Corporate Governance, literacia financeira, protecção dos consumidores e reputação no sector segurador" Jorge Miguel Bravo, PhD

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Transcrição:

Corporate Governance, literacia financeira, protecção dos consumidores e reputação no sector segurador" Jorge Miguel Bravo, PhD NOVA IMS & Université Paris-Dauphine & BBVA Pensions Institute Corporate Governance: o impacto na reputação e no valor do sector segurador, 28/6/2017

Agenda 1. Introdução & Motivação 2. Risco de Reputação 3. Solvência II: requisitos gerais, Requisitos qualitativos e sistema de governação, Reporte e divulgação de informação 4. Reputação e criação de valor: algumas métricas 5. Literacia financeira e protecção dos consumidores 6. Regulação e supervisão da conduta de mercado 2

Introdução & Motivação A reputação é um dos activos mais valiosos de uma organização, 25% do seu valor segundo o Fórum Económico Mundial (2012) É também um activo incrivelmente frágil: uma boa reputação construída durante décadas pode ser destruída da noite para o dia, especialmente num mundo globalizado e interligado em tempo real A reputação de uma organização pode ser afectada por problemas financeiros ou estratégicos, produtos defeituosos, condições de trabalho precárias, danos ambientais, fraude ou corrupção e outros riscos fora do controlo directo da empresa (e.g., falha de um fornecedor ou parceiro externo, ataques da concorrência, riscos naturais e outras catástrofes) No mundo do social media, um pequeno episódio reputacional como uma queixa de um par de indivíduos ou apenas a percepção de comportamento inadequado pode tornar-se viral 3

Introdução & Motivação No rescaldo da crise, um aspecto menorizado no debate sobre a reforma da regulamentação do sector financeiro tem sido o da necessidade de melhorar a capacitação e protecção dos consumidores de produtos e serviços financeiros Para observadores, Governos e académicos, a crise foi resultado de questões sistémicas, como problemas de liquidez, solvência ou alavancagem do negócio As respostas estratégicas e os planos de recuperação das autoridades nacionais, organizações internacionais e reguladores concentraram-se em elementos de corporate governance prudencial (e.g., Solvência II, estruturas governação) e menos na regulação da conduta de mercado Na realidade, múltiplos exemplos recordam-nos que uma boa parte dos problemas teve origem em deficiências na protecção do consumidor e insuficiente literacia financeira: decisões inadequadas ou mal informadas, supervisão negligente, multiplicação de práticas de misselling, 4

Introdução & Motivação O comportamento das seguradoras (e seus representantes) no relacionamento com os tomadores de seguros (efectivos ou potenciais), segurados, beneficiários ou terceiros lesados, antes, durante e após a celebração dos contratos pode, quando inapropriado, lesar os interesses dos seus destinatários afectar a reputação das companhias, afectar a reputação do mercado segurador e dos fundos de pensões, Afectar a confiança dos consumidores no sistema financeiro em geral 5

Risco de Reputação O risco de reputação é considerado pelos gestores de empresas como o mais importante dos riscos estratégicos (Deloitte, 2014) e uma responsabilidade do board e C-Suite O risco de reputação é ditado por uma ampla gama de outros riscos : Ética e integridade (fraude, suborno, corrupção) Riscos de segurança (violações físicas, ciberataques, ) Riscos de produtos e serviços, Riscos de mercado Third-party relationships (fornecedores) O principal impacto do risco reputacional nas empresas advém de quebras na relação com os clientes, mas outros stakeholders também são importantes (investidores, reguladores, entidades, colaboradores, fornecedores,.) O risco manifesta-se sobretudo através da redução de vendas e do valor das marcas 6

Interrogações Em que medida pode a regulamentação baseada no reporte e divulgação de informação mitigar os riscos de reputação e o seu impacto na criação de valor e compensar a insuficiência de literacia financeira dos consumidores de produtos e serviços financeiros? Em que medida a regulação e supervisão da conduta do mercado é importante e de que forma é que ela se encaixa nos quadros regulatórios do sector financeiro? 7

Solvência II: requisitos gerais 8

Solvência II: Pilar II, Requisitos qualitativos Gestão prudente dos investimentos: investir apenas em instrumentos financeiros cujos riscos conseguem identificar, mensurar, monitorizar, gerir, controlar e informar, e no melhor interesse dos tomadores de seguros e beneficiários Sistema de governação Estrutura organizacional adequada e transparente Sistema de gestão de riscos Sistema de controlo interno e de auditoria interna Requisitos de competência e idoneidade Linhas de comunicação e reporte interno claramente definidas Auto-avaliação do risco e da solvência (ORSA) Requisito de capital adicional (capital add-on) quando existam deficiências significativas no sistema de governação 9

Solvência II: Pilar III, Reporte e divulgação de informação Requisitos de divulgação pública de modo a promover a transparência, a disciplina de mercado e a harmonização da informação Permitir aos tomadores de seguros e outros stakeholders tomar decisões informadas, com base: Na capacidade e eficiência da empresa de seguros de monitorizar e gerir os riscos Na posição financeira e de solvência da empresa de seguros Relatório anual sobre a situação financeira e de solvência (SFCR), com descrição do negócio e da performance da empresa, sistema de governação, análise de risco, Estrutura, montantes e qualidade dos fundos próprios, bases metodológicas ALM, 10

Reputação e criação de valor: Reputation Institute 11

Reputação e criação de valor: ECSI Portugal 12

ECSI Portugal: Resultados 2016 13

Motivações para a procura de seguros? Fonte: Inquérito à literacia da população portuguesa (2015) 14

Principal razão para a escolha do segurador Fonte: Inquérito à literacia da população portuguesa (2015) 15

Razões para a fidelização? Fonte: Inquérito à literacia da população portuguesa (2015) 16

Razões para a mudança? Fonte: Inquérito à literacia da população portuguesa (2015) 17

Literacia financeira e protecção dos consumidores Uma característica essencial da protecção dos consumidores financeiros relaciona-se com a sua capacidade para entenderem produtos e conceitos financeiros, desenvolverem capacidades e confiança para lidarem adequadamente com riscos e oportunidades de investimento, fazer escolhas informadas, saber onde procurar ajuda e agir para melhorar o bem-estar financeiro LITERACIA FINANCEIRA Todos os estudo de opinião efectuados revelam um baixo nível de literacia financeira Mandato para desenvolver a educação financeira (P. Nacional Formação Financeira) A educação financeira não é uma panaceia, não garante a protecção dos consumidores Imperfeições nos mercados de seguros (assimetria de informação, poder negocial) Crescente transferência de riscos para os tomadores de seguros Inovação financeira, complexidade e adequação dos produtos Inclusão financeira 18

Literacia financeira relacionada com seguros Fonte: Inquérito à literacia da população portuguesa (2015) 19

Grupos populacionais com literacia financeira elevada/baixa Fonte: Inquérito à literacia da população portuguesa (2015) 20

Regulação e supervisão da conduta de mercado Disciplina de mercado: acções de fiscalização de modo a salvaguardar situações de fraude, abuso de mercado, misseling, Protecção dos consumidores: Avaliação prévia dos produtos e serviços informação prestada aos consumidores Publicidade e reclamações Disclosure the conflitos de interesse literacia financeira 21

Obrigado Thank You 22