LIVRO DIDÁTICO DE ALFABETIZAÇÃO: UM OLHAR SOBRE A LINGUAGEM

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Transcrição:

3626 - Trabalho Completo - XIV ANPED-CO (2018) GT 10 - Alfabetização, Leitura e Escrita LIVRO DIDÁTICO DE ALFABETIZAÇÃO: UM OLHAR SOBRE A LINGUAGEM Lucilene Rosa dos Santos Gonçalves - UFMT/Campus de Rondonópolis - Universidade Federal de Mato Grosso Sandra Regina Franciscatto Bertoldo - UFMT/Campus de Rondonópolis - Universidade Federal de Mato Grosso RESUMO O processo de alfabetização, ou o acesso ao mundo da escrita, é complexo e se compõe por meio do desenvolvimento cognitivo, da consciência fonológica e do aprimoramento de habilidades linguísticotextuais e discursivas, os quais estão subordinados às características sociolinguísticas, aos contextos socioculturais e sócio-históricos específicos a que o sujeito está inserido. Tendo em vista que o livro didático é um recurso utilizado pela grande maioria dos professores como suporte de ensino, interessanos investigar, a partir da análise de dois livros didáticos utilizados no 3º ano do E.F., se as propostas contidas nesse material contemplam os quatro eixos da linguagem e se houve melhora enquanto proposta de ensino. Para atender a estes objetivos, a pesquisa se subsidiará dos métodos, instrumentos e técnicas propostos pela pesquisa documental, numa perspectiva qualitativa, tendo como objeto de investigação os livros didáticos já mencionados. A análise se completa em dois momentos: como cada livro atende à proposta de letramento em relação à linguagem e se acontece uma evolução de proposta em se comparando os dois materiais. Palavras-chave: Alfabetização. Letramento.Linguagem. RESUMO LIVRO DIDÁTICO DE ALFABETIZAÇÃO: UM OLHAR SOBRE A LINGUAGEM O processo de alfabetização, ou o acesso ao mundo da escrita, é complexo e se compõe por meio do desenvolvimento cognitivo, da consciência fonológica e do aprimoramento de habilidades linguísticotextuais e discursivas, os quais estão subordinados às características sociolinguísticas, aos contextos socioculturais e sócio-históricos específicos a que o sujeito está inserido. Tendo em vista que o livro didático é um recurso utilizado pela grande maioria dos professores como suporte de ensino, interessanos investigar, a partir da análise de dois livros didáticos utilizados no 3º ano do E.F., se as propostas contidas nesse material contemplam os quatro eixos da linguagem e se houve melhora enquanto proposta de ensino. Para atender a estes objetivos, a pesquisa se subsidiará dos métodos, instrumentos e técnicas propostos pela pesquisa documental, numa perspectiva qualitativa, tendo como objeto de investigação os livros didáticos já mencionados. A análise se completa em dois momentos: como cada livro atende à proposta de letramento em relação à linguagem e se acontece uma evolução

de proposta em se comparando os dois materiais. Palavras-chave: Alfabetização. Letramento.Linguagem. INTRODUÇÃO Alguns teóricos e autores como Vigostski e Bakhtin já discutem há tempos a concepção de linguagem como atividade constitutiva do sujeito, a qual por meio da interação possibilita o desenvolvimento humano em diversas dimensões. A aquisição da forma escrita da língua, ou seja, o processo de alfabetização pode ser entendido como uma dessas dimensões do desenvolvimento humano. Para tratarmos sobre a inserção na cultura letrada por meio da escrita, é interessante considerar o que a autora SMOLKA (p.31, 2017) propõe sobre a alfabetização como processo discursivo e a possibilidade de ensinar os aspectos considerados técnicos e mecânicos da escrita[...] enquanto formas de dizer. Para ela, é importante aprender a ler e a escrever como enunciação, como movimento enunciativo, discursivo. Assim, a proposta desta pesquisa é a análise de dois livros, ambos adotados pelas escolas da rede pública de ensino de Rondonópolis, tanto municipal quanto estadual. O livro PORTA ABERTA: Alfabetização e letramento da editora FTD S.A, que também será objeto de análise, foi usado nas redes pública estadual e municipal no período de 2013 a 2015. Ele