TRAJETÓRIA DE PROFESSORAS NEGRAS EM DELMIRO GOUVEIA/AL: MEMÓRIAS E IDENTIDADES

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Transcrição:

TRAJETÓRIA DE PROFESSORAS NEGRAS EM DELMIRO GOUVEIA/AL: MEMÓRIAS E IDENTIDADES Lizandra Noia da Silva (1); Maria Aparecida Silva (2) (1) Graduanda do curso de Licenciatura em História pela Universidade Federal de Alagoas/ Campus do Sertão. E-mail : lizandra.noia@outlook.com; (2) Profª Drª da Universidade Federal de Alagoas/ Campus do Sertão. E-mail: maria.silva@delmiro.ufal.br Resumo O presente artigo com o tema Trajetória de Professoras Negras em Delmiro Gouveia- AL: Memorias e Identidades têm como principal fundamento trabalhar a formação identitária de professoras negras a partir de suas experiências, enquanto mulher, negra e educadora, residentes na cidade de Delmiro Gouveia, sertão do estado de Alagoas. A investigação é qualitativa com recurso metodológico da história oral tendo como ferramenta a coleta de dados à entrevista. O artigo está fundamentado nas discussões sobre relações étnicas raciais, educação e gênero. Reúno aqui alguns autores que são significativos para abordagem, no sentido de buscar compreender as influencias no processo de formação de identidade negra no contexto histórico brasileiro e a presença da relação gênero percebida como relação de poder. Palavras-Chave: Professoras Negras, Identidades, Memórias, Relação de Gênero. INTRODUÇÃO A pesquisa tem como principal objetivo analisar o processo de formação identitária de professoras negras a partir de suas experiências de vida e profissional, buscando compreender o significado de ser mulher, negra e professora negra na cidade de Delmiro Gouveia, sertão de Alagoas. Nesse sentido a investigação proposta assume um caráter social, onde utilizamos diversos autores que discutem sobre identidades, memorias, relações raciais, de gênero e educação, além do ponto central da pesquisa que estar fundamentada no dialogo entre professoras negras e suas experiências de vida. Vale ressaltar que no inconsciente coletivo brasileiro a mulher negra é estereotipada, nesse sentido, a história oral vem dar outra roupagem ao apresentar histórias que irão constituir-se num mosaico de significados e representações femininas negras que vão se comportar como fontes de identidade em conformidade com a memória individual ou coletiva. Segundo, o pensamento de Pierre Ansart (2001, Apud FELIZARDO, 2009, pag.10) (...) que memoria conserva o individuo de seus

próprios ressentimentos? É muito difícil falar de aceitação, quando vivemos em uma sociedade que constantemente lhe nega. Desde criança somos acostumados a viver dentro de um padrão, as pessoas criam tabu em torno de muitas discussões, e a nossa família em muitas das vezes não nos ensinam a desconstruir certos conceitos. Falo aqui de uma formação identitária, do sentimento de pertencimento. Imagina você não ter nenhuma referência, todas as suas bonecas são brancas, a princesa que você idealizava ser era branca, a maioria de suas amigas são brancas. Imagina como é você se sentir diferente, quando coloca na tua cabeça que o diferente é aberração. Isso reflete muito na sua autoestima e formação identitária, porque você acaba achando que precisa ser branca para ser bonita, que precisa ter um cabelo liso, um nariz fino, uma boca pequena, que precisa compor o padrão que a sociedade coloca como belo. Você acha que precisa ser o que não é para se sentir bem, quando na verdade você só precisa se aceitar e ver o mundo através de você mesma. Passar por um processo de reconhecimento e se auto afirmar enquanto mulher negra me faz querer escrever sobre memorias e identidades de mulheres negras. Esse talvez seja um dos processos mais lento e doloroso que um ser humano precise passar para poder se encontrar e se constituir dentro do grupo ao qual pertence. É uma luta constante e que ainda guarda resquícios. Muitos fatos que acontecem na nossa vida são memoráveis e eu sei que sempre vou carregar essa luta comigo, no sentido de estar sempre afirmando minha identidade. É com essa explanação que mostramos nosso envolvimento com o tema, tornando explicito os anseios enquanto mulher negra, de ocupar um espaço, de ter visibilidade e mostrar diferença, contribuindo através da pesquisa para uma representatividade junto a sociedade delmirense. Nesse contexto busco compreender os fenômenos humanos e sociais, utilizando dos conceitos de memoria e identidade que me permitem falar sobre trajetórias de vida, tendo como foco principal a identidade negra que pode contribuir para o afloramento de um discurso em torno da aceitação, auto afirmação e representação do negro na sociedade, e mais especificamente da mulher negra. Dos aspectos que influenciam esse processo de construção identitária, tendo como influencia o pensamento de Joel Candal sobre o conceito de memoria e identidade, onde um depende do outro, ou seja, não existe formação de identidade sem memoria, da mesma forma que a memoria traz um sentimento de identidade. Por este caminho também é que: [ ] a identidade pode ser definida como um processo de construção de sentido, como fonte de sentido, de experiência, mas um processo com seu sentido construído a partir de um conjunto coerente de atributos considerados prioritários em relação às outras fontes. Esses atributos podem ser históricos, geográficos, biológicos, sociais, culturais, religiosos e até filosóficos.(munanga2002, p. 15).

