LUCIANA VALENTIM OS EFEITOS DO TREINAMENTO RESISTIDO EM PORTADORES DE DIABETES MELLITUS Artigo apresentado à Escola de Educação Permanente do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP como parte dos requisitos para conclusão do curso de Pós Graduação Lato-Senso em Fisiologia do Exercício Resistido na Saúde, na Doença e no Envelhecimento. São Paulo, 2017
Os Efeitos do Treinamento Resistido em portadores de Diabetes Mellitus RESUMO Luciana Valentim 1 Pesquisas recentes apontam para um aumento progressivo de pacientes com diabetes Mellitus. As de tipo 2, em especial, tem apresentado características epidêmicas preocupantes em diversos países. No Brasil, regiões consideradas de maior índice econômico no país, como o Sul e Sudeste, exibem uma maior prevalência da doença. Consideravelmente, o estilo de vida contemporâneo, que, de um lado, aponta para um crescente consumo de alimentos industrializados e, de outro, indica uma redução na prática de exercícios físicos, são alguns dos principais fatores associados a esta patologia. Dentre as possibilidades de prevenção e tratamento o exercício de Treinamento Resistido (TR) tem apresentado muitos efeitos benéficos para saúde. Ao se utilizar de exercícios localizados que auxiliam no recrutamento da massa muscular, em uma proporção maior que a atividade aeróbia tradicional, este tipo de atividade física acaba contribuindo para o controle glicêmico daqueles que sofrem com a doença. Organizações internacionais de saúde, como o American College of Sports Medicine e a Associação Americana de Diabetes tem incluído a prática destes exercícios como parte importante no processo de recuperação destes pacientes. No Brasil, tem crescido a utilização do TR, associada a outros exercícios, em diversos programas de saúde pública. Diante disso, este estudo tem como objetivo apresentar alguns dos efeitos e resultados desta prática, apontados por pesquisas realizadas na área, que dimensionam uma mudança favorável nos fatores de risco associados a diabetes Mellitus. Palavras-chave: Diabetes Mellitus, Treinamento Resistido, efeitos, benefícios. 1 Educadora Física, aluna do curso de Fisiologia do Exercício e Treinamento Resistido, na Saúde, na Doença e no Envelhecimento, EEP-FMUSP, São Paulo-SP. E-mail para correspondência: lulivalentim@yahoo.com.br 2
ABSTRACT Recent research points to a progressive increase in patients with diabetes mellitus. Type 2, in particular, has presented worrying epidemic characteristics in several countries. In Brazil, regions considered to have the highest economic index in the country, such as the South and Southeast, show a higher prevalence of the disease. Considerably, the contemporary lifestyle, which, on the one hand, points to an increasing consumption of processed foods and, on the other, indicates a reduction in the practice of physical exercises, are some of the main factors associated with this pathology. Among the possibilities of prevention and treatment, the Resistance Training (TR) exercise has had many beneficial effects on health. By using localized exercises that help in the recruitment of muscle mass, in a proportion greater than the traditional aerobic activity, this type of physical activity ends up contributing to the glycemic control of those who suffer from the disease. International health organizations such as the American College of Sports Medicine and the American Diabetes Association have included the practice of these exercises as an important part in the recovery process of these patients. In Brazil, the use of TR, associated to other exercises, has grown in several public health programs. Therefore, this study aims to present some of the effects and results of this practice, as pointed out by researches in the area, which measure a favorable change in the risk factors associated with diabetes mellitus. Key words: Diabetes Mellitus, Resistance Training, effects, benefits. 3
