Professora Especialista da Unipinhal, mestranda em Educação Física UNICAMP, Campinas, SP, Brasil. lagalatti@hotmail.com



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Transcrição:

16 ARTIGO Fundamentos da Pedagogia do Esporte no Cenário Escolar Larissa Rafaela Galatti Professora Especialista da Unipinhal, mestranda em Educação Física UNICAMP, Campinas, SP, Brasil. lagalatti@hotmail.com Roberto Rodrigues Paes Professor Doutor Livre Docente, Diretor da FEF-UNICAMP Campinas, SP, Brasil Resumo O fenômeno esporte é um dos conteúdos mais aplicados na educação física escolar brasileira; alvo de constantes discussões dos pesquisadores e estudiosos do tema, este fenômeno será aqui abordado a partir da amplitude de possibilidades metodológicas que o mesmo oferece ao longo do processo de ensino e aprendizagem na escola, que agregadas a uma perspectiva educacional permitem a ampliação da intervenção do professor. À luz da pedagogia do esporte, serão discutidos os propósitos do esporte dentro do programa de educação física escolar; uma breve discussão acerca dos métodos de ensino e do estímulo de competências na escola através do esporte será encaminhada a seguir. Por fim, já nas considerações finais, serão contempladas as possibilidades de intervenção no e pelo esporte a partir dos referenciais metodológico e sócio-educativo. Palavras-chave: pedagogia do esporte, intervenção pedagógica; ambiente escolar. Abstract The phenomenon sport is one of the contents more applied in the physical education pertaining to school in Brazil; target of constant quarrels of the studious researchers and of the subject, this phenomenon will be boarded here from the amplitude of methodologies possibilities that the same it offers to long of the process of teaching and the learning in the school, that added to an educational perspective allow the magnifying of the intervention of the professor. To the light of the pedagogy of the sport, the intentions of the sport inside of the program of pertaining to school physical education will be argued; one soon quarrel concerning the methods of education and the stimulaton of abilities in the school through the sport will be directed to follow. Finally, already in the final words, the possibilities of intervention in and for the sport from the methodologies and partner-educative views. Key Words: pedagogy in sports; intervention of the professor; school.

17 Introdução. Com a revolução industrial e a entradas das mulheres no mercado de trabalho, a família deixa de ser o único núcleo educativo da criança e passa a dividir esta função com a escola, que deixa de ser uma instituição instrutora e passa a ter valor educativo, não apenas à elite, mas a toda população. A Educação Física se insere no cenário escolar com funções higienista e procedimentos e conteúdos herdados do militarismo, cujas atividades visavam à melhoria da condição física até para formar futuros trabalhadores mais aptos para o trabalho nas fábricas dentro de um paradigma relacionado à performance. Atualmente, a Educação Física escolar apresenta um amplo leque de possibilidades, fomentadas por inúmeras correntes pedagógicas e procedimentos metodológicos. Neste texto, abordaremos o conteúdo Esporte 1 para a fundamentação de uma pedagogia para a Educação Física na escola, buscando referenciais metodológicos que a estruture e entendendo o esporte enquanto um fenômeno de múltiplas possibilidades. Faz-se necessário, ainda, abordar a formação profissional, o ambiente educacional e esclarecer, já num primeiro momento, os propósitos do estudo do esporte na educação física escolar. Propósitos da Educação Física Escolar em Interface com o Esporte da Escola. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) para a Educação Física sugerem como valores importantes dentro do processo educacional, atitudes relacionadas à inclusão, autonomia, cooperação e diversificação. Tais diretrizes podem nos remeter ao esporte, desde que o entendamos enquanto um fenômeno sócio-cultural com caráter educacional. Parlebás (1987) nos alerta para a possibilidade que o esporte nos dá a possibilidade de formar patifes ou cidadãos conscientes e participativos; Garganta (1995) nos traz a idéia de serem os jogos coletivos esportivos formativos por excelência, uma vez que proporcionam situações e problemas a serem solucionados em grupo tal qual no convívio social além do esporte em nosso caso, também além da escola. Tais características parecem se perder quando os professores da escola buscam referência em alguns valores do esporte profissional tais quais a busca de um nível de performance obrigatória, a formação de atletas e a busca de resultados em detrimento da preocupação com a formação social do aluno reproduzindo-os no 1 Embora não sejam tema deste artigo, cabe ressaltarmos a existência de outros conteúdos na Educação Física escolar, tais quais a dança, as lutas, a ginástica e o jogo, que poderiam inclusive ser abordados em interface com o esporte, não cabendo tal temática neste texto.

