um debate franco sobre comportamentos sexuais e consumo de drogas) ajudam a combater a negação e conduzem a níveis mais reduzidos de infecção por VIH; A disponibilização alargada de preservativos, de material de injecção esterilizado e de outros produtos reduz os riscos e permite alcançar taxas de infecção inferiores; Os programas de controlo eficazes das infecções sexualmente transmissíveis (IST) permitem verificarem-se menos infecções por VIH; A utilização racional e eficaz de anti-retrovíricos e outros tratamentos relacionados com o VIH produz grandes reduções na mortalidade e morbidade associada ao VIH/SIDA; Os planos estratégicos nacionais de combate ao VIH/SIDA ajudam a criar respostas nacionais e plurissectoriais eficazes e optimizam a utilização dos recursos humanos e financeiros; Os dados epidemiológicos e comportamentais são necessários para informar sobre o desenvolvimento e controlar os planos estratégicos nacionais de combate ao VIH/SIDA; As parcerias importantes entre governos, profissões associadas à saúde, pessoas que vivem com VIH/SIDA, grupos vulneráveis, comunidades locais e organizações não-governamentais geram respostas locais e nacionais fortes; e A legislação e as políticas que combatem o estigma e a discriminação que as pessoas com VIH/SIDA e as populações vulneráveis enfrentam reduzem os efeitos negativos da pandemia e melhoram os esforços de prevenção, de promoção da saúde, de tratamento e de cuidados básicos. Para conseguir alcançar estes objectivos, é importante reconhecer as barreiras, tais como a falta de educação, a inacessibilidade a tratamentos, a desigualdade entre sexos, as atitudes culturais negativas, os estigmas e a discriminação, que têm de ser energicamente combatidos. Uma série destas questões é também fundamental para o combate de outras doenças ligadas à pobreza para além do VIH/SIDA. Tal como outros países em desenvolvimento, muitos dos países ACP necessitam urgentemente de ter acesso a medicamentos essenciais para o tratamento das doenças transmissíveis a preços acessíveis. Estes países estão extremamente dependentes das importações de medicamentos. Relativamente a este assunto, em 26 de Maio de 2003, o Conselho da União Europeia (UE) aprovou um Regulamento (CE ) com vista a incentivar a indústria farmacêutica a fornecer medicamentos essenciais de tratamento do VIH/SIDA, da malária e da tuberculose a preços reduzidos a favor dos países mais pobres. O Regulamento também estabelece medidas de salvaguarda para evitar as distorções de mercado que seriam provocadas pela reimportação desses medicamentos para o mercado comunitário. Da mesma forma, o Grupo de Países ACP solicitou à Comissão Europeia, em Junho de 2003, que financiasse, a partir de recursos dos países ACP, um programa designado de Parceria em matéria de Políticas Farmacêuticas CE/ACP/OMS nos países ACP, que ascende a 25 milhões de euros. O objectivo global do programa é diminuir o enorme fosso que existe entre o potencial que os medicamentos essenciais podem oferecer e a realidade de que, para milhões de pessoas nos países ACP, os medicamentos são inacessíveis, incomportáveis, inseguros ou PR\514370.doc 4/8 APP/3640/B

incorrectamente utilizados. O acordo de financiamento deste programa foi conjuntamente assinado. Em 30 de Agosto de 2003, o Conselho TRIPS da OMC chegou a uma decisão que aparentemente põe cobro a um impasse de dois anos relativamente ao acesso a medicamentos nos países pobres. De salientar, no entanto, que embora os medicamentos genéricos provoquem a descida dos preços, a maioria dos fabricantes de medicamentos genéricos terá de aguardar o esgotamento de patentes (excepto se for concedida uma licença obrigatória) antes de poderem começar a fabricar esses medicamentos e a praticar preços inferiores junto dos consumidores. Tal é aplicável a muitos medicamentos actualmente já existentes no mercado, bem como a quaisquer novos medicamentos. Saúde reprodutiva e desenvolvimento A melhoria da saúde reprodutiva constitui um meio