(Pós) Modernidade e as Transformações Culturais: Desafios para a Educação Superior brasileira

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Transcrição:

(Pós) Modernidade e as Transformações Culturais: Desafios para a Educação Superior brasileira Mesa: Desafios do Ensino Superior em face das transformações culturais e tecnológicas ForGRAD Nacional 2018 João Pessoa PB Prof. Dr. Renato Duro Dias Pró-Reitor de Graduação Universidade Federal do Rio Grande - FURG

RESUMO: Esta intervenção pretende discutir as transformações culturais problematizando as características da (pós) modernidade e os desafios nos espaços educativos, especialmente no contexto da educação superior brasileira, tendo como pressupostos uma educação intercultural, os direitos humanos e o respeito às diferenças socioculturais.

Organização da exposição: 1. Características da (pós) modernidade 2. Identidade e dimensões culturais 3. Desafios para a Educação Superior brasileira

(Pós)Modernidade A modernidade tem se caracterizado como: Processo crescente de descontinuidade e de nãolinearidade; Realidades desigualizantes (social e cultural); Modelo de sociedade capitalista constituído/baseado na intolerância e na aniquilação do outro (não-dialógico); Polifonia e complexidade (múltiplos significados pouca escuta);

(Pós)Modernidade A modernidade tem se caracterizado como: Desordem das coletividades e marcada individualização - Levantes (em esfera global) Resignificação profunda das ideias de crise (especialmente do modelos econômico neoliberal) Crise do modelo de ciência/produção do conhecimento (sexista, colonizadora e desencantada) Prática docente hieraquizada, pedagogia universitária centrada no professor (segmentada)

(Pós) Modernidade um tempo superficial, fútil, épico e ardente. Onde o cheio provoca o oco, a saciedade gera a angústia, o permanente é trocado pelo atual, o "mais novo", o "mais moderno". Revelando a sua marca primordial: a paradoxalidade (MORIN, 1989)

(Pós) Modernidade um tempo de transição, de transformação, onde o projeto da modernidade parece ter se cumprido em excesso ou ser insuficiente para solucionar os problemas que assolam a humanidade, vivemos uma condição de perplexidade diante de inúmeros dilemas nos mais diversos campos do saber e do viver. Que, além de serem fonte de angústia e desconforto, são também desafios à imaginação, à criatividade e ao pensamento (SANTOS, 2003)

Identidades e dimensões culturais (estagnação ou mudança) É possível afirmar que não existem culturas estáticas, no entanto existe pelo menos uma tensão: - Uma sociedade que elege, de forma exclusiva, o passado como centro configurador de sentidos - uma sociedade que resiste à mudança. X - Sujeitos e instituições que não elegem o passado como ordenador preferencial de sentidos, inauguram sociedades que fazem do presente e das representações do futuro seu centro estruturador de identidades - uma sociedade que institui a mudança como seu modo de existir.

- Nossas sociedades (e instituições) são marcadas pela descontinuidade, pela fragmentação, pela pluralidade, pela simultaneidade. - Culturas, sociedades, instituições, grupos e indivíduos contemporâneos caracterizam-se pela possibilidade da abertura. Resta saber a que tipo de abertura/mudança ou transformação cultural e tecnológica iremos/queremos nos pautar? E em que medida estas dimensões afetam a Educação Superior brasileira?

- Do Relatório do Desenvolvimento Humano de 2004, organizado pelo PNUD extrai-se: para que o mundo atinja os objetivos de Desenvolvimento do Milênio e erradique a pobreza, tem que enfrentar primeiro, com êxito, o desafio da construção de sociedades culturalmente diversificadas e inclusivas. - Parece caber a educação (superior) uma parcela no cumprimento destes objetivos.

- É fundamental problematizar algumas dimensões destas transformações culturais: política, social e econômica.

Tendo em vista a (pós) modernidade e as dimensões culturais (transformações culturais) elencadas (e outras infinitas contingências deste contexto) é preciso questionar: Que/Quais (re)construções das identidades são necessárias, face as características impostas pela (pós) modernidade? E, suas necessárias aproximações ao contexto da Educação Superior brasileira, tendo como pressupostos uma educação intercultural, os direitos humanos e o respeito às diferenças socioculturais?

- (Re)Construções das identidades: aproximações ao Contexto da Educação Superior Pensar as relações em um mundo globalizado, em que existe uma precarização de direitos, especialmente no mundo trabalho e quais consequências para nossos/as estudantes de graduação? Que ensino de graduação queremos? Levar em conta as atuais correntes migratórias humanas e seus efeitos (diversidades linguísticas, culturais..), inclusive tendo em conta a internacionalização do ensino superior (Re)construir a dimensão política e o déficit democrático, vale dizer, problematizar o esvaziamento da participação política nos órgãos e conselhos deliberativos (professores/as, estudantes e demais profissionais da educação) e o que isso produz no contexto macro?

- (Re)Construções das identidades: aproximações ao Contexto da Educação Superior Refletir/Produzir práticas pedagógicas que valorizem as diferenças (respeito às); Necessidade de refundar espaços de diálogo (alteridade) (começando pela sala de aula); Respeito ao pluralismo de ideias e aos direitos humanos (isso passa por entender o que são e o que significam); Fortalecer a auto-organização (movimentos estudantis, docentes, sociais...) e a interlocução com nossas universidades Propugnar por uma ciência/conhecimento libertadora/encantado universidade-comunidade

- (Re)Construções das identidades: aproximações ao Contexto da Educação Superior Refletir sobre as pedagogias universitárias (plural), especialmente como foco na formação continuada de professores tendo em vista estas emergências Em tempos de precariedades (BUTLER, 2015), devemos nos perguntar em que condições torna-se possível apreender uma vida como precária, ou um conjunto de vidas, as vidas precárias de todos nós, professores, estudantes, sociedade, e em que condições isso se torna menos possível ou mesmo impossível para reivindicar mais democracia e mais direitos. (Sobretudo) Como construir (verdadeiramente) uma Educação Intercultural?

O homem se faz ao se desfazer: não há mais do que o risco, o desconhecido que volta a começar. O homem se diz ao se desdizer: no gesto de apagar o que acaba de ser dito, para que a página continue em branco. Frente à autoconsciência como repouso, como verdade, como instalação definitiva na certeza de si, prende a atenção ao que inquieta, recorda que a verdade costuma ser uma arma dos poderosos e pensa que a certeza impede a transformação. Perde-te na biblioteca. Exercita-te no escutar. Aprende a ler e a escrever de novo. Conta-te a ti mesmo tua própria história. E queima-a logo que a tenhas escrito. Não sejas nunca de tal forma que não possas ser também de outra maneira. Recorda-te de teu futuro e caminha até a tua infância. E não te perguntes quem és àquele que sabe a resposta, nem mesmo a parte de ti mesmo que sabe a resposta, porque a resposta poderia matar a intensidade da pergunta e o que se agita nessa intensidade. Sê tu mesmo a pergunta. (LARROSA, 2015, p. 41)

Muito obrigado! prograd.proreitor@furg.br renatodurodias@gmail.com