FACESI EM REVISTA Ano 4 Volume 4, N.1 2012 - ISSN 2177-6636



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Transcrição:

ECONOMIA SOLIDÁRIA NO BRASIL: UM ESTUDO BIBLIOMÉTRICO EM PERÍÓDICOS DE ADMINISTRAÇÃO DA ÚLTIMA DÉCADA Luis Miguel Luzio dos Santos Doutor em Ciências Sociais (PUC/SP), professor do PPGA-UEL - lmig@uol.com.br Bernardo Carlos Spaulonci Chiachia Matos de Oliveira Mestre em Administração (PPGA-UEL)- oliveira.bernardo@gmail.com Livia Maria dos Santos Mestre em Administração (PPGA-UEL) - aivil_airam@yahoo.com RESUMO Percebe-se acentuada a discussão sobre a viabilidade atual do sistema econômico. Isso vem proporcionando um destaque cada vez maior, no Brasil, à Economia Solidária (ES) o que faz com que o tema ganhe em profundidade e construa um arcabouço teórico que lhe garante maior robustez de análise. Objetivou-se analisar, portanto bibliometricamente a publicação dos artigos sobre economia solidária nos principais periódicos de administração na década de 2000. Após o levantamento e análise dos artigos, verificou-se que a maior parte das publicações é feita em revistas de classificação B1 (Qualis/Capes), com a predominância na produção de São Paulo e Rio de Janeiro e, na maioria dos casos, pertencentes a universidades públicas. Atestou-se que a pesquisa em relação ao tema Economia Solidária, no Brasil, em periódicos de administração, ainda se encontra em estágio inicial com um desenvolvimento incipiente das publicações na área. Palavras-chave: Economia Solidária; Bibliometria; Produtividade científica. 1 INTRODUÇÃO O modelo econômico atual vem apresentando constantes e acentuadas crises que colocam em debate a própria estrutura e racionalidade que lhe dão bases, haja vista as crises da Ásia (1997), da Rússia (1998), os ataques de 11/9 (2001) e a mais recente crise econômica financeira internacional (2008-2009) que só encontra paralelo na de 1929 (ESTADÃO, 2010). Tem-se discutido muito sobre o atual sistema econômico, suas contradições e limites socioambientais, o que parece apontar para a necessidade de uma revisão profunda de suas bases ou até mesmo alternativas capazes de atender, de forma mais efetiva e justa, às demandas que o novo século impõe. Santos e Rodríguez (2002) apresentam a preocupação de que com a derrocada do sistema de economia socialista de planificação-centralização, assistiu-se ao domínio absoluto e extremado das prerrogativas neoliberais, com a desregulamentação dos mercados e a minimização das atribuições do Estado, o que resultou em distorções e desequilíbrios sem igual. Diante das contradições atuais, têm início variados movimentos em prol de novos modelos societais, mais justos e sustentáveis. Estas alternativas, segundo Santos e Rodríguez (2002, p. 25), representam formas de organização econômica baseadas na igualdade, na solidariedade e na proteção ao meio ambiente. Dentro destas alternativas, merece destaque e é evidenciada de forma particular neste estudo, a economia solidária, a qual se propõe, num primeiro momento, a atenuar o problema do desemprego, o alto índice de informalidade, pobreza e falta de perspectivas futuras para uma parte considerável da população, tanto no Brasil como no resto do mundo. A economia solidária é outra maneira de enxergar a produção, cujos princípios básicos são a propriedade coletiva, a equidade e a solidariedade. Diferencia-se das empresas tradicionais ao adotar a autogestão, que se baseia na administração democrática, participativa e com relações horizontalizadas. Esse modelo apresenta preocupação com a sustentabilidade

