Câmara Técnica de Medicina Baseada em Evidências

Documentos relacionados
Câmara Técnica de Medicina Baseada em Evidências

Sumário das Evidências e Recomendações sobre o uso de angioplastia percutânea com ou sem stent no tratamento da estenose da artéria vertebral

Avaliação de Tecnologias em Saúde

Os procedimentos endovasculares representam

ARTIGO ORIGINAL. Resumo. Abstract

Lancet 1996;347:

Intervenção carotídea no doente assintomático

Rua Afonso Celso, Vila Mariana - São Paulo/SP. Telefone: (11) Fax: (11)

Angioplastia de Carótidas com Implante de Stent e Uso de Filtro de Proteção Neuroembólica: resultados imediatos e evolução de um ano

Câmara Técnica de Medicina Baseada em Evidências. Avaliação de Tecnologias em Saúde

Duplex Scan. Análise das Imagens

Punção translombar

Avaliação de Tecnologias em Saúde. Câmara Técnica de Medicina Baseada em Evidências

Sumário das Evidências e recomendações sobre reparo de aneurisma isolado de artéria ilíaca

INTERVENÇÃO PERCUTÂNEA NAS ARTÉRIAS CARÓTIDAS: INDICAÇÕES, TÉCNICAS DE PROTEÇÃO DISTAL, RESULTADOS IMEDIATOS E TARDIOS

Analgesia Pós-Operatória em Cirurgia de Grande Porte e Desfechos

ONTARGET - Telmisartan, Ramipril, or Both in Patients at High Risk for Vascular Events N Engl J Med 2008;358:

Câmara Técnica de Medicina Baseada em Evidências. Avaliação de Tecnologias em Saúde. Assunto: XIENCE TM V: Stent coronariano revestido por Everolimus

REVISTA BRASILEIRA DE MEDICINA INTERNA

Angioplastia Carotídea

ORGANIZADOR. Página 1 de 8

ABORDAGEM AO AVC. Rui Kleber do Vale Martins Filho Neurologia Vascular

Boletim Científico SBCCV

Uso do AAS na Prevenção Primária de Eventos Cardiovasculares

IMPLANTE PERCUTÂNEO DE PRÓTESE AÓRTICA (TAVI)

Avaliação de Tecnologias em Saúde. Câmara Técnica de Medicina Baseada em Evidências

ISSN ÁREA TEMÁTICA: (marque uma das opções)

Câmara Técnica de Medicina Baseada em Evidências. Avaliação de Tecnologias em Saúde

ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL (ISQUÊMICO) Antônio Germano Viana Medicina S8

DOENÇA ARTERIAL CORONARIANA

Surgical or Transcatheter Aortic Valve. Replacement in Intermediate Risk Patients

Câmara Técnica de Medicina Baseada em Evidências. Avaliação de Tecnologias em Saúde

Sumário das Evidências e Recomendações sobre o uso de angioplastia percutânea com ou sem stent no tratamento da estenose da artéria vertebral

DANIELA SABINO ANÁLISE DOS RESULTADOS DAS ANGIOPLASTIAS CAROTÍDEAS EM UM SERVIÇO DE ENDOVASCULAR

Avaliação de Tecnologias em Saúde

14 de setembro de 2012 sexta-feira

Atualizações em Hemodinâmica e Cardiologia Invasiva. Dr. Renato Sanchez Antonio HCI São Sebastião do Paraíso

Vasos com Diâmetro de Referência < 2,5 mm

Câmara Técnica de Medicina Baseada em Evidências. Avaliação de Tecnologias em Saúde

A V C E A EQUIPE DE SAÚDE DA FAMÍLIA

Cirurgia da mama em casos de câncer de mama metastático: entendendo os dados atuais

SEÇÃO 1 IMPORTÂNCIA DO ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL E DE SUA PREVENÇÃO

ACIDENTE VASCULAR ISQUÊMICO. Conceitos Básicos. Gabriel Pereira Braga Neurologista Assistente UNESP

Abordagem Percutânea das Estenoses de Subclávia, Ilíacas, Femorais e Poplíteas

Avaliação de Tecnologias em Saúde. Câmara Técnica de Medicina Baseada em Evidências. Assunto: Stent Coronariano Supralimus

Câmara Técnica de Medicina Baseada em Evidências

INTERVENÇÃO PERCUTÂNEA NAS ARTÉRIAS CARÓTIDAS: INDICAÇÕES, TÉCNICAS DE PROTEÇÃO DISTAL, RESULTADOS IMEDIATOS E TARDIOS

Lesões de Tronco de Coronária Esquerda

SCA Estratificação de Risco Teste de exercício

ENFERMAGEM DOENÇAS CRONICAS NÃO TRANMISSIVEIS. Doença Cardiovascular Parte 1. Profª. Tatiane da Silva Campos

Boletim Científico SBCCV

Indicadores Estratégicos

RESPOSTA RÁPIDA 370/2014 Uso de Stent Farmacológico no Tratamento da Reestenose Intra-stent Convencional

Câmara Técnica de Medicina Baseada em Evidências. Avaliação de Tecnologias em Saúde. Assunto: Stent Revestido com Rapamicina: Firebird

Boletim Científico SBCCV

NEWS: ARTIGOS CETRUS Ano VI Edição 53 Fevereiro 2014 ECOGRAFIA VASCULAR ANGIOPLASTIA CAROTÍDEA

Estudo Courage. A Visão do Cardiologista Intervencionista. Pós Graduação Lato - Sensu Hospital da Beneficência Portuguesa Abril/2008

NT NATS HC UFMG 51/2015

Revisão sistemática: o que é? Como fazer?