18 ambiente escolar, ao invés de discuti-los e possibilitar ao aluno a vivência de outras manifestações do esporte, mais adequadas a este ambiente, tal qual o esporte educacional. Entendemos que a Educação Física escolar deva preocupar-se com a formação integral dos alunos, atuando nos aspectos motor, cognitivo, afetivo e social. Deve ser um espaço para observação, manifestação e transformação de princípios e valores, permitindo aos alunos transferir tais reflexões para além do ambiente escolar. Para tal, compreende-se como indispensável à estruturação de procedimentos pedagógicos que caminhem para tais propósitos; neste sentido, enxergamos o esporte como um caminho possível, desde que não pautado no modelo profissional, mas sim valorizando o processo de ensino-aprendizagem e as relações pessoais, sem cobrança inadequada de desempenho atlética e valorizando o aluno em sua totalidade e no contexto social em que este se insere. Neste sentido, cabe apresentarmos dois referenciais para o trato com o esporte em qualquer cenário, em especial no escolar: um metodológico e outro sócio-educativo. O referencial metodológico diz respeito aos seguintes temas: Métodos de ensino e aprendizagem; Planejamento ao longo do período (mês, bimestre, semestre, ano...); Organização de cada aula/treino; Adequação da proposta ao grupo de trabalho; Aspectos Técnicos; Aspectos Táticos; Aspectos Físicos. O referencial sócio-educativo, por sua vez, relaciona-se aos seguintes objetivos: Promover a discussão de princípios, valores e modos de comportamento; Propor a troca de papéis (colocar-se no lugar do outro); Promover a participação, inclusão, diversificação, a co-educação e a autonomia; Construir um ambiente favorável para desenvolvimento de relações intrapessoais e inter-pessoais (coletivas); Estabelecer relações entre o que acontece na aula de esportes com a vida em comunidade. Observamos, assim, que o professor de educação na escola, no trato com o fenômeno Esporte no ambiente escolar, não deve ater-se apenas aos conteúdos relacionados à técnica e/ou tática de diferentes modalidades; mais que isso, cabe a ele contribuir para a formação do cidadão e sua inserção social, tendo no esporte também um conteúdo de fortes possibilidades educacionais.

A Pedagogia do Esporte, o Método e o aluno: estimulando competências na educação física escolar: 19 São inúmeros os desafios que percorrem o ambiente esportivo e em alguns casos, também, as aulas de educação física escolar. Dentre eles destacamos: a busca da plenitude atlética em crianças ainda em formação, a exacerbação da competição em detrimento de valores educacionais, a pressão psicológica exercida pelos professores e colegas em alunos considerados menos habilidosos, a especialização esportiva precoce e a singularidade das aulas limitando um aprendizado que deveria ser o mais amplo possível. Notamos que para lidar com os problemas apontados de forma clara e para trabalhar o esporte em sua totalidade alguns autores têm discutido aspectos que sinalizam para novos procedimentos pertinentes à área da pedagogia do esporte. Broto (2001) discute uma pedagogia do esporte que seja capaz de refletir e transgredir e que provoque continuamente uma transformação da filosofia que permeia o esporte. Já Marques (2001) aponta uma pedagogia que entende o esporte como patrimônio da humanidade, centrada no homem, a partir da compreensão da pluralidade deste fenômeno. Bayer (1994), que através da chamada Pedagogia das Intenções incentiva o aluno à inteligência tática, que garantirá um acesso ao conhecimento de forma crítica e autônoma. Paes (2001) e Bento (1999) demonstram um olhar ainda mais amplo para o esporte. Preocupam-se em atribuir ao fenômeno uma função educativa visando o desenvolvimento integral do ser humano, tendo o jogo como instrumento facilitador desse processo. Os autores citados acima contribuíram de forma significativa para os estudos ligados à pedagogia do esporte, tornando-se referência na área da ciência do esporte. Quando adentramos a educação física escolar, observamos que parte bastante significativa das mais recentes teorias a busca de diversificação das práticas e ampliação das experiências motoras dos alunos. Ora, uma vez que a diversificação está entre os principais pilares de sustentação dos referenciais teóricos em Educação Física escolar, nos parece ser incoerente a busca de uma único método que permita ao professor oferecer o máximo de possibilidades de experimentação e ampliação das vivências dos alunos em relação ao esporte. Assim, acreditamos que os métodos devam ser estudados e dominados pelo professor, para que ele possa utilizar-se dos mesmos de acordo com as necessidades de seus alunos, construindo assim um método particular de trabalho.