nas suas três dimensões econômica, social e ambiental - um dos seus principais diferenciais e base do seu projeto alternativo de desenvolvimento. Visando entender a evolução e caracterização das publicações científicas referentes ao tema da economia solidária, o presente trabalho buscou analisar bibliometricamente a publicação de artigos sobre economia solidária nos principais periódicos de administração nacionais. O universo de periódicos considerado foram aqueles que constam na lista de classificação Qualis/Capes, classificados como B2 ou superior. Foram considerados os artigos publicados sobre economia solidária no período de 2000-2010. Escolheu-se esse período por concentrar os primeiros debates sobre o tema e por compreender a criação da SENAES - Secretaria Nacional de Economia Solidária - em 2003, o que potencializou a visibilidade e a discussão da temática. O presente estudo buscou levantar o volume de publicações em periódicos científicos nacionais com o tema de economia solidária, mapeando a sua incidência maior, temáticas abordadas e evolução ao longo do período estudado, 2000 a 2010. A importância desse estudo é verificar o quanto tem sido estudado sobre esse novo modelo organizacional e econômico e avaliar a importância que a academia, de forma particular a área de administração, tem reservado à economia solidária, considerando-se ser, por natureza, uma das áreas de conhecimento mais próxima e capacitada a estudar essa questão. 2 ECONOMIA SOLIDÁRIA Diante das contradições socioeconômicas do mundo contemporâneo, surgem esforços em diferentes frentes no sentido de buscar alternativas viáveis ao modelo de empresa capitalista tradicional. Nesse sentido, vêm despontando vários experimentos que se abrigam sob o mesmo guarda-chuva conceitual de economia solidária. Estas iniciativas, ainda que distintas entre si e apesar de fronteiras em construção, assemelham-se na busca por arquitetar novos modelos organizacionais, mais justos e solidários, em que as relações possam ocorrer de forma horizontal, descentralizada, partindo das próprias bases dos hoje excluídos do mercado de trabalho formal e de todos os que anseiam por novas formas de sociabilidade mais ricas e equinânimes. A Economia Solidária foi idealizada por operários, nos primórdios do capitalismo industrial, como resposta à pobreza e ao desemprego resultante da difusão desregulamentada das máquinas e dos motores a vapor, no início do século XIX. As primeiras iniciativas que se deram em forma de cooperativas buscavam recuperar o trabalho e a autonomia econômica, perdidas em nome da lógica capitalista (SINGER, 2002). Primavera (2010) argumenta que o termo Economia Solidária surgiu na América Latina nos últimos 20 anos em resposta às demandas da comunidade e dos trabalhadores para expandir as formas de inclusão social. Percebe-se um impulso maior após a década de 1990, o que decorre do avanço das políticas neoliberais em toda a América Latina, que culminaram com a redução dos aparatos estatais de proteção social e o aceleramento do desemprego e do subemprego na região. O campo de estudo abrangido pela Economia solidária é bastante amplo, incluindo organizações que variam em tamanho, forma, volume de recursos e objetivos institucionais, mas que geralmente apresentam no modelo cooperativo a sua principal expressão de funcionamento. O termo Economia Solidária, como já citado, originalmente explicita, portanto, a afirmação de uma economia interligada com o social e recusa a predominância do econômico diante do social, bem como tem uma forte conotação política: expressa um modo

de transformação do capitalismo, a partir da auto-organização dos produtores e consumidores, o que se contrapôs à via tradicional marxista de tomada do poder estatal. A Economia Solidária é equivalente ao conceito de socioeconomia solidária apresentado por Marcos Arruda (2003, p.232) e que é definido como uma forma de organização econômica com (...) ênfase no sentido social que deve ter a verdadeira economia - aquela que é fiel ao seu sentido etimológico gestão, cuidado da casa e, por conseqüência, dos que nela habitam. Nesse sentido, a proposta apresentada sob o amplo espectro de Economia Solidária, propõe-se a ir além da simples produção de produtos e serviços de forma cooperativa, mas busca avançar para um novo campo de relações sociais, mais próximas e afetivas, ultrapassando-se o utilitarismo instrumental em que se baseia a economia capitalista. Singer (2003), ao tratar sobre o conceito de Economia Solidária, refere-se a organizações de produtores, consumidores, poupadores, entre outros, que estimulam a solidariedade entre