OLCZEVSKI, Carlos Roberto 66 COTRIN, Décio Souza 67 RESUMO



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Transcrição:

Certificação de Produtos Orgânicos por SPG - Sistema Participativo de Garantia, Envolvendo Pequenas Cooperativas do Ramo Agropecuário, na Região dos Coredes OLCZEVSKI, Carlos Roberto 66 COTRIN, Décio Souza 67 RESUMO Este artigo trata das possibilidades existentes da participação de seis cooperativas do ramo agropecuário da região de Frederico Westphalen-RS, na criação de uma organização coletiva de certificação de produtos orgânicos, através de um Sistema Participativo de Garantia (SPG), uma das três modalidades de certificação de orgânicos no Brasil. Este sistema entrou em vigor através da regulamentação da Lei de Certificação de Produtos Orgânicos (Lei 10.831 de 23/12/2003).Para identificar o interesse destas cooperativas em participar desta organização social participativa de certificação foram aplicados questionários diretamente aos dirigentes destas cooperativas, momento em que se identificou, por parte da maioria dos entrevistados, o interesse em participar deste modelo de certificação de produtos orgânicos, as dificuldades enfrentadas pelas cooperativas para desenvolver a produção orgânica e as possíveis ações que poderiam ser realizadas para agilizar a certificação de produtos orgânicos nesta região. Para que se desenvolva esta tecnologia e modelo de produção agrícola, os entrevistados sugerem, entre outras ações, incentivos do Estado, considerando que os fornecedores de insumos químicos e genéticos privados não têm este interesse. Palavras-chave: Certificação de produtos orgânicos. Sistema Participativo de Garantia. Cooperativas agropecuárias. ABSTRACT This article deals with the existing possibilities of involvement of six cooperatives of the agricultural branch of the region of Frederico Westphalen-RS in the creation of a collective organization to certification of organic products, through a system called Sistema Participativo de Garantia (SPG), Participatory Guarantee System (PGS), 66 Mestrando na área de Integração Regional e Desenvolvimento Local Sustentável, na Universidade Regional do Noroeste do Rio Grande do Sul - UNIJUI. Pós-graduado em Marketing pela Universidade Regional Integrada das Missões e Alto Uruguai - URI. Pós-graduado em Planejamento e Gestão pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões - Campus de Erechim. Graduado em agronomia pela Universidade Federal de Pelotas UFPel. Engenheiro agrônomo na ASCAR/EMATER ESREG em Frederico Westphalen. E-mail: carlosr@emater.tche.br. 67 Engenheiro Agrônomo, Gerente de Recursos Humanos da EMATER/RS-ASCAR. Doutor em Desenvolvimento Rural PGDR-UFRGS. Professor Orientador do Curso de Especialização em Gestão de Cooperativas da ESCOOP. E-mail: dcotrim@emater.tche.br. 456

one of the three forms to certification of organics in Brazil. This system entered into force through the regulation of the law of certification of organic products (Law 10.831 of 23/12/2013). In order to identify the interest of these cooperatives in participating in these participatory organization of certification it were administered questionnaires directly to the leaders of these cooperatives, moment in which were identified, through the majority of the respondents, the interest in participating in this model to certification of organics products, and the difficulties faced by the cooperatives for developing the organic production in this region. To the development of this technology and model of agricultural production, the respondents suggest, among other actions, state incentives, considering that the private suppliers of chemical and genetic inputs, do not have this interest. Key-words: Certification of Organic Products; Participatory Guarantee System; Agricultural Cooperatives. 1 INTRODUÇÃO A agricultura moderna, iniciada na década de 50, vem introduzindo tecnologias industriais na agricultura ininterruptamente, desde o seu início. O aumento da produção e da produtividade de alimentos é uma realidade, que, no entanto, também promove efeitos negativos, pois compromete os ecossistemas naturais, contamina as águas, elimina a biodiversidade e produz alimentos com resíduos químicos, os quais são consumidos pela população, comprometendo a segurança alimentar. A importância e as justificativas para a produção orgânica de alimento são várias, principalmente quanto aos aspectos de utilização intensa de agrotóxicos nos sistemas agrícolas brasileiros. Nos últimos anos, o Brasil vem se destacando como um dos maiores consumidores de agrotóxicos do mundo, aplicando nos seus sistemas de produção agrícola o equivalente a 5 litros de agrotóxicos por habitante, tendo recebido, inclusive, em 2010, o título de campeão mundial no uso de agroquímicos. Para identificar alguns dos efeitos do uso em grande escala de agrotóxicos em nossa agricultura, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) desenvolve o Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos nos Alimentos (PARA), o qual é realizado anualmente em todos os estados brasileiros. Estas análises estão encontrando altos índices de alimentos com resíduos de agrotóxicos em todo o país, chegando à média, segundo a ANVISA, de 30 % das amostras de 457

