INTERVENÇÃO CERIMÓNIA DE ABERTURA



Documentos relacionados
DECLARAÇÃO POLÍTICA DESAFIOS DO FUTURO NO MAR DOS AÇORES BERTO MESSIAS LIDER PARLAMENTAR DO PS AÇORES

Resolução de Vilnius: melhores escolas, escolas mais saudáveis - 17 de Junho de 2009

SECRETÁRIA DE ESTADO ADJUNTA E DA DEFESA NACIONAL. Tomada de posse dos órgãos sociais do Centro de Estudos EuroDefense-Portugal

ESTRATÉGIAS CORPORATIVAS COMPARADAS CMI-CEIC

Intervenção do Director Regional dos Assuntos Europeus e Cooperação Externa na

Pedagogia Estácio FAMAP

INTERVENÇÃO DE SUA EXCELÊNCIA O MINISTRO DAS OBRAS PÚBLICAS, TRANSPORTES E COMUNICAÇÕES. Eng. Mário Lino. Cerimónia de Abertura do WTPF-09

Eng.ª Ana Paula Vitorino. por ocasião da

ESPAÇO(S) E COMPROMISSOS DA PROFISSÃO

01. Missão, Visão e Valores

Propostas para uma Política Municipal de Migrações:

POSIÇÃO DA UGT SOBRE A ACTUAÇÃO DO FMI EM PORTUGAL

Excelências, Senhores Convidados, nacionais e estrangeiros, Senhores Congressistas, Carlos Colegas, Minhas Senhoras e meus Senhores,

PASC. Plataforma Activa da Sociedade Civil. Carta de intenções

PLANO ESTRATÉGICO (REVISTO) VALORIZAÇÃO DA DIGNIDADE HUMANA, ATRAVÉS DE UMA ECONOMIA SUSTENTÁVEL

Miguel Poiares Maduro. Ministro-Adjunto e do Desenvolvimento Regional. Discurso na Tomada de Posse do Presidente da Comissão de

GRUPO PARLAMENTAR. É neste contexto mundial e europeu, que se deve abordar, localmente, a problemática da Luta Contra as Dependências.

Licenciatura em Gestão de Marketing (LMK)

Candidatura de. António Dourado Pereira Correia. a Director da FCTUC. Programa de acção do Director da FCTUC

Gabinete de Apoio à Família

UNIVERSIDADE TÉCNICA DE MOÇAMBIQUE UDM DIRECÇÃO ACADÉMICA CURRÍCULO DA ÁREA DE FORMAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO E GESTÃO DE EMPRESAS AFAGE

Licenciatura em Administração Pública (LAP)

SEMINÁRIO 'AS NOVAS FRONTEIRAS E A EUROPA DO FUTURO' ( ) Braga

Planejamento do CBN Política Nacional de Normalização. Processo de produção de normas. Antecedentes. Objetivo. Propor a

REPÚBLICA DE ANGOLA ASSEMBLEIA NACIONAL

ACEP lança Comissão Especializada Business to Consumer

PROPOSTA DE REVISÃO CURRICULAR APRESENTADA PELO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CIÊNCIA POSIÇÃO DA AMNISTIA INTERNACIONAL PORTUGAL

AGENDA. Da Globalização à formulação de uma estratégia de Crescimento e Emprego para a União Europeia.

Intercooperação entre Portugal e Brasil no Sector da Habitação Cooperativa. Guilherme Vilaverde

POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO SOCIAL

SEMANA DA RESPONSABILIDADE SOCIAL REGENERAÇÃO URBANA E RESPONSABILIDADE SOCIAL NA INTERNACIONALIZAÇÃO

Anexos Arquitectura: Recurso Estratégico de Portugal

Inovação. Desenvolvimento Sustentado da Inovação Empresarial

Metodologia de construção o da co- responsabilidade para o bem estar de todos a nível local

Comentários COGEN_PDIRT E 2014_2023.pdf

INVESTIR EM I&D - PLANO DE ACÇÃO PARA PORTUGAL ATÉ 2010 CIÊNCIA E INOVAÇÃO -PLANO PLANO DE ACÇÃO PARA PORTUGAL ATÉ NOVA TIPOLOGIA DE PROJECTOS

MINISTÉRIO DA HOTELARIA E TURISMO

O que esperar do SVE KIT INFORMATIVO PARTE 1 O QUE ESPERAR DO SVE. Programa Juventude em Acção

SESSÃO DE ABERTURA DA XVII ASSEMBLEIA GERAL DO CONSELHO MUNDIAL DAS CASAS DOS AÇORES

Senhor Presidente Senhoras e Senhores Deputados Senhora e Senhores Membros do Governo

