A Experiência do Teatro do Oprimido: uma abordagem sobre raça, gênero, e sexualidade na Educação Básica

Documentos relacionados
UNIVERSIDADE FEDERALL DE PELOTAS FACULDADE DE DIREITO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PLANO DE ENSINO 2017/1

Geral: Compreender como se realizam os processos de troca e transmissão de conhecimento na sociedade contemporânea em suas diversas dimensões.

Teorias Pós-coloniais (plano de curso)

02/10/2014. Educação e Diversidade. Para início de conversa. Descompasso: educação e sociedade. Tema 1: Multiculturalismo e Educação.

RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS E O ENSINO DE CIÊNCIAS

A universidade popular das mães de maio: saber/conhecimento do sul para o sul 1

UM OLHAR SOBRE O CURRÍCULO A PARTIR DA PERSPECTIVA DECOLONIAL: APRENDENDO COM OS MOVIMENTOS SOCIAIS LUCINHA ALVAREZ TEIA/FAE/UFMG

Anais Eletrônicos do Congresso Epistemologias do Sul v. 2, n. 1, 2018.

COLONIALIDADE DO SABER: OUTRO OLHAR SOBRE O BRASIL NAS AULAS DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO BÁSICA

Anais Eletrônicos do Congresso Epistemologias do Sul v. 2, n. 1, 2018.

7 Considerações finais ou uma outra introdução?

XIII Simpósio Integrado de Pesquisa FURB/UNIVILLE/UNIVALI. 27 de agosto de 2015, Blumenau - SC INTERCULTURALIDADE: UMA EDUCAÇÃO PARA A DIVERSIDADE

ABORDAGENS DA HISTÓRIA DA ÁFRICA NO CURRÍCULO REFERÊNCIA DA REDE ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DE GOIÁS

WORKSHOP DIVERSIDADE E INCLUSÃO IFRS

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E CONHECIMENTOS TECIDOS NO COTIDIANO DE UMA ESCOLA PÚBLICA DA REGIÃO SUL FLUMINENSE

Estudar o papel da educação na reprodução das desigualdades sociais; Analisar o papel da escola diante dos marcadores sociais da diferença;

O Multiculturalismo na Educação Patrimonial: conceitos e métodos

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA RESOLUÇÃO Nº 08/2011, DO CONSELHO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

Eixo: Fundamentos teórico-metodológica da História.

EMENTAS DAS DISCIPLINAS REFERENTE AO SEMESTRE LINHA DE PESQUISA I

LEI / 2003: NOVAS PROPOSTAS PEDAGÓGICAS PARA O ENSINO DA CULTURA AFRICANA E AFROBRASILEIRA.

Dez anos da lei : da criação à presença e aplicação em sala de aula através dos livros didáticos.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS CURSO DE PEDAGOGIA

Local Sala CFH Articular as categorias saberes docentes e saber escolar para refletir sobre a prática pedagógica no ensino de História.

FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA: TRANSFORMAR O ENSINO POR MEIO DO DIÁLOGO

ENSINO DE HISTÓRIA E RELAÇÕES RACIAIS: MATERIAIS DIDÁTICOS E FORMAÇÕES DISCURSIVAS Paulo Antonio Barbosa Ferreira CEFET/RJ

Filosofia no Brasil e na América Latina Suze Piza e Daniel Pansarelli Cronograma das aulas, leituras e critérios e formas de avaliação Ementa:

Metodologia e Prática de Ensino de Ciências Sociais

SABER AMBIENTAL E AS PRÁTICAS EDUCATIVAS A CONTRIBUIÇÃO DE ENRIQUE LEFF 1. Janaína Soares Schorr 2, Daniel Rubens Cenci 3.

O TEATRO DO OPRIMIDO PARA A EMANCIPAÇÃO DOS SUJEITOS NA DISCIPLINA PROJETO DE VIDA NOS GINÁSIOS CARIOCAS

UM NOVO PARADIGMA Para compreender o mundo de hoje Autor: Alain Touraine

HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA C/H 170 (1388/I)

TESE DE DOUTORADO MEMÓRIAS DE ANGOLA E VIVÊNCIAS NO BRASIL: EDUCAÇÃO E DIVERSIDADES ÉTNICA E RACIAL

AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NA CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO HETEROGÊNEO

7. Referências bibliográficas

Pedagogia. 1º Semestre. Filosofia e Educação ED0003/ 60h

EMENTÁRIO HISTÓRIA LICENCIATURA EAD

Dados da Componente Curricular

DIDÁTICA MULTICULTURAL SABERES CONSTRUÍDOS NO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM RESUMO

LIAU Laboratório de Inteligência no Ambiente Urbano no bairro Passos das Pedras em Porto Alegre Um relato de experiência

PALAVRAS-CHAVE: Currículo escolar. Desafios e potencialidades. Formação dos jovens.