alimentos analisados com quantidade maior de agrotóxicos do que o permitido pela Organização Mundial da Saúde. Esta conjuntura de insegurança alimentar faz com que as pessoas bem informadas e conscientes do problema procurem cada vez mais alimentos mais saudáveis, principalmente, os produzidos com tecnologias orgânicas. Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), na agricultura orgânica não é permitido o uso de substâncias que coloquem em risco a saúde humana e o meio ambiente. Não são utilizados fertilizantes sintéticos solúveis agrotóxicos e transgênicos. Nos últimos 10 anos, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), a produção orgânica brasileira cresceu em média 25 % ao ano, colocando o Brasil em 5º lugar em área agrícola cultivada com produtos orgânicos, sendo destes, 75% exportados. Na região de abrangência do estudo, são poucas as unidades de produção produzindo produtos orgânicos com tecnologias ecológicas, tendo como hipótese de causa desta situação a dificuldade da certificação dos produtos orgânicos, uma exigência mundial de garantia para estes produtos. Em janeiro de 2011, entrou em vigor no Brasil a regulamentação da Lei de Certificação de Produtos Orgânicos (Lei 10.831 de 23/12/2003), a qual, entre outras medidas, prevê três modalidades de certificação, quando anteriormente havia somente uma possibilidade, a Certificação por Auditoria. Com esta lei, foram criados novos sistemas de certificação dos produtos orgânicos, além da Certificação por Auditoria, que ainda continua: o SPG (Sistema Participativo de Garantia) e a Certificação por Controle Social de Venda direta. Esta última, sem o uso do selo oficial. Os Sistemas Participativos de Garantia (SPG), junto com a Certificação por Auditoria, compõem o Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica (SISORG). Para o seu bom funcionamento, o Sistema Participativo de Garantia caracteriza-se pelo CONTROLE SOCIAL e pela RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA, o que possibilita a geração de credibilidade adequada às diferentes realidades sociais, culturais, políticas, institucionais, organizacionais e econômicas. Este modelo de certificação SPG envolve consumidores, cooperativas agropecuárias e outras organizações da região, que de forma conjunta, poderiam certificar a produção orgânica desta região e possibilitariam a oferta de alimentos 458

mais saudáveis à população, abrindo novos mercados e agregando valor aos produtos dos agricultores familiares. Esta ação pode significar o início de um processo de transição da agricultura convencional para a agricultura ecológica ou orgânica nesta região. Isto foi revelado durante as entrevistas realizadas diretamente através da aplicação de questionários com perguntas abertas a seis dirigentes de pequenas cooperativas agropecuárias da região estudada. Os entrevistados declararam, na sua maioria, o interesse de participar de uma organização de certificação de produtos orgânicos na modalidade de SPG, e que esta seria uma forma de desenvolver a produção orgânica da região. Este estudo objetivou identificar se há interesse, dificuldades e vantagens de cooperativas do ramo agropecuário, localizadas na região de Frederico Westphalen- RS, em participar da organização de uma certificadora de produtos orgânicos via Sistema Participativo de Garantia (SPG), que é uma das três possibilidades de obter-se o selo oficial brasileiro de produto orgânico, SISORG, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Uma das hipóteses é que realmente há o interesse em criar uma SPG/OPAC na região delimitada com a participação destas cooperativas, para certificar os produtos orgânicos. Outra hipótese é que a produção orgânica não se desenvolve na região de abrangência deste estudo, tendo como principais causas a dificuldade de cumprir a exigência de certificação dos produtos orgânicos e o desconhecimento da atual legislação brasileira dos produtos orgânicos. Este artigo ainda contém o referencial teórico sobre o tema e o resultado da pesquisa qualitativa, com a abordagem deste estudo de caso, obtido através de entrevistas com a utilização de questionários aplicados diretamente aos dirigentes de cooperativas agropecuárias de pequeno porte, da região pesquisada. 2 METODOLOGIA: A metodologia utilizada foi a pesquisa qualitativa, com a abordagem realizada através de estudo de caso de 6 (seis) cooperativas do ramo agropecuário, localizadas no território de Frederico Westphalen-RS. Como técnica de pesquisa, foram utilizadas entrevistas estruturadas e diretas, com questões abertas aos dirigentes de cooperativas agropecuárias de pequeno porte. 459

Este método foi utilizado para identificar as cooperativas interessadas em participar de um SPG/OPAC e, também, as dificuldades junto a estas cooperativas para implantar a produção e a comercialização de produtos orgânicos. 3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 3.1 O COOPERATIVISMO E SUA ORIGEM Em âmbito oficial do cooperativismo mundial, a fundação do cooperativismo teve seu início na "Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale", em 21 de dezembro de 1844 no bairro de Rochdale, em Manchester (Inglaterra). Na época, 27 tecelões e uma tecelã procuravam uma alternativa econômica para atuarem no mercado, frente ao capitalismo ganancioso que os submetia a preços abusivos, exploração da jornada de trabalho de mulheres e crianças (que trabalhavam até 16h) e para fugir do desemprego provocado pela Revolução Industrial. Naquele momento, aquelas pessoas mudavam os padrões econômicos da época e davam origem ao movimento cooperativista. Cerca de dez anos mais tarde, o "Armazém de Rochdale" já contava com 1.400 cooperantes. Com isso, o sucesso do empreendimento passou a ser um exemplo para outros grupos. O cooperativismo acabou evoluindo e conquistando um espaço próprio, definido por uma nova forma de pensar o homem, o trabalho e o desenvolvimento social. Por sua forma igualitária e social, o cooperativismo é aceito e reconhecido como fórmula democrática para a solução de problemas socioeconômicos. No Brasil, podemos verificar que a construção de um estado cooperativista começou em 1610, com a fundação das primeiras reduções jesuíticas nas Missões do Rio Grande do Sul. Entretanto, somente dois séculos depois, em 1847, é que a história registra o início do movimento cooperativista no Brasil. Foi quando o médico francês Jean Maurice Faivre, adepto das ideias reformadoras de Charles Fourier, fundou nos sertões do Paraná, juntamente com um grupo de europeus, a colônia Tereza Cristina, organizada em bases cooperativas. Apesar de sua breve existência, essa organização contribuiu, na memória coletiva, como elemento formador do cooperativismo brasileiro. 460