os membros mediante a prática da autogestão. Na empresa solidária negase a separação entre trabalho e posse dos meios de produção, que é reconhecidamente a base da empresa capitalista. A empresa capitalista pertence aos investidores, aos que forneceram os recursos para a aquisição dos meios de produção, sendo a sua prioridade a maximização do lucro para remunerar seus acionistas. Gaiger (2003) relata que os empreendimentos econômicos solidários apresentam-se sob a forma de grupos de produção, associações, cooperativas e empresas de autogestão e combinam suas atividades econômicas com ações de cunho educativo e cultural, valorizando o sentido da comunidade e o compromisso com a coletividade social em que se inserem. Esses empreendimentos expressam uma multiplicidade de formas de economia alternativa, distintas da lógica mercantil capitalista. Singer apresentou em seu livro Introdução à Economia Solidária (2002) as diferenças entre empresas capitalistas e solidárias, apresentando as suas vantagens e desvantagens. Na capitalista, os empregados ganham salários desiguais conforme uma escala que reproduz aproximadamente o valor de cada tipo de trabalho, determinada pela oferta e demanda pelo mesmo mercado de trabalho. Retrata a liberdade tanto dos empregados em procurar as empresas que pagam melhor, quanto dos empregadores em demiti-los para procurar quem produza melhor. Os laços entre ambos são frágeis, o que tende a gerar um baixo comprometimento e níveis de motivação, algo que a Economia Solidária tem a seu favor, já que todos os que trabalham na empresa são seus proprietários. Na empresa capitalista tradicional, tudo gira em torno da oferta e da demanda, acarretando o escalonamento de salários e suas variações. Cria-se, com isso, uma cadeia de cargos em que os diretores ganham mais que os gerentes, e estes ganham mais que os técnicos. Diferentemente dos empreendimentos de Economia Solidária, em que os sócios têm direito a retiradas de acordo com a receita obtida e conforme decidido democraticamente em assembleia, podendo haver certas variações, de acordo com a responsabilidade e dificuldade da função exercida dentro da empresa. Porém, ainda que haja algum tipo de diferença, esta é limitada e estabelecida de forma transparente, de acordo com a vontade do próprio grupo. Muitas empresas solidárias adotam a desigualdade de retiradas para não perder a colaboração de cooperados mais qualificados para empresas capitalistas. Utilizam a lógica que justifica certas desigualdades, como quando pagar melhor técnicos e administradores permite à cooperativa alcançar ganhos maiores que beneficiam o conjunto dos sócios, inclusive os que têm retiradas menores (SINGER, 2002, p. 13). Singer (2002) apresenta, ainda, a diferença em relação ao modo de como as empresas são administradas. Assim, a economia capitalista utiliza, normalmente, a heterogestão, que se

baseia na administração hierárquica com níveis sucessivos de autoridade. E a Economia Solidária utiliza-se da autogestão, baseada na administração democrática. A heterogestão corresponde às expectativas dos donos da empresa em obter lucros, potencializando a competitividade até mesmo dentro da empresa. Já a autogestão visa tornar empresas solidárias, economicamente produtivas, centros de interação democráticos e igualitários, representando os interesses dos seus integrantes e buscando suprir as suas necessidades. É importante ressaltar que a Economia Solidária apresenta-se, também, como resistência à presença hegemônica do capitalismo, já que após a queda do modelo socialista dos países do leste europeu, que se caracterizava pela centralização econômica, o capitalismo passou a avançar sem limites, extremando suas contradições e injustiças (SANTOS; RODRÍGUEZ, 2002). A Economia Solidária vem, assim, propor-se a se tornar uma alternativa viável aos avanços indiscriminados do capitalismo, com a proposta de um modelo de desenvolvimento sustentável tanto economicamente, como socialmente e ambientalmente, além de se impor como uma forma emancipadora de trabalho, com base num processo de fomento de novas