Unidade Curricular de Projecto Empresarial, em Parceria com o ISCTE-IUL

AVALIAÇÃO TEMÁTICA SOBRE A COOPERAÇÃO PORTUGUESA NA ÁREA DA ESTATÍSTICA ( ) Sumário Executivo

POLÍTICA DE DIVERSIDADE DO GRUPO EDP

D SCUR CU S R O O DE D SUA U A EXCE

EDITAL. Iniciativa OTIC Oficinas de Transferência de Tecnologia e de Conhecimento

Projecto de Lei n.º 54/X

A inovação e essencial à competitividade

INTERVENÇÃO DE S.EXA. O SECRETÁRIO DE ESTADO DO TURISMO, DR.BERNARDO TRINDADE, NA SESSÃO DE ABERTURA DO XXXIII CONGRESSO DA APAVT

NCE/15/00099 Relatório preliminar da CAE - Novo ciclo de estudos

SEMINÁRIO OPORTUNIDADES E SOLUÇÕES PARA AS EMPRESAS INOVAÇÃO E COMPETITIVIDADE FINANCIAMENTO DAS EMPRESAS OPORTUNIDADES E SOLUÇÕES

Europa e África: que futuro comum? Conferência Sala 1 da Fundação Gulbenkian, Lisboa, 12 de Março de Declaração Final

Resposta da Sonaecom Serviços de Comunicações, SA (Sonaecom) à consulta pública sobre o Quadro Nacional de Atribuição de Frequências 2010 (QNAF 2010)

Seminário Energia e Cidadania 23 de Abril de 2009 Auditório CIUL

Guia Sudoe - Para a elaboração e gestão de projetos Versão Portuguesa Ficha 3.1 Construção de projetos

CARTA EMPRESARIAL PELA CONSERVAÇÃO E USO SUSTENTÁVEL DA BIODIVERSIDADE

ANEXO 1 PROJETO BÁSICO PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL E ORGANIZACIONAL DE ENTIDADES CIVIS DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Governo dos Açores Secretaria Regional da Economia Gabinete do Secretário Regional

3 de Julho 2007 Centro Cultural de Belém, Lisboa

De acordo com a definição dada pela OCDE,

Novo Modelo para o Ecossistema Polos e Clusters. Resposta à nova ambição económica

Centro Nacional de Apoio ao Imigrante

REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE MINISTÉRIO DO TRABALHO, EMPREGO E SEGURANÇA SOCIAL

PROGRAMA DE ACÇÃO COMUNITÁRIO RELATIVO À VIGILÂNCIA DA SAÚDE. PROGRAMA DE TRABALHO PARA 2000 (Nº 2, alínea b), do artigo 5º da Decisão nº 1400/97/CE)

UNIVERSIDADE LUSÍADA DE LISBOA. Programa da Unidade Curricular ECONOMIA PORTUGUESA E EUROPEIA Ano Lectivo 2015/2016

PROJECTO DE CARTA-CIRCULAR SOBRE POLÍTICA DE REMUNERAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS

CERIMÓNIA COMEMORATIVA DO PORTUGUESE HERITAGE DAY. Intervenção do Presidente do Governo Regional dos Açores, Vasco Cordeiro

POR UMA ESCOLA DE QUALIDADE: O DESFAZER DOS MITOS

Os Conceitos Fundamentais da Excelência

de Direito que oferecem.

PROPOSTA DE LEI N.º 233/XII

Uma história de sucesso do Programa Marie Curie em Portugal

PROJETO DE LEI Nº de (Do Sr. Chico Lopes) Art. 1º - Fica criada a profissão de Educador e Educadora Social, nos termos desta Lei.

Análise Comparativa à Filosofia, à Ideologia e aos Princípios de Atuação das Associações Sindicais e Patronais

CURSO DE ADMINISTRAÇÃO TEORIA GERAL DA ADMINISTRAÇÃO I Turma 1ADN -2010

O IMPACTO DA DESCENTRALIZAÇÃO NO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO LOCAL A EXPERIÊNCIA DE CABO VERDE

PARLAMENTO EUROPEU. Comissão dos Direitos da Mulher e da Igualdade dos Géneros

Organização Curricular e o ensino do currículo: um processo consensuado

1.º MÉRITO DO PROJECTO

REGULAMENTO DE COMPETÊNCIAS ESPECIFICAS DO ENFERMEIRO ESPECIALISTA EM ENFERMAGEM EM PESSOA EM SITUAÇÃO CRÓNICA E PALIATIVA

Newsletter #1 Abril Apresentação Objectivos Etapas Actividades Realizadas Resultados Próximas Actividades