Cooperativismo vem da palavra cooperação e é uma doutrina cultural e socioeconômica que consagra os princípios fundamentais de liberdade humana, apoiada por um sistema de educação e participação permanente. Foi no ano de 1995, no Congresso Centenário da Aliança Cooperativa Internacional (ACI), em Manchester (Inglaterra), que se reuniram cooperativistas de todos os continentes para definirem Cooperativa, Valores e Princípios. Segundo a ACI, que representa o sistema cooperativo em âmbito mundial, cooperativa é uma associação autônoma de pessoas que se unem, voluntariamente, para satisfazer aspirações e necessidades econômicas, sociais e culturais comuns, por meio de uma empresa de propriedade coletiva e democraticamente gerida. De acordo com o X Congresso Brasileiro de Cooperativismo (Brasília -1988), a cooperativa fundamenta-se na economia solidária e se propõe a obter um desempenho econômico eficiente, através da qualidade e da confiabilidade dos serviços que presta aos próprios associados e aos usuários. No Brasil, são treze ramos de cooperativas com atuação socioeconômica. No Rio Grande do Sul, segundo o Relatório da OCERGS Gestão 2011, as cooperativas que gozam de maior popularidade, em ordem descendente, são as Cooperativas de Crédito, Cooperativas Agropecuárias, Cooperativas de Infraestrutura, Cooperativas Habitacionais, Cooperativas de Trabalho, Cooperativas de Educação, Cooperativas de Interesse Social. 3.2 PRODUTOS ORGÂNICOS O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) apresenta que na agricultura orgânica não é permitido o uso de substâncias que coloquem em risco a saúde humana e o meio ambiente. Não são utilizados fertilizantes sintéticos solúveis, agrotóxicos e transgênicos. Para ser considerado orgânico, o produto tem que ser produzido em um ambiente de produção orgânica, onde se utiliza, como base do processo produtivo, os princípios agroecológicos que contemplam o uso responsável do solo, da água, do ar e dos demais recursos naturais, respeitando as relações sociais e culturais (MAPA). 461

3.2.1 Garantia da Qualidade Orgânica A legislação brasileira prevê os Sistemas Participativos de Garantia, que se caracterizam pelo Controle Social e pela Responsabilidade Solidária. Há diferentes maneiras de garantir a qualidade orgânica dos seus produtos: a Certificação, os Sistemas Participativos de Garantia e o Controle Social na Venda Direta sem Certificação. Os chamados Sistemas Participativos de Garantia, junto com a Certificação por Auditoria, compõem o SISTEMA BRASILEIRO DE AVALIAÇÃO DA CONFORMIDADE ORGÂNICA SISORG. Para o seu bom funcionamento, o Sistema Participativo de Garantia caracteriza-se pelo CONTROLE SOCIAL e pela RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA, o que possibilita a geração de credibilidade adequada às diferentes realidades sociais, culturais, políticas, institucionais, organizacionais e econômicas. 3.2.2 Certificação por Auditoria Segundo o MAPA, o mecanismo de certificação se dá por meio de empresas, com ou sem fins lucrativos. Mais conhecidas como Certificadoras, estas empresas realizam inspeções e auditorias, seguindo procedimentos básicos estabelecidos por normas reconhecidas internacionalmente. Uma exigência é não ter nenhum tipo de ligação com o processo produtivo que estão avaliando. Ainda de acordo com o MAPA, as certificadoras devem garantir que cada unidade de produção e de comercialização certificada cumpra com todas as exigências, durante todas as etapas do Processo de Certificação. Cada unidade de produção certificada tem que apresentar um registro do tipo de produção que permita a obtenção de informações para realizar verificações necessárias sobre a produção, o armazenamento, o processamento, as aquisições e as vendas. Segundo o Ministério responsável pela certificação de produtos orgânicos no Brasil, as inspeções realizadas pelas certificadoras devem seguir procedimentos objetivos, com acesso a todas as instalações, registros e documentos das unidades de produção. As unidades de produção devem ser inspecionadas, no mínimo, uma 462

