A EXPERIÊNCIA DE UMA CRIANÇA COM SÍNDROME DE DOWN NA EDUCAÇÃO INFANTIL DA REDE PÚBLICA MUNICIPAL DE CORDILHEIRA ALTA

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Transcrição:

A EXPERIÊNCIA DE UMA CRIANÇA COM SÍNDROME DE DOWN NA EDUCAÇÃO INFANTIL DA REDE PÚBLICA MUNICIPAL DE CORDILHEIRA ALTA Ana Paula Dal Santo 1 Prefeitura Municipal de Cordilheira Alta Maike Elize Techio 2 Prefeitura Municipal de Cordilheira Alta Eixo Temático 2: Educação, Ambiente e Economia Resumo A inclusão escolar na rede pública de ensino traz à tona discussões em relação a esse novo paradigma social, principalmente para crianças com Síndrome de Down. A escola deve ser o espaço para que estas crianças possam desenvolver suas potencialidades, a partir da interação com seus pares e mediação do professor. O objetivo deste trabalho é relatar como ocorre a interação social e o desenvolvimento de uma criança com Síndrome de Down a partir de experiências de aprendizagem na educação infantil, destacando o contexto e o processo que permitiu o afloramento de suas potencialidades, reveladas por seus aprendizados. Os dados foram coletados por meio da análise qualitativa de comportamentos de interação social da criança com Síndrome de Down e de seus pares com desenvolvimento típico presentes no mesmo ambiente, através dos registros que a instituição de ensino disponibiliza (livro de registros, planejamento, parecer descritivo, portfólio, fotos e vídeos das interações cotidianas, entrevista semiestruturada com os professores e familiares). A partir do acompanhamento sistemático da criança na educação infantil, não foram necessárias adaptações curriculares, tão pouco a criança demonstra dificuldades de interação e relacionamento com seus pares ou com os adultos com quem convive na instituição escolar. Sua participação em todas as experiências propostas acontece de maneira análoga aos seus pares com desenvolvimento típico. Palavras-chave: Síndrome de Down. Educação Infantil. Experiências de Aprendizagem. Educação inclusiva. 1. INTRODUÇÃO Atualmente a inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais vem sendo tema de muitos questionamentos sobre a sua real efetivação. A temática da inclusão da criança com deficiência vem tomando maior proporção nos âmbitos de pesquisa e produção de conhecimento. A conquista das pessoas com necessidades educacionais especiais no sentido de viver em um ambiente menos 1 Licenciatura em Educação Física. Especialista em Educação Física. Mestranda em Educação. Diretora de Escola. Cordilheira Alta. anadalsanto@gmail.com 2 Licenciatura e Bacharel em Ciências Biológicas. Mestre em Ciências Ambientais. Diretora Geral de Educação Infantil. maikeelize@gmail.com. Revista Conversatio ISSN 2525-9709 Vol. 3 Número 6. Jul/Dez. 2018 página 348

restrito e integradas à sociedade vem se ampliando gradativamente. Vigotski (1997) em seus estudos defendia que quanto mais ampla a diversidade das interações sociais, maior a riqueza no processo de construção do conhecimento. Para Vigotski (2003) as leis de desenvolvimento são as mesmas para todas as crianças independentes de serem deficientes ou não, e todos os seres humanos se desenvolvem em seu tempo e constroem-se diferentes. Desta forma, falar em diversidade não significa privilegiar as minorias, mas o coletivo, que traz em seu interior as diferenças individuais de oportunidade, flexibilidade, adaptações e respeito às limitações, bem como as dificuldades e necessidades especiais do outro. Historicamente, dentro do contexto escolar, as crianças com necessidades educacionais especiais têm sido estigmatizadas como incapazes de desenvolver sua autonomia intelectual, social, afetiva, ou simplesmente são engessadas por suas limitações, sendo condenadas ao determinismo genético. Neste estudo, trataremos das crianças com síndrome de Down, síndrome que tem sua origem nos cromossomos das pessoas. De maneira sucinta, o ser humano tem 46 cromossomos, organizados em pares, esses cromossomos são responsáveis por definir suas características genéticas. As pessoas com síndrome de Down têm 3 cromossomos de número 21, devido a um acidente genético. Portanto, a pessoa portadora de síndrome de Down tem 47 cromossomos, sendo um par de cada número e três cromossomos de número 21. As crianças com síndrome de Down são capazes de fazer o que as crianças comuns fazem e, embora sua velocidade de aprendizado geralmente seja mais lenta, não existem limites (VOIVODIC, 2004). Estas crianças, porém, precisam de estímulos especiais para desenvolver bem suas capacidades, estímulos estes que devem ser iniciados desde quando as crianças são muito pequenas. Os sujeitos do processo educativo dessa etapa da educação básica devem ter a oportunidade de se sentirem acolhidos, amparados e respeitados pela escola e pelos profissionais da educação, com base nos princípios da individualidade, igualdade, liberdade, diversidade e pluralidade. Dessa maneira garantem a ampliação da aprendizagem, atingindo a formação do professor, ampliando as possibilidades das crianças por meio de ações nas brincadeiras e interações com outras crianças, e participando das atividades curriculares com os demais colegas. Partindo desta concepção de desenvolvimento humano, temos como objetivo investigar como ocorre a interação social e o desenvolvimento de uma criança com Síndrome de Down a partir de experiências de aprendizagem na educação infantil, destacando o contexto e o processo que permitiu o afloramento de suas potencialidades, reveladas por seus aprendizados. Revista Conversatio ISSN 2525-9709 Vol. 3 Número 6. Jul/Dez. 2018 página 349