Estratificação de risco cardiovascular no perioperatório

Câmara Técnica de Medicina Baseada em Evidências. Avaliação de Tecnologias em Saúde

JOSÉ MARIA MODENESI FREITAS TIAGO HILTON VIEIRA MADEIRA AUGUSTO GALVÃO GONÇALVES. NEUROINRAD Vitória - ES

Declaração de possíveis conflitos de interesses

Centro Hospitalar de Hospital São João, EPE. João Rocha Neves Faculdade de Medicina da UP CH - Hospital São João EPE

Após um episódio de ITU, há uma chance de aproximadamente 19% de aparecimento de cicatriz renal

Avaliação de Tecnologias em Saúde. Câmara Técnica de Medicina Baseada em Evidências

SEMINÁRIO BRASILEIRO DE PREVENÇÃO QUATERNÁRIA EM APS

Avaliação de Tecnologias em Saúde. Câmara Técnica de Medicina Baseada em Evidências. Assunto: XIENCE TM V: Stent coronariano recoberto por Everolimus

ANGIOPLASTIA COM IMPLANTE DE STENT EM PACIENTES COM ESTENOSE DE CARÓTIDA CERVICAL EM UMA SÉRIE MONOCÊNTRICA

RCG 0376 Risco Anestésico-Cirúrgico

Resultados Demográficos, Clínicos, Desempenho e Desfechos em 30 dias. Fábio Taniguchi, MD, MBA, PhD Pesquisador Principal BPC Brasil

Acidente Vascular Cerebral Isquêmico

Síndrome Coronariana Aguda no pós-operatório imediato de Cirurgia de Revascularização Miocárdica. Renato Sanchez Antonio

Sumário de Evidências e Recomendações para o uso de stent periférico na doença oclusiva aortoilíaca

COLESTEROL ALTO. Por isso que, mesmo pessoas que se alimentam bem, podem ter colesterol alto.

Diretriz Assistencial. Ataque Isquêmico Transitório

17/08/2018. Disfagia Neurogênica: Acidente Vascular Encefálico

Revascularização cerebrovascular: o estado da arte

Imagem da Semana: Tomografia computadorizada e fotografia

Boletim Científico. Eur J Cardiothorac Surg 2014;46: doi: /ejcts/ezu366.

GABRIEL SANTOS NOVAES

Preditores de lesão renal aguda em doentes submetidos a implantação de prótese aórtica por via percutânea

Acidente Vascular Cerebral. Aula teórica

Câmara Técnica de Medicina Baseada em Evidências. Avaliação de Tecnologias em Saúde

ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO CARDIOVASCULAR

LINHA DE CUIDADO EM CARDIOLOGIA PNEUMOLOGIA E DOENÇAS METABÓLICAS

Protocolo de Prevenção Clínica de Doença Cardiovascular e Renal Crônica

Portaria nº 454 de 12 de Julho de O Secretário de Assistência à Saúde, no uso de suas atribuições legais;

Artículo de Revision Sistemas de proteã Ã o cerebral em TAVI

Sumário das Evidências e Recomendações para o Fechamento Percutâneo de Forâmen Oval Patente na Prevenção Secundária de Eventos Cerebrovasculares

Como selecionar o tipo de stent e antiplaquetários para cirurgias não cardíacas. Miguel A N Rati Hospital Barra D Or - RJ

PREVENÇÃO DE DOENÇAS CARDIOVASCULARES

Evidências Científicas da Telemedicina

DOENÇA CAROTÍDEA ATEROSCLERÓTICA: REVISÃO CASUÍSTICA DE 2002 A 2007 PREVALÊNCIA E ASSOCIAÇÃO COM FACTORES DE RISCO VASCULAR

Câmara Técnica de Medicina Baseada em Evidências. Avaliação de Tecnologias em Saúde

Há mais de uma lesão grave, como definir qual é a culpada? Devemos abordar todas ao mesmo tempo ou tentar estratificar? O papel do USIC, OCT e FFR

Dra. Claudia Cantanheda. Unidade de Estudos de Procedimentos de Alta Complexidade UEPAC

Gaudencio Barbosa R3 CCP Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço Hospital Universitário Walter Cantído UFC

Endarterectomia Carotídea com Anestesia Loco-Regional

Transcrição:

Câmara Técnica de Medicina Baseada em Evidências Avaliação de Tecnologias em Saúde Sumário das Evidências e Recomendações para Tratamento Endovascular com Stents em Estenoses de Carótida Atualização versão 08/2005 Porto Alegre, Janeiro de 2008

Câmara Técnica de Medicina Baseada em Evidências Revisão da Literatura e Proposição da Recomendação Dra. Mariana Vargas Furtado (mvargasfurtado@gmail.com) Dr. Fernando H.Wolff, Dra. Michelle Lavinsky, Dr. Jonathas Stifft Consultores Metodológicos Dr. Luis Eduardo Rohde Dra. Carísi Anne Polanczyk Médico Consultor Especialista Dr. Maurício Friederich Coordenador: Dr. Alexandre Pagnoncelli (pagnon@terra.com.br ) Cronograma de Elaboração da Avaliação Novembro-07 Reunião do Colégio de Auditores: escolha do tópico para avaliação e perguntas a serem respondidas. Dezembro-07/Janeiro-08 Início dos trabalhos de busca e avaliação da literatura. Análise dos trabalhos encontrados e elaboração do plano inicial de trabalho. Reunião da Câmara Técnica de Medicina Baseada em Evidências para análise da literatura e criação da versão inicial da avaliação. Elaboração do protocolo inicial da Avaliação. Fevereiro-08 Reunião da Câmara Técnica com Médico Especialista e Auditor para apresentação dos resultados e discussão. Fevereiro-08 Revisão do formato final da avaliação: Câmara Técnica, Médico Especialista e Auditor. Fevereiro-08 Encaminhamento da versão inicial das Recomendações para os Médicos Auditores e Cooperados. Março-08 Apresentação do protocolo na reunião do Colégio de Auditores. Março-08 Encaminhamento e disponibilização da versão final para os Médicos Auditores e Médicos Cooperados. Câmara Técnica de Medicina Baseada em Evidências/Unimed Central de Serviços Auxiliares - RS 2

MÉTODO DE REVISÃO DA LITERATURA Estratégia de busca da literatura e resultados 1. Busca de avaliações e recomendações referentes ao tratamento endovascular de estenoses carotídeas elaboradas por entidades internacionais reconhecidas em avaliação de tecnologias em saúde: National Institute for Clinical Excellence (NICE) Canadian Coordinating Office for Health Technology Assessment (CCOHTA) National Guideline Clearinghouse (NGC) 2. Busca de revisões sistemáticas e metanálises (PUBMED, Cochrane e Sumsearch). 3. Busca de ensaios clínicos randomizados que não estejam contemplados nas avaliações ou metanálises identificadas anteriormente (PUBMED e Cochrane). Havendo metanálises e ensaios clínicos, apenas estes serão contemplados. 4. Na ausência de ensaios clínicos randomizados, busca e avaliação da melhor evidência disponível: estudos não-randomizados ou não-controlados (PUBMED). 5. Identificação e avaliação de protocolos já realizados por comissões nacionais e dentro das UNIMEDs de cada cidade ou região. Foram considerados os estudos metodologicamente mais adequados a cada situação. Estudos pequenos já contemplados em revisões sistemáticas ou metanálises não foram posteriormente citados separadamente, a menos que justificado. Descreve-se sumariamente a situação clínica e a questão a ser respondida, discutem-se os principais achados dos estudos mais relevantes e com base nestes achados seguem-se as recomendações específicas. Para cada recomendação, será descrito o nível de evidência que suporta a recomendação. Níveis de Evidência: A B C Resultados derivados de múltiplos ensaios clínicos randomizados ou de metanálises ou revisões sistemáticas Resultados derivados de um único ensaio clínico randomizado, ou de estudos controlados não-randomizados. Recomendações baseadas em séries de casos ou diretrizes baseadas na opinião de especialistas. Câmara Técnica de Medicina Baseada em Evidências/Unimed Central de Serviços Auxiliares - RS 3