INTRODUÇÃO Em 2016, a Organização Mundial da Saúde (OMS), lançou o primeiro relatório geral sobre diabetes 2. De acordo com os dados apresentados pela OMS, desde 1980 o número de pessoas com a doença aumentou consideravelmente, chegando em 422 milhões de adultos no mundo, em 2014. Os países em desenvolvimento são os mais afetados por esta patologia e os casos de obesidade e sobrepeso, muitas vezes, acompanham o quadro crônico da doença. No Brasil, indicadores do Sistema Único de Saúde (DATASUS, 2004) 3 mostram que a diabetes é a quinta causa de hospitalização e a décima em termos de mortalidade. Pesquisas realizadas pela Vigitel Brasil Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico (2014) 4, demonstram que o diagnóstico médico de diabetes entre os beneficiários de planos de saúde no país aumentou de 5,8% em 2008 para 7,1% em 2014. Entre as mulheres, o diagnóstico da doença subiu de 6,3% em 2008 para 7,3% em 2014; entre os homens, passou de 5,2% para 6,9% no mesmo período. Uma recente pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde em parceria com o IBGE 5 (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mostra que atualmente temos quase 10 milhões de brasileiros que sofrem da doença. A diabetes Mellitus (DM) se caracteriza por uma condição na qual as células não respondem mais a insulina que é produzida pelo corpo ou quando o pâncreas deixa de produzir insulina. É o processo em que a glicose sanguínea não é mais absorvida pelo organismo provocando um aumento dos seus níveis e alterando o metabolismo de açúcar, gordura e proteínas. Existem dois tipos da doença, 2 World Health Organization. Global report on diabetes; 2016. ISBN 978 92 4 156525 7 (NLM classification: WK 810). [acesso em 2017 jan 27]. Disponível em: http://apps.who.int/iris/ bitstream/10665/204871/1/9789241565257_eng.pdf?ua=1 3 Datasus (Brasil). Taxa de prevalência de diabete melito; 2004.[acesso em 2017 jan 26]. Disponível em: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/idb2004/d10.htm 4 Vigitel (Brasil). Saúde suplementar: Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico, 2014. [acesso em 2017 jan 27]. Disponível em: http://www.ans.gov.br/images/stories/materiais_para_pesquisa/materiais_ por_ assunto/2015_vigitel.pdf 5 Ministério da saúde. Portal Brasil, 2014. [acesso em 2017 jan 27]. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/saude/2014/12/pesquisa-revela-que-57-4-milhoes-de-brasileiros-temdoenca-cronica 4
classificados entre os mais comuns: A diabetes tipo 1 (DM1) e a tipo 2 (DM2). A DM1, é um tipo predominante em crianças e adolescentes. A idade em que geralmente ela se inicia se dá por volta dos 10 aos 14 anos (pico de incidência). Neste caso, ocorre uma destruição das células beta do pâncreas, responsáveis pela produção de insulina. O próprio organismo mata as células, causando um aumento significativo de glicose no sangue. Já a DM2, caracteriza-se por uma hiperglicemia sanguínea que ocorre por uma resistência à insulina e comprometimento de sua secreção. Este é o tipo mais comum e afeta quase 90% das pessoas que têm diabetes. Porém, surge geralmente, após os 40 anos de idade e, na maioria das vezes, está relacionada à obesidade visceral, pois o aumento de massa de tecido gorduroso, pode comprometer a sensibilidade à insulina. De acordo com Power e Howley (2000) 6, uma diferença comum entre os dois tipos, é que a DM1 depende da aplicação da insulina exógena injetável para manter o nível de glicemia dentro do considerado normal, enquanto que, a DM2, na maior parte das vezes, podem se utilizar apenas da medicação oral. Segundo os dados da Sociedade Brasileira de Diabetes (2007), pessoas portadoras deste tipo de diabetes, podem responder muito bem ao tratamento com dietas e exercícios físicos. De acordo com o Consenso Brasileiro sobre Diabetes (2002) 7, a mudança no estilo de vida é crucial, pois após o aparecimento da doença, há uma piora progressiva do controle glicêmico, mesmo com a utilização de medicamentos. Por isso, mudanças relacionadas aos hábitos diários, que inclui a incorporação de atividades físicas e controle alimentar, tem o papel de reduzir este processo. Os sintomas associados a diabetes são: sede excessiva, aumento do volume urinário, fadiga, fraqueza, tontura, visão alterada, aumento do apetite e etc. Muitas vezes, estes sintomas clássicos passam despercebidos em grande parte da população. Muitos portadores desconhecem sua condição e, consequentemente, acabam não prevenindo suas complicações. O agravamento destes sintomas pode 6 Powers, S.K.; Howley, E.T. Fisiologia do Exercício: teoria e aplicação ao condicionamento e ao desempenho. 3ª ed. Barueri, Manole; 2000, p.527. 7 Sociedade Brasileira de Diabetes. Consenso brasileiro sobre diabetes: diagnóstico e classificação de diabetes mellitus e tratamento do diabetes mellitus tipo 2. São Paulo: Sociedade Brasileira de Diabetes; 2002. 5
