A GESTÃO AMBIENTAL POR BACIA HIDROGRÁFICA: desafio ao Serviço Social



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1 A GESTÃO AMBIENTAL POR BACIA HIDROGRÁFICA: desafio ao Serviço Social Eugênia Aparecida Cesconeto 1 RESUMO A água é uma das mercadorias mais preciosas do século XXI e desponta como um dos maiores desafios em seu gerenciamento. Este artigo destaca a gestão proposta para a Bacia Hidrográfica da Paraná III, localizada no Estado do Paraná - Brasil. As ações foram elaboradas pelo Comitê de Bacia representado por comissões técnicas (participação do Assistente Social), enfatizando a relevância de práticas prudentes e estímulo ao reuso e usos múltiplos das águas, expressa por eixos temáticos: Saneamento Ambiental e Uso de Recursos Hídricos; Reposição Florestal e Biodiversidade; Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável; Gestão Territorial e Licenciamento Ambiental; e Agropecuária Sustentável. Palavras-Chave: Questão Sócio-Ambiental, Recursos Hídricos, Gestão Ambiental ABSTRACT The water is one of the merchandises most precious of century XXI and blunts as one of the biggest challenges in its management. This article detaches the management proposal for the Hidrográfica Basin of Paraná III, located in the State of the Paraná - Brazil. The actions had been elaborated by the Committee of Basin represented for commissions techniques (participation of the Social Assistant), emphasizing the relevance of practical cautious and stimulaton to it I reuse and uses multiple of waters, express for thematic axles: Ambient sanitation and Use of Hídricos Resources; Forest replacement and Biodiversity; Ambient education and Sustainable Development; Territorial management and Ambient Licensing; sustainable Farming. Key-Words: Partner-Ambient question, Hídricos Resources, Ambient Management 1 INTRODUÇÃO O presente artigo destaca as ações desenvolvidas na Bacia Hidrográfica do Paraná III localizada no Estado do Paraná Brasil, as propostas das comissões técnicas do Comitê de Bacia vão de encontro a defesa dos usos múltiplos das águas 1 Doutoranda em Serviço Social PUC/SP. Curso de Serviço Social - Universidade Estadual do Oeste do Paraná UNIOESTE. E-mail: eugeniacesconeto@uol.com.br.

2 como bem ambiental, de natureza difusa, conforme preceitua o artigo 225 da Constituição Federal. Pois, destaca-se que o problema do acesso à água potável tem implicações essenciais nas negociações atuais e futuras sobre a governabilidade planetária, em sua capacidade de integração de ações comuns na implementação das políticas ambientais e na consecução das metas coletivas para o desenvolvimento dos assentamentos humanos. Quando falamos da água, as divisões geográficas e políticas definidas pela sociedade como os municípios, estados e países, impondo barreiras, não comportam a dinâmica da natureza. Portanto, para gerenciar e resolver conflitos da água sem fronteiras, a partir da década de 70 o Brasil, pautado no modelo francês de gestão dos recursos hídricos, adotou o conceito de bacia hidrográfica, que passou a ser difundido e consolidado no país. A gestão dos recursos hídricos por bacia hidrográfica define um espaço geográfico de atuação para promover o planejamento regional, o desenvolvimento e o intercâmbio entre regiões com interesses comuns, ou entre as que disputam o direito de utilizar a água para determinado fim. Diz respeito também, [...] a necessidade de proteger e conservar as fontes de água e tudo que se relaciona a ela (solo, florestas, matas ciliares, seres vivos, entre outros, atividades econômicas e de ocupação do solo) num determinado ambiente físico promovendo a discussão de soluções com diferentes setores e pessoas. (SILVEIRA, 2006, p.20). A água potável ou não é um elemento fundamental para a sobrevivência humana e das demais espécies vivas do ecossistema. Em pleno século XXI, a água limpa e de qualidade, é um direito que está fora do alcance de muitos habitantes do planeta Terra. Em todo o Globo, mais de um bilhão de pessoas não tem acesso à água tratada e, quase 2,5 bilhões vivem sem saneamento básico, e 80% das doenças e mortes em países em desenvolvimento estão relacionadas à falta de abastecimento de água potável, conforme dados divulgados pelo Ministério do Meio Ambiente em 2005. A disponibilidade de água no planeta é determinada pelo ciclo hidrológico e/ou ciclo da água. Nosso planeta tem 70% de sua superfície coberta por água, somente 30% é terra. Por isso, como diz Oliveira (2004, p.6),