1. DESCRIÇÃO DA TECNOLOGIA O tratamento endovascular com colocação de stent carotídeo é um método que evoluiu a partir da angioplastia percutânea transluminal com objetivo de melhorar o fluxo carotídeo em casos de estenose dessa artéria. O procedimento tem a vantagem potencial de ser menos invasivo do que a cirurgia aberta convencional (Endarterectomia Carotídea), entretanto também está associado a riscos trans e pós-procedimento, especialmente o de acidente vascular encefálico (AVE). O procedimento é realizado sob anestesia local através de punção da artéria femoral na região da virilha. Inicialmente é introduzida guia metálica até além da estenose. Sobre a guia pode ser utilizado balão de angioplastia para pré-dilatar a estenose permitindo a posterior colocação do stent. O stent consiste em uma malha de metal de forma tubular que ao ser liberado no local da estenose é expandido lateralmente com objetivo de manter o fluxo sanguíneo e evitar a reestenose. (Figura 1). O procedimento é realizado sob controle fluoroscópico com uso de contraste endovenoso. A colocação primária de stent substituiu a angioplastia isolada pela maior segurança oferecida por este dispositivo em evitar tromboembolismo cerebral e oclusão arterial secundários a dissecção da carótida que pode ocorrer no momento da dilatação da estenose. Figura 1 colocação de stent e stents colocados Um dispositivo de proteção cerebral de formato semelhante a um guarda-chuva pode ser posicionado cranialmente à estenose com objetivo de captar partículas desprendidas da placa ateromatosa por ocasião da dilatação ou colocação do stent (Figura 2). Este dispositivo é removido ao final do procedimento. Figura 2 modelos de protetor cerebral Câmara Técnica de Medicina Baseada em Evidências/Unimed Central de Serviços Auxiliares - RS 4

2. CONDIÇÃO CLÍNICA O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é a segunda causa de morte no mundo, e a terceira em países industrializados, atrás somente das causas cardíacas e oncológicas. É também a maior causa de incapacitação e dependência. Nos Estados Unidos ocorrem 500.000 novos casos por ano, dos quais 50% vão a óbito, 25% ficam permanentemente incapacitados e só 5% retornam ao trabalho 1. No Brasil, o progressivo aumento da expectativa de vida e envelhecimento da população, vem tornando o AVC causa cada vez mais importante de morbimortalidade, especialmente em maiores de 55 anos, onde se constata que a incidência de AVC dobra a cada década. A doença cerebrovascular compartilha os fatores de risco conhecidos para a doença aterosclerótica e cardiovascular em geral: hipertensão, tabagismo, diabetes, dislipidemias, obesidade e sedentarismo, entre outros. Entretanto, outros dois importantes fatores de risco são causas específicas de AVC: fibrilação atrial e estenose carotídea. A estenose carotídea é responsável por 20% dos AVCs 2. A bifurcação da artéria carótida comum, local de origem da carótida interna, é o local mais frequente de lesão aterosclerótica no Sistema Nervoso Central (SNC). A estenose carotídea unilateral é geralmente assintomática se o Trígono de Willis está completo e pérvio, entretanto, estenoses acentuadas, especialmente se bilaterais, causam hipoperfusão do hemisfério ipsilateral podendo levar ao AVC. Além da lesão estenosante, a aterosclerose carotídea acentuada atua como fonte embólica para o SNC. Uma lesão é classificada como sintomática quando houve manifestação neurológica prévia, compatível anatomicamente, ou assintomática. O tratamento da estenose carotídea torna-se importante, portanto, na medida em que é causa independente e tratável de AVC. 3. TRATAMENTO ATUAL E ALTERNATIVAS O tratamento da estenose de carótida consiste no controle da progressão da placa aterosclerótica e do risco tromboembólico através de modificação de fatores de risco e intervenções farmacológicas quando indicado. A endarterectomia carotídea (EAC) é o tratamento mais difundido e estabelecido para manejo da estenoses carotídeas. Essa cirurgia consiste na realização de incisão cervical, seguida por abertura da artéria e remoção da placa aterosclerótica. Diversos estudos demonstraram a efetividade da cirurgia em diminuir o risco de AVC em casos de estenoses sintomáticas moderadas a acentuadas 4-7 ou estenoses assintomáticas acentuadas 8-10. Os resultados desses estudos são válidos para pacientes em boas condições cirúrgicas e em centros de excelência, com baixas taxas de complicações operatórias (<6%). No caso específico das estenoses assintomáticas, vale ressaltar que meta-análise da Cochrane 11 considera o benefício da cirurgia com significância estatística limítrofe e benefício absoluto extremamente pequeno em termos de redução de risco. Os principais estudos que embasam o uso da endarterectomia (EAC) para prevenção de AVE foram realizados pelo grupo NASCET (North American Symptomatic Carotid Endarterectomy Trial) e pelo ECST (European Carotid Surgery Trialists Collaborative Group). O NASCET iniciou em 1987 e foi um ensaio clínico no qual pacientes com estenose carotídea e AVE nos últimos 120 dias foram randomizados para tratamento clínico ou EAC. A randomização de pacientes com estenose acentuada (70 à 99%) foi interrompida em 1991, após a inclusão de 659 pacientes, por evidências claras de benefício para um dos grupos. A publicação original de 1991 6 mostrou risco de AVE ipsilateral em 2 anos de 26% versus 9% (p<0,01) em pacientes submetidos a tratamento clínico ou EAC, respectivamente. Em 1998 4 foram publicados os resultados relativos aos pacientes com estenoses menos graves. Para Câmara Técnica de Medicina Baseada em Evidências/Unimed Central de Serviços Auxiliares - RS 5