Tabela 25 Matriz Curricular do Curso de História - Licenciatura

Diversidade e inclusão nos encontros formativos entre África, Brasil e Timor Leste: o caminho e o caminhar da Unilab

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA. Disciplina - A ESCOLA NO MUNDO CONTEMPORÂNEO

Palavras-chave: Ludicidade. Histórias. Pedagogia social. Crianças.

Marta Lima Gerente de Políticas Educacionais de Educação em Direitos Humanos, Diversidade e Cidadania.

DILEMAS DA PESQUISA NA EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS NO CENÁRIO CONTEMPORÂNEO

Universidade Estadual do Ceará UECE Centro de Estudos Sociais Aplicados CESA Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas - PPGPP

ST 2- História, memória e política na produção audiovisual Profa. Dra. Angela Aparecida Teles (História ICH-PO/UFU)

EMENTÁRIO MATRIZ CURRICULAR 2014 PRIMEIRO SEMESTRE

Plano de Ensino Docente

Semestre letivo: 3º Semestre Professor: Período:

Segundo Encontro Educação e Desigualdades Raciais no Brasil

EDITORIAL/ EDITORIAL

O ENSINO DE HISTÓRIA E O LIVRO DIDÁTICO EM FONTES DE INFORMAÇÃO DISPONÍVEIS EM MÍDIAS DIGITAIS

Conceito de Gênero e Sexualidade no ensino de sociologia: Relato de experiência no ambiente escolar

CURRÍCULO, DIFERENÇAS E INCLUSÃO SOCIAL. Prof. DR. IVAN AMARO UERJ UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CURRÍCULOS DOS CURSOS DO PROGRAMA DE PÓS GRADUÇÃO EM ESTADO E SOCIEDADE MESTRADO ACADÊMICO E DOUTORADO CURRÍCULO DO MESTRADO

EDUCAÇÃO INCLUSIVA: ESTUDO DA VISÃO DOS PROFESSORES DA REDE BÁSICA DE ENSINO DE SOBRAL SOBRE A DIVERSIDADE DENTRO DE SUAS ESCOLAS.

Resultado Final do Eixo 03 -Currículo e educação infantil, ensino fundamental e Nº TÍTULO CPF

EDITAL Nº 02/ Apresentação. 2. Público Alvo

AS PERSPECTIVAS DE UMA PEDAGOGIA INTER/MULTICULTURAL PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL

DISCIPLINA DE CIÊNCIAS SOCIAIS (FILOSOFIA) OBJETIVOS: 6º Ano

Disciplina: MEN 7011 Semestre: 2013/2 Turma: 06326A Nome da disciplina: Estágio Supervisionado de História I. CED523 horas-aula)

PIBID, UM CONHECIMENTO ESSENCIAL DA REALIDADE NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

EDUCAÇÃO E DIREITOS HUMANOS: UM DIÁLOGO PARA A DIVERSIDADE E INCLUSÃO SOCIAL

AS LÓGICAS DO RACISMO EM PORTUGAL E NO BRASIL

Anais Eletrônicos do Congresso Epistemologias do Sul v. 1, n. 1, 2017.

Foucault e a educação. Tecendo Gênero e Diversidade Sexual nos Currículos da Educação Infantil

Estudos das Relações Organização da Disciplina Étnico-raciais para o Ensino Aula 3 de História e Cultura Afro-brasileira e Africana e Indígena

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL - MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA CAMPUS DE ROLIM DE MOURA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO DO CAMPO

PIBID PEDAGOGIA E EDUCAÇÃO INCLUSIVA: DESAFIOS E EXPECTATIVAS

Currículo Escolar. Contextualização. Instrumentalização. Teleaula 2. Refletir sobre currículo. Profa. Me. Inge R. F. Suhr