levar a um estado severo e agudo de problemas cardíacos, renais, urinários, neurológicos, dermatológicos, ortopédicos, visuais, circulatórios ou digestivos. Mudanças no modo de vida que estão intimamente ligadas ao processo de globalização e avanço tecnológico, são alguns dos fatores associados ao aumento progressivo da doença. Conforme Monteiro e seus colaboradores (2000) 8, entre 1988 e 1996, houve um aumento significativo no consumo de ácidos graxos saturados, açúcares e refrigerantes, em detrimento da redução do consumo de carboidratos complexos, frutas, verduras e legumes, nas regiões metropolitanas do Brasil, em especial nas regiões Sul e Sudeste. O aumento do consumo de alimentos industrializados associado a um estilo de vida sedentário, incitado pelos avanços tecnológicos e pela mudança na estrutura do trabalho, são alguns dos principais fatores que podem estar associados a progressão da doença. Não obstante, as medidas preventivas e de tratamento exigem uma mudança de hábitos adquiridos pelo processo de modernização. A atividade física regular, por exemplo, é constantemente apontada em estudos, como uma variável que apresenta uma melhora considerável nos níveis glicêmicos. Neste sentido, diversos setores da saúde, tem adotado programas de prevenção da diabetes, com o intuito de se avaliar as formas mais eficientes de prevenção ou retardo do aparecimento da diabetes mellitus. Dentre as estratégias adotadas, o exercício de Treinamento Resistido (TR), tem sido aderido por diversos programas de saúde pública no Brasil, ou ainda, por Organizações internacionais de saúde, como o American College of Sports Medicine e a Associação Americana de Diabetes. O Treinamento Resistido, promove a ativação musculoesquelética que envolve movimentos controlados realizados em aparelhos, halteres, ou até mesmo, com a utilização do próprio peso corporal. A força muscular empregada para desenvolver um trabalho contra cargas oferece resistência e um melhoramento na composição corpórea. A utilização de pesos livres, máquinas ou peso corporal 8 Monteiro, C. A.; Mondini, L. & Costa, R. L. Mudanças na composição e adequação nutricional da dieta familiar nas áreas metropolitanas do Brasil (1988-1996). Revista de Saúde Pública, 34:251-258, 2000. 6
produzem resultados semelhantes, embora se acredite que os aparelhos sejam mais seguros. Antigamente, esta pratica era associada ao levantamento de cargas muito pesadas, contudo, suas bases científicas nos mostram que existem muitos erros relacionados a interpretação destes movimentos. Os resultados do TR, não estão diretamente relacionados a um grande volume de exercícios ou pesos; o objetivo principal do treinamento é aplicar, por aproximadamente 30 à 90 segundos, um estímulo condizente com cada grupo muscular, aumentando progressivamente a carga ou as repetições, em cada sessão. O TR apresenta dois tipos básicos de ações musculares em cada repetição, uma delas é a ação muscular concêntrica, cujo objetivo é aumentar a resistência e, a outra, que contribui para baixar, é a ação muscular excêntrica. Para cada ação, recomenda-se um tempo de 4 segundos para sua execução. Os movimentos em cada repetição deve ser lento, de modo que o impulso não substitua a força dos grupos musculares exercitados. O intervalo entre uma sessão e outra, que pode ocorrer a cada dois ou três dias, são essenciais para as adaptações fisiológicas e para o descanso dos músculos. A frequência recomendada para a prática deste treinamento é, de em média, duas ou três vezes na