forças produtivas e de instauração de novas relações de produção capazes de redistribuir os frutos econômicos de forma equilibrada e justa. Cattani (2003) afirma que a Economia Solidária não basta ser alternativa somente para os pobres e excluídos. Precisa proporcionar avanços em todos os domínios e envolver de maneira responsável, amplos segmentos da sociedade. O esforço deve ser orientado para recuperar socialmente o que o progresso tecnológico proporcionou em outros domínios. Como foi verificado, a Economia Solidária não se limita apenas ao plano econômico e à dimensão produtiva, ela se propõe a fomentar um estilo de vida que seja capaz de superar o fundamentalismo mercantil e as relações competitivas e individualistas, substituindo-as por um novo espectro de valores amparados na cooperação, solidariedade e bem comum. Apresentam-se como novas formas de organização social em que o coletivo, o fator humano, tem preponderância sobre o econômico. As barreiras inerentes aos empreendimentos de Economia Solidária são inúmeras, vão desde escassez de recursos, sejam eles financeiros, materiais, informacionais, conhecimentos administrativos, além de entraves legais que limitam o desenvolvimento destas iniciativas. Nomeadamente, destaca-se o fato de não existir um marco legal específico para este tipo de empreendimento, tendo ele que se submeter à lógica das cooperativas tradicionais, as quais estão dentro de uma realidade distinta. Nesse sentido, e em caráter de exemplificação destes dilemas, Paul Singer (2002) relata que tem-se muitos casos de grupos que somam menos de vinte sócios e, por isso, passam a trabalhar em regime associativo ou como empresas autogestionárias. Vale dizer que grande parte do movimento de Economia Solidária não está formalizado. 3 PESQUISA BIBLIOMÉTRICA Este estudo qualifica-se como sendo bibliométrico, o qual se configura no levantamento e classificação de artigos científicos sobre determinado tema, com o objetivo de analisar o perfil das pesquisas desenvolvidas em um período de tempo, identificando lacunas e analisando o estado da arte (SINGLETON; STRAITS, 1999). A bibliometria é uma metodologia em constante evolução, desenvolvida pela Biblioteconomia e pelas Ciências da Informação, utiliza análise quantitativa, estatística e visualização de dados, não só para mapear a estrutura do conhecimento de um campo científico, bem como uma ferramenta primária para a análise do comportamento dos pesquisadores em suas decisões na construção desse conhecimento (VANTI, 2002).

Assim, buscou-se, no presente estudo, concentrar-se nos principais periódicos nacionais da área de administração. Para realizar essa seleção, foi utilizada a classificação do Sistema Qualis da Capes Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Os periódicos são estratificados de acordo com vários quesitos que auferem a sua qualidade e são segmentados do nível A1 (o mais elevado), seguidos de A2, B1, B2, B3, B4 e B5 até o C (que corresponde a peso zero), conforme (CAPES 2007/2009). Para a presente pesquisa, foram escolhidos os periódicos da área de administração com classificação superior ao nível B2, ou seja, foram contemplados os periódicos classificados como A1, A2, B1 e B2. A partir do critério de seleção adotado, foram catalogados onze periódicos que passaram a ser analisados do ano 2000 até o final de 2010. O Quadro 1 apresenta as revistas utilizadas na pesquisa e suas respectivas classificações. Outro ponto importante, segundo Cooper e Lindsay (1998), em análises bibliométricas, é a escolha dos termos a serem incluídos, pois podem influenciar futuras replicações do estudo e mesmo confundirem as análises, falseando os resultados. Nesta pesquisa, o critério para inclusão do artigo foi a ocorrência dos termos economia solidária, economia social, associativismo, economia de comunhão, cooperativas sociais, social economy, e solidarity economy em seu título, palavras-chave ou resumo. Assuntos correlatos, como a responsabilidade socioambiental, por exemplo, foram excluídos do estudo por não se relacionarem diretamente ao assunto. Outras formas