vez por ano, sendo que no intervalo entre as vistorias são utilizados outros mecanismos de controle. No caso da certificadora estabelecer seu custo de certificação com base em um percentual sobre a produção certificada, ela é obrigada a oferecer também outra modalidade de cobrança. 3.2.3 Sistemas Participativos de Garantia SPG Os Sistemas Participativos de Garantia caracterizam-se pelo controle social e pela responsabilidade solidária, podendo abrigar diferentes métodos de geração de credibilidade adequados a diferentes realidades sociais, culturais, políticas, institucionais, organizacionais e econômicas. Segundo o MAPA, o Controle Social é um processo de geração de credibilidade, necessariamente reconhecido pela sociedade, organizado por um grupo de pessoas que trabalham com comprometimento e seriedade. Ele é estabelecido pela participação direta dos seus membros em ações coletivas para avaliar a conformidade dos fornecedores aos regulamentos técnicos da produção orgânica. Conforme orientação do MAPA, a Responsabilidade Solidária acontece quando todos os participantes do grupo comprometem-se com o cumprimento das exigências técnicas para a produção orgânica e responsabilizam-se de forma solidária nos casos de não cumprimento delas. O Sistema Participativo de Garantia (SPG) é formado, basicamente, por dois componentes: a) os membros do sistema são pessoas físicas ou jurídicas que fazem parte de um grupo classificado em duas categorias: a) Os fornecedores, constituídos pelos produtores, distribuidores, comercializadores, transportadores e armazenadores; b) Os colaboradores, constituídos pelos consumidores e suas organizações, técnicos, organizações públicas ou privadas, ONGs e organizações de representação de classe. b) organismo participativo de avaliação da conformidade OPAC é uma organização que assume a responsabilidade formal pelo conjunto de atividades desenvolvidas num SPG. A estrutura organizacional é constituída por uma Comissão de Avaliação e um Conselho de Recursos, 463

ambos compostos por representantes dos membros de cada Sistema Participativo de Garantia. O SPG promove as visitas de verificação da conformidade, com objetivo de troca de experiências entre os participantes do sistema e de orientação aos fornecedores para que eles possam resolver possíveis não conformidades e melhorar a qualidade dos sistemas produtivos. Segundo o MAPA, as visitas de verificação da conformidade são realizadas pelas COMISSÕES DE AVALIAÇÃO e pelas visitas de pares. Elas acontecem, no mínimo, uma vez por ano, no grupo ou no fornecedor individual. A participação dos fornecedores na atividade do SPG e nas reuniões do OPAC é necessária, como forma de utilização de outras formas de avaliação. 3.3 A REDE ECOVIDA DE CERTIFICAÇÃO ORGÂNICA Esta rede é composta por familiares, técnicos e consumidores reunidos em associações, cooperativas e grupos informais que, juntamente com pequenas agroindústrias, comerciantes ecológicos e pessoas comprometidas com o desenvolvimento da agroecologia, organizam-se em torno da Rede Ecovida. Depois da auditoria realizada pelo Ministério da Agricultura MAPA (de 30/11 a 2/12 de 2010), a Associação Ecovida Organismo Participativo de Avaliação de Conformidade (OPAC) está credenciada oficialmente pelo MAPA, o que significa o reconhecimento da capacidade da Rede Ecovida e a possibilidade de suas instâncias afirmarem a qualidade ecológica de seus produtos/unidades produtivas: Rede ECOVIDA de Certificação. A Rede Ecovida é composta por 26 núcleos, sendo que o 26º Núcleo é chamado de Vale do Rio Uruguai, localizado em Santa Catarina, nos municípios de Saltinho, Palmitos, Descanso, Tunápolis, e, no Rio Grande do Sul, nos municípios de Erval Seco e Cristal do Sul, estas últimas cidades, localizadas na abrangência do COREDE do Médio Alto Uruguai. Neste Núcleo são: 31 famílias certificadas; 4 associações agroecológicas; 4 feiras municipais; 2 cooperativas; 1 agroindústria. Projetos desenvolvidos: Na Cooperbiorga, através dos associados certificados pela Ecovida, são embalados e comercializados diversos produtos orgânicos com uma agroindústria de óleos vegetais extravirgens orgânicos. 464