semana. Contudo, o protocolo que estabelece o tipo de exercício mais apropriado para diabéticos, ainda é bastante impreciso. Os estudos sobre este tema, ainda são bem escassos e atuais, e os que existem apresentam uma ausência de concordância quanto à um padrão único a ser seguido. O TR auxilia no estabelecimento de uma composição corporal saudável, no que se refere às proporções de músculos, gordura, osso e demais componentes do organismo. Dentre os principais benefícios apontados pela literatura, temos: uma diminuição do tempo de trânsito intestinal e do risco de câncer, um aumento da taxa metabólica basal, uma melhora do metabolismo da glicose, uma harmonização do perfil das gorduras do sangue, uma redução da pressão arterial de repouso, melhoras na densidade mineral óssea, alivio de dores e desconforto devido a doenças articulares, alivio de dores lombares, melhora da flexibilidade e aumento 7
da capacidade aeróbia máxima. (FISHER et al., 2011) 9. Segundo o Prof. Dr. José Maria Santarem 10, acredita-se que poucos meses de treinamento resistido adequado após os 50 anos de idade, é possível recuperar duas décadas de força e massa muscular perdida. Especificamente, na prevenção e tratamento de pacientes diabéticos, o aumento de massa magra e a redução no percentual de gordura, contribuí diretamente para uma moderação contínua glicêmica. Estudos demonstram que o controle do peso e o aumento da atividade física, diminuem a resistência à insulina (Pan et al., 1997 apud Sartorelli e Franco, 2003) 11. Portanto, baseado em alguns estudos científicos realizados nos últimos anos, esta proposta de trabalho busca apresentar alguns dos efeitos benéficos resultantes desta prática, que podem auxiliar no tratamento e prevenção do diabetes Mellitus. 1. Metodologia A estrutura investigativa deste artigo compreende uma pesquisa eminentemente teórica, bibliográfica e documental. O trajeto realizado para a obtenção de dados que abordam os efeitos do Treinamento Resistido em pacientes com Diabetes Mellitus, inicia-se com um breve histórico da temática proposta, a partir de uma contextualização epidemiológica de instituições de pesquisa, que nos revelam dados estáticos que justificam a relevância desta proposta de estudo. Índices apontados pelo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), pelo 9 Fisher, J.; Steele J.; Bruce-Low, S.; Smith, D. Orientações para o Treinamento Resistido com Bases em Evidências. Med Sport 15 (3): 147-162, 2011. 10 José Maria Santarem é médico graduado pela Santa Casa de São Paulo (1975) e foi um dos pioneiros na utilização terapêutica dos exercícios resistidos. Atualmente é coordenador do curso de Fisiologia do Exercício e Treinamento Resistido, na Saúde, na Doença e no Envelhecimento, EEP- FMUSP, São Paulo-SP. 11 Sartorelli, D. S; Franco, L. J. Tendências do diabetes mellitus no Brasil: o papel da transição nutricional. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 19(Sup. 1):S29-S36, 2003. [acesso em 2017 jan 30]. Disponível em: http://www.scielosp.org/pdf/csp/v19s1/a04v19s1 8
Sistema Único de Saúde (DATASUS, 2004), por pesquisas da Vigitel Brasil (2014) e por dados do IBGE, demonstram um preocupante crescimento no número de pessoas que sofrem com a doença. Após este diagnóstico inicial, foram consultadas as bases de dados de periódicos que constam na plataforma CAPES, USP, SCIELO e Instituto Biodelta, a partir das seguintes palavras-chaves - Diabetes Mellitus, Treinamento Resistido, efeitos, benefícios - que compõem o tema central desta pesquisa. 