foi escrito por Angiolina Bragança e Isabella Carpaneda e editado em 2011. Está composto por 301 páginas e dividido em 14 unidades. O outro livro que se soma a essa análise está sendo usado pelas redes municipal e estadual de Rondonópolis (ano letivo de 2016, 2017 e 2018), pertence à coleção Ápis da editora Ática e tem como título LETRAMENTO E ALFABETIZAÇÃO escrito pelas autoras Ana Trinconi, Terezinha Bertin e Vera Marchesi. Ele contém 327 páginas, dividido em 12 unidades mais alguns anexos no final. Apresenta um vocabulário acessível, com textos não muito longos e muitas atividades com espaços suficientes para respondê-las. Visto que esses materiais servem de apoio ao professor em situações de ensino, o problema que se coloca é: O livro didático trabalhado com os alunos do 3º ano do Ensino Fundamental está organizado na perspectiva do letramento e se é possível ao professor alfabetizador desenvolver as propostas de alfabetização utilizando o LD como recurso de ensino? É possível perceber um aprimoramento progressivo em relação às atividades propostas nos materias, tendo em vista que um foi elaborado em 2011 e o outro em 2014? Desse modo, os objetivos específicos estabelecidos para este trabalho são: Analisar dois livros didáticos de Alfabetização tendo em vista as teorias de letramento; Observar como os eixos escrita, oralidade, produção de texto e conhecimentos linguísticos aparecem e como são abordados; Identificar a metodologia de ensino e a concepção de linguagem adotada pelos autores através das atividades propostas; Verificar se as propostas contidas no livro didático para 2013, 2014 e 2015 denotam melhora quando comparadas às atividades pretendidas no livro didático atribuído para os anos de 2016, 2017 e 2018. Pretendemos não distanciar do sentido de alfabetização como o processo em que: [...]as crianças aprendem não somente a ler e a escrever, mas também a falar e a escutar em diferentes contextos sociais, e que a leitura, a escrita, a fala e a escuta representam meios de apropriação de conhecimentos relevantes para a vida. (BRASI, 2015, p.07)

Logo, este trabalho é movido pelo anseio de discutir e verificar como os recursos que subsidiam o trabalho docente, especificamente na alfabetização, propiciam o aprimoramento da linguagem. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Para a constituição do referencial bibliográfico tomamos como base a corrente interacionista de Vigotski (2008), o qual discute sobre a linguagem e o pensamento numa perspectiva socioconstrutivista, bem como seu desenvolvimento e a construção de conhecimento que se dá por meio da interação e da experiência. Para entender como isso ocorre, buscamos em Bakhtin (2006) o conceito de linguagem enquanto objeto de interação do ensino e da aprendizagem, a qual se materializa pelo sujeito, em diversos usos sociais, que são os discursos. É importante ressaltar que a proposta de alfabetização na perspectiva do letramento está fundamentada nos documentos oficiais do governo federal e nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) e outros que direcionam o ensino de linguagem: O domínio da língua, oral e escrita, é fundamental para a participação social efetiva, pois é por meio dela que o homem se comunica, tem acesso à informação, expressa e defende pontos de vista, partilha ou constrói visões de mundo, produz conhecimento. Por isso, ao ensiná-la, a escola tem a responsabilidade de garantir a todos os seus alunos o acesso aos saberes linguísticos, necessários para o exercício da cidadania, direito inalienável de todos. (BRASIL/PCN, 1998, p. 15). O ensino da língua, bem como todo o material/recurso utilizado para fins didáticos, deve considerar o caráter social da linguagem; podemos dizer, então, que a aquisição e o aprimoramento da mesma acontecem em práticas de letramentos, sobre o que Marcurschi (2002) pontua que: Em termos gerais, o letramento diz respeito às práticas discursivas que fazem uso da escrita. (...) e podemos dizer que existem vários letramentos, que vão desde um domínio muito pequeno e básico da escrita até um domínio