20 No entanto, quando tratamos dos propósitos da Educação Física escolar que devem estar relacionados aos pressupostos pedagógicos da escola tendo em vista a formação do cidadão e do ser integral, vemos como mais interessante uma prática pedagógica rica em problemas motores e não em tarefas motoras, o que nos levaria a adoção de métodos mais ligados aos princípio global funcional, o qual propõe ênfase na imprevisibilidade, oferecendo problemas a serem resolvidos pelos praticantes do esporte. Assim, apontamos o jogo como um riquíssimo facilitador desta prática, pela sua característica de imprevisibilidade de situações e pela constante necessidade resolução conjunta de problemas, tal qual no convívio em sociedade. Dentro desta perspectiva, os esportes, em especial os coletivos, poderiam retomar sua origem de jogo, deixando de ser tratados como esporte de regras rígidas e passando a ter regras livremente consentidas e podendo se modificado de acordo com a possibilidade de compreensão do jogo de cada grupo que de jogadores. A fim de potencializar o estímulo de competências aos alunos que interagem com o esporte no ambiente escolar, além da fundamentação nos métodos, a atuação pedagógica em esportes pode encontrar um bom referencial na teoria das inteligências múltiplas. Estudada por diversos autores, como Campbell et al. (2000) e Antunes (1998 e 1999), a teoria das Inteligências Múltiplas foi apresentada por Howard Gardner no início da década de 80. Para este autor, a inteligência pode ser entendida como: Um potencial biopsicológico para processar informações que pode ser ativado num cenário cultural para solucionar problemas ou criar produtos que sejam valorizados em uma cultura.(gardner, 2000, p.87). Gardner observou em populações com a qual trabalhava que para determinadas tarefas algumas pessoas tinham extrema habilidade, enquanto para outras pareciam incapazes. Assim, propõe o fim da idéia de pessoas mais ou menos inteligentes, mostrando que os indivíduos podem vir a ter maior ou menor acesso a determinados estímulos, os quais as possibilitariam desenvolver melhor algumas competências que outras; a partir dessa perspectiva, traz a idéia da existência de várias inteligências, ao contrário do modelo até hoje mais conhecido e disseminado de uma única inteligência, pautada nas competências verbal-lingüística e lógico-matemática. Chegamos à teoria das inteligências múltiplas, assim abordada por Balbino (2001, p.81): A Teoria das Inteligências Múltiplas toma forma com a abordagem plural das habilidades, capacidades,