2. Resultados e discussões Em um estudo realizado pelo Laboratório de Avaliação do Esforço Físico (LAEF) no Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium (Lins -SP) 12, foi utilizada uma amostragem experimental de 08 voluntárias do sexo feminino, com idades entre 47 a 70 anos, portadores de diabetes mellitus tipo II, que se submeteram ao estudo da influência do treinamento resistido em termos fisiológicos, antropométricos e de níveis séricos. Estas participavam de um programa de acompanhamento nutricional vinculado a Faculdade de Nutrição da Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP Lins). Para determinar o consumo máximo de oxigênio (VO2max), um protocolo ergoespirométrico em circuito aberto foi utilizado. A esteira rolante também foi aproveitada de forma progressiva e contínua, até promover a exaustão. Era realizado um aquecimento prévio de 3 minutos, em que a velocidade foi regulada para que o ritmo cardíaco não excedesse a 70% da frequência prevista para a idade. Posteriormente, a velocidade era mantida e a inclinação foi por 2,5% a cada 2 minutos. Os critérios para o final do teste foram a 12 Danilo, D.P. de M.; Mattos, M. da Silva; Higino W. P. Efeitos do Treinamento Resistido em mulheres portadoras de diabetes Mellitus Tipo II. Revista Brasileira de atividade física e saúde, v.11, n 2, 2006. [acesso em 2017 fev 3]. Disponível em: https://periodicos.ufpel.edu.br/ ojs2/index.php/rbafs/article/view/836/843 9
exaustão proporcionada pela troca respiratória e frequência cardíaca elevada. (DANILO et al, 2006, p.34). Tanto na primeira como na décima semana, estas voluntarias foram avaliadas e reavaliadas em testes cardiorrespiratórios, de composição corporal e de determinação de valores glicêmicos de colesterol. Durante o processo, o grupo foi submetido ao treinamento resistido, em forma de circuito, sendo executado 3 vezes por semana. As atividades eram efetuadas em aparelhos e pesos e duravam 30 segundos com cargas pré-estabelecidas individualmente. Para controlar a fadiga, os exercícios eram realizados de forma alternada (membros inferiores e superiores). Foram efetivados três circuitos separados com 2 minutos de intervalo entre um e outro. Para aperfeiçoar o rendimento, as cargas foram aumentadas em 5 % a cada duas semanas de treinamento. Os resultados obtidos neste teste, demonstram que nem todas as variáveis analisadas apresentaram diferenças significativas (principalmente no que se referia ao IMC, colesterol total e glicemia em jejum), contudo, em termos de peso corporal e percentual de gordura, houve uma melhora expressiva que, consequentemente, podem em treinamentos mais prolongados, serem determinantes para o controle da glicemia. Outra experiência apresentada por Cambri e Santos (2006) 13, foi uma pesquisa realizada com indivíduos, de ambos os sexos, sedentários, com idades entre 47 e 58 anos. Nesta proposta, foram 12 semanas de exercícios resistidos em diabéticos tipo 2. Após a finalização do programa, observou-se um aumento de massa magra, uma diminuição da cintura e do quadril e uma redução dos níveis de glicemia capilar. Notou-se uma diminuição da glicemia capilar pós-exercício em 80% das sessões, variando entre 1,47% e 64,36% em relação à glicemia pré-exercício. Castaneda e colaboradores (2002) 14, também fez um estudo com 62 adultos 13 Cambri, L. Santos, D. Influência dos exercícios resistidos com pesos em diabéticos tipo 2. Revista Motriz. V. 12, n. 1. p. 36, 2006. ISSN: 1980-6574 14 Borges, G.A; Araujo, S.F de; Cunha, R.M. Os benefícios do treinamento resistido para portadores de diabetes mellitus tipo II. Revista Digital. Buenos Aires, Ano 15, Nº 151, 2010. [acesso em 2017 fev 3]. Disponível em: http://www.efdeportes.com/efd151/treinamento-resistidopara-portadores-de-diabetes.htm 10
diabéticos (tipo 2), de ambos os sexos, durante 16 semanas. Antes e após a intervenção, foram realizadas avaliações que mediam o controle glicêmico, anormalidades da síndrome metabólica, composição corporal e as reservas de glicogênio muscular. Os resultados demonstraram uma considerável diminuição dos níveis plasmáticos de hemoglobina, além do aumento de massa muscular. Neste caso, também houve uma redução significativa do uso de fármacos antidiabéticos (apud Borges et al, 2010). A maioria das pesquisas apontam os efeitos dos exercícios para pacientes que sofrem de diabetes do tipo 2, conquanto, também podem ser encontrados estudos relacionados a de tipo 1. No artigo de Angelis e colaboradores (2006) 15, é falado especificamente destes portadores. A partir de uma revisão bibliográfica que aborda as adaptações fisiológicas do indivíduo com DM1 ao treinamento físico, são discutidos os diversos benefícios que