para alcançar o desenvolvimento sustentável, bem como um direito humano. Os investimentos em saúde reprodutiva poupam e melhoram vidas, abrandam a propagação de VIH/SIDA e encorajam a igualdade entre os sexos. Saúde reprodutiva é o termo que abrange todas as áreas relacionadas com a reprodução, desde a saúde sexual às opções dos casais sobre planeamento e a dimensão das suas famílias. A Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento (CIPD) realizada em 1994 no Cairo definiu cuidados de saúde reprodutiva abrangentes como sendo constituídos por três componentes interrelacionados: contracepção voluntária e serviços de planeamento familiar serviços pré-natais, de interrupção voluntária da gravidez, de parto, pós-parto e após a interrupção voluntária da gravidez serviços de prevenção, detecção e tratamento de infecções sexualmente transmissíveis, incluindo o VIH/SIDA. A negligência dos direitos reprodutivos e da saúde reprodutiva e sexual constitui a base de muitos problemas que a comunidade internacional identificou como necessitando de uma acção urgente. Estes incluem: violência com base no sexo VIH/SIDA mortalidade materna gravidez na adolescência abandono de crianças rápido crescimento demográfico Existe uma relação entre a erradicação da pobreza e a saúde reprodutiva, o que significa que a redução da pobreza deve ser uma prioridade entre todas as medidas em matéria de política de desenvolvimento. Uma melhor saúde básica e educação podem conduzir a uma melhor saúde PR\514370.doc 5/8 APP/3640/B

individual e familiar, a uma utilização mais eficaz dos serviços de saúde, a um melhor planeamento familiar e à redução das doenças sexualmente transmissíveis. Política internacional A Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento (CIPD) realizada no Cairo em 1994 constituiu um marco na história demográfica e do desenvolvimento, bem como na história dos direitos das mulheres. O programa de acção aprovado, consensualmente, por 179 países é um plano previsto para 20 anos. Este programa é fundamental para alcançar os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (página seguinte). O programa de acção chamou também a atenção para outros aspectos importantes que desempenham um papel na prossecução do desenvolvimento sustentável: saúde em geral, igualdade entre os sexos, emancipação das mulheres, educação, migração e investigação. Os resultados desta conferência reflectem a compreensão de que todos estes factores estão relacionados e que se influenciam mutuamente, bem como a economia, o ambiente, as estruturas sociais e a qualidade de vida em geral. O programa de acção formulou uma série de recomendações e objectivos específicos que é necessário atingir. Alguns dos mais gerais são: - Os governos devem esforçar-se por despender 0,7% do PNB em ajudas ao desenvolvimento e em aumentar o orçamento destinado à demografia e ao desenvolvimento; - É necessário envolver as ONG e os intervenientes locais que podem contribuir no processo de elaboração de políticas. Acordo financeiro O programa de acção especifica os recursos financeiros, tanto nacionais como dos fundos de doadores, necessários para aplicar o pacote de saúde reprodutiva e da população nos próximos 20 anos. Calcula-se que a aplicação destes programas no mundo necessitará de 17 mil milhões de dólares americanos em 2000 (nº 15 do artigo 13º programa de acção CIPD). Prevê-se que dois terços dos custos previstos sejam assegurados por fontes nacionais, representando um montante total de 11,3 mil milhões de dólares americanos em 2000. Um terço das necessidades totais serão provenientes de países doadores terceiros (nº 16 artigo 13º do programa de acção da CIPD). Estes recursos externos devem representar um montante de 5,7 mil milhões de dólares americanos em 2000 e 6,1 mil milhões de dólares americanos em 2005 (nº 11 do artigo 14º do programa de acção da CIPD). PR\514370.doc 6/8 APP/3640/B