Letras Língua Portuguesa

UM ESTUDO SOBRE AS FORMAS GEOMÉTRICAS EM NOSSO COTIDIANO. Instituto de Ciências Exatas da Universidade Federal de Minas Gerais

GÊNEROS, SEXUALIDADE E EDUCAÇÃO

A área de Ciências Humanas no EM

PROGRAMA DE DISCIPLINA

EDUCAÇÃO EM/PARA OS DIREITOS HUMANOS: REFLEXÕES SOBRE A FORMAÇÃO DOCENTE NUMA PERSPECTIVA INTERCULTURAL

PLANO DE ENSINO. [Digite aqui] Copyrights Direito de uso reservado à Faculdade Sumaré

DISCUTINDO CURRÍCULO NA ESCOLA CONTEMPORANEA: OLHARES E PERSPECTIVAS CRÍTICAS

O ENSINO DE DIDÁTICA E O PROCESSO DE CONSTITUIÇÃO PROFISSIONAL DOCENTE

A EJA e o Trabalho como princípio educativo: eixo integrador entre conteúdos. Dante Henrique Moura Florianópolis,01/06/2012

OUTRAS HISTÓRIAS POSSÍVEIS OU POR UMA ECOLOGIA DAS TEMPORALIDADES EM LIVROS DIDÁTICOS DE HISTÓRIA Cinthia Monteiro de Araujo UFRJ

Seminário de Avaliação do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência UFGD/UEMS/PIBID

7 Referências bibliográficas

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE COLÉGIO DE APLICAÇÃO

Regulamento do ESTÁGIO OBRIGATÓRIO do curso de Graduação em HISTÓRIA, Grau Licenciatura da Unila

ALIANDO A TEORIA E A PRÁTICA DOCENTE NO COTIDIANO DA ESCOLA ATRAVÉS DO PIBID

CURSO DE VERÃO. PROPOSTA: Com a intenção de atender aos diferentes atores interessados na temática da disciplina,

PLANO DE ENSINO. Curso: Pedagogia. Disciplina: Teoria e Planejamento Curricular I. Carga Horária Semestral: 40 horas Semestre do Curso: 5º

FORMAÇÃO DE EDUCADORES A PARTIR DA METODOLOGIA DA INVESTIGAÇÃO TEMÁTICA FREIREANA: UMA PESQUISA-AÇÃO JUNTO

JOGOS AFRICANOS INTRODUÇÃO

MOVIMENTOS SOCIAIS. Prof. Lucas do Prado Sociologia

Universidade Federal de Alagoas Centro de Educação Programa de Pós-Graduação em Educação. Padrão de Respostas da Prova Escrita Seleção 2018

1 o Semestre. PEDAGOGIA Descrições das disciplinas. Práticas Educacionais na 1ª Infância com crianças de 0 a 3 anos. Oficina de Artes Visuais

Iluminação Cênica e uma construção do espetáculo: uma abordagem pedagógica.

TÍTULO: O ENSINO DA CULTURA AFRO-BRASILEIRA NAS REPRESENTAÇÕES DO DISCENTE DE EJA: UMA ANÁLISE NA PERSPECTIVA DA HISTÓRIA ORAL

O DIÁLOGO ENTRE DOIS MUNDOS: O PIBID COMO MEDIADOR DO ESPAÇO ACADÊMCO E DAS INSTIUIÇÕES DE ENSINO BÁSICO

Transcrição:

A Experiência do Teatro do Oprimido: uma abordagem sobre raça, gênero, e sexualidade na Educação Básica Palavras-chave: PIBID História UFRJ, Teatro, Oprimido, Colonialidade. A Oficina Pedagógica, Teatro do Oprimido: uma abordagem sobre raça, gênero e sexualidade na Educação Basica, vinculada ao Subprojeto de História do PIBID, foi desenvolvida no CIEP Brizolão 303 - Ayrton Senna no 1º semestre de 2016, com alunos do 3º ano do Ensino Médio. Esta oficina nasceu da necessidade de provocar uma reflexão nos alunos acerca dos temas que estavam sendo trabalhados dentro do conteudo de Primeira Republica com as reformas higienistas de Pereira Passos no Rio de Janeiro. Nosso objetivo era debater a ideia de opressão e exclusão presentes nesse projeto de cidade que se construia conectando com os dias atuais, vale lembrar que em 2016 o Rio de Janeiro estava pronto para sediar os Jogo Olimpicas e tinha acabado de viver uma nova omda de reformas. Para tanto, sensibilizamos a turma com temáticas como: liberdade de expressão, igualdade e democracia, o direito a cidade, trazendo fragmentos de documentos para que os alunos pudessem identificar quais assuntos norteariam esta oficina. Utilizamos cronicas de Lima Barreto e João do Rio e charges do periodo. No decorrer da discussão dos textos percebemos que a conexão do momento histórico estudado com a atual situação da cidade foi imediata e os temas que os alunos propuseram a ser discutidos na oficina propriamente dita ficou dentro de tematicas que estão muito sensiveis na atualidade foram eles: questões de raça, genero, sexualidade e liberdade religiosa. Os alunos conceberam que a nova onda de reformas da cidade permanece com um caráter excludente para os mesmos grupos historicamente oprimidos como negros, mulheres, populaçao LGBT dentre outros e assim montamos a oficina com as sugestões deles. A Oficina: a oficina baseada no Teatro do Oprimido, de Augusto Boal. Esta técnica teatral busca mobilizar os Espectatores de maneira que os mesmos se envolvam na cena e possam se tornar os

atores. O teatro procura expor as relações de opressão e causar no público a certeza de que podem mudar aquela realidade dada. Entendendo essa ideia proposta por Boal, procuramos seguir algumas de suas técnicas, como o aquecimento que instrumentalizaria os alunos e bolsistas a se envolverem para criarem um ambiente propicio à prática teatral. A seguir passamos a Teatro imagem, que repercutiu longos debates, reflexões, inclusive de como os alunos viam a escola. Num primeiro momento os alunos ficam cerca de 15 minutos fazendo exercícios de descontração para se prepararem para a encenação destaque para três exercícios : apresentação em roda, a caminhada e dinâmica do espelho Teatro imagem: Os grupos (6 ou 7 alunos) devem representar uma imagem estática a partir dos temas (gênero, racismo, sexualidade e liberdade religiosa). O grupo receberá o tema através de sorteio. Observar as relações de opressão que se criam após a apresentação dos grupos e uma discussão para que se desfaça a relação de opressão com modificação de ações por integrantes de outros grupos. Teatro fórum: A turma foi dividida nos mesmos grupos, que escolheu umas das cenas de um dos outros grupos para reencená-la desfazendo a situação de opressão representada anteriormente. Após a apresentação da cena, discutem com a plateia as relações de opressão e as soluções propostas. Entendendo a oficina: Durante a discussão das cenas apresentadas no momento do teatro imagem percebemos que mais de uma situação opressão estava presente na mesma cena, cenas que discutiam a liberdade religiosa acabaram trazendo a tona situações de racismo e de homofobia, ou ainda cenas que discutiam a sexualidade trouxeram a tona situações de machismo, homofobia e racismo e muitas outras questões.

Ainda no teatro imagem muitas situações reais vividas pelos educandos emergiram, causando momentos de fortes emoções. Ao passarmos para o teatro fórum a ideia era propormos aos alunos a oportunidade de modificar a situação apresentada, discutindo assim possíveis estratégias de combate as mais variadas situações de preconceitos ali retratadas, porém o que observamos e que em quase todos os casos havia apenas uma inversão de papéis, no qual oprimido se tornava opressor. Após este momento mais uma vez tivemos que problematizar essa situação para fazê-los entender que isto não é uma forma de resolver violência contida em cada uma das situações. Para entendermos a ocorrência desse fenômeno recorremos aos autores da colonialidade na América Latina e acredito que estes representam uma nova perspectiva filosófica que envolve uma utopia de construir alternativas a modernidade eurocêntrica, tanto no que se refere ao seu projeto de sociedade quanto as suas propostas epistemológicas, para esse grupo a construção de alternativas implica necessariamente em uma discussão critica à centralidade ocidental nos processos de produção do conhecimento é nesse contexto que se criou o conceito de colonialdade. Walter Mingnolo (2003) distinguiu o colonialismo existente no período colonial na América Latina, da ideia de colonialidade, o termo colonialismo refere-se ao conjunto de relações políticas e econômicas nas quais a soberania de um povo esta submetida ao poder de outro povo ou nação. Por sua vez a colonialidade se refere a um padrão de poder que surge como resultado do colonialismo moderno, mas que não esta limitado a ele. Refere-se as formas de trabalho, de conhecimento, de autoridade, de relações sociais que se articulam entre-si. Anibal Quinjano (2007) afirma que a colonialidade sobrevive ao colonialismo, ela se manteve viva nos livros didáticos, nos critérios para um bom trabalho acadêmico, além de estar fortemente arraigada na cultura popular e na auto imagem dos povos e naquilo que seus sujeitos desejam. Sendo assim vivemos a colonialidade na modernidade cotidianamente.