Através do apoio da Cooperbiorga, os produtos dos agricultores do Núcleo Vale do Rio Uruguai são comercializados nas feiras municipais e regionais. 3.4 ALIMENTOS ORGÂNICOS NA MERENDA ESCOLAR A Lei da Merenda Escolar, N o. 11.947, sancionada em junho de 2011, determina que, no mínimo, 30% da merenda escolar seja comprada diretamente de agricultores familiares, sem licitação. Os recursos são do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), repassados ao Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), e abrangem todas as escolas públicas e filantrópicas do país, da educação infantil ao ensino de jovens e adultos. Os produtos agroecológicos ganham especial distinção na Lei da Merenda, devem ser priorizados na compra para a merenda escolar e seus preços podem ser até 30% superiores aos produtos convencionais. 4 RESULTADO DA PESQUISA A VISÃO DA AGRICULTURA ORGÂNICA PELAS COOPERATIVAS Nesta pesquisa qualitativa foram aplicados diretamente 6 (seis) questionários contendo 10 (dez) perguntas abertas sobre produção e certificação de produtos orgânicos, para presidentes e administradores de pequenas cooperativas do ramo agropecuário da Região de Frederico Westphalen-RS, que abrange 42 municípios dos COREDES, Médio Alto Uruguai e Rio da Várzea. Estas cooperativas são a COOPRAFF, de Frederico Westphalen-RS; cooperativa EXTREMO NORTE, de Alpestre; COOPERAMETISTA, de Ametista do Sul-RS; COOCAMPO, de Liberato Salzano-RS; COOPAFS, de Sarandi-RS e COOPERVALE, de Pinheirinho do Vale-RS. Sobre o que seria um produto orgânico, observou-se pontos de vista semelhantes entre os entrevistados, demonstrando um conhecimento básico sobre o tema, pois se ressaltou que é o resultado da utilização de técnicas, que, além de possibilitarem a obtenção de alimentos livres de resíduos químicos, são saudáveis aos agricultores, aos consumidores e ao meio ambiente. Quanto ao que significa um produto orgânico e sobre a importância da produção orgânica para as cooperativas, foi demonstrado interesse pela maioria dos 465

dirigentes entrevistados, os quais manifestaram o desejo de um modelo de agricultura que promova melhor qualidade de vida para os agricultores e consumidores, garantindo a produtividade e a rentabilidade competitiva no mercado da cooperativa e dos agricultores associados. Na visão de alguns, o produto orgânico é um produto ainda diferenciado, comparando-se aos produtos convencionais. Em relação aos associados, outra manifestação da importância da produção orgânica pelas cooperativas se destacou devido à existência de muitos casos de câncer entre os agricultores, o que é uma preocupação majoritária dos dirigentes. Foi apontado que, provavelmente, esta alta incidência desta grave doença seria em consequência da utilização elevada de agrotóxicos nas atividades agrícolas. Os associados acreditam que a agricultura orgânica diminuiria esta incidência. Entretanto, não houve unanimidade nas respostas quanto à importância dos produtos orgânicos para as organizações cooperativas e associados. Dois dos seis entrevistados avaliaram que, no momento, não consideram a produção orgânica como importante. Um deles declarou: Os nossos clientes locais ainda não enxergam os produtos orgânicos como importantes, não pagariam mais por estes produtos, pois dão mais importância aos produtos coloniais. Quando questionados se a direção conhecia a nova legislação brasileira de produtos orgânicos, que entrou em vigor a partir de janeiro de 2011, a qual prevê novas modalidades de certificação dos produtos orgânicos, foi unânime o desconhecimento desta nova legislação. Esta realidade demonstra a necessidade de mais divulgação desta legislação para o público de potencial interesse. Apenas o conhecimento da existência desta legislação que permite maiores possibilidades de certificação dos produtos orgânicos, possivelmente, possibilitaria avanços nesta área. A maioria das cooperativas declarou que fariam parte do Sistema Participação de Certificação SPG, o qual permite organizar uma estrutura regional participativa de certificação de orgânicos, principalmente se for mais barata para os produtores. Sim, participaria de um SPG, porque há associados que têm interesse em produzir orgânicos. Teria orientação de como produzir orgânicos. 466

Porque a cooperativa foi criada com o objetivo de produção e comercialização de alimentos saudáveis, este sistema de certificação poderia viabilizar mais facilmente a produção orgânica. Várias cooperativas declararam que teriam capacidade de produzir e oferecer ao mercado e à comunidade regional considerável diversidade de produtos orgânicos, se facilitada a sua certificação, tais como: o tomate, a alface, o repolho, o chuchu, a couve-flor, a couve-brócolis, o alho, a cenoura, a mandioca, a batatadoce, a moranga cabutiá, e também frutíferas, como várias espécies e variedades de citros, pêssego e caqui. Em termos de grãos e cereais, destacou-se o feijão, o arroz colonial e a pipoca. Produtos processados de origem vegetal, como sucos, farinhas, panificados, doces e conservas, têm potencial de serem produzidos. Observa-se, assim, que há uma gama de produtos que permitiriam abastecer esta região com variedade e qualidade de produtos orgânicos. Esta condição favoreceria a população regional se conseguisse ofertar, com regularidade e nas condições que os consumidores locais desejam, estes produtos diferenciados, o que não foi explorado por esta pesquisa. Quando se perguntou se haveria interesse da cooperativa em desenvolver a produção orgânica, a maioria respondeu que sim, há interesse, mas houve cooperativa que declarou que inicialmente não, devido a questões culturais entre os produtores e os consumidores locais. Os entrevistados reclamaram, também, que não haveria apoio político e técnico, nem incentivos a este tipo de atividade. Inicialmente não tenho interesse na produção orgânica, falta apoio político e, também, o local não dá importância para este tipo de produto. Uma liderança de cooperativa declarou que, por enquanto, não tem interesse na produção orgânica, pois não há conhecimento técnico. Quero que provem que é possível produzir uva orgânica. Neste caso, os produtores pensam em produzir com Manejo Integrado de Pragas (MIP), utilizando uma certificação de que a uva não apresenta resíduos de agrotóxicos, pois haveria mercado para este produto (uva in natura), permitindo alcançar melhor preço. O SEBRAE ofereceu uma consultoria para produção de uva sem resíduos de agrotóxicos. A seu ver a produção livre de resíduos de agrotóxicos é uma necessidade. Alerta que: tem produtor de uva que 467