3 Tanto do ponto de vista poético como do ponto de vista científico a Terra é também chamada de Planeta Água. Onde cerca de 97% da água do planeta é salgada, está nos oceanos e mares, 2% água congelada nos pólos (geleiras e calotas polares), 1% água dos rios, lagos, aqüíferos, pântanos etc. A água é importante como ambiente para a vida. E constitui-se elemento vital não só à natureza de um modo geral, como todas as atividades desenvolvidas pelo homem suprindo as necessidades ligadas aos processos biológicos (alimentação e higiene), e outros usos como (produção industrial, irrigação, geração de energia, navegação, pesca e laser, evacuação e diluição de esgotos, controle de enchentes, refrigeração de máquinas, pesca, aqüicultura, entre outros), e que passam a demandar, em decorrência dos usos e dos conflitos societários, a redefinição das condições ecológicas e a interpretação da gestão das políticas ambientais. 2 RECURSOS HÍDRICOS: alguns aspectos legislativos A gestão dos recursos hídricos toma uma dimensão pública com a realização em 1977 da Conferência de Mar del Plata, e dez anos depois (1987) o Brasil começava a pôr em prática uma de suas recomendações fundamentais, ou seja, as diretrizes gerais da política de recursos hídricos. Apesar da existência da Portaria Interministerial n 90, de 29 de março de 1978, que criou o Comitê Especial de Estudos Integrados de Bacias Hidrográficas, com a atribuição de classificar os cursos d`água da União, estudar de forma integrada e acompanhar o uso racional dos recursos hídricos federais com o objetivo de obter o melhor aproveitamento múltiplo de cada bacia, minimizando os efeitos nocivos ao meio ambiente. A Associação Brasileira de Recursos Hídricos (ABRH) manifestou-se pela Carta de Salvador (1987), aprovada durante a realização do VII Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos, sobre a necessidade da criação de um sistema nacional de recursos hídricos e do aperfeiçoamento da legislação pertinente, de modo a congregar o uso múltiplo dos recursos hídricos, a gestão descentralizada e participativa, a criação do sistema nacional de informações de recursos hídricos e desenvolvimento tecnológico e a capacitação do setor. A ação de mobilização continua em 1987, com a produção da Carta de Foz do Iguaçu, ou seja, esse documento delineia os princípios básicos que deveriam

4 ser seguidos no estabelecimento da Política Nacional de Recursos Hídricos, tais como a gestão integrada, o reconhecimento do valor econômico da água e a gestão descentralizada e participativa. Esse processo possibilitou a revisão do Código das Águas de 1934, que disciplinava até recentemente os usos dos recursos hídricos no Brasil. Os órgãos incumbidos do cumprimento das medidas preventivas de proteção e manutenção da qualidade e do uso racional dos recursos hídricos são principalmente os que compõem a Secretaria do Meio Ambiente, da Presidência a República, instituída pela Lei nº 8028, de 12 de abril de 1990 e regulamentada pelos Decretos nº 99.244, de 10 de maio de 1990, e o decreto n 99.274, de 06 de junho de 1990, que regulamentou as Leis n 6.902, de 27 de abril de 1981, diz respeito a criação de Estações Ecológicas e Áreas de Proteção Ambiental, e n 6.938, de 31 de agosto de 1981 que cria a Política Nacional do Meio Ambiente. A Lei n 9.433, de 08 de janeiro de 1997, institui a Política Nacional de Recursos Hídricos e o Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos que estabelece a água é um bem de domínio público e de uso múltiplo, devendo-se assegurar prioridade básica, em situações de escassez, ao consumo humano e de animais. Além disso, outros fundamentos importantes: a bacia hidrográfica como unidade territorial para implementação da política, bem como a necessidade de se integrar a gestão ambiental e a do uso do solo. E a Lei nº 9.984/00 que cria a Agência Nacional de Águas (ANA), essa transformou-se em uma estrutura pública de regulamentação e controle dos múltiplos usos da água. A implementação do Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos permitiu, entre outras conquistas, a elaboração do Plano Nacional de Recursos Hídricos sob a coordenação da Secretaria de Recursos Hídricos do Ministério do Meio Ambiente e com o apoio técnico da ANA. O Ministério do Meio Ambiente estabeleceu sua nova estrutura através do Decreto nº 6.101, de 26 de abril de 2007, a antiga Secretaria de Recursos Hídricos, atual Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano (SRHU) ampliou suas atribuições e passou a integrar os procedimentos de gestão dos Recursos Hídricos e Ambiente Urbano. A SRHU atua como secretaria-executiva do Conselho Nacional de Recursos Hídricos e é composta por 3 departamentos de Recursos Hídricos (DRH), de Ambiente Urbano (DAU), de Revitalização de Bacias (DRB) tendo como