21 faculdades, talentos e competências do Homem, especialmente exigidas dentro do seu contexto de cultura, transcendendo, assim, das abordagens da linguagem verbal e da razão lógica. Gardner (1994), afirmou que as pessoas possuem potenciais e talentos inatos que podem ser identificados em diferentes locais do cérebro, constituindo, até o momento, a existência de oito diferentes inteligências, autônomas, mas que ao resolver problemas, dificilmente atuam sozinhas; são elas: verbal-lingüística, lógicomatemática, espacial, musical, cinestésico-corporal, naturalista, intrapessoal e interpessoal. O próprio Gardner admite que possam existir outras inteligências e outros autores já trabalham nesta perspectiva. O esporte, em função de sua dinâmica (na qual temos as questões táticas e técnicas, regras e elementos emocionais) e quando associado a um métode de trabalho que priviligie a imprevisibilidade e a oferta de diferentes situações-problema, \nos parece poder constituir um ambiente ótimo para o desenvolvimento das inteligências múltiplas, considerando que é através da pedagogia que se promove e organiza o ambiente, através de um planejamento, estratégias e objetivos. Ao considerarmos nossos alunos como possuidores de pelo menos oito inteligências, ampliamos as possibilidades de intervenção em quem joga, alterando também a compreensão em relação à competência, que deixa de ser um conceito com valor absoluto e passa a ter valor relativo, podendo uma pessoa ser mais competente para um determinado esporte que outro, interagindo melhor com um método de trabalho adotado pelo professor ou outro, reforçando mais uma vez a importância da diversidade de estímulos e intervenções pedagógicas no esporte e pelo esporte em qualquer ambiente, neste caso em especial do ambiente escolar. Sendo assim, ao propor uma nova prática ao aluno, é importante que o professor estabeleça com a turma um canal de comunicação em uma linguagem compreensível à criança, para que o professor consiga mobiliza-los e intervir positivamente, favorecendo mudanças no campo esportivo e também social. Estes canais de comunicação variam de acordo com a faixa etária dos alunos, assim como deve variar a atuação pedagógica, acompanhando os anseios e desejos de cada idade. Por volta dos sete aos nove anos de idade, por exemplo, pode ser indicado à criança o acesso às mais variadas vivências motoras; no campo das inteligências múltiplas, nota-se que nessa faixa etária o individualismo predomina, sendo importante que as inteligências intra e inter-pessoais sejam fortemente

22 trabalhadas, partindo do auto-conhecimento para o reconhecimento dos colegas; a musicalidade também pode ser enfatizada, já que esta é uma fase sensível para o desenvolvimento do ritmo. A partir dos dez anos, aproximadamente, a criança passa a perceber que os colegas também tem necessidades e desejos, sendo um momento especial para abordagem da cooperação; observa-se, também, que até por volta dos 12 ou 13 anos a criança está num momento ótimo para exploração de quase todas as capacidades físicas, sendo fundamental a variação de estímulos nesse sentido; além disso, nessa idade a criança já é capaz de compreender aspectos da lógica dos jogos, sendo importante a exploração das inteligências múltiplas também neste sentido. A partir dos treze anos o interesse do aluno, normalmente, giram em torno dos aspectos específicos da modalidade basquetebol, sendo importante a abordagem dos fundamentos de forma mais específica, relacionando-os à lógica do jogo e suas múltiplas variantes e abordando as relações pessoais. Considerações Finais A partir do balizamento nos dois referenciais expostos o metodológico e o sócio-educativo, vemos como são ricas e variadas as possibilidades de intervenção através do esporte no ambiente escolar, sendo enumeradas algumas delas, que não temos como excludentes, mas complementares (adaptado de Ferreira, H.B; Galatti, L.R.; Paes, R.R., 2005, p.126.): desenvolver habilidades motoras básicas, específicas e as capacidades físicas (coordenação, velocidade, força, resistência e flexibilidade); desenvolver elementos básicos da lógica dos jogos desportivos coletivos; desenvolver a técnica e a tática do basquetebol; estimular as diversas capacidades cognitivas; despertar o prazer e interesse pelo esporte em diversos níveis, tanto como praticante ou como espectador, o que poderá estimular o convívio com o esporte ao longo de sua vida; promover a discussão e possibilitar a transformação de valores; estimular auto-estima, auto-confiança e tomada de decisão; estabelecer relações pessoais de valor tais como cooperação, empatia e respeito para o desenvolvimento da coletividade,