aplica veneno e comercializa, dentro do período de carência, eu já vi isto acontecer. 4.1 A CERTIFICAÇÃO DOS PRODUTOS ORGÂNICOS NA VISÃO DAS COOPERATIVAS Quando perguntado aos entrevistados se sabiam que o sistema de certificação por Sistema Participativo de Garantia SPG permitia organizar uma estrutura regional participativa de certificação de produtos orgânicos, com a participação de cooperativas e outras organizações, e que o SPG poderia ser uma forma de certificação mais barata para os produtores; se a cooperativa se disporia a participar como membro desta organização, e o porquê desta posição, as respostas foram, em sua maioria, que sim, participariam de uma organização que viabilizasse a certificação de produtos orgânicos na região. Várias respostas foram dadas para justificar esta resposta positiva majoritária de aprovação desta modalidade de certificação orgânica por SPG, destacando-se que este modelo de certificação poderia viabilizar e impulsionar a produção orgânica pelos associados das cooperativas, pois há vários agricultores que têm interesse em produzir produtos orgânicos. Esta avaliação positiva quanto ao novo sistema de certificação de produtos orgânicos por SPG, em vigor no Brasil desde janeiro 2011, tem, porém, restrições, de acordo com alguns dirigentes, devido à falta de conhecimento técnico da agricultura orgânica, pelas cooperativas da região. Não entra na cabeça produzir orgânicos neste momento, quero que se comprove que é possível tecnicamente produzir orgânicos. Houve resposta positiva no sentido de que há vários associados que têm interesse em produzir produtos orgânicos e, por isso, a necessidade de viabilizar uma certificação de orgânicos com custo menor. Durante as entrevistas, os dirigentes manifestaram, de maneira majoritária, que este modelo de certificação por SPG, atuando em nível regional, facilitaria a certificação e impulsionaria a produção de orgânicos. Nesta questão, que envolve a criação de uma Certificadora na região no modelo de uma SPG, houve duas respostas negativas quando foi manifestado que, inicialmente, não gostariam de participar de uma organização para viabilizar um 468

SPG. Como justificativa, relataram que tiveram experiências negativas em termos de produção de uva orgânica, quando, no passado, a cooperativa incentivou esta tecnologia e não conseguiram certificação, apesar de conseguirem produzir uvas utilizando técnicas que não utilizassem agrotóxicos e nem adubos químicos solúveis. Esta situação gerou desgaste entre a cooperativa e os produtores. Por sua vez, no mercado local desta cooperativa e municípios vizinhos, a produção orgânica ainda não é vista como importante pelos consumidores. Das atividades produtivas desenvolvidas pelas cooperativas visitadas e em relação ao interesse em certificar produtos orgânicos, foi citada uma gama diversificada de produtos que desperta atual interesse de produção orgânica pela maioria das cooperativas. 4.2 DIFICULDADES E POTENCIAIS APONTADOS PARA VIABILIZAR A AGRICULTURA ORGÂNICA A variedade de produtos apresentada pelas cooperativas demonstra um potencial interessante, considerando que existe somente uma cooperativa com produção certificada de produtos orgânicos atuando na região (COOPERBIORGA), sendo, no entanto, uma filial da matriz que tem sede em Mondaí-SC. Foi, também, solicitado que os entrevistados citassem as três principais dificuldades que as cooperativas poderiam ter, para a implantação da produção orgânica nas suas atividades produtivas, sendo apresentado abaixo o total de dificuldades não coincidentes apontadas entre todos os entrevistados: A obtenção do conhecimento técnico da produção orgânica pelos agricultores, associados das cooperativas e técnicos foi uma das dificuldades apontadas e que aparece como um dos fatores limitantes para a evolução desta modalidade de agricultura. Outra preocupação se refere à comercialização, pois a procura da produção orgânica pelos consumidores, segundo os entrevistados, é maior nos grandes centros, se comparada a esta região, o que se relaciona a outra dificuldade apontada que é a falta de conhecimento da população sobre as vantagens dos produtos orgânicos. Outra dificuldade apresentada por um dirigente de uma cooperativa de produção de uva e vinho é a necessidade tecnológica de cobertura plástica dos parreirais, o que facilitaria a produção orgânica de uvas. Esta técnica depende de 469