5 destaque as seguintes atribuições, segundo dados do Ministério do Meio Ambiente (2008): formular a Política Nacional dos Recursos Hídricos; propor políticas, planos e normas e definir estratégias nos temas relacionados com: a gestão integrada do uso múltiplo sustentável dos recursos hídricos; a gestão de águas transfronteiriças; a gestão de recursos hídricos em fóruns internacionais; a implantação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos; o saneamento e revitalização de bacias hidrográficas; entre outros. As ações e o planejamento da política nacional de recursos hídricos pautam-se no conhecimento das potencialidades dos recursos hídricos, e utilizam-se da articulação entre as lideranças regionais do Estado, dos municípios e da sociedade civil, como os conselhos municipais, os consórcios intermunicipais e os comitês de bacia hidrográfica, com o objetivo de superar e/ ou enfrentar os desequilíbrios ambientais. 3 A BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO PARANÁ III: diretrizes do plano de ação A Bacia Hidrográfica do Rio Paraná III segundo a Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (2007), constitui-se uma bacia peculiar em termos de uso e conservação dos recursos hídricos nos 28 municípios 2 de sua abrangência direta na região oeste e no Estado do Paraná. Sua área de drenagem é de 8.000 Km² contribui para o potencial energético da maior hidrelétrica do mundo e passa a desafiar o coletivo dos atores sociais no planejamento e gestão do uso múltiplo ou social dos recursos hídricos e naturais, além dos limites do reservatório da Itaipu Binacional 3, tanto no lado brasileiro como paraguaio. Uma realidade geopolítica e de gestão ambiental que reflete as conseqüências e responsabilidades nacionais e internacionais, como a poluição sem fronteiras; a degradação dos ecossistemas; e o uso dos recursos naturais disponíveis. Para subsidiar as ações de conservação da qualidade das águas, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos têm utilizado os 2 Municípios: Altônia, Cascavel, Céu Azul, Diamante do Oeste, Entre Rios do Oeste, Foz do Iguaçu, Guaíra, Itaipulândia, Matelândia, Marechal Cândido Rondon, Maripá, Medianeira, Mercedes, Missal, Nova Santa Rosa, Ouro Verde do Oeste, Pato Bragado, Quatro Pontes, Ramilândia, São José das Palmeiras, São Pedro do Iguaçu, São Miguel do Iguaçu, Santa Helena, Santa Tereza do Oeste, Santa Terezinha do Itaipu, Toledo, Terra Roxa e Vera Cruz do Oeste (www.sema.gov.br/2007). 3 O Lago Binacional de Itaipu formado em 1982, com orla de 1.350 Km2 e largura média de 7 Km vêm assegurando estrategicamente a produção de energia elétrica para o Brasil (em torno de 25%) e para o Paraguai (em torno de 95%), estimada em 14.000 MW (ROESLER, 2002).