muito grande e formal, como no caso de pessoas muito escolarizadas, com formação universitária, por exemplo. (MARCURSCHI 2002, p. 32) Kleiman (1995) e Soares (1998) estabelecem diferenciações entre a aquisição de habilidades e domínio de métodos para ler e escrever e os possíveis empregos e usos destas habilidades no convívio social. É importante ressaltar que o conceito de letramento é de fundamental importância, tendo em vista o objeto desta pesquisa. Portanto, vale citá-lo aqui, como é posto no Glossário CEALE, definido por Magda Soares: [...] o desenvolvimento das habilidades que possibilitam ler e escrever de forma adequada e eficiente, nas diversas situações pessoais, sociais e escolares em que precisamos ou queremos ler ou escrever diferentes gêneros e tipos de textos, em diferentes suportes, para diferentes objetivos, em interação com diferentes interlocutores, para diferentes funções. (CEALE, 2014) Como a pesquisa tem por objeto de análise os eixos da linguagem apresentados nos livros didáticos do 3º Ano do Ensino fundamental, toma-se como referência as discussões e apontamentos sobre alfabetização e os eixos da linguagem dentro dos livros didáticos colocados por Costa Val (2009) a qual aborda temas como estratégias de alfabetização, ortografia, conhecimentos linguísticos, produção de textos escritos, leitura e letramento. A autora ainda mostra: [...] como os livros didáticos (LD) vêm buscando soluções para os problemas que se colocam nas práticas pedagógicas com relação a esses temas, atualmente. Novas teorias relativas à aprendizagem, novas propostas metodológicas, novas concepções linguísticas, novos objetos de ensino - como os gêneros textuais, por exemplo têm representado um desafio a mais para os professores[...]. (COSTA VAL, 2009, p.09) Sobre o trabalho com a linguagem e o texto como objeto de ensino, os autores Schneuwly e Dolz (2004) afirmam que a escola, mesmo sem ter pensado, sempre trabalhou com os gêneros, entendendo que toda e qualquer forma de comunicação possui uma linguagem específica, de acordo com as diversas esferas da atividade humana. Acrescentam que, ao trazer o texto para a escola (e isto pode ser por meio do livro didático), o gênero assume um novo papel:

A particularidade da situação escolar reside no seguinte fato que torna a realidade bastante complexa: há um desdobramento que se opera em que o gênero não é mais instrumento de comunicação somente, mas é, ao mesmo tempo, objeto de ensino-aprendizagem. (SCHNEUWLY, DOLZ, 2004, p.65) A partir destes conceitos os autores problematizam o ensino dos gêneros em sala de aula e a aquisição de conhecimentos linguísticos, mostrando que é possível ensinar a ler e a escrever textos, bem como usar a oralidade em situações públicas escolares e extraescolares. Harmonizar os processos de alfabetizar e letrar nos três primeiros anos do Ensino Fundamental é, portanto, um desafio que se põe no caminho da escola, pois eles trazem o sentido não só de aprender a ler e a escrever, mas de aprender ao mesmo tempo em que lê e escreve. METODOLOGIA Entendemos Metodologia, em amplo sentido, como um conjunto de princípios e procedimentos adotados para abordar uma questão e buscar respostas a ela e tendo como objeto de análise os livros didáticos utilizados na Alfabetização, a presente investigação será dirigida com base nos pressupostos teórico-metodológicos da pesquisa qualitativa documental. (LÜDKE & ANDRÉ, 2013). Justifica-se a opção pela escolha da abordagem qualitativa por entender que a mesma estabelece que o objeto de análise seja examinado com a ideia de que nada é por acaso, que tudo deve ser visto como uma pista que pode possibilitar uma compreensão mais clara desse objeto. O caráter documental da pesquisa se fundamenta na escolha dos objetos de análise constituídos pelos materiais de formação e apoio pedagógicos, bem como pela apreciação dos documentos oficiais que direcionam o processo de ensino-aprendizagem. Quanto ao método ou procedimento, a pesquisa será bibliográfica, considerando o levantamento de referências teóricas já analisadas, e publicadas por meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos, páginas de web sites. Quanto ao objetivo, a pesquisa será descritiva, pois a intenção é descrever como aparecem e são tratados os eixos leitura, escrita, oralidade e a aquisição do Sistema da Escrita Alfabética em materiais didáticos da alfabetização, considerando, ainda, que eles próprios compõem os objetos de análise. Assim, o processo utilizado para dirigir esta investigação se inicia pela análise do que é a proposta do letramento. Dentro desta proposta, a discussão se volta para a apresentação dos quatro eixos da linguagem, com um olhar direcionado para os documentos oficiais que levaram à constituição desses eixos: Parâmetros Nacionais Curriculares de Língua Portuguesa, Diretrizes Curriculares Nacionais e Orientações Curriculares de Mato Grosso. O próximo passo é uma breve visitação aos fundamentos do Livro Didático e sua distribuição pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD): o que é, quando, com quê objetivo, como e para quem ambos foram criados. A análise se dará por meio da descrição de como aparecem e o tratamento que é dado aos quatro eixos da linguagem na composição dos dois livros didáticos escolhidos. ANÁLISE PRELIMINAR DOS DADOS A análise acontece a partir da observação das atividades proposta nos LDs, se as mesmas atendem à proposta de letramento propagada pelo PNAIC, a qual estabelece que o ensino da linguagem deva partir do texto enquanto situação discursiva concreta e que possibilita o aprimoramento da leitura, da escrita, da oralidade e dos conhecimentos linguísticos.

Para entender como ocorre a abordagem sobre estes eixos da linguagem, iniciamos a análise dos livros adotados em escolas públicas de Rondonópolis em 2013, 2014, 2015(Livro Didático 1) e em 2016, 2017, 2018 (Livro Didático 2): LD1- BRAGANÇA, Angiolina; CARPANEDA, Isabella. Porta aberta: letramento e alfabetização, 3ºano. São Paulo: FTD, 2011. LD2- TRINCONI, Ana; BERTIN, Terezinha; MARCHESI, Vera. Ápis: letramento e alfabetização. 2ª ed. São Paulo: Ática, 2014. Quanto ao gênero textual, observa-se que não há uma preocupação em seguir uma sequência didática que leve o aluno a conhecer inteiramente o gênero trabalhado. Nota-se que os textos que abrem os capítulos servem apenas para alavancar as questões de estudo dos mesmos, sem trabalhar os três elementos importante que Bakhtin ressalta: conteúdo temático, estilo e construção composicional. Estes três elementos (conteúdo temático, estilo e construção composicional) fundem-se indissoluvelmente no todo do enunciado, e todos eles são marcados pela especificidade de uma esfera de comunicação. (BAKHTIN, 1997, p. 280). Em linhas gerais, o objeto central de ensino é o texto, porém nem sempre o mesmo é estudado na perspectiva discursiva do gênero. Por exemplo: o LD1 está dividido em 14 unidades e 100% delas propõe textos para leitura, no entanto, em apenas 15% deles é mencionado, na parte de estudo do texto, a que gênero pertencem; 85% das questões sobre o texto não aparece referência ao contexto de produção e/ou esfera de circulação do mesmo. A leitura que os LDs sugerem são curtas e pouco exploradas, principalmente em relação às estratégias que facilitam o ato de ler e de compreender. A ativação dos conhecimentos prévios do aluno, que é a estratégia de conexão, assim mencionada por Souza e Girotto (2010), se constitui um elemento fundamental para o processo de leitura, pois, de acordo com as autoras: O conhecimento prévio que as crianças trazem para a leitura sustenta todos os aspectos de aprendizagem e entendimento. Se os leitores não tem nada para articularem à nova informação, é bem difícil que construam significados. (SOUZA e GIROTTO, 2010, p.66-67). Assim, foi possível constatar que as atividades estão voltadas para momentos depois da leitura. Observe: o LD2 contém 12 unidades e 100% iniciadas diretamente com o texto, sem nenhuma atividade que ative os conhecimentos prévios dos alunos; apenas 5% são estratégias que usadas durante a leitura e 95% das atividades são voltadas para momentos pós-leitura. Já o