indivíduos com estenose entre 50 e 79% houve discreto benefício favorável a EAC para o desfecho de AVE ipsilateral (15,7 x 22,2%; p=0,045), sendo necessário tratar 15 pacientes para evitar-se 1 AVE ipsilateral. Nesta publicação os autores enfatizam de que, especialmente nesses pacientes em que o benefício da cirurgia é pequeno, o procedimento só seja realizado por equipe de excelência com taxa de complicação igual ou menor do que a relatada no estudo ( 3%), pois de outra forma o benefício potencial da cirurgia seria substituído por um prejuízo aos pacientes. Para pacientes com estenoses menores de 50% a cirurgia não apresentou benefício. Em 2000 12 foram publicados os resultados finais do acompanhamento de até 7 anos dos pacientes com estenoses entre 70 e 99%. Esta publicação confirmou a eficácia em longo prazo da EAC na prevenção de AVE ipsilateral (28,3 x 8,9%; p<0,001). Os resultados do ECST 13-15 são similares aos do NASCET quando as medidas para avaliação do grau de estenose são padronizadas. (Usaremos aqui as medidas já convertidas para os valores do NASCET [fórmula para conversão: ECST = 0,6 x NASCET + 40]). Para pacientes sintomáticos e com estenoses acentuadas (>50%) a mortalidade ou AVE em 3 anos foi de 12,3 x 21,9% para cirurgia ou tratamento clínico, respectivamente. O estudo demonstrou não haver benefício da endarterectomia sobre o tratamento clínico em pacientes com estenoses leves ou moderadas (<50%), pelo menos nos primeiros 4-5 anos de seguimento. Complicações da EAC e critérios de excelência para equipes cirúrgicas A EAC está associada a riscos trans e pós-operatórios de AVC, reestenose (15%), além de complicações clínicas como lesão de nervo craniano, hematoma cervical e problemas cardíacos em pelo menos 10% dos casos. A gravidade das complicações da cirurgia de carótida fez com que os principais estudos tivessem critérios para seleção de cirurgiões. No NASCET, os cirurgiões de 50 centros americanos e canadenses escolhidos para participação no estudo demonstraram taxa de complicações <6%, em pelo menos 50 cirurgias nos últimos 2 anos. Apesar dos considerados aceitáveis 6%, a taxa de complicações trans e pós-operatórias ao final do NASCET foi de 2%. Também por isso, a American Stroke Association em diretriz de 1998 20 considera que, para que seja mantido o benefício da endarterectomia demonstrado nos ensaios clínicos, a taxa de complicações trans e pós-operatórias deve ser menor de 3%, sob pena de taxas maiores de complicações anularem completamente qualquer potencial benefício da cirurgia (nível de evidência B). Outro estudo 16 demonstrou que há relação inversa entre o volume cirúrgico médio dos cirurgiões e dos hospitais em que são realizadas as EAC com a incidência de morte ou AVE peri-operatório. Comparando os extremos (cirurgiões com volume <15 EAC/ 4 anos em hospitais baixo volume versus cirurgiões com alto volume operando em hospitais também de alto volume) o risco dessas complicações foi de 13,6 x 3,9%, respectivamente. Opção terapêutica Pelos resultados limitados do tratamento clínico e complicações da cirurgia, a técnica endovascular foi introduzida nesta área com a expectativa de ser mais efetiva e com menor taxa de complicações, além de ser um procedimento menos invasivo, com recuperação mais rápida e possibilidade de uso em indivíduos não candidatos a EAC. As evidências quanto ao uso desse método serão descritas a seguir. 4. RECOMENDAÇÃO QUANTO AO TRATAMENTO ENDOVASCULAR COM STENT DE ESTENOSES CAROTÍDEAS 4.1 Objetivo Determinar se há evidências que suportem o tratamento endovascular com stent em pacientes portadores de estenose carotídea. Câmara Técnica de Medicina Baseada em Evidências/Unimed Central de Serviços Auxiliares - RS 6

4.2 Resultados 4.2.1 Avaliações de tecnologias em saúde, revisões sistemáticas e recomendações nacionais e internacionais NICE (NHS Inglaterra): guideline para prevenção de AVC em pacientes com AVC isquêmico ou AIT, publicado em setembro de 2006 CCOHTA (Canadá Governo Federal): uma avaliação preliminar (ré-assessment) publicada em novembro 2002. NGC (Dept of Health Estados Unidos): recomendação publicada em setembro de 2005 Diretrizes nacionais e internacionais: Diretrizes da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia 26 para tratamento de estenoses sintomáticas ou assintomáticas. Apresenta fluxogramas de tratamento cirúrgico ou clínico para estenose carotídea, não aborda tratamento endovascular. Guidelines da Sociedade Canadense de Neurologia de 1997. Devido a não atualização dessa diretriz, ela não foi considerada. Guidelines da American Heart Association/American Stroke Association sobre prevenção de novo AVC em pacientes com AIT e AVC, publicado em fevereiro de 2006, apresenta a recomendação para realização de angioplastia com stent. Portaria do Ministério da Saúde com diretrizes para implante de prótese endovascular em doença obstrutiva das artérias carótidas e tronco supra aórtico foi publicada em 12/07/2002. UNIMEDs: uma diretriz da Unimed-Paraná Sínteses das revisões e recomendações encontradas: A recomendação da NICE 17 expressa dúvidas com relação à eficácia da colocação de stents em estenoses de carótida quando comparada à endarterectomia. Consideram que os resultados obtidos em longo prazo permanecem não esclarecidos e que há incertezas sobre quais os pacientes teriam maior benefício com o procedimento. ré-assessment da CCOHTA 2 : nesse tipo de pré-avaliação é realizada uma revisão menos profunda da literatura com objetivo de definir a necessidade ou não da instituição iniciar uma HTA, conforme as informações já disponíveis. Publicada em novembro de 2002, esta pré-avaliação considerou 4 ensaios clínicos randomizados (ECR) publicados, 3 ensaios em andamento, 3 revisões sistemáticas completas, duas em andamento e 4 diretrizes baseadas em evidências. Dos quatro ECR publicados, dois foram interrompidos precocemente por problemas de segurança ou dificuldade na inclusão de pacientes. Os autores concluem por não indicar que a CCOHTA desenvolva uma HTA nesse momento por não ter sido encontrada diferença em desfechos clínicos de morte ou AVC entre as alternativas terapêuticas a serem estudadas (endarterectomia versus angioplastia/stent). Consideram ainda que as evidências disponíveis são de difícil valorização pelo fato de apenas um terço dos pacientes do grupo intervenção ter usado stent, enquanto que os demais foram submetidos somente angioplastia sem stent. Por ser mais antiga esta revisão não contempla 3 ensaios clínicos importantes publicados posteriormente. Câmara Técnica de Medicina Baseada em Evidências/Unimed Central de Serviços Auxiliares - RS 7