de texto, como resenhas, comunicações ou relatos, não foram integrados à amostra, para que houvesse um critério mais homogêneo na análise das publicações. Quadro 1 - Periódicos consultados e sua avaliação Qualis na Capes em 2007 Título do periódico Classificação ISSN BAR- Brazilian Administration A2 18077692 Review RAC- Revista de Administração Contemporânea RAC- Eletrônica B1 14156555 19815700 RAE- Eletrônica B1 16765648 RAE- Revista de Administração de B1 00347590 Empresas RAP- Revista Brasileira de B1 00347612 Administração Pública O&S- Organizações & Sociedade B2 1413585X BBR- Brazilian Business Review B2 1807734X Cadernos EBAPE.BR B2 16793951 RAUSP- Revista de Administração B2 00802107 da USP RAM- Revista de Administração B2 15186776 Mackenzie REAd- Revista Eletrônica de B2 14132311 Administração Fonte: adaptado de CAPES (2009) 4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS Ao se mapear a totalidade de artigos publicados entre os anos de 2000 e 2010, nos periódicos selecionados, alcançou-se a marca de aproximadamente 3300 artigos científicos,

porém deste total apenas 23 referem-se à temática da Economia Solidária, objeto do presente estudo, ou seja, apenas 0,7% da produção científica total publicada em periódicos de administração de Qualis/Capes A1 a B2 enquadram-se neste assunto. A Tabela 1 apresenta os periódicos que publicaram estudos referentes à Economia Solidária nos últimos dez anos, assim como a quantidade de publicações de cada um. Verificou-se, assim, que a revista RAP (Revista Brasileira de Administração Pública), organizada pela Fundação Getúlio Vargas, com Qualis B1, foi a que mais deu destaque ao tema, publicando 11 artigos durante toda a década de 2000, o que representa quase metade de toda a publicação científica do período referente à temática da Economia Solidária em revistas de administração com Qualis igual ou superior a B2. A revista Cadernos Ebape foi a segunda em número de publicações na área, totalizando 5 artigos no mesmo período, o que corresponde a 21,7% das publicações totais. As demais revistas publicaram entre 1 e 2 artigos, alcançando juntas 31% do total publicado sobre o tema. Tabela 1 Total e percentual de artigos sobre terceiro setor por periódico Classificação Periódico Artigos Percentual B2 EBAPE 5 20% A2 BAR - 0 B1 RAC 2 8% B2 RAUSP 2 8% B1 RAE 1 5% B1 RAP 11 45% B2 REAd 2 8% B2 O&S 1 5% 24 100% Buscou-se ainda observar o número de publicação sobre Economia Solidária em relação à classificação do periódico, o que levou a contatar que dos 24 artigos publicados no período de 2000 a 2010, 14 deles estavam concentrados em revistas classificadas com Qualis B1 ou B2. Chama a atenção o fato de não haver incidência do tema relativo à Economia Solidária em periódicos Qualis A, ainda que se tenha que considerar a escassez de revistas com esta classificação na área de administração no Brasil. Esse fato levanta algumas hipóteses, como o possível não interesse em publicar artigos referentes a essa temática por parte das publicações mais renomadas, ou pelos artigos de Economia Solidária submetidos a essas revistas não apresentarem qualidade suficiente para serem publicados. Tabela 2- Frequência das publicações de acordo com sua classificação Classificação Quantidade de artigos Percentual A2-0 B1 14 58% B2 10 42% Na Tabela 3, é possível observar a periodicidade das publicações, e constata-se que no ano de 2001 apenas a Revista Brasileira de Administração Pública RAP- publicou um artigo referente à temática da Economia Solidária, sendo este periódico o que mais se notabilizou em número de publicações totais na área específica. O ano de 2005 foi o que apresentou maior número de incidências, tendo sido publicados 9 artigos em 4 periódicos distintos; talvez se