6 instrumentos de outorga e licenciamento das atividades potencialmente poluidoras, como estratégia geral, implantou um sistema de monitoramento da qualidade das águas, baseado no conceito de cargas poluentes, e que estes possibilitem usar as informações existentes, complementando-as de modo a adequar a rede de coleta às necessidades de representatividade, seleção de variáveis e freqüência amostral, de modo a possibilitar o efetivo controle e redução das cargas poluentes geradas na área de drenagem da Bacia hidrográfica do Rio Paraná III. No Estado do Paraná a Superintendência de Desenvolvimento de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental (SUDERHSA), funciona como Agência Estadual de Águas, que conjuntamente com os 17 Comitês de Bacias Hidrográficas é responsável pela gestão das políticas hídricas, disciplinando e regulando os usos, e, cobrando dos usuários das águas pelo seu aporte de consumo ou pelo exercício de atividades degradadoras da sua qualidade, pautando-se na Lei Estadual nº 12.726, de 26 de novembro de 1999, que criou o fundo estadual de recursos hídricos e constituiu o sistema de gerenciamento e disciplinamento dos diversos usos de água no território paranaense. Os comitês de bacias hidrográficas são colegiados deliberativos e consultivos e atuam na área de sua unidade de gerenciamento, ou seja, na sua bacia. O Decreto Estadual nº 2.924, de 05 de maio de 2004, no Capítulo I, trata da Constituição do Comitê da Bacia do Paraná III. As competências do Comitê constam no Capítulo III, do referido decreto, o texto regimental destaca as diretrizes definidas pelo Art. 40º da Lei Estadual nº 12.726/99 e Art.5º do Decreto Estadual nº 2.315, de 18 de Julho de 2000. O Comitê da Bacia Hidrográfica do Paraná III é composto por 33 membros titulares e respectivos suplentes, sendo 13 representantes do Poder Público (União 1, Estado 6, Municípios 6), 13 representantes dos Setores Usuários de Recursos Hídricos (Abastecimento de água e diluição de efluentes urbanos 3, Hidroeletricidade 1, Captação industrial e diluição de efluentes industriais 4, Agropecuária e irrigação, inclusive psicultura 3, Drenagem e resíduos sólidos urbanos 1, Lazer, recreação e outros usos não consultivos 1) e 7 (sete) representantes da Sociedade Civil (Organizações não governamentais 2, Entidades de Ensino e Pesquisa 2, Entidades Técnico Profissionais 1, Comunidade Indígenas 1, Área de Proteção Ambiental 1). O Capítulo VII trata das Atribuições dos Membros do Comitê e do Plenário do Comitê, estabelecendo no Art 12 que o desempenho das

7 funções de membro do Comitê é considerado serviço de relevante interesse público, e não será remunerado sob qualquer título. Das proposições definidas pelas Câmaras Técnicas com vistas à construção de diretrizes do Plano de Ação da Bacia do Paraná III, 5 grandes eixos temáticos foram constituídos: Saneamento Ambiental e Uso de Recursos Hídricos; Reposição Florestal e Biodiversidade; Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável; Gestão Territorial e Licenciamento Ambiental; e Agropecuária Sustentável. O Plano de Bacia do Paraná III está em processo de construção, sob a responsabilidade da Universidade Estadual do Oeste do Paraná UNIOESTE, e conta com profissionais de várias áreas, entre eles os Assistentes Sociais, tendo como atribuição definir as propostas de aplicação de recursos financeiros, além de programas e ações que visam promover a integração entre os usuários das águas, a manutenção e a recuperação dos recursos hídricos. Para a concretização desse importante desafio é imprescindível renovar a cooperação entre todos os campos do saber estabelecendo uma maior vinculação da universidade sociedade - meio ambiente, a qual permite o fortalecimento, o aprofundamento e a consolidação do papel da educação em geral, e em particular do Serviço Social, para que de maneira conjunta possamos contribuir de forma ativa e descentralizada na solução dos problemas de gerenciamento dos recursos hídricos. O Serviço Social centra a sua formação e trabalho profissional nas políticas públicas buscando e apresentando respostas às questões sociais, pois é ela que em suas múltiplas expressões, justifica a necessidade da ação profissional junto aos segmentos prioritários das diversas políticas, destacando à criança e ao adolescente, o idoso, as situações de violência contra a mulher e o homem, a luta pela terra, dentre outras formas de garantir e promover os direitos humanos e sociais na contemporaneidade. E vêm buscando gradativamente se inserir de modo mais intenso no debate e implementação de políticas ambientais pautadas na cidadania. Nessa direção buscamos subsídios reflexivos em Iamamoto (1997, p.53) e Wanderlei (2005, p.163) sobre as perspectivas que se abrem no reverso da crise de civilização ou humanidade com indicativos para o trabalho do Assistente Social nos primeiros anos do século XXI. Para os autores, o desafio dá-se na redescoberta