A recomendação da NGC 18 considera que a angioplastia com colocação de stent em carótida não é inferior à EAC em pacientes sintomáticos com estenose severa (>70%), quando a estenose é de difícil acesso cirúrgico, há condições médicas presentes que aumentem o risco cirúrgico e ou quando existem outras circunstâncias específicas, como, por exemplo, estenose induzida por radiação ou reestenose após endarterectomia (indicação Classe IIb, nível de evidência B). A angioplastia deve ser realizada por operadores com taxas de mortalidade e morbidade estabelecidas em 4 a 6%, similares às descritas em ensaios clínicos de EAC e angioplastia (Indicação IIa, nível de evidência B). O Guideline da AHA/ Stroke 19 traz as mesmas recomendações descritas acima pela NGC. A Portaria do Ministério da Saúde 20 n 451 de 12/07/2002 considera que há consenso quanto à indicação de implante de stent para as seguintes situações (Indicação Classe I): 1) pacientes sintomáticos com estenose >50% ou assintomáticos com estenose >80% e que possuam contra-indicação ou alto risco para endarterectomia; 2) pacientes com estenose >60% da origem da carótida comum; 3) endarterectomia prévia ou reestenose pós endarterectomia. Consideram que há controvérsia (Indicação de Classe II) quanto a indicação de endoprótese em pacientes sintomáticos com estenose >50% ou assintomáticos com estenose >80% e que tenham indicação de endarterectomia e anatomia favorável para stent. Comentário: Nesta portaria foi considerada como indicação de classe I ou Indicação de consenso, aquela baseada em estudos randomizados ou na opinião majoritária de especialistas. Não são mencionados os estudos que embasam estas recomendações. 4.2.2 Meta-análises Foram localizadas algumas meta-análises e revisões sistemáticas, entretanto, a maioria foi publicada antes de 2006 e não englobam 2 ensaios clínicos importantes de análise de não inferioridade da angioplastia em relação à endarterectomia. Descreveremos, portanto, a seguir as evidências mais recentes encontradas. A Revisão da Cochrane 21 publicada em agosto de 2007 incluiu 12 ensaios clínicos (3227 pacientes). Na análise de desfecho primário, qualquer tipo de AVC ou morte em 30 dias, os resultados foram favoráveis ao procedimento de endarterectomia quando comparado à angioplastia com stent (OR=1,39, P=0,02). A angioplastia mostrou-se superior à EAC quando analisada taxas de complicações neurológicas, neuropatia pares cranianos em 30 dias (OR 0,07, P<0,01). Conclusão da revisão: os dados analisados são difíceis de serem interpretados devido à heterogeneidade dos ensaios clínicos (pacientes, procedimentos endovasculares e duração do seguimento diferentes), não embasando uma troca da prática clínica na recomendação de endarterectomia como tratamento de escolha para estenose de carótida. A Meta-análise publicada 22 em outubro de 2007 incluiu 7 ensaios clínicos randomizados que preenchiam os critérios de inclusão. Foi analisado um total de 2972 pacientes (1480 randomizados para endarterectomia e 1492 randomizados para angioplastia.). Quatro dos sete estudos incluíram apenas pacientes com estenose de carótida sintomática (Leicester, Kentucky A, Wallstent, EVA-3S, SPACE). Três ensaios (CAVATAS, Kentucky, Câmara Técnica de Medicina Baseada em Evidências/Unimed Central de Serviços Auxiliares - RS 8

SAPPHIRE) analisaram pacientes com estenose sintomática e assintomática. O ensaio clínico SAPPHIRE incluiu apenas pacientes de alto risco para EAC. Nos três ensaios mais recentes (EVA-3S, SPACE, SAPPHIRE) foram utilizados dispositivos de proteção distal durante a realização da angioplastia. Segue a descrição dos principais estudos analisados. O Carotid and Vertebral Transluminal Angioplasty Study (CAVATAS) 23 foi um estudo multicêntrico, publicado em 2001, que randomizou 504 pacientes com qualquer grau de estenose, sintomáticos ou não, potencialmente candidatos a endarterectomia, para tratamento endovascular (com ou sem stent) ou cirurgia convencional (endarterectomia). O seguimento médio foi 1,95 anos até o momento da publicação do estudo. Os resultados são apresentados com análise por intenção de tratamento. A maioria dos pacientes incluídos apresentava estenose carotídea acentuada (média de 86%+-9). Os principais desfechos, morte ou AVC no seguimento de 30 dias, não foram diferentes entre os grupos, analisados conjuntamente ou isoladamente (6% em ambos grupos). Estes resultados se mantiveram para os 96 pacientes cujo acompanhamento foi maior de 3 anos (14,3 x 14,2%). Resultados de desfechos secundários mostram menor incidência de complicações relacionadas a incisão cervical (hematoma e paralisia de nervo craniano) nos pacientes submetidos ao tratamento endovascular. Comentário: uma importante limitação deste estudo é o fato de somente em 26% dos pacientes randomizados para o tratamento endovascular ter sido utilizado stent, o que limita a comparação plena entre endarterectomia e o tratamento endovascular considerado atualmente ideal (angioplastia+stent). Brooks conduziu um ensaio clínico comparando angioplastia com stent ou endarterectomia realizado em um único hospital que deu origem a duas analises: em pacientes com estenoses sintomáticas nos últimos 3 meses, maiores de 70% e em condições cirúrgicas e outro incluiu pacientes com estenoses assintomáticas e maiores que 80%. Em 2001 foram publicados os resultados do acompanhamento de 30 dias dos pacientes sintomáticos (n=104) 24 e em 2004, o acompanhamento de 48 meses dos assintomáticos (n=89) 25. Apenas um caso de morte por infarto do miocárdio após endarterectomia ocorreu entre todos pacientes randomizados, não tendo sido observados outros casos de AVC ou morte no seguimento de 30 dias. Um caso de acidente vascular cerebral transitório foi descrito no grupo submetido a tratamento endovascular. Lesão de nervo craniano ocorreu em 4 pacientes (7,8%) dos pacientes submetidos a endarterectomia e em nenhum tratado pelo método endovascular. Os autores concluem que os dois tratamentos são igualmente seguros e eficazes no tratamento de estenoses carotídeas sintomáticas e assintomáticas. Comentário: não foram publicados até o momento dados de seguimento a médio-longo prazo dos pacientes com estenoses carotídeas sintomáticas, cujos resultados de 30 dias foram publicados em 2001. No único centro envolvido nesse estudo, todos os procedimentos foram realizados por equipe extremamente experiente e qualificada para a cirurgia aberta ou para angioplastia com stent. O estudo Leicester 26 e o Wallstent 27 foram dois ensaios clínicos interrompidos precocemente por questões de segurança. No Leicester após 23 Câmara Técnica de Medicina Baseada em Evidências/Unimed Central de Serviços Auxiliares - RS 9