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Total FACESI EM REVISTA possa entender esse crescimento acentuado pela criação, no ano de 2003, da SENAES (Secretaria Nacional de Economia Solidária), que estimulou o desenvolvimento de iniciativas de Economia Solidária em todo o Brasil, impactando diretamente no número de publicações científicas na área. Nos anos seguintes, houve uma queda acentuada no número de publicações referentes ao tema, variando de 1 a 2 nos anos subsequentes. Uma observação que merece ser feita em relação à revista RAP, é que apesar de totalizar o maior número de publicações na área, nos últimos dez anos, destacando-se o ano de 2003 com 3 artigos, e em 2005 com 5 artigos publicados, não apresenta nenhuma publicação referente à Economia Solidária após 2005, o que parece desconstruir a possível ideia de ser um periódico especialmente vocacionado para o desenvolvimento e debate do tema. Tabela 3 - Quantidade de artigos por ano Periódicos EBAPE 1 1 1 2 5 BAR _ 0 RAC b1/b2 2 2 RAUSP 1 1 2 R A E 1 1 RAP 1 1 1 3 5 11 REAd 1 1 1 O&S 1 1 Total 1 1 1 3 2 9 1 1 1 2 1 24 Ao analisar o número de autores por artigo, pode-se visualizar, na Tabela 4, que a grande parte das publicações na área de Economia Solidária é de autoria conjunta, ou seja, conta com dois ou mais autores, ainda que cerca de 45% do total de artigos analisados tenham sido produzidos por apenas um autor, o que demonstra que a temática ainda se encontra muito ligada a pesquisas individuais e com baixa articulação em rede, o que tende a limitar a abrangência e alcance do tema. De acordo com a pesquisa divulgada pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), o trabalho em rede de autores vem crescendo na produção de artigos científicos no Brasil (MARQUES, 2010), porém ainda é uma realidade limitada a algumas áreas e parece, ainda, não se refletir de forma expressiva dentro do campo de pesquisa da Economia Solidária por investigadores da área de administração. Tabela 4 - Autoria e co-autoria dos artigos publicados Quantidade de autores Artigos Publicados 1 10 2 12 3 * 2 Total 24 *número maior que três autores.

A presente pesquisa também buscou verificar quais Estados e Instituições de Ensino Superior apresentaram trabalhos na área de Economia Solidária no período de 2000 a 2010. Considerando que o Brasil é um país em desenvolvimento e ainda com problemas sociais de vasta intensidade somado a um forte desequilíbrio entre as regiões, era esperado que os estados do norte e nordeste, pela condição socioeconômica desfavorável, apresentariam os maiores esforços em debater a temática da Economia Solidária. Porém, de acordo com a análise dos dados apresentados na tabela 5, o Estado que mais se notabilizou na publicação de estudos sobre Economia Solidária foi São Paulo, o que invalida nossa suposição anterior. Essa maior publicação pode ser explicada, pelo menos em parte, pelo fato de estarem concentradas, neste Estado, a maioria das revistas classificadas com Qualis B2, ou superior, dentro da área de administração, seguido pelo Rio de Janeiro e Santa Catarina. Chama a atenção, no entanto, a excepcionalidade do Estado da Bahia que se apresenta com certo destaque com 4 publicações, porém concentradas numa única revista, como se pode visualizar na Tabela 5 seguinte. Os outros estados que também tiveram trabalhos relacionados ao tema Economia Solidária foram Pernambuco, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Rio Grande do Norte, todos com apenas um artigo no período. Tabela 5: Artigos publicados por estado Estados Número de Artigos Publicados BA 4 PE 1 RJ 4 MG 1 RS 1 SP 8 SC 4 RN 1 Para completar a análise das publicações feitas em cada Estado, foram levantadas as Instituições de Ensino Superior (IES) que se encontravam relacionadas aos periódicos selecionados. A tabela 6 apresenta a relação entre IES e número de publicações na área de Economia Solidária. Tabela 6 - As universidades e o número de artigos publicados em Economia solidária. IES Número de Artigos UFBA 4 UFRPE 1 FGV 1 UFMG 1 UFRGS 1 USP/UFSCar 1 UFSC 2 Argentina/ IBMEC 1 PUC-RJ 1 UNICAMP 1 PUC-SP 2 PUC-RJ 1 Fiocruz 1

