PROCESSO N 000.97.721736-9 (CONTROLE 1679) CIGNA SEGURADORA S.A., por sua advogada e bastante procuradora que esta subscreve, vem, nos autos da ação ORDINÁRLA que move contra ARMAZÉNS GERAIS COLUMBIA S.A. para, em cumprimento ao r. despacho de fls. 1131, impugnar o Laudo da Perícia apresentado às fl.s. 1003/1130, o que faz nos seguintes termos: 1. -Concluiu o Sr. Perito (fls 1019) que o relatório da Dra. Caramico é perfeito em seu método, mas que não levou em consideração todos os elos no manuseio da mercadoria e, por esta razão, entendeu o Sr. Perito que a requerida não era responsável pela descarga dos medicamentos do avião e, conseqüentemente, não o é pelas avarias e faltas nas mercadorias indenizadas pela requerente. 2. -Porém, os documentos adunados ao laudo pericial contrariam a conclusão do Sr. Expert, senão vejamos: 2.1. -A DTA-S (Declaração de Trânsito Aduaneiro Simplificado) foi emitida sem ressalvas sobre quaisquer faltas e/ou avarias que, porventura, houvessem nas mercadorias importadas por ocasião da descarga em Guarulhos. 2.2. -Não houve nenhuma etapa intermediária no transporte rodoviário como evidencia o documento de fls. 1043, vez que o mesmo veículo placas LQ-5680 a serviço da ré mencionado na DTA-S recolheu a carga importada às 00:32 horas do dia 02.02.95 e saiu para entregá-la às 06:45 horas daquele mesmo dia, não havendo interferência de qualquer outra empresa na coleta e no transporte da carga após a chegada no Brasil. 2.3. -Ainda, com relação a falta (extravio) do pallet de "Minulet", constatou-se que referido produto não foi extraviado mas teve o seu pallet destruído no trajeto rodoviário, até porque parte de referido medicamento foi localizado dentro dos Armazéns Columbia quando da vistoria realizada pela Dra. Ida Caramico e confirmada pelo Sr. Perito Judicial (fls. 1011). 2.4. -São inconsistentes, também, as argumentações do Sr. Perito sobre a impropriedade das embalagens que acondicionavam os
medicamentos avariados, já que tais embalagens foram analisadas e, segundo normas do IPT, as mesmas são adequadas para os riscos normais do transporte. 3. -Assim, havendo omissões que não poderiam levar à conclusão a qual chegou o Sr. Perito Judicial, a autora requer a V. Exa. sejam os autos devolvidos ao mesmo para que responda: 3.1. -Por que havia sinais de umidade e manchas na carga sinistrada? 3.2. -O mecanismo de colapso das caixas de papelão não foi esclarecido, vez que a Wyeth-Whitehall procedeu a importação de diversos lotes dos medicamentos aqui referidos, com as mesmas embalagens, havendo destruição da carga somente nesta viagem. O que houve de anormal neste trânsito? 3.3. -Em que momento a Receita Federal colocou os lacres no caminhão placas LQ-5680 para o trânsito aduaneiro? 3.4. -Qual é o vínculo existente entre a empresa executora de ground handling e os Armazéns Gerais Columbia? 3.5. -Quais eram as condições meteorológicas durante a descarga e o transporte rodoviário da carga avariada? 3.6. -Quais etapas compuseram a operação de trânsito rodoviário desde a chegada da carga em Cumbica até as dependências do Columbia? 3.7. -Em termos estritamente tecnológicos, como foi possível ao Vistor Fiscal apontar no Termo de Vistoria Aduaneira que havia inadequação de embalagem? 3.8. -É possível afirmar, em termos estritos, que a ausência de rótulos de advertência
como "handle wi th care" e similares são fatores críticos para provocar ou induzir acidentes em carga paletizada e envolvida por filme de PVC estirado a frio? 4. -Diante do exposto, requer a autora sejam os autos devolvidos ao Sr. Expert, a fim de que o mesmo esclareça as omissões e contradições apontadas, bem como para que responda as indagações ora apresentadas. São Paulo, 01 de julho de 2002.
Morvan Santana Anderáos, engenheiro, CREA 60131/D, perito assistente e compromissado nos autos do processo supra, vem mui respeitosamente apresentar o seu LAUDO DISCORDANTE Composto de 04 Fls de laudo, sem anexos. São Paulo, 28 de junho de 2002 I -CONSIDERAÇÃO INICIAL 1) É nosso entendimento que houve descarga direta da aeronave para o caminhão transportador, chapa LQ 5680, no dia 01.fev.1995, conforme consta da cópia da DTA-S 95000707-2 (fls 1041), complementada pelos dados do documento reproduzido às fls 1043. Neste documento consta como entrada do caminhão no armazém Colúmbia a data de 02.fev.1995, no horário de 00:32h. Discordamos que houve uma etapa intermediária na qual a carga primeiramente foi para a zona primária e, numa etapa posterior, embarcada no caminhão chapa LQ 5680. O documento DTA-S, supra citado (fls 1041) é claro e objetivo, dispensando interpretações. A DT A-S é um documento que permite efetuar a movimentação de cargas importadas sem que as mesmas estejam nacionalizadas. 11 -FATOS RELEVANTES 2) Não houve menção clara, nem comentários, do Sr Perito Judicial da anotação, feita no Termo de Vistoria Aduaneira (fls 1053 e seguintes), de que o medicamento MINULET é o único inexistente nos volumes. É importante destacar que no dia 13 jun 1996, nas dependências do armazém Colúmbia, Av. Preso Wilson n 2220 foram encontrados um total de 30,2 kg do referido MINULET entre os volumes resgatados do acidente (vide fls 1077). Esta falha de registro, com a expressa omissão ao medicamento, configura uma situação atípica e requer detalhamento maior do histórico das ocorrências. Este fato permite que se conclua que o Termo foi redigido sem um completo inventário dos materiais recolhidos do acidente, trazendo prejuízo à caracterização precisa dos fatos ocorridos. 3) Não há uma caracterização factual do momento em que ocorreu efetivamente o acidente pelas razões expostas adiante: a) A carga não foi desmontada ao ser embarcada no avião, conforme atesta corretamente o Perito Judicial (fls 1033); b) O conhecimento aéreo 074-4261-5742 (fls 1039) indica 04 (quatro) paletes e na DTA-S 95000707-2 (fls 1041), emitida na operação de descarga, dia 01.Fev.1995, constam 04 (quatro) paletes com peso total de 1298 kg. Deduz-se que o acidente somente ocorreu após a descarga do avião. 4) O Perito Judicial informa que a mercadoria descarregada estava avariada no dia 02.fev.1995 (fls 1019).