investimentos que os produtores, no momento, não pensam em realizar, mas que deve ser considerada em curto prazo, pois traria várias vantagens, tais como: diminuir a aplicação de fungicidas, que atualmente passa de 12 aplicações; eliminar o risco de prejuízos com granizo e geadas; poder tornar a colheita mais precoce, agregando maior valor à produção de uvas. A dificuldade encontrada para a certificação da produção orgânica foi apontada como uma das causadoras da não adoção desta tecnologia pelas cooperativas. A assistência técnica para a agricultura orgânica foi uma necessidade apontada para avançar na produção orgânica regional. Os entrevistados reclamam da falta de engenheiros agrônomos que atuem neste tipo de agricultura. Esta assistência poderia ser uma iniciativa das cooperativas e, também, do poder público local, mas os produtores queixam-se da falta de apoio do poder público para este segmento. Deveria haver mais investimentos nesta área. A falta de motivação e persistência dos produtores em superar os obstáculos também foi apontada como uma dificuldade enfrentada para o avanço da produção orgânica. Há necessidade da regularidade de produção para atender a demanda dos compradores, exigindo uma estrutura de produção e de comercialização de orgânicos que ainda não existe nesta região. Analisando as dificuldades apontadas pelos dirigentes das cooperativas pesquisadas, percebe-se que são vários os desafios para tornar a produção orgânica uma realidade na região, mas que a facilitação da certificação poderia estimular a vencer cada uma das dificuldades apontadas. Estes desafios envolveriam vários atores da região, pertencentes às mais variadas instituições e organizações, desde a Emater, como responsável pela ATER pública estadual, as cooperativas, os sindicatos dos trabalhadores rurais, as universidades, os órgãos de pesquisa agropecuária e as prefeituras municipais. Quando perguntado se a direção avaliava que há oportunidades de produção e comercialização de produtos orgânicos no município e região, a maioria respondeu que sim, apontando as seguintes oportunidades avaliadas pelos entrevistados: as feiras de produtos orgânicos nos municípios, na região e no Estado; o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE); os pontos de vendas. Diante destas 470

possibilidades, as cooperativas poderiam se preparar para atender as oportunidades de mercado para os produtos orgânicos. No quesito oportunidades de comercialização para os produtos orgânicos, observa-se que foram apresentadas poucas alternativas, possivelmente porque estes produtos não fazem parte do dia a dia das cooperativas, não havendo muito conhecimento deste mercado por parte dos administradores das cooperativas pesquisadas. No que diz respeito a sugestões ou observações que os entrevistados poderiam fazer em relação à certificação e produção de produtos orgânicos, eles responderam que: Produzir orgânicos é uma prática séria, que exige vários conhecimentos e seriedade por parte dos produtores, e que a nova legislação dos produtos orgânicos, com as novas possibilidades de certificação, pode facilitar a produção de orgânicos pelos agricultores familiares. Os agricultores pensam que sair do cultivo convencional para o orgânico é muito difícil, e que poderiam iniciar com o Manejo Integrado de Pragas MIP, para depois evoluir para a produção orgânica. Uma das grandes preocupações é em relação aos programas públicos, que iniciam e podem não ter continuidade. Esta preocupação aparece, também, em relação à Emater: Um técnico pode iniciar o trabalho e logo ser transferido, não havendo continuidade. Um dirigente de cooperativa declarou que um dos fatores que inviabiliza a implantação da agricultura orgânica em certos locais é que muitas propriedades dos agricultores de frutas e olerícolas, nos municípios, estão cercadas por áreas de produção de grãos, que utilizam grande volume de agrotóxicos, o que impossibilitaria a certificação de produtos orgânicos. A certificação de produtos orgânicos, no seu modelo tradicional (auditoria) é inviável para pequenos produtores devido ao alto custo da certificação, mas a possibilidade de certificar a produção orgânica via SPG incentivaria a produção deste tipo produto. Na visão do dirigente: Não é difícil produzir o difícil é conseguir a certificação, o selo de produto orgânico. 471

Na opinião de um cooperativista, seria papel do Estado incentivar a produção de produtos orgânicos, visto que as empresas fabricantes e vendedoras de insumos químicos não irão fazê-lo e a sociedade necessita desta iniciativa. Em relação às sugestões e observações dos entrevistados, observa-se que houve mais colocações no sentido da possibilidade e da importância de viabilizar um sistema de certificação de produtos orgânicos que facilite a participação dos agricultores familiares da região. Destacou-se, também, nestas sugestões, a necessidade de capacitação de agricultores e técnicos na produção orgânica. Na opinião dos dirigentes das cooperativas há necessidade de programas e apoio técnico permanente para este tipo de produção. Houve observações em relação à falta de conscientização da população local quanto à importância da produção orgânica como fornecedora de alimentos saudáveis, o que impediria a implantação desta tecnologia pelos produtores em alguns locais, pois não haveria a valorização esperada. 5 CONCLUSÃO Várias e diferenciadas dificuldades foram apresentadas pelos dirigentes das cooperativas agropecuárias entrevistados, apontando caminhos e soluções que podem ser implementados pelas cooperativas, instituições de pesquisa e de extensão rural. O poder público, nos seus três níveis, os agricultores e os consumidores também teriam responsabilidades quanto à realização de ações para que ocorram avanços na produção orgânica desta região, com o intuito de produzir alimentos saudáveis, sem causar danos ao meio ambiente. Destaca-se, neste sentido, a necessidade de capacitação de agricultores e técnicos, dado o desconhecimento das técnicas de produção de orgânicos pelos agricultores, somado à falta de técnicos capacitados atuando nestes municípios e cooperativas. Em alguns municípios foi destacada a falta de demanda de produtos orgânicos por parte dos consumidores locais, demonstrando o desconhecimento dos benefícios destes produtos à saúde e ao meio ambiente. Parece não ser de conhecimento ou existir falta de consciência dos consumidores de certos municípios da região quanto aos perigos do consumo de alimentos produzidos com agrotóxicos 472