INTERVENÇÃO DO SECRETÁRIO DE ESTADO ADJUNTO E DA DEFESA NACIONAL PAULO BRAGA LINO COMEMORAÇÕES DO DIA DO COMBATENTE, EM FRANÇA

Termos de Referência

Workswell s.r.o. Praga, Republica Checa

Mensagem de Natal do Primeiro-Ministro António Costa. 25 de dezembro de 2015

1 Ponto de situação sobre o a informação que a Plataforma tem disponível sobre o assunto

ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA COMISSÃO DE ASSUNTOS EUROPEUS

Com a publicação dos novos Estatutos da Escola -Diário da República, 2ª série, nº 164, 25 de Agosto de 2009, por iniciativa do Conselho de Direcção,

Our innovative solutions wherever you need us. ABREU ADVOGADOS C&C ADVOGADOS Em Parceria: Portugal China (Macau) Parceria de oportunidades

Prioridades da presidência portuguesa na Ciência, Tecnologia e Ensino Superior

PARA ONDE VAMOS? Uma reflexão sobre o destino das Ongs na Região Sul do Brasil

Marketing Pessoal. aumentem de valor.

Regulamento do Prémio de Mérito 2011/2012. Enquadramento

Gostaria igualmente de felicitar Sua Excelência o Embaixador William John Ashe, pela forma como conduziu os trabalhos da sessão precedente.

Pobreza e Exclusão Social

REGULAMENTO DE ATRIBUIÇÃO DE APOIOS PELO MUNÍCIPIO DE MORA. Nota justificativa

CNIS / CES / EDUCAÇÃO DECLARAÇÃO DE PRINCÍPIOS A EDUCAÇÃO NO SECTOR SOLIDÁRIO DECLARAÇÃO DE PRINCÍPIOS

Gramática do Português, Maria Fernanda Bacelar do Nascimento (Centro de Linguística da Universidade de Lisboa)

Transcrição:

INTERVENÇÃO DO SUBSECRETÁRIO REGIONAL DOS ASSUNTOS EUROPEUS E COOPERAÇÃO EXTERNA, EM REPRESENTAÇÃO DO PRESIDENTE DO GOVERNO DOS AÇORES CERIMÓNIA DE ABERTURA 2.ª EDIÇÃO DO CURSO INTENSIVO DE SEGURANÇA E DEFESA AUDITÓRIO NORTE AULA MAGNA DA UNIVERSIDADE DOS AÇORES 10/11/2011 18H00 Começo naturalmente, em nome do Presidente do Governo dos Açores, por saudar todos os presentes e, em particular, o Instituto da Defesa Nacional, na pessoa do seu Presidente, pela realização na Região, pela segunda vez consecutiva, do Curso Intensivo de Segurança e Defesa. A actualidade dos seus temas e a qualidade dos oradores permite, desde já, salientar a enorme pertinência desta iniciativa. Congratulo também a Universidade dos Açores, pelo seu papel de anfitriã e de parceiro científico de um Curso que, ao longo dos próximos meses, trará, uma vez mais, para o palco central da Academia açoriana o debate e a reflexão sobre os conceitos de defesa nacional e, de forma ainda mais relevante, a sua problematização à luz da inter-relação com o espaço europeu e com a sociedade internacional. Salientaria, por isso, a abordagem de temas como as dimensões marítima, terrestre ou tecnológica, bem como os desafios que se colocam a Portugal e às restantes democracias nos domínios da segurança internacional, da luta contra o terrorismo, do tráfico de droga ou de seres humanos ou da proliferação nuclear. 1

Neste contexto, o Governo dos Açores considera da maior importância que o Instituto da Defesa Nacional - organismo que tem como missão primordial, precisamente, assegurar o apoio à formulação e desenvolvimento do pensamento estratégico nacional nos domínios relacionados com a segurança e defesa - num exemplo ímpar de continuidade e coerência, eleja as Regiões Autónomas como parceiros activos dessa sua missão. No caso particular dos Açores, salientaria a incorporação de forma activa do conhecimento da realidade regional e das mais-valias que o território e a presença geográfica das nossas ilhas no Atlântico Norte aportam ao todo nacional, na projecção de Portugal no mundo. Nenhuma estratégia de defesa nacional portuguesa - seja na consideração da suas vertentes mais tradicionais relacionadas, por exemplo, com a composição das Forças Armadas ( a sua componente humana, de meios e tecnológica ), seja na vertente mais contemporânea de ponderação dos factores ambientais ou dos recursos económicos e financeiros - estará verdadeiramente completa sem considerar e estimar positivamente a componente autonómica regional e, nesse contexto, sem articular a actuação que os diversos níveis de poder podem aportar à prossecução dos objectivos nacionais. No caso da Região Autónoma dos Açores, a História e os seus diversos contextos políticos, económicos e sociais, encarregaramse já, por diversas vezes, de relembrar - em especial àqueles que na Republica o esqueciam ou não queriam ver - o potencial único dos Açores para a definição de estratégias de defesa, a nível nacional é certo, 2