Pelo exposto no item anterior (item 3) fica evidente que, na descarga, a mercadoria se encontrava em perfeitas condições. Disto decorre que o acidente somente ocorreu após a descarga do avião e ANTES da chegada do caminhão ao recinto da Colúmbia (às 00:32h, do dia 02.fev.1995 (fls 1043). É relevante especificar que somente o Armazém Colúmbia S.A. tinha acesso à área de operações de carga e descarga, lá recebeu a mercadoria paletizada e, no trajeto entre o local de recepção da carga e sua efetiva descarga, no recinto alfandegado da Colúmbia, ocorreu o sinistro. 5) O Perito Judicial, às fls 1015, estabelece que a ocorrência do acidente com a carga ocorreu em um dos seguintes pontos: a) Carga do avião em Dublin; b) Durante o vôo; c) Na descarga, provocado pelos operadores do serviço de rampa. Pelo que ficou demonstrado (vide itens 3 e 4, anteriores), o acidente não ocorreu na carga do avião, não aconteceu durante o vôo e também ficou evidente, através do exame documental (vide item 4, acima), que NÃO OCORREU NA OPERAÇÃO DE RAMPA. conforme pode ser comprovado e atestado através do DTA-S 95000707-2 (fls 1041). Neste documento está claramente registrada a existência de 04 (quatro) paletes e no corpo do documento, no espaço próprio para "observações", não constam notas e/ou ressalvas relativas a divergências com o conhecimento aéreo (vide fls 1039). III-CONCLUSÕES 1 ) O acidente somente ocorreu depois da descarga do avião, ocorrida no dia 01.fev.1995, e antes da chegada do caminhão, chapa LQ 5680, ao armazém alfandegado (chegada às 00:32h, do dia 02.fev.1995, fls 1043); 2 ) O acidente ocorreu quando as mercadorias estavam em trânsito, sob os cuidados do 8 Armazém Colúmbia; 3 ) A qualidade e resistência das embalagens foram comprovadas através de ensaios realizados no IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de S. Paulo), conforme pode ser verificado às fls 1084; 4 ) O mecanismo de rompimento das paredes das caixas de papelão, através de "shear force", não está claramente estabelecido, especialmente se forem consideradas todas as etapas da viagem desde a Irlanda até a efetiva descarga em Cumbica; 5 ) Não ficou comprovada a responsabilidade da empresa operadora de rampa ("ground handling") no acidente pela razão de a DTA-S 95000707-2 (fls 1041) ter sido emitida no Aeroporto de Cumbica no dia 01.fev.1995, no ato da operação de descarga, estar atestada por 02 (dois) agentes aduaneiros e nada constar no corpo do documento notas de divergências com o conhecimento aéreo 074-4261-5742 (fls1039). IV-PENDÊNCIAS Pelo fato de o Sr Perito Judicial não ter feito comentários de alguns fatores relevantes ao processo em pauta, pedimos a ele que nos sejam esclarecidas as questões formuladas a seguir:
1. Por que havia sinais de umidade e manchas na carga sinistrada? 2. Entendemos que o mecanismo de colapso das caixas de papelão não está suficientemente esclarecido. Tipos de caixas similares, com medicamentos similares e em condições similares foram empregadas no decorrer de todo o ano de 1995, conforme apurado junto à WYETH WHITEHALL. Este acidente foi único. Como explicar tal fato, levando-se também em conta os testes feitos no IPT? 3. Em que momento e circunstâncias a Receita Federal procedeu ao lacre do caminhão transportador das mercadorias? 4. Qual é o tipo de vínculo existente entre a empresa executora de "ground handling" e a transportadora rodoviária? 5. Quais eram as condições meteorológicas reinantes no Aeroporto de Cumbica por ocasião da descarga das mercadorias? 6. Quais etapas compuseram a operação rodoviária de transferência da carga, desde o seu recebimento no Aeroporto de Cumbica até a efetiva descarga no terminal alfandegado da Colúmbia? 7. Em termos estritamente tecnológicos, como foi possível ao Vistor Fiscal apontar em seu Termo de Vistoria Aduaneira que havia inadequação de embalagem? 8. Pode-se afirmar, em termos estritos, que as ausências de rótulos de advertência, do tipo "handle with care" e similares, são fatores críticos para provocar ou induzir acidentes em carga paletizada e envolvida por filme de PVC estirado a frio?