se relacionam a prática de exercícios, dentre os quais se destacam: melhora na sensibilidade à insulina, redução das doses de insulina e moderação das disfunções cardiovasculares. Segundo estes autores, todo tipo de exercício regular bem orientado, acompanhado da insulinoterapia e do planejamento alimentar, são componentes primordiais para o tratamento da doença. A composição destes elementos para controle da doença contribui para que as condições metabólicas destes indivíduos se aproximem de um estado fisiológico considerado normal e previne ou retarda complicações crônicas futuras. Em paralelo, a atividade física possuí características de tratamento de baixo custo, de natureza não farmacológica e com benefícios psicossociais, devido ao fato de promover uma integração em grupos. No que se refere especificamente ao Treinamento Resistido (TR), um artigo apresentado pela Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício apresenta uma relação comparativa entre este tipo de atividade e outros práticas. Segundo Andrade e colaboradores (2005) 16, a contribuição dos exercícios físicos 15 Angelis, K. de et al. Efeitos fisiológicos do treinamento físico em pacientes portadores de diabetes tipo 1. Arq Bras Endocrinol Metab vol.50 no.6 São Paulo, 2006. [acesso em 2017 fev 3]. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s0004-27302006000600005 16 Zabaglia, R.; Assumpção, C. de O.; Urtado, C. B.; Souza, T. M. F. Efeito dos exercícios em portadores de diabetes mellitus. Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício ISSN 11
de modo geral, é estimular o metabolismo de gorduras a partir de um gasto calórico diário maior que o praticante costuma gastar. Porém, no caso dos exercícios resistidos, além desta função, existe ainda um aumento na taxa metabólica basal (gasto calórico em repouso após o exercício). E com o aumento de massa muscular, o consumo de glicose aumenta, auxiliando, consequentemente, no controle glicêmico (apud ZABAGLIA et al, 2009). Alguns estudos apontam que, com o passar da idade muitas pessoas engordam exatamente pela redução da taxa metabólica basal seguida da perda progressiva de massa muscular. Neste sentido, o Treinamento Resistido apresenta uma maior eficiência contra esta tendência do que os exercícios aeróbios. Cardoso e colaboradores (2007); Assumpção e colaboradores (2008); Arsa e colaboradores (2009) apresentam algumas pesquisas que demonstram que os exercícios resistidos (em longo prazo), por estimular em maior intensidade o crescimento do músculo esquelético, apresenta consequentemente uma redução do tecido adiposo, devido ao aumento do volume de massa magra (apud ZABAGLIA et al, 2009). No caso dos diabéticos, os benefícios adquiridos pelo TR, vão além do controle do peso ou do melhoramento da força muscular. De acordo com Balsamo (2005) 17, os benefícios também estão relacionados a flexibilidade, a tolerância da glicose e aumento da sensibilidade à insulina. Entretanto, Fechio e Malerbi (2004) 18, alertam que, mesmo diante das inúmeras vantagens que o Treinamento Resistido promove, poucos portadores da doença possuem o hábito de praticar exercícios. Muitos daqueles que iniciam alguma atividade física logo interrompem nos três primeiros meses. Segundo estes autores, uma das grandes dificuldades enfrentadas pelos profissionais da saúde no combate a diabetes Melitus é o baixo índice de adesão aos programas de atividades físicas. De acordo com os dados, como a prática apresenta resultados que 1981-9900, 2011. [acesso em 2017 fev 4]. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/242586864 17 Balsamo, S. Treinamento da força: para osteoporose, fibromialgia, diabetes tipo 2, artrite reumatóide e envelhecimento, 1ª ed; São Paulo: Phorte, 2005. 18 Fechio, J.J.; Malerbi, F.E.K. Adesão a um programa de atividade física em adultos portadores de diabetes. Arq Bras Endocrinol Metab. Vol. 48. N. 2. 2004. p. 267-275. 12
requerem longo prazo e ainda exige mudanças de hábitos na rotina, apenas 19 a 30% dos pacientes portadores de DM aderem as prescrições de exercícios. Para Fechio e Malerbi (2004), sensações de mal estar