em excesso e com o atual descontrole de resíduos destas substâncias químicas nos alimentos do Brasil, conforme constatado pelo PARA Anvisa. Esta situação mostra a necessidade da realização de um trabalho de informação da população em relação a estes aspectos negativos e às vantagens para a saúde humana quanto ao consumo de alimentos com boa qualidade sanitária. Há locais de abrangência de cooperativas, se comprovada a análise do entrevistado, em que haverá pouca possibilidade de evolução da agricultura orgânica, pois se observa que, nos locais onde evoluiu esta tecnologia de produção orgânica no Estado do Rio Grande do Sul, a comunidade demandou este tipo de produto, dando suporte para que os agricultores produzissem e comercializassem a sua produção na chamada cadeia curta, ou seja, próximo ao local de produção. Ao mesmo tempo, foi considerável o apoio obtido à implantação de uma certificadora de produtos orgânicos nesta região, no modelo do Sistema Participativo de Garantia (SPG). Esta possibilidade foi apontada como um potencial impulsionador da adoção, pelos agricultores, da produção orgânica. Como exemplo, foi citada nas entrevistas a realização de, em média, 12 aplicações de fungicidas e inseticidas nos parreirais de uva em cada safra, e este fator é apontado como um fator da saída de jovens do meio rural, pela rejeição à utilização exagerada de agrotóxicos pelos pais, nos sistemas de produção. Como não existe a produção de produtos orgânicos nas cooperativas entrevistadas, nem em seus municípios, há desconhecimento das técnicas de produção e do mercado deste tipo de produto, por isso, o mercado institucional do PNAE¹ e as feiras locais são apontados como potencial mercado inicial para estes produtos na região. A assistência técnica foi reivindicada, além da capacitação de agricultores e a participação do Estado neste processo de implantação e desenvolvimento da produção orgânica. É importante que, após iniciado o processo, deva ser dada continuidade, pois este foi um dos medos apontados em relação a este tema. Ao Estado cabe regular e incentivar a produção, a educação alimentar, garantir a qualidade sanitária e o consumo de produtos saudáveis através de programas específicos, mas aponta-se que deverá sair da sociedade, representada pelos consumidores de alimentos e pelos produtores, principalmente, a partir de suas organizações como as cooperativas, a ação de efetivar a produção e o consumo de produtos orgânicos. 473

Observou-se a necessidade de identificarem-se, através de pesquisa junto aos consumidores urbanos desta região, potenciais consumidores de produtos orgânicos, o interesse que os mesmos possuem pela aquisição e consumo de produtos originários da agricultura orgânica, como também, as condições e as especificações básicas destes produtos. Outra conclusão foi que a produção orgânica teve como potenciais causas de sua não evolução na região a dificuldade de certificação dos produtos orgânicos através do sistema de auditoria, pois esta se tornava muito cara para a baixa escala de produção que tinham; não havia disposição de pagamento por preço maior para estes produtos pelos consumidores locais, e, além disso, havia o desconhecimento tecnológico de produção dos produtores. É possível concluir que já existe em ação um núcleo de um SPG da Rede Ecovida atuando em dois municípios da região em estudo, através de uma associação e a filial de uma cooperativa, a Cooperbiorga. Seria possível aproveitar esta estrutura já existente, para certificar a produção de outras cooperativas que tenham interesse em produzir e certificar produtos orgânicos via Sistemas Participativos de Garantia, através desta Rede. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Desenvolvimento sustentável: orgânicos. Brasilia, DF, [2012?]. Disponível em: <http:// www. agricultura.gov.br/desenvolvimento-sustentavel/organicos>. Acesso em: 01 dez. 2012. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Mecanismos de controle para a garantia da qualidade orgânica. Brasília: Mapa/ACS, 2009. CENTRO DE ESTUDOS E PROMOÇÃO DA AGRICULTURA DE GRUPO CEPAGRO. Merenda Escolar terá 30% dos produtos direto da agricultura familiar. Itacorubi, 2011. Disponível em: <http://www.cepagro.org.br/news/25/54/>. Acesso em: 11 dez. 2012. LAKATOS, E. M.va Maria; MARCONI, M. A. arina de Andrade. Fundamentos de metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2007. RAMBO, A.rthur B.; ARENDT, Isabel. C. Cooperar para prosperar: a terceira via. Porto Alegre: Sescoop/RS, 2012. 216 p. REDE AGROECOLOGICA ECOVIDA. [S.l., 2013?]. Disponível em: <http://www. ecovida.org.br>. Acesso em: 01 jul. 2013. 474