pacientes terem sido randomizados, 5 de 7 pacientes submetidos ao stent tiveram um AVC. No Wallstent, na avaliação de 30 dias, após a randomização de 219 pacientes, a taxa de AVC ou morte foi significativamente maior no grupo tratado com stent do que no submetido à endarterectomia (12,1 x 4,5%; p<0,05). O SAPPHIRE 28 foi um estudo multicêntrico americano publicado em 2004, que comparou o uso de stent associado ao dispositivo de proteção cerebral versus endarterectomia em pacientes com estenoses sintomáticas >50% ou assintomáticas >80%. Todos pacientes deveriam ter pelo menos uma ou mais comorbidade cardiopulmonar (ver ANEXO I). Foram randomizados 167 pacientes para cada braço do estudo e 71% dos pacientes incluídos tinham estenoses assintomáticas. Os cirurgiões e médicos intervencionistas selecionados para participação no estudo deveriam estar de acordo com os critérios mínimos da American Heart Association em termos de taxa de morte ou AVE peri-procedimento (<6%). A média de EAC dos cirurgiões incluídos foi de 30/ano (15 à 100) e os médicos intervencionistas tinham histórico de 20 à 700 procedimentos carotídeos (média de 64). O desfecho combinado de morte ou AVC em 30 dias e AVC ou morte de causa neurológica em 1 ano foi de 5,1 x 7,5% (p=0,40), respectivamente para tratamento endovascular e endarterectomia. Quando foi associado infarto do miocárdio (IAM) ao desfecho, a diferença entre os grupos foi significativa (12,1 x 20%, p=0,05). Desfechos secundários como paralisia de nervo craniano, revascularização e tempo de permanência hospitalar favoreceram o tratamento endovascular. Os autores destacam que os procedimentos foram realizados por equipes de excelência em suas áreas e que os resultados não são generalizáveis para pacientes de baixo risco cirúrgico. Comentário: a definição de IAM utilizada foi um aumento da CK >2 vezes o limite da normalidade, com fração MB compatível com IAM, sem terem sido consideradas alterações no ECG ou sintomas do paciente. Com esta definição, casos de IAM com pouca repercussão clínica podem ter sido considerados desfechos. O SPACE 29 foi um estudo multicêntrico, de não-inferioridade, publicado em outubro de 2006, que incluiu 1200 pacientes com estenose de carótida sintomática, randomizados após 180 dias do evento isquêmico (AVC ou AIT) para angioplastia com stent (n=605) ou endarterectomia (n=595). O estudo descreve seguimento de 24 meses, entretanto, os desfechos são analisados em 30 dias. A taxa de evento combinado mortalidade e AVC ipsilateral após 30 dias do procedimento foi de 6,84% após angioplastia com stent e de 6,34% após endarterectomia (diferença absoluta de 0,51% IC90%=-1,89 a 2,91 com p=0,09 para não-inferioridade). A taxa de falha do procedimento foi de 3,17% para angioplastia e de 2,05% para endarterectomia. (OR=1,56 IC95%=0,71-3,56). Comentário: não foram publicados até o momento dados de seguimento de médio-longo prazo. O estudo Endarterectomy versus Stenting in Patients with Symptomatic Severe Carotid Stenosis (EVA-3S) 30 foi um estudo multicêntrico francês, randomizado, de não-inferioridade, publicado em outubro de 2007, que Câmara Técnica de Medicina Baseada em Evidências/Unimed Central de Serviços Auxiliares - RS 10

comparou angioplastia com stent com endarterectomia em pacientes sintomáticos com estenose de carótida maior do que 60%. O desfecho primário foi incidência de AVC (isquêmico ou hemorrágico) ou morte após 30 dias do procedimento. O estudo foi interrompido precocemente após a inclusão de 527 pacientes por razões de segurança e futilidade. A incidência de AVC ou morte foi de 3.9% após EAC (IC95%=2,0-7,2) e de 9,6% após angioplastia com stent (IC95%=6,4-14,0), sendo o risco relativo da angioplastia de 2,5 (IC95%=1,2-5,1). A incidência de AVC ou morte após 6 meses de seguimento foi de 6,1% após EAC e 11,7% após angioplastia com stent (P=0,02). Não houve diferença estatística entre os procedimentos em relação às taxas de complicações sistêmicas e locais severas, entretanto, lesões de nervos cranianos foram mais comuns em pacientes submetidos à EAC em relação à angioplastia (7,7% vs 1,1%, P<0,01). Comentários: o estudo incluiu centros com corpo clínico heterogêneo, com diversos graus de experiência em angioplastia, incluindo centros em que o investigador realizava os procedimentos sob supervisão de um tutor. O estudo não encontrou diferença estatística quando analisou os desfechos controlando para número de procedimentos prévios realizados pelo investigador, ou experiência do centro. Não foram publicados até o momento dados de longo prazo. Resultados da Meta-análise: os resultados combinados dos estudos demonstram que a angioplastia com stent estaria relacionada com aumento de 39% na incidência do desfecho combinado de morte e qualquer AVC em 30 dias após o procedimento em comparação com a endarterectomia (OR=1,39 IC95%=1,05-1,84). Para ocorrência de AVC isquêmico ipsilateral em 30 dias o risco aumenta em 48% (OR=1,48 IC95%=1,05-2,07), qualquer AVC em 30 dias (OR=1,50 IC95%=1,05-2,16), morte ou AVC após 6 meses do procedimento (OR=1,99 IC95%=1,09-3,62) e risco de falha do procedimento (OR=3,42 IC95%=2,03-5,79). Entretanto, houve redução significativa no risco de neuropatia craniana após 30 dias do procedimento em favor da angioplastia com stent (OR=0,15 IC95%=0,09-0,26). Não houve diferença significativa entre os procedimentos quando analisado morte ou AVC em 1 ano de seguimento (OR=1,01 IC95%=0,71-1,44). Conclusões da Meta-análise: os autores concluem que há evidências significativas crescentes em favor a um melhor desfecho após realização de CEA quando comparada à CAS. Como resultado, a CEA permanece como tratamento padrão da estenose de carótida. Até o presente, a angioplastia com stent de carótidas deve ser considerada apenas em centros especializados com grande volume de procedimentos, em pacientes selecionados. 4.2.3 Ensaios clínicos randomizados Os ensaios clínicos relevantes publicados até o momento foram incluídos nas duas meta-análises e já foram descritos. 4.2.4 Ensaios clínicos em andamento CREST (Carotid Revascularization Endarterectomy versus stenting trial) iniciado em dezembro de 2000. Coordenação: Prof. Robert W. Hobson. Newark, EUA. ICSS (International Carotid Stenting Study) iniciado em maio de 2001. Coordenação: Prof. Maritn M Brown Londres, Inglaterra. Câmara Técnica de Medicina Baseada em Evidências/Unimed Central de Serviços Auxiliares - RS 11