Acreditamos que a inversão de papéis entre oprimido e opressor esteja muito ligada a ideia de colonialidade tanto do ser, como do poder e do saber e diante desse cenário percebemos o ensino de História como uma ferramenta de grande potencialidade para promover esses processos de descolonização, porém para tal devemos começar pela descolonização do próprio currículo de História a fim de que nossos alunos se percebam sujeitos históricos e não se cristalizem no papel de subalternidade, acreditando que a única forma de deixa de ser oprimido seja se tornando opressor. Recorro a ideia de colonialidade do saber histórico escolar da professora Cinthia Monteiro de Araujo (2009) para entendermos a dificuldade para que ocorra o rompimento com os modelos vigentes. A autora constata que mesmo após os anos 80 os currículos vão manter um padrão cronológico linear de organização dos conteúdos, onde prevalece uma concepção de tempo eurocêntrica como única possibilidade de organizar o processo histórico. Isto evidencia a centralidade epistêmica europeia impressa na permanência da cronologia linear como eixo articulador do saber histórico escolar e continua a contribuir para a construção da inexistência de uma multiplicidade de mundos, tempos, e saberes reforçando a monocultura do tempo e do saber. Nesse sentido concordo com Cinthia Araújo (2013, p.271) quando a mesma defende a ideia de que a tradição dominante no Ensino de História expressa relações de colonialidade através de marcas da modernidade próprias ao conhecimento histórico e ainda presentes no saber histórico escolar. Ainda segundo a autora estas marcas da modernidade se manifestam com força no ensino de História devido à permanência de uma tradição escolar que ainda não foi superada. A constituição da História como disciplina escolar secundaria no Brasil se dá com a criação do Colégio Pedro II, no mesmo contexto da fundação do IHGB (Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro). Ambas instituições nasceram em 1838 com a mesma missão: colaborar para a consolidação do Estado Nacional e para a construção de uma identidade nacional. Inspirada pelo pensamento cientifico, muito em voga no século XIX, a elite brasileira responsável pelo processo de construção do discurso identitário inseriu a nação no fluxo do desenvolvimento moderno. Nesse contexto, duas tendências se cruzavam na constituição da disciplina escolar História. Ao mesmo tempo em que se buscava revelar a identidade e a autonomia

da nação recém-formada através da recuperação do seu passado, também pretendia inserir a história da jovem nação na história da civilização ocidental cristã, sociedade exemplar na trajetória em direção ao progresso. Os saberes produzidos, mesmo depois do rompimento com os laços coloniais de dominação politica, continuam a carregar as aspirações da elite imperial de alcançar a modernidade europeia. Existia um fascínio pelo imaginário europeu. A disciplinarização da História esta, dessa forma diretamente relacionado ao que Santos (2006) chama de processo de redução de multiplicidade de mundos e de tempos operados pela razão ocidental, a compreensão do mundo e relações diretas com as concepções de tempo e de temporalidade, e a tradição cientifica e filosófica ocidental que se tornou dominante no tempo e se impôs através daquilo que ele chama de Indolência da Razão, uma única concepção de tempo e de História, reduzindo assim as possibilidades de inteligibilidade do mundo. A monocultura do tempo linear é um dos modos de produção da não existências operadas pela Razão metonímica. É a indolência da razão metonímica, que se reivindica como única forma de racionalidade (SANTOS, 2006, p.95). Ela é quem faz da história ocidental modelo e parâmetro para a experiência social de todos os povos, pois prevalece ai a ideia de totalidade homogênea onde as partes não tem existência fora da relação com o todo. Uma única lógica organiza o movimento do todo e das partes. Nenhuma das partes pode ser pensada fora da relação com a totalidade (Idem, p.98). Cria-se um sentido e direção únicos da História que elimina todas as outras concepções de tempo, pois a concepção linear produz a não contemporaneidade que revela as assimetrias dos tempos históricos, e nessas assimetrias dos tempos históricos se escondem hierarquias dominadas por quem estabelece qual fração reduzida do simultâneo é considerado como contemporâneo. A centralidade epistêmica europeia impressa na permanência da cronologia linear como eixo articulador do saber histórico escolar continua contribuindo para a construção da inexistência de uma multiplicidade de mundos, tempos, e saberes reforçando a monocultura do tempo e do saber. E o processo de ruptura com essa centralidade no cotidiano da sala de aula é muito complexo, exigi um grande esforço do docente que muitas vezes por mais que tenha formação, por mais que participe do PIBID, continua a reproduzir esse ensino de História, já que se vê a amarrado pelas estruturas curriculares