2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS A presente pesquisa teve como princípio investigativo acompanhar o processo de inclusão escolar de uma criança com Síndrome de Down na Educação Infantil no município de Cordilheira Alta, assim como acontece a interação com seus pares de desenvolvimento típico presentes no mesmo ambiente. Analisando o problema da presente pesquisa e seus respectivos objetivos, optou-se pela pesquisa de caráter qualitativo, que segundo Thomas, Nelson e Silverman (2007, p. 298), busca compreender o significado de uma experiência dos participantes, em um ambiente específico, bem como o modo como os componentes se mesclam para formar o todo. Os dados foram coletados por meio da análise de comportamentos através dos registros que a instituição de ensino disponibiliza, como o livro de registros, planejamento, parecer descritivo, portfólio, fotos e vídeos das interações cotidianas, entrevista semiestruturada com os professores e familiares. Com o objetivo de caracterizar o contexto da instituição, a proposta pedagógica e a criança com deficiência, buscando compreender os processos pedagógicos, os desafios e as possibilidades de aprendizagem observamos a criança em sua rotina escolar, em dias alternados durante o primeiro semestre de 2018, registramos como a criança interagia e como acontecia a intervenção das professoras. 3. APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS E DISCUSSÃO A escola em que foi observada a criança com Síndrome de Down (SD) é pública municipal e atende Educação Infantil e Ensino Fundamental I. O processo de inclusão no município vem aos poucos se construindo seguindo as leis federais, estaduais e municipais. A política do município é que as instituições de ensino que recebem criança com deficiência tenham um profissional para acompanhar o aluno, de acordo com suas necessidades. A instituição atende atualmente 328 crianças. A turma observada foi o Berçário III (2 a 3 anos de idade), que durante o período de observação contava com 16 crianças em turno integral, uma professora regente no turno matutino e outra no vespertino. Durante a rotina escolar a organização curricular conta com aulas de Educação Física e Manifestações da Arte. Em relação ao espaço físico interno da instituição, cabe ressaltar que não é uma estrutura adaptada para a educação infantil, alguns ambientes são amplos e Revista Conversatio ISSN 2525-9709 Vol. 3 Número 6. Jul/Dez. 2018 página 350

arejados outros são pequenos, e carecem de estrutura. A sala da turma do Berçário III é dividida entre ambientes de jogos simbólicos, mesas para atividades dirigidas, ambientes de exploração, higiene e sono. A criança começou a frequentar a escola em março de 2017 já com 1 ano e 9 meses, de início matriculada na turma de Berçário I (06 meses á 1 ano e 3 meses) por opção da família. Segundo a mãe, em dezembro de 2017 a família decidiu que a criança deveria frequentar a escola no período que a mãe estivesse trabalhando e também para conviver com as demais crianças. A opção pela matrícula em turma anterior a da sua idade/série, foi pelo fato da criança ser dependente nos momentos de alimentação, higiene e por ainda não desenvolver o equilíbrio necessário para caminhar. Segundo relatos da Coordenadora Pedagógica, foi realizado um acompanhamento de duas semanas, e depois realizada uma conversa com a família, explicando que a criança necessitava integrar-se aos seus pares de idade cronológica. A partir daí a criança foi matriculada na turma coerente a sua idade. A adaptação ao ambiente escolar aconteceu de forma muito natural, sentindose segura quanto ao ambiente e as pessoas do convívio escolar, criando vínculos de afetividade com os mesmos, não necessitando de nenhum tipo de intervenção ou adaptação. Durante as atividades voltadas as práticas pedagógicas a aluna interage de forma espontânea, participa das atividades, demonstra interesse pelas atividades propostas e, em um primeiro momento, procura superar suas dificuldades sem a mediação do outro. Observamos que as professoras conhecem o nível de desenvolvimento da criança, estabelecido nas tarefas que a criança consegue fazer sem ajuda de outro. Elas atuam uniformemente, a criança com deficiência recebe as mesmas orientações e informações que os colegas para realizar as atividades. Na interação com as demais crianças, percebemos que a Síndrome de Down não interfere nas relações com seus pares, e que, apenas sua comunicação fica um pouco prejudicada, pois em alguns momentos sua fala é bem difícil de ser compreendida. Brinca e interage com as demais crianças da turma, em algumas situações é resistente ao dividir brinquedos e objetos com os colegas, sendo necessária a intervenção do adulto. Em relação às experiências corporais e de movimento, explora de maneira autônoma formas de deslocamentos, desenvolveu equilíbrio, força muscular, coordenação motora e agilidade que necessita para as atividades diárias. Quanto à alimentação, possui autonomia em alimentar-se sozinha. Em relação à higienização, a mesma ainda necessita de auxilio, pois usa fraldas e no momento ainda não passou pelo processo de desfralde. Expressa e registra suas vivências cotidianas, Revista Conversatio ISSN 2525-9709 Vol. 3 Número 6. Jul/Dez. 2018 página 351