METODOLOGIA A investigação é qualitativa com recurso metodológico da história oral tendo como ferramenta a coleta de dados à entrevista. A história oral, com o suporte da memória das informantes, foi o recurso escolhido para mostrar esse objeto de pesquisa, pois dá voz à subjetividade (QUEIROZ, 1988), contida nas narrativas das mulheres negras como elementos de identidade negra expressa num modo de vida próprio, específico e singular. Portanto, utilizar a história oral privilegiada pela entrevista é oportuno para compreender suas experiências. Conforme Queiroz (1988) as experiências podem ser individuais ou de diversos indivíduos de uma mesma coletividade. A pretensão é responder algumas inquietações como: O que é ser uma mulher negra e professora? Quais os traços de memória e identidade que essas mulheres carregam? Como a formação identitária dessas mulheres interferem na sua pratica pedagógica? Queremos destacar que o nosso referencial teórico não se reduz a uma única abordagem, e sim a um intercruzamento de teóricos (as) no campo da história, educação, da sociologia e antropologia que fazem análises do contexto sócio-histórico-cultural em que racismo, exclusão e desigualdades se fazem presentes. Dessa forma, caminhamos nos seguintes eixos de discussões: etnia/raça, identidade, memória e gênero. RESULTADOS E DISCUSSÕES Esta é uma pesquisa inicial por isso, ainda não apresenta resultados, pois se encontra no levantamento bibliográfico. Trazemos a discussão que norteará a mesma. Diante das discussões em torno dos conceitos de raça e formação de identidade, trago o pensamento do autor Andreas Hofbauer (2010). Mesmo que haja varias abordagens e vários usos diferentes do conceito de identidade, pode se afirma acredito eu, que genericamente falando, a introdução da ideia da identidade nas analises das ciências sociais tem permitido pensar melhor o lado subjetivo dos processos socioculturais, uma vez que a noção de identidade direciona a analise para opções mais ou menos conscientes dos indivíduos e dos grupos. (HOFBAUER, pag.54. 2010) Vários autores discutem sobre a construção de identidade, trazendo diferentes abordagens sobre esse conceito que pode ser também interpretado como uma questão politica. Hofbauer defende essa perspectiva e ressalva sobre a importância de analisarmos cada

conceito sob o ponto de vista das ciências sociais e humanas, entender o contexto histórico de cada um para refletirmos sobre o racismo presente na sociedade brasileira. Neste caminho trago o autor Joel Candau (2011), para dar ênfase a importância da união da memória e identidade para abordar experiências de vida. O percurso de Nilma Lino Gomes, para compreender sobre os aspectos que influenciam a formação da identidade negra. Segundo ela: A reflexão sobre a construção da identidade negra não pode prescindir da discussão sobre a identidade enquanto processo mais amplo, mais complexo. Esse processo possui dimensões pessoais e sociais que não podem ser separados, pois estão interligados e se constroem na vida social. (GOMES, pag.42) Nilma Lino Gomes, atenta para a importância de refletir sobre a formação identitária do negro na sociedade, levando em consideração que são vários aspectos que interferem nesse processo, que abarcam questões pessoais e sociais. Para subsidiar a discussão sobre representação da mulher negra, Sueli Carneiro (1993). E sobre as relações de gênero enquanto uma relação de poder Scott (1990). AGRADECIMENTOS Ao Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Diversidade e Educação do Sertão Alagoano (NUDES) por ser um espaço transgressor na Universidade Federal de Alagoas/Campus do Sertão. REFERENCIAS CANDAU, Joel. Memoria e identidade. Editora contexto. 2011 CARNEIRO, Sueli. Identidade Feminina. Cadernos Geledés. Edição comemorativa de 23 anos, 1993. FELIZARDO, Marina do Nascimento Neve. Negras Marias: Memórias e Identidades de Professoras de História. (Dissertação de Mestrado). Juiz de Fora: Universidade Federal de Juiz de Fora, 2009. GOMES, Nilma Lino. Alguns termos e conceitos presentes no debate sobre relações raciais no Brasil: Uma breve discussão.. Raça, cultura e identidade e o racismo à brasileira. In. SILVÉRIO, Valter Roberto; GONÇALVES e SILVA, Petronilha Beatriz; BARBOSA, Lucia Maria de Assunção orgs. De preto a Afro-Descendente, Trajetos de pesquisa sobre relações étnico

raciais no Brasil. São Carlo, SP. EdUFSCar, 2010. SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação e Realidade, Porto Alegre, v. 16, n. 2, p. 5-22, jul./dez. 1990.