Defendo a perspectiva de uma educação intercultural entendendo a mesma como um projeto político, social, ético e epistêmico como um lugar dessa anunciação dessa alternativa de um outro ensino de História. Nesse sentido concordo com a visão de Vera Candau compreendendo o mesmo a partir de um multiculturalismo interativo 1, que promove a interação entre diferentes grupos culturais. É Candau (2009) que nos afirma que ele Concebe as culturas em contínuo processo de elaboração de construção e reconstrução. Certamente cada cultura tem suas raízes, mas estas raízes são históricas e dinâmicas. Não fixando a as pessoas em determinado padrão cultural. Esse ponto de vista apoia-se na consideração de que os processos de hibridização cultural são fundamentais nas dinâmicas dos diferentes grupos sócio-culturais, mobilizando identidades abertas e em constante construção. Para Catherine Walsh (2009) a diversidade cultural tem estado no centro das atenções tanto na academia quanto na política e muitas são as reformas educativas e políticas específicas voltadas para as minorias, porém Walsh problematiza essas medidas reconhecendo sua importância, mas afirmando que no contexto da colonialidade acaba ocorrendo a reacomodação do projeto hegemônico vigente dentro dos desígnios do capitalismo global, já que por esta lógica o capitalismo multinacional neutraliza a diferença na medida em que a incorpora. Ao sustentar e incorporar a diferença dentro da ordem nacional essa lógica promove a inclusão com o fim de reduzir conflitos. Em oposição a essa lógica a autora defende a perspectiva da interculturalidade critica que tem como pressuposto questionar padrões e dispositivos que mantém a desigualdade e afirma que suas raízes ancoradas nos movimentos sociais ajudam a localizar essa perspectiva no contexto da contrahegemonia. A interculturalidade critica está na busca da transformação social e cultural que será capaz de promover alterações nas estruturas, instituições e ralações sociais tanto no que se refere às esferas do saber e do ser dessa maneira afirma que a interculturalidade critica Se preocupa com a exclusão, negação e subordinação ontológica e epistêmico-cognitiva dos grupos e sujeitos racializados; com as praticas- de desumanização e de subordinação de 1 Diante dos vários significados para o termo, Candau (2009) defende a necessidade de adjetivação. Nesse sentido, a autora destaca três perspectivas: o multiculturalismo assimilacionista, o multiculturalismo diferencialista ou monoculturalismo plural, e o multiculturalismo interativo ou interculturalidade.

conhecimentos que privilegiam alguns sobre outros, naturalizando a diferença e ocultando as desigualdades que se estruturam e se matém em seu interior. Mas, e adicionalmente, se preocupa com os seres de resistência, insurgência e oposição, os que persistem apesar da desumanização e subordinação ( WALSH, 2009, p.23) O ensino de História dentro da interculturalidade critica deve estar preocupado com uma mudança de foco na construção curricular e não simplesmente partir de uma perspectiva aditiva, reconheço que o simples fato de que temas historicamente esquecidos e menosprezados se fazerem presentes nos currículos é um grande passo, mas ainda é pouco. A educação intercultural oferece centralidade a relação entre sujeitos, individuais e coletivos, buscando uma produção plural de sentidos a partir de que na relação se estabelecem outras subjetividades e outras políticas de verdade e não apenas um dialogo entre culturas. Não é adaptar, ou mesmo simplesmente possibilitar a mutua compreensão das linguagens. É, antes, possibilitar a emergência dos múltiplos significados, provocando a reflexão sobre os seus fluxos e cristalizações e os jogos de poder aí implicados. [...] A finalidade é a invenção da possível transformação de relações hierarquizadas e excludentes em relações de reciprocidade e de inclusão de saberes fragmentados e disciplinarizados, em saberes que busquem, além das distinções, as interconexões, a desestabilização de dicotomias substituindo bifurcações hierárquicas por redes de diferenças cruzadas, múltiplas e fluidas. (AZIBEIRO; FLEURI, 2008, p. 7) Mas, mesmo com todos os desafios percebemos que as oficinas promovidas no ambito do projeto nos permitiram ter respostas mais positivas dos discentes, uma vez que os mesmos conseguem se ver no conteúdo trabalhado. E também conseguimos instigar um olhar mais crítico e questionador sobre a sua realidade, algo que pode propiciar a eles novos saberes a respeito da sociedade em que vivem e acima de tudo fazê-los entender que reflexão e atuação são fundamentais para se tornarem agentes transformadores dessa realidade de preconceito e discriminação vivida por boa parte deles para que assim possamos promover, de fato, uma descolonização do poder, do ser e do saber. Bibliografia:

ARAUJO, Cinthia Monteiro de. Por outras histórias possíveis: em busca de diálogos interculturais em livros didáticos de Histórias. Rio de Janeiro, 2012. 176 f. Tese de doutorado. Departamento de Educação. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.. Uma outra história possível? O saber histórico escolar na perspectiva intercultural. In: MONTEIRO, Ana Maria; PEREIRA, Amilcar Araujo. Ensino de história e culturas afro-brasileiras e indígenas. Rio de Janeiro: Pallas, 2013. BARRETO, Lima. As enchentes. In:Vida Urbana. Rio de Janeiro,1915. BARRETO, Paulo (João do Rio). A alma encantadora das ruas. Companhia das Letras, São Paulo. 1997. BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de História: fundamentos e métodos. SãoPaulo: Cortez, 2009. BOAL, Augusto. Jogos para atores e não-atores. Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 2009. CANDAU, Vera (Org.) Educação intercultural na América Latina: entre concepções, tensões e propostas. Rio de Janeiro: 7Letras, 2009. CANDAU, Vera Maria Ferrão. Direitos humanos e educação intercultural. In: XIV Encontro Nacional de Didática e Pratica de Ensino. Trajetórias e processos de ensinar e aprender lugares, memórias e culturas. Porto Alegre: PUCRS, 2008. GABRIEL, Carmen Teresa. Exercícios com documentos nos livros didáticos de história: negociando sentidos da história ensinada na educação básica. In: ROCHA, Helenice Aparecida Bastos, REZNIK, Luís, MAGALHÃES, Marcelo de Souza (orgs.). A história na escola. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2009.

GABRIEL, Carmen Teresa. Conhecimento escolar, cultura e poder: desafios para o campo docurrículo em tempos pós. In: CANDAU, Vera Maria & MOREIRA, Antonio FlávioBarbosa. Multiculturalismo, diferenças culturais e práticas pedagógicas. Petrópolis:Vozes, 2008, p. 1-27. MINGNOLO, Walter. Histórias locais, projetos globais: colonialidade, saberes e pensamento linear. Belo Horizonte: UFMG, 2003. QUIJANO, Aníbal. Colonialidad del poder y clasificación social. In: CASTRO-GÓMEZ, S.; GROSFOGUEL, R. (Orgs.). El giro decolonial. Reflexiones para una diversidad epistémica más allá del capitalismo global. Bogotá: Universidad Javeriana-Instituto Pensar, Universidad Central-IESCO, Siglo del Hombre Editores, 2007. SANTOS, Boaventura de Sousa. Para além do pensamento abissal: das linhas globais a uma ecologia de saberes. In: SANTOS, Boaventura de Sousa; MENESES, Maria Paula. (Orgs.). Epistemologias do Sul. São. Paulo; Editora Cortez. 2010.. Uma sociologia das ausências e uma sociologia das emergências. In: A gramática do tempo: para uma nova cultura política. São Paulo: Cortez, 2006. SEVCENKO, Nicolau. A Revolta da Vacina: mentes insanas em corpos rebeldes. Brasiliense, São Paulo,1984. WALSH, Catherine. Interculturalidad crítica y pedagogia de-colonial: apuestas (des) de el in-surgir, re-existir e re-vivir. Disponível em: <www.antropologias.descentro.org> Acesso em 08/10/2013.