23 estabelecer metáforas com a vida, possibilitando a transcendência das relações pessoais e interpessoais vivenciadas na escola com aquelas a serem vivenciadas na vida em sociedade. Tais intervenções devem ser regidas por um planejamento adequado, proposto pelo técnico-professor a partir de seus referenciais metodológicos, mas sem que estes sobreponham o principal alvo da atuação pedagógica: os alunos. Propomos que tal atuação tenha entre seus conteúdos principais a cooperação e o desenvolvimento das inteligências em suas múltiplas manifestações, uma vez que entendemos que estes aspectos estão presentes no jogo coletivo em todos os momentos, assim como na vida dessas crianças além do esporte. Sendo a pessoa que joga o principal foco da pedagogia do esporte e sendo a ela oferecidas possibilidades de desenvolvimento motor, cognitivo, afetivo e social, o professor de educação física estará contribuindo não apenas para o surgimento de atletas, mas também para a formação de cidadãos, talvez mais conscientes da comunidade em que vivem também em função dos estímulos proporcionados no âmbito esportivo, sendo capazes de analisar e intervir de forma crítica e transformadora na sociedade. Ao abordarmos a Educação Física escolar e o esporte enquanto conteúdo pedagógico, não se pode perder de vista as transferências das relações e manifestações ocorridas no ambiente escolar para o contexto social que esta criança compõe. Assim, faz-se indispensável que o foco principal da pedagogia seja o aluno e as relações que este estabelece com o esporte, o professor, os demais alunos e todo o conjunto que compõem o ambiente de ensino e aprendizagem na escola. Vemos a importância em valorizar o indivíduo em sua totalidade, proporcionando estímulos físicos, cognitivos, afetivos e sociais, estimulando as inteligências múltiplas com destaque para estimulo a auto-estima, autoconfiança, iniciativa, autonomia e cooperação, a fim de contribuir para a formação de cidadãos mais conscientes de sua importância para o seu grupo e capaz de intervir de forma crítica e transformadora na sociedade. Ao professor, cabe fazer da aula de educação física conectada ao projeto pedagógico da escola um ambiente favorável para o desenvolvimento de cada aluno e de relações sociais entre alunos, professor e demais envolvidos, a partir de um planejamento com embasamento teórico, respeito às fases sensíveis de aprendizagem dos alunos, considerando seu atual estágio de desenvolvimento e proporcionando condições de se estudar o esporte e através do esporte na escola, assim como condições de aprendizagem esportiva e social através do movimento, pensamento e sentimento.

24 Diante desta amostragem da amplitude de possibilidades do processo de ensino e aprendizagem do esporte na escola, destacamos a importância para os professores de terem acesso contínuo ao conhecimento e às pesquisas acadêmicas, que ainda tendem a manter-se isoladas nas universidades. Desta forma, este artigo se propôs a levantar pressupostos quanto à presença do esporte na escola, amparado pela pedagogia do esporte e buscando diminuir a distância entre a pesquisa e a prática esportiva. Referências Bibliográficas ANTUNES, C. As Inteligências múltiplas e seus estímulos. 7.ed. Campinas: Papirus, 1998. BALBINO, H. F. Jogos desportivos coletivos e os estímulos das inteligências múltiplas: bases para uma proposta em pedagogia do esporte. 2001. 142f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas, Campinas. BROTTO, F. O. Jogos cooperativos: o jogo e o esporte como um exercício de convivência. 1999. 197f. Dissertação (Mestrado em Educação Física) Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas, Campinas. FERREIRA, H.B; GALATTI, L.R.; PAES, R.R. Pedagogia do esporte: considerações pedagógicas e metodológicas no processo de ensino-aprendizagem do basquetebol. In: PAES, R.R.; BALBINO, H.F. Pedagogia do Esporte: contextos e perspectivas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. GALATTI, L. R. Pedagogia do Esporte: discutindo o processo de ensinoaprendizagem na modalidade basquetebol. 2002. 98f. Monografia (Bacharelado em Educação Física) Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas, Campinas. GARDNER, H. Estruturas da mente: a teoria das inteligências múltiplas. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1994.

25 GARGANTA, J. Para uma teoria dos jogos desportivos coletivos. In: GRAÇA, A.; OLIVEIRA, J. (Eds.). O ensino dos jogos desportivos coletivos. 2. ed. Lisboa: Universidade do Porto, 1995. p. 11-25. MARQUES, A. O treino dos jovens desportistas. Actualizações de alguns temas que fazem a agenda do debate sobre a preparação dos mais jovens. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, v. 1, n. 1, p. 130-37, jan. 2001. PAES, R. R. Educação física escolar: o esporte como conteúdo pedagógico do ensino fundamental. Canoas: Ed. Ulbra, 2001.. A pedagogia do esporte e os jogos coletivos. In: Esporte e atividade física na infância e adolescência. São Paulo: Artmed, 2002. p. 89-98. PARLEBÁS, P. Perspectivas para uma educação física moderna. S.L.P. Umisport and Alucia, 1987. Data de recebimento: 01/03/06 Data de aceite:31/03/06