mas também e por diversas vezes, para a definição dos equilíbrio políticos e geoestratégicos mais amplos no palco internacional. Foi assim, de forma mais marcada, durante a I Guerra Mundial, com o estabelecimento de uma base naval a primeira de cariz internacional em Ponta Delgada, essencial, como sabemos, na luta contra os submarinos alemães travada no Atlântico Norte e na batalha pelo controlo das comunicações neste espaço. Mas, também e sobretudo, durante as grandes opções geoestratégicas concebidas pelas Forças Aliadas no desenrolar da II Grande Guerra, que definiram o papel central do arquipélago, entendido como pilar fundamental da luta contra as forças do Eixo e como epicentro da confrontação entre os dois modelos de sociedade, importância que se manteve nas décadas seguintes. A autonomia política e administrativa de 1976, por seu turno, fortaleceu, claramente, o aproveitamento deste potencial, que passou a beneficiar da acção concertada dos órgãos da República com os órgãos de governo próprio da Região. Acima de tudo, a Autonomia reforçou a capacidade de actuação - de forma complementar - na afirmação da acção externa de Portugal, papel não nos podemos esquecer de salientar - a que não é alheia a força decorrente da massa humana de açordescendentes que, radicados na América do Norte e integrados social, económica e politicamente, exponenciam a projecção dos interesses da Região e do país junto dos respectivos territórios de acolhimento. 3

Contribui, assim e em suma, o Instituto da Defesa Nacional - com este Curso e com a inclusão no mesmo de um módulo específico relativo à realidade regional - para o reforço da unidade nacional e para uma visão verdadeiramente integrada e transversal das potencialidades que se afiguram hoje ao conjunto do País. O Governo da Região Autónoma dos Açores tem repetidamente afirmado e insistido na necessidade de Portugal valorizar a sua presença atlântica, a afirmação dos seus interesses estratégicos no mundo e o fortalecimento da suas relações de aliança, quer com os parceiros da América do Norte, quer na relação com o Atlântico Sul - pólo que assume hoje, em função de uma pujança económica e comercial significativa, renovado interesse. A dimensão continental europeia e norte-americana da nossa matriz de defesa ancorada nas alianças e valores históricos da NATO, mas também na sempre embrionária Política Europeia de Segurança e Defesa deve ser complementada, de forma crescente, por uma tri-polarização das atenções nacionais, transformando Portugal no vértice de uma relação activa com o Brasil e com os países Africanos de Língua Oficial Portuguesa. Essa é, por força da condição geográfica do território nacional, da das atenções de que temos sido alvo ao longo da História e dos relacionamentos mantidos, no decurso dos séculos, com as potências mundiais, a vocação natural do nosso país. Mas a vocação nacional não se materializa no plano das intenções. 4

É necessária uma acção constante e sustentada de actualização das estratégias e da acção em função da realidade em presença e do contexto circundante. Nesse plano, ultrapassadas, pela História, as teorias fundadoras de de pendor exclusivamente militar e concentradas em áreas geográficas particulares, a geopolítica de hoje é marcada, também e em boa medida, pela inovação tecnológica e pela capacidade (ou incapacidade) dos Estados projectarem o seu poder fazendo uso de instrumentos muito mais efémeros como sejam as redes sociais, a mobilização das sociedades, a formação de uma estratégia de projecção empresarial no exterior ou a mobilização dos órgãos de comunicação social na construção da percepção externa de um país. Nesse contexto, o papel dos Açores enquanto pilar da relação bilateral com os Estados Unidos da América, fundada na presença militar na Base das Lajes, deve merecer atenção redobrada por parte das entidades nacionais. As certezas que temos sobre a estabilidade das relações diplomáticas e da aliança fundada na amizade entre os nossos povos não devem desmerecer a necessidade da estrutura de Defesa Nacional e dos Negócios Estrangeiros de revalorizar essa presença nos Açores, ampliando a cooperação que é desenvolvida especificamente nas Lajes, seja por via da relação directa com os Estados Unidos, seja no quadro da Organização do Tratado do Atlântico Norte. 5

Espera, portanto e em suma, o Governo dos Açores, que os trabalhos deste Curso permitam apontar novas pistas que enformem a reflexão nacional sobre esta e outras matérias, incutindo-as no espírito dos decisores nacionais mais distraídos. Rodrigo Oliveira Subsecretário Regional dos Assuntos Europeus e Cooperação Externa Governo da Região Autónoma dos Açores 6