UFRJ/PUC-Rio 1 USP-FEA 1 USP/UFSC 1 USP 1 UDESC 1 UFRN 1 UFT 1 Total 24 Verifica-se que não há uma instituição de ensino que apresente um domínio absoluto ou uma referência destacada na área de Economia Solidária; existe, no entanto, uma ligeira liderança da Universidade Federal da Bahia que soma 4 das 24 publicações nacionais dos últimos dez anos e concentra todas as publicações da área do Estado. As demais instituições catalogadas apresentam incidências bastante pulverizadas, não havendo uma hegemonia na área por parte de nenhuma em particular. O fato de ser um tema recente e com limitadas experiências empíricas, talvez explique a baixa incidência de artigos na área. Merece destaque o fato de que do total de universidades listadas com revistas científicas com grau mais elevado de classificação de acordo com a CAPES, 14 são públicas e 5 privadas. Esse fato reflete uma concentração importante no tocante à divulgação científica e no fomento à própria pesquisa em favor das universidades públicas, mesmo com o crescimento quantitativo do número de instituições privadas no Brasil, nos últimos 20 anos. Quanto ao método de estudo utilizado nas pesquisas inerentes à temática da Economia Solidária, e publicado nos principais periódicos da área de administração, a maioria foi classificado como qualitativo compreendendo 21 incidências de um total de 24. A concentração de trabalhos qualitativos relativos à temática da Economia Solidária pode ter várias explicações, como o fato de ser um campo de pesquisa recente e pouco numeroso em experimentos e que busca ser explicado, pelo menos inicialmente, através de estudos de caso. Outro fato que pode justificar a escolha do método qualitativo é a proximidade do tema com a abordagem crítica (CRESWELL, 2008), o que é comum ao universo da Economia Solidária que se apresenta como uma forma emancipatória de produção. Tabela - 7 Metodologia adotada pelos trabalhos publicados Abordagem Metodológica Número de Artigos Qualitativa 21 Quantitativa 1 Qualitativa- Quantitativa 2 A análise, ao longo dos anos, mostra que as publicações até 2005 davam maior importância a questões estritamente ligadas à gestão, discutindo e avaliando aspectos da organização e estudos de caso que concentravam seus esforços em entender níveis de eficiência e produtividade, reafirmando uma postura mais conservadora tanto dos pesquisadores quanto da seleção dos periódicos. Assistiu-se, inicialmente, à predominância de estudos de caráter técnico e voltados para temáticas convencionais no campo da administração e aplicados a empreendimentos de Economia Solidária. Num segundo momento, verificou-se o aprofundamento das discussões, avançando-se para estudos mais críticos, ultrapassando-se as fronteiras funcionalistas e incorporando uma visão mais crítica da realidade pesquisada.

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 FACESI EM REVISTA Após 2007 começam a ganhar destaque conteúdos e discussões mais complexas dentro do grande tema da Economia Solidária. Ganham relevo discussões sobre inclusão social e desenvolvimento socioeconômico alternativo. Os conteúdos dos artigos mais recentes incorporam análises mais críticas dominadas por saberes multidisciplinares, incorporando conhecimentos e discussões de outras áreas como sociologia, economia e ciência política, o que enriquece e amplia os conteúdos próprios da administração. Tabela- 8 Artigos por tema e ano de publicação TEMAS Total Gestão 1 2 4 1 1 9 Organização 2 2 1 5 Políticas 1 1 Histórico 1 1 Estudo social 1 1 1 2 4 Redes 1 Estudo de caso 1 1 1 3 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho teve como objetivo desenvolver um levantamento bibliométrico, analisando as publicações referentes à temática da Economia Solidária disseminada nos periódicos de administração com classificação Qualis/Capes de A a B2. Foram encontrados apenas 24 artigos entre 2000 e 2010, de um total de aproximadamente 3300 publicações nessas revistas. Verificou-se, assim, que os artigos relativos à temática da Economia Solidária correspondem a menos de 1% do total, explicitando que o assunto é pouco explorado e discutido pelo campo da Administração. A primeira análise que se faz é de que o tema da Economia Solidária tem baixo destaque dentro da área de conhecimento da administração. Uma questão que se levanta e que não se encontra respostas prontas é se o número reduzido de artigos publicados