5. Benefícios esperados 5.1 Redução de mortalidade ou AVC em médio-longo prazo (>2-5 anos) Somente um estudo com número pequeno de pacientes com estenoses assintomáticas 15 mostrou eficácia e segurança equivalentes entre os grupos no seguimento de médio prazo (48 meses). 5.2 Redução de mortalidade ou AVC em 1 ano: A meta-análises publicada não demonstra diferença entre a angioplastia com ou sem stent e endarterectomia na incidência do desfecho combinado de morte ou AVC. 5.3 Redução de mortalidade ou AVC em 30 dias: A revisão sistemática e a metanálise demonstram superioridade da endarterectomia em relação à angioplastia na incidência do desfecho combinado de morte ou AVC. 5.4 Redução de lesão de nervo craniano: Evidências favorecem o tratamento endovascular. Câmara Técnica de Medicina Baseada em Evidências/Unimed Central de Serviços Auxiliares - RS 12

6. Interpretação e Recomendações 1) A endarterectomia (cirurgia a céu aberto) permanece como a opção terapêutica de escolha para as estenoses carotídeas com indicação de intervenção. Esta recomendação baseia-se: (1) na ampla experiência e seguimento em longo prazo com este procedimento, (2) nos ensaios clínicos randomizados e meta-análises que demonstram mortalidade e taxa de AVC equivalentes aos procedimentos alternativos nos seguimentos 1 ano (3) na falta de evidências sobre a eficácia e segurança do método endovascular em longo prazo. (Nível de evidência A) 2) Não há indicação do uso de angioplastia com stent, associada ou não a dispositivos de proteção cerebral, em pacientes com estenoses carotídeas que não teriam indicação de ver indicações abaixo endarterectomia. * 3) A demonstrada experiência e habilidade do cirurgião e do médico intervencionista são fundamentais para que possa ser esperado um benefício da endarterectomia ou do tratamento endovascular sobre o tratamento clínico. A incidência máxima de complicações trans ou pósprocedimento aceitável é de 3% para pacientes assintomáticos e 6% para sintomáticos. (Nível de evidência B) 4) Em pacientes de alto risco cirúrgico (ver ANEXO I para definição de alto risco) a colocação de stent carotídeo é uma alternativa a endarterectomia com resultados clínicos e anatômicos equivalentes em curto prazo. (Nível de evidência B) 5) Em pacientes com alterações anatômicas cervicais determinadas por cirurgia prévia ou radioterapia, ou em estenoses carotídeas acima do nível da 2ª vértebra cervical, o tratamento endovascular pode ser considerado como alternativa. (Nível de evidência C) * São consideradas indicações definidas de endarterectomia as estenoses entre 70 e 99%, em pacientes sintomáticos ou não. São consideradas possíveis indicações, as estenoses sintomáticas entre 50 e 69% e assintomáticas entre 60 e 69%. A medida do grau de estenose carotídea pela angiografia digital deve seguir os critérios do estudo NASCET, onde % estenose = ((1-N)/D)x 100, sendo N a medida da luz arterial no ponto de maior estenose e D a medida da luz da artéria carótida interna a jusante da estenose no ponto em que as paredes se tornam paralelas. Câmara Técnica de Medicina Baseada em Evidências/Unimed Central de Serviços Auxiliares - RS 13

ANEXO I Critérios de alto risco cirúrgico para inclusão no estudo SAPHIRE 18 Pelo menos 1 dos seguintes: - doença cardíaca significativa (insuficiência cardíaca congestiva, ergometria anormal, necessidade de cirurgia cardíaca aberta) - doença pulmonar grave - oclusão carotídea contra-lateral - paralisia no nervo laríngeo contra-lateral - radioterapia ou cirurgia radical cervical prévia - estenose recorrente após endarterectomia - idade maior de 80 anos - indivíduos de alto risco cirúrgico classe ASA III, IV e V * * ultimo critério não estava explicito no estudo SAPHIRE, mas é uma sugestão do especialista. Câmara Técnica de Medicina Baseada em Evidências/Unimed Central de Serviços Auxiliares - RS 14