histórias ouvidas, passeios, através de garatujas e, em diferentes suportes. Em relação às experiências onde a linguagem é priorizada, participa de rodas de conversa, ouvindo atentamente e reproduzindo com gestos e pequenas frases. 4. CONCLUSÃO A inclusão nas instituições de ensino regulares tem tido grandes avanços nos últimos anos, porém, não podemos negar que o processo de inclusão das crianças com deficiência na escola comum é lento, que demanda investimento e formação. A partir do acompanhamento sistemático da criança na educação infantil, observou-se que não foram necessárias adaptações curriculares, tão pouco a criança demonstra dificuldades de interação e relacionamento com seus pares ou com os adultos com quem convive na instituição escolar. Sua participação em todas as experiências propostas acontece de maneira análoga aos seus pares com desenvolvimento típico, possibilitando se desenvolver e aprender. E, de acordo com VOIVODIC, 2004, as crianças com síndrome de Down são capazes de fazer o que as crianças comuns fazem e, embora sua velocidade de aprendizado geralmente seja mais lenta, não existem limites. Para VIGOTSKI, 1997, a aprendizagem, ao contrário do que muitos pensam, não depende só das condições pessoais inerentes a quem aprende, mas constitui o corolário do equilíbrio das condições internas, próprias do participante, com as relações interpessoais e culturais das quais se apropria. Apenas colocar as crianças em um ambiente considerado adequado, não é suficiente para que seu desenvolvimento cognitivo e afetivo ocorra. Deve-se atentar para vários fatores dentro desse ambiente que poderão contribuir para o bom andamento do processo. Ao caminharmos para a construção de uma escola comum que efetivamente construa mecanismos de inclusão, ainda necessitamos mudar a concepção das pessoas, resultando em intervenções qualitativas proporcionando as crianças com deficiência, e a todos nós, um mundo melhor e mais justo. Revista Conversatio ISSN 2525-9709 Vol. 3 Número 6. Jul/Dez. 2018 página 352

AN EXPERIENCE OF A CHILD WITH DOWN SYNDROME IN THE PUBLIC CHILDREN'S EDUCATION IN CORDILHEIRA ALTA Abstract The inclusion in the public school system brings to the fore discussions about a new social paradigm, especially for children with Down Syndrome. The school should be the place for them to accumulate and increase their potential, from the interaction with the other children and teacher mediation. The objective of this work is to report as a social interaction and the development of a child with Down syndrome from the experiences in children education, highlighting the learning process revealed by their potential. The datas were collected through the qualitative analysis of social interaction behaviors with Down syndrome children and their peers with the development of data presentation techniques in the same environment, through the records that the education institution makes available (portfolio, planners, photos and videos of daily interactions, semi-structured interview with teachers and family). The child's systematic index of children's education has not necessary to make curricular adaptations, so the child does not show difficulties in interaction and relationship with other children or adults with whom he lives in the school institution. Their participation in all experiences occurs in a same way to the other children. Keywords: Down syndrome. Child education. Learning Experiences. Inclusive education. REFERÊNCIAS VIGOTSKI, Lev Seminovich. Obras escogidas: Fundamentos da Defectologia. Vol. V. Madrid: Visor, 1997. VYGOSTSKY, Lev Semyonovitch. A formação social da mente. 6 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. VOIVODIC, Maria Antonieta. Inclusão escolar de crianças com síndrome de Down. Petrópolis, RJ: Vozes, 2004. THOMAS, Jerry R; NELSON, Jack K; SILVERMAN, Stephen J. Métodos de pesquisa em atividade física. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. 298p. Revista Conversatio ISSN 2525-9709 Vol. 3 Número 6. Jul/Dez. 2018 página 353