8 de alternativas e possibilidades para o trabalho profissional e formação universitária no cenário atual. Outro ponto é traçar horizontes para a formulação de propostas que façam frente à questão sócio-ambiental e que sejam solidárias com o modo de vida daqueles que a vivem, não só como vítimas, mas como sujeitos que lutam pela preservação e conquista da sua vida, da sua humanidade e de um ambiente melhor para as condições de vida dos sujeitos sociais. Pode-se avaliar das reflexões introduzidas sobre os problemas de gestão dos recursos hídricos, que a situação em que vive a sociedade contemporânea é desafiadora, uma vez que a mesma possui competência e tecnologia para manter os seus recursos naturais em especifico os hídricos, porém padece por incompetência ético-política, pois a contaminação e a destruição dos mesmos são fruto da nossa índole mental, comportamento e práticas. O que nos leva a aproximar o pensamento de Barroco apud Ramos (2002, p. 87), os pressupostos éticos são entendidos como a capacidade humana posta pela atividade vital do ser social, o que supõe capacidade de agir conscientemente com base em escolha de valor, projetar finalidades de valor e objetivá-las concretamente na vida social. Isto é ser livre sem perder a consciência do nós e do meio ambiente, pois vivemos hoje uma crise comum de civilização, dependemos de uma segurança comum e enfrentarmos um futuro comum que estabeleça o equilíbrio necessário nas relações homem-ambiente. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Os profissionais Assistentes Sociais como participantes do processo de construção da gestão integrada dos recursos hídricos, devem pautar-se nos valores éticos, sabendo que suas escolhas afetam a vida de outras pessoas, portanto não podem ignorar a justiça na distribuição dos riscos, custos e benefícios das ações desenvolvidas na área da Bacia Hidrográfica do Paraná III. A sobrevivência humana como um postulado ético do desenvolvimento humano não se insere somente pelo discurso de cuidado e conservação dos recursos hídricos, mas também pelo impulso aos processos de descentralização econômica, autonomia regional, autogestão comunitária, criação de novos espaços de participação política, nos quais a população possa além do manejo dos recursos

9 naturais, também definir formas de convivência e organização social, assim como valores éticos básicos de segurança humana. Assim entende-se que o Serviço Social pode contribuir com a construção de alternativas políticas para a área ambiental, por sua capacidade de analisar a conjuntura e buscar respostas aos conflitos, uma estratégia é a inclusão da discussão sobre a temática ambiental em seus currículos como contexto geral. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Resolução nº 357/05 do CONAMA, usos das águas. Brasília, 2005.. Secretaria de Recursos Hídricos. Plano Nacional de Recursos Hídricos. Brasília, 2006. IAMAMOTO, Marilda Villela. O Serviço Social na contemporaneidade: dimensões históricas, teóricas e ético-políticas. Caderno Debate 6, CRESS-CE, Fortaleza, 1997. OLIVEIRA, Rubens Alves de. (Coord.). Água, um direito de todos. Curitiba: Companhia de Saneamento do Paraná - Sanepar. Diretoria de Meio Ambiente e Ação Social - DMA. Unidade de Serviço Educação Sócio Ambiental - Usea, 2004. PARANÁ. Política Ambiental do Estado do Paraná. Lei Estadual nº 12.726, de 26 de Novembro de 1999, Curitiba, 1999.. Decreto Estadual nº 2.924, de 05 de maio de 2004. Diário Oficial, n. 6722. Curitiba: Secretaria Estadual do Meio Ambiente, 2004. PLANO NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS (PNRH/2006). Disponível em: <http://www.mma.gov.br/2008>. Acesso em: julho 2008. RAMOS, S. R. A construção de projetos coletivos: refletindo aspectos do projeto profissional do Serviço Social. Revista Temporalis, Brasília: ABEPSS, v. 3, n. 5., p. 81-94, 2002. Regimento Interno do Comitê da Bacia Hidrográfica do Paraná III. Aprovado na reunião ordinária de 07 de abril de 2005 (Ata 02/2005 do Comitê da Bacia Hidrográfica do Paraná III). Disponível em <http://www.sema.gov.br/2007>. Acesso em: agosto de 2007. ROESLER, M. R. V. B. et al. Indicadores ambientais: processo de conhecimento e de enfrentamento as questões ambientais. In: SEMINÁRIO NACIONAL ESTADO E POLÍTICAS SOCIAIS NO BRASIL. 2., 2005, Cascavel. Anais... Cascavel: UNIOESTE, 2005.

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