LD1 apresenta no início de cada unidade uma seção chamada Preparação para a leitura, a qual apresenta questões de pré-leitura. Outro item importante observado foi em relação aos tipos e objetivos das questões pós-leitura: no LD1 74% das questões são de inferência e localização de informação; apenas 26% de compreensão e interpretação. Referente à oralidade, percebe-se que há atividades voltadas para práticas da oralidade, porém, pouco aparecem as variações linguísticas da modalidade oral da língua e seu aspecto cultural. No LD1, por exemplo, 90% das atividades propostas são voltadas para a modalidade escrita e da esfera escolar, apenas 10% são relacionadas às habilidades e competências orais e destas, nenhuma trabalha as questões da variação entre as modalidades escrita e oral. No LD2 contém uma seção em cada unidade chamada Práticas de Oralidade, na qual se propõe atividades como relatos, argumentação, dramatização, etc. Porém, nele também não aparece atividade que promova o conhecimento em relação às variações linguísticas. Referente ao ensino desta modalidade, Marcuschi(2005) aponta que : [...] um aspecto central no estudo da fala é a variação. Será de grande valia, pois, mostrar que a lingua falada é variada e que a noção de um dialeto pradrão uniforme (não apenas no Português, mas em qualquer língua) é uma noção teórica e não tem um equivalente empírico. [...] O trabalho com a oralidade pode, ainda, ressaltar a contribuição da fala na formação cultural e na preservação de tradições não escritas que persistem mesmo em culturas em que a escrita já entrou de forma decisiva. (MARCUSCHI, 2005, p. 24-25) Não é possível expor aqui uma análise mais completa, tendo em vista que a pesquisa está em andamento e o presente texto é apenas uma amostragem do desenvolvimento da mesma.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Com esta pesquisa pretendemos responder se é possível ao professor alfabetizador desenvolver as propostas de alfabetização na perspectiva do letramento utilizando o LD como recurso de ensino, possibilitando ao aluno acesso e desenvolvimento quanto à linguagem, de forma integral. Pela análise inicial, percebemos que os livros didáticos se empenharam em apresentar uma proposta de ensino que favoreça a reflexão sobre o uso da língua de acordo com a perspectiva do letramento, e obtiveram êxito em alguns aspectos e deixaram a desejar em outros. Com o prosseguimento da investigação será possível descrever com mais riqueza de detalhes como as concepções de linguagem aparecem através das atividades propostas nos LDs. REFERÊNCIAS BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e Filosofia da Linguagem. 12ª ed. São Paulo: Hucitec, 2006. BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997. Brasil. Secretaria de Educação Básica. Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa. A oralidade, a leitura e a escrita no ciclo de alfabetização. Caderno 05 / Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, Diretoria de Apoio à Gestão Educacional. Brasília: MEC, SEB, 2015. BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental/Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais; língua portuguesa -1ª a 4ª série. Brasília: SEF/MEC, 1997. DOLZ, Joaquin.; SCHNEUWLY, Bernard. Gêneros orais e escritos na escola. Tradução e organização Roxane Rojo e Glaís S. Cordeiro. Campinas, SP; Mercado das Letras, 2011. GIROTTO, Cyntia e SOUZA, Renata. Estratégias de leitura: para ensinar alunos a compreenderem o que leem. In: SOUZA, Renata (org.) Ler e compreender: estratégias de leitura. Campinas, Mercado de Letras, 2010. KLEIMAN, A. (org.) Os significados do letramento: uma nova perspectiva sobre a prática social da escrita. Campinas, SP: Mercado de Letras, 1995. LÜDKE, M.; ANDRÉ, M.E.D.A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. 2 ed. Rio de Janeiro, E.P.U., 2013. MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.

MORTATTI, Maria do Rosário Longo. Educação e letramento. São Paulo: UNESP, 2004. VIGOTSKI, L. S. Pensamento e linguagem. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.