Os objectivos de afectação de recursos da CIPD Recursos financeiros necessários para 2000-2015 em mil milhões de dólares americanos Anos Recursos nacionais Recursos externos Recursos totais 2000 11,3 5,7 17,0 2005 12,4 6,1 18,5 2010 13,7 6,8 20,5 2015 14,5 7,2 21,7 Fonte: Programa de acção da CIPD, 5-13 de Setembro de 1994 (nº 15 do artigo 13º e nº 11 do artigo 14º) Necessidades não satisfeitas e falta de verbas para financiamento Os países desenvolvidos demonstraram ter envidado esforços para alcançar os objectivos da CIPD após 1994. De facto, o nível total de financiamento dos países desenvolvidos aumentou de 1,37 mil milhões de dólares americanos em 1995 para 1,59 mil milhões em 2000. Além disso, vários países doadores reviram de forma positiva as suas políticas em matéria de saúde sexual e reprodutiva em linha com os objectivos da CIPD. No entanto, as tendências gerais positivas a partir da CIPD parecem estar a atenuar-se e até mesmo a inverter-se. O nível de mobilização de recursos em 2000 não atingiu os objectivos acordados na CIPD. 1. As contribuições dos países doadores para actividades internacionais em matéria de população representaram apenas 28% do objectivo de 5,7 mil milhões de dólares em 2000. 2. As contribuições do sistema das Nações Unidas, das fundações, dos empréstimos dos bancos de desenvolvimento, etc representaram 17,6% do objectivo da ICPD para 2000. 3. No total, as despesas totais em matéria de população (incluindo empréstimos bancários e sistema das Nações Unidas) em 2000 não representaram sequer metade do objectivo da CIPD para esse ano (45,6%). Política da UE Tendo em conta a falta de verbas para financiamento, o objectivo deve ser de a UE e os Estados-Membros atingirem 0,7% do PIB para contribuir para a ajuda ao desenvolvimento. O pilar da cooperação entre a UE e os 77 países ACP é constituído pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento (FED). O Acordo de Cotonu (2000) estabelece as bases para os protocolos de financiamento quinquenais do 9º Fundo Europeu de Desenvolvimento (2002-2006). Saliente-se que a UE e os países ACP, através da Comissão e da DG Desenvolvimento, tomaram uma atitude, tanto relativamente ao UNFPA como à IPPF, para preencher a lacuna de decência criada pelo política da cidade do México. Este apoio à saúde e direitos sexuais e reprodutivos deve ser reforçado no 9º Fundo Europeu de Desenvolvimento e nos futuros Fundos Europeus de Desenvolvimento. PR\514370.doc 7/8 APP/3640/B

De um modo geral, a saúde reprodutiva não foi identificada como uma área prioritária nos Documentos de Estratégia por País (DEP) dos países ACP. Consequentemente, a saúde reprodutiva recebe poucos ou mesmo nenhuns fundos e os países ACP não dispõem de um dos principais instrumentos para combater a pobreza. Existem, de facto, razões para investir em saúde sexual e reprodutiva em termos de acessibilidade do preço e de custo/eficácia: os serviços de planeamento familiar foram considerados como uma das intervenções mais eficazes em termos de custos disponíveis para reduzir a mortalidade materna e infantil 1 e os investimentos na prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, incluindo o VIH/SIDA, salvam milhares de vidas. Assim, a saúde e a saúde reprodutiva precisam de se tornar numa prioridade dos programas dos países, de forma a afectar um financiamento adequado a estes sectores. Uma das formas de abordar este problema consistiria em envolver activamente a sociedade civil na formulação e aplicação dos documentos de estratégia por país, de forma a assegurar que reflectem correctamente as necessidades da população. Um novo instrumento é o Regulamento relativo à ajuda para políticas e acções em matéria de saúde reprodutiva e sexual e direitos conexos nos países em desenvolvimento (COM(2002) 120). 1 Em média, são necessários cerca de 20 a 25 dólares americanos todos os anos para fornecer serviços básicos de planeamento familiar a um indivíduo num país em desenvolvimento. Este serviço de baixo custo contempla uma vasta gama de preocupações em matéria de reprodução. PR\514370.doc 8/8 APP/3640/B