na área de Economia Solidária, nas principais revistas de administração do Brasil, deve-se, também, à baixa produção na área ou se, por outro lado, a barreira encontra-se na linha editorial presente nas principais revistas científicas brasileiras, que não se abrem para temáticas fora do campo hegemônico. O presente estudo pôde constatar que a produção na área acentuou-se em 2005, o que pode ser explicado pelo impulso dado à Economia Solidária através da criação da Secretaria Nacional de Economia Solidaria em 2003 e que gerou maior visibilidade em relação ao tema e fomentou a criação de numerosas experiências em todo o território nacional e passou a ser concebida como política pública governamental. Antes de 2005 observava-se, também, uma predominância de estudos voltados para discussões meramente técnicas, em que se buscava fazer uma simples transposição da racionalidade presente nas empresas tradicionais e aplicá-la aos empreendimentos de Economia Solidária. Após meados dos anos 2000, parece ter havido um avanço nas discussões que começaram a apresentar conteúdos mais complexos com abordagens

multiformes, incorporando diferentes áreas do conhecimento que trouxeram uma perspectiva mais crítica e aberta a novos conteúdos. No entanto, há que se ressaltar que as pesquisas no campo da Economia Solidária, no Brasil, encontram-se em estágio inicial e, por isso, impedem qualquer tipo de conclusão ou considerações definitivas ou mesmo amparadas por vasto material de apoio. Nesse sentido, mais uma vez tem que se ressaltar como limitação deste estudo o número reduzido de periódicos selecionados como amostra e, por consequência, um baixo volume de artigos analisados. Sugere-se, para futuros estudos, a ampliação da base de dados dessa pesquisa, mapeando também a produção em periódicos de outras áreas próximas ao tema, como economia, ciências sociais e serviço social. Também podem ser fonte valorosa de investigação, levantamentos desenvolvidos junto aos principais congressos científicos, assim como mapeamento de dissertações e teses dos programas de mestrado e doutorado em administração e áreas afins. REFERÊNCIAS ARRUDA, Marcos. Socioeconomia solidária. In: CATTANI, D. Antonio (Org.). A Outra Economia. Porto alegre: Veraz, 2003. p. 232-241. CATTANI, D. Antonio (Org.). A Outra Economia. Porto alegre: Veraz, 2003. COOPER, H. M.; LINDSAY, J.J. Research synthesis and metaanalysis. In: BICKMAN, L.; ROG, D. J. Handbook of applied social research methods. London: Sage Publications, 1998, p. 315-338. CRESWELL, J. W.Research Design: qualitative and quantitative approaches. Thousand Oaks: Sage Publications, 2008. Grandes crises econômicas. Estadão. São Paulo, abr. 2008. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/especiais/as-grandes-crises-economicas,15167.htm>. Acesso em: 31 mar. 2010. FILHO, G. Padrőes de Produtividade de Autores em Periódicos e Congressos na Área de Contabilidade no Brasil: um Estudo Bibliométrico. RAC, Curitiba, v. 12, n. 2, p. 533-554, Abr./Jun. 2008. GAIGER, Luiz. I. Empreendimentos Econômicos solidários. In: CATTANI, D. Antonio (Org.). A Outra Economia. Porto alegre: Veraz, 2003. p. 135-143. JAIME, P. O empresariado e a questão social: apontamentos para a interpretação de um novo associativismo empresarial no Brasil. RAP, Rio de Janeiro, v. 39, p.939-978, jul./ago. 2005. MARQUES, F. A construção da teia: tese discute por que não cresce a participação da pesquisa brasileira em redes internacionais. Revista Fapesp, São Paulo, n. 169, mar. 2010. PRIMAVERA, Heloisa. Social Currencies and Solidarity Economy: an enduring bond of common good. The Journal of Labor and Society. v.13, p. 41-59, mar. 2010. SANTOS, Boaventura de Sousa, RODRÍGUEZ, César. Introdução: Para ampliar o cânone da produção. In: SANTOS, Boaventura de Sousa (Org.). Produzir Para Viver: os caminhos da produção não capitalista. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira. 2002. p. 475-514. SINGER, Paul. Introdução à Economia Solidária. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2002.

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