7. BIBLIOGRAFIA 1. Zivin C. In: Goldman: Cecil Textbook of Medicine 22 nd ed. Approach to cerebrovascular diseases. Chapter 439: 2280-88. Sauders Company 2004. 2. CCOHTA. No.10 Nov 2002. Pre-Assessment: Carotid Stenting for the Treatment of Carotid Artery Stenosis. 3. Qureshi AI, Kirmasni JF, Divani AA, Hobson II RW. Carotid angioplasty with or without stent placement versus carotid endarterectomy for treatment of carotid stenosis: a metaanalysis. Neurosurgery 56(6):1171-9, 2005. 4. Barnett HJ, Taylor DW, Eliasziw M, Fox AJ, Ferguson GG, Haynes RB, Rankin RN, Clagett GP, Hachinski VC, Sackett DL, Thorpe KE, Meldrum, HE, Spence JD. Benefit of carotid endarterectomy in patients with symptomatic moderate or severe stenosis: North American Symptomatic Carotid Endarterectomy Trial Collaborators. N Engl J Med 339:1415 1425, 1998. 5. MRC European Carotid Surgery Trial (ECST): Randomised trial of endarterectomy for recently symptomatic carotid stenosis: Final results of the MRC European Carotid Surgery Trial (ECST). Lancet 351:1379 1387, 1998. 6. North American Symptomatic Carotid Endarterectomy Trial Collaborators: Beneficial effect of carotid endarterectomy in symptomatic patients with high-grade carotid stenosis: North American Symptomatic Carotid Endarterectomy Trial Collaborators. N Engl J Med 325:445 453, 1991. 7. North American Symptomatic Carotid Endarterectomy Trial Collaborators: North American Symptomatic Carotid Endarterectomy Trial: Methods, patient characteristics, and progress. Stroke 22:711 720, 1991. 8. Asymptomatic Carotid Atherosclerosis Study Group: Study design for randomized prospective trial of carotid endarterectomy for asymptomatic atherosclerosis. Stroke 20:844 849, 1989. 9. Executive Committee for the Asymptomatic Carotid Atherosclerosis Study: Endarterectomy for asymptomatic carotid artery stenosis: Executive Committee for the Asymptomatic Carotid Atherosclerosis Study. JAMA 273:1421 1428, 1995. 10. Hobson RW II, Weiss DG, Fields WS, Goldstone J, Moore WS, Towne JB, Wright CB: Efficacy of carotid endarterectomy for asymptomatic carotid stenosis: The Veterans Affairs Cooperative Study Group. N Engl J Med 328:221 227, 1993. 11. Coward JL, Featherstone RL, Brown MM. Safety and Efficacy of endovascular Treatment of Carotid Artery Stenosis Compared With Carotid Endarterectomy A Cochrane Systematic Review of the Randomized Evidence. Stoke 36: 905-11, 2005. 12. Paciaroni M; Eliasziw M; Sharpe BL; Kappelle LJ; Chaturvedi S, Meldrum H; Barnett HJM; for the North American Symptomatic Carotid Endarterectomy Trial (NASCET) Group. Long-Term Clinical and Angiographic Outcomes in Symptomatic Patients With 70% to 99% Carotid Artery Stenosis. Stroke 31:2037-42, 2000. 13. European Carotid Surgery Trialists Collaborative Group. MRC European Carotid Surgery Trial: interim results for symptomatic patients with severe (70 99%) or with mild (0 29%) carotid stenosis. Lancet 337:1235 43, 1991. 14. Warlow CP. Symptomatic patients: the European Carotid Surgery Trial (ECST). J Mal Vasc 18:198 201, 1993. 15. European Carotid Trialists Collaborative Group. Endarterectomy formoderate symptomatic carotid stenosis: interim results from the MRC European Carotid Surgery Trial. Lancet. 347:1591 3, 1996. 16. Feasby TE, Quan H, Ghali WA. Hospital and surgeon determinants of carotid endarterectomy outcomes. Arch Neurol 59(12):1877-81, 2002. Câmara Técnica de Medicina Baseada em Evidências/Unimed Central de Serviços Auxiliares - RS 15

17. NICE. Interventional Procedures Programme. Interventional procedures overview of carotid artery stent placement for carotid stenosis. September 2006. 18. NGC. National Guideline Clearinghouse. Guidelines for prevention of stroke in patients with ischemic stroke or transient ischemic attack. September 2005 19. Sacco et al. Guidelines for Prevention of Stroke in Patients with IS or TIA. Stroke 37: 577-617, 2006. 20. Diretrizes para o implante de prótese endovascular extracardíaca. Ministério da Saúde. Portaria n 451 de 12/07/2002. www.saude.gov.br 21. The Cochrane Reviews. Percutaneous transluminal angioplasty and stenting for carotid artery stenosis. Date of last substantive update: August 14. 2007 22. Luebk T., Aleksic M., Brunkwall J. Meta-analysis of randomized trials comparing carotid endartectomy and endovascular treatment. Eur J Vasc Endovasc Surg 34: 470-479, 2007. 23. Carotid and Vertebral Artery Transluminal Angioplasty Study (CAVATAS) Investigators: Endovascular versus surgical treatment in patients with carotid stenosis in the Carotid and Vertebral Artery Transluminal Angioplasty Study (CAVATAS): A randomised trial A report of the CAVATAS Investigators. Lancet 357:1729 1737, 2001. 24. Brooks WH, McClure RR, Jones MR, Coleman TC, Breathitt L: Carotid angioplasty and stenting versus carotid endarterectomy: Randomized trial in a community hospital. J Am Coll Cardiol 38:1589 1595, 2001. 25. Brooks WH, McClure RR, Jones MR, Coleman TL, Breathitt L. Carotid angioplasty and stenting versus carotid endarterectomy for treatment of asymptomatic carotid stenosis: a randomized trial in a community hospital. Neurosurgery 54(2):318-24, 2004 26. Naylor AR, Bolia A, Abbott RJ, Pye IF, Smith J, Lennard N, Lloyd AJ, London NJ, Bell PR: Randomized study of carotid angioplasty and stenting versus carotid endarterectomy: A stopped trial. J Vasc Surg 28:326 334, 1998. 27. Alberts MA, McCann R, Smith TP: Schneider WALLSTENT Endoprosthesis Clinical Investigators: A randomized clinical trial of carotid stenting versus endarterectomy in patients with symptomatic carotid stenosis Study design. J Neurovasc Dis 2:228 234, 1997. 28. Yadav JS, Wholey MH, Kuntz RE, Fayad P, Katzen BT, Michkel GJ Bajva T, et al for the: Stenting and angioplasty with protection in patients at high-risk for endarterectomy (SAPPHIRE). Protected Carodi-Artery Stenting versus Endarterectomy in High-Risk Patients. N Engl J Med 351: 1493-1501, 2004. 29. The Space Collaborative Group. 30 day results from the SPACE trial of stent-protected angioplastiy versus carotid endarterectomy in symptomatic patients: a randomized noninferiority trial. Lancet 368 (9543): 1239-47, 2006 30. Mas J-L., Chatellier G., Beyssen B., et al. Endarterectomy versus stenting in patients with symptomatic severe carotid stenosis. N Engl J Med 355: 1660-1671, 2006. Câmara Técnica de Medicina Baseada em Evidências/Unimed Central de Serviços Auxiliares - RS 16