O sistema das migrações internacionais Brasil-Itália, ontem e hoje: um olhar demográfico Dimitri Fazito (CEDEPLAR/UFMG) Weber Soares (IGC/UFMG)
Considerações Iniciais As migrações não dizem respeito apenas ao número efetivo de migrantes, pois ao deslocamento no espaço físico também se associa o deslocamento no espaço social. Demografia: analisa não apenas o tamanho (número), mas também a estrutura e dinâmica (transformação) das populações por exemplo, projeções. Questão prática: avaliar as implicações dos vínculos migratórios entre Brasil e Italia.
Notas Técnicas A idéia de sistema de migração : processo social + contexto histórico. Caracterização do sistema de migração: dados baseados em informação censitária + registro civil + relatos históricos (circunstanciais).
Reconstituição Possível da Cena Migratória Primeira Fase (1870-1883) origens setentrionais (especialmente, Veneto) Coincidência histórica: Italia (excesso demográfico + conseqüências políticas e econômicas da industrialização tardia) e Brasil (déficit demográfico + conseqüências políticas e econômicas da falência do sistema escravocrata). Chegada dos imigrantes europeus (alemães, espanhóis, italianos e portugueses). Subvenção governamental (Império).
Segunda Fase (1884-1902) era de ouro da imigração italiana (aprox. 1 milhão em 20 anos) Diversificação das origens: aumento dos fluxos meridionais e aumento do número de migrantes de outras nacionalidades (espanhóis, russos e poloneses). Diversificação dos destinos (?): a diversificação ocorre através das migrações internas de São Paulo (70% fluxo total) para Minas, Paraná, Rio de Janeiro e Goiás; do Rio Grande do Sul para Santa Catarina e Paraná; do Rio de Janeiro para o Espírito Santo e Minas Gerais. Intensificação da subvenção estatal (financiamento da migração): contribuição decisiva para a formação das redes institucionais >> conseqüências futuras.
Terceira Fase (1903-1926) era da transição (arrefecimento dos fluxos aprox. 250 mil italianos em 20 anos) Consolidação dos destinos principais: os italianos se integram e misturam à sociedade brasileira. Deslocamento do campo para as cidades (especialmente, São Paulo e Minas Gerais), e novos destinos (Goiás, Mato Grosso, Norte e Nordeste). Consolidação e expansão das redes sociais da migração italiana: re-emigrações, retorno e transições. Minas Gerais se caracteriza como estado de migração de transição (vocação demográfica do estado). Enfraquecimento das redes institucionais >> substituição pelas redes pessoais dos migrantes.
Quarta Fase (1927-1947) era de estagnação (aprox. 25 mil em 20 anos) Migração residual, sustentada efetivamente pelas redes migratórias. Reemigração e retorno. Consolidação da presença italiana na vida nacional (integração) migrações internas no Brasil.
Quinta Fase (1948-1958) era da recuperação (aprox. 90 mil em 10 anos) Reforço dos fluxos de imigração devido às redes sociais e efeitos do período Pós- Guerra. Migração majoritariamente de trabalhadores urbanos e seus familiares. Principais destinos: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte.
Imigrantes Entrados no Brasil, Segundo Nacionalidades, de 1884 a 1958 Total Alem. Esp. Italianos Jap. Port. Russos Outros 1884-1893 883 668 22 778 103 116 510 533 170 621 40 589 36 031 1894-1903 1904-1913 1914-1923 862 110 1 006 617 503 981 6 698 93 770 537 784 33 859 224 672 196 521 29 339 94 779 86 320 11 868 20 398 157 542 384 672 201 252 2 886 48 100 8 196 63 430 106 925 63 697 1924-1933 1934-1943 1944-1953 737 223 197 238 348 443 61 728 52 405 70 177 17 862 5 184 11 432 15 440 46 141 61 692 110 191 46 158 2 340 233 649 75 634 146 647 7 953 275 1 801 201 120 40 693 74 382 1954-1958 275 672 5 695 43 445 40 438 24 815 109 528 91 51 660 4 814 952 193 399 663 512 1 514 897 215 770 1 479 545 109 891 637 938 Fonte: Departamento Nacional de Imigração e Instituto Nacional de Imigração e Colonização. Tabela extraída de: Anuário estatístico do Brasil 1959. Rio de Janeiro: IBGE, v. 20, 1959. NOTA: Os dados desta tabela se referem apenas aos estrangeiros entrados em caráter permanente e em primeiro estabelecimento.
Imigrantes Imigrantes Entrados no Brasil, por Nacionalidades, de 1884 a 1958 600 000 500 000 400 000 300 000 200 000 100 000 0 1884-1893 1894-1903 1904-1913 1914-1923 Anos 1924-1933 1934-1943 1944-1953 1954-1958 Alemães Espanhóis Italianos Japonêses Portuguêses Russos Outras
Sexta Fase (1959-2000) era de estagnação (aprox. 30 mil em 40 anos) Migração puramente residual: fluxos imigratórios mantidos por circunstâncias das redes sociais. Entrada temporária de trabalhadores técnicos e executivos (o caso da FIAT). Funcionamento das redes sociais: ítalodescendentes e o retorno; incremento dos fluxos bilaterais. Aumento do número de brasileiros na Italia: 15 mil brasileiros residentes até 1995, para 45 mil em 2006. Situações diversas de residentes irregulares, brasileiros com dupla cidadania, e brasileiros de passagem.
Estoques de Imigrantes Italianos Historicamente maior proporção de italianos relativa à população brasileira ocorre por volta de 1895-1902 1 milhão de italianos em terras brasileiras, aprox. 60% deles só no estado de São Paulo. Em Minas Gerais o auge parece ser em 1900, com 70 mil italianos. Migração familiar: os italianos chegam majoritariamente em grupos familiares, em todo o período. Em 2000, em todo o Brasil, eram aproximadamente 55 mil italianos (ainda o maior grupo de não-nacionais). Aumento dos imigrantes retornados (brasileiros) da Italia em 2000 (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba e Porto Alegre).
Observações Finais Estoque de italianos deve continuar se reduzindo, pois os fluxos de imigração continuarão residuais (em que pesem os efeitos indiretos da imigração internacional isto é, filhos de casais italianos/brasileiros). Ampliação das redes sociais ítalo-brasileiras nas duas direções, em especial, brasileiros imigrantes na Italia. Questão crucial: qual o número de ítalodescendentes no Brasil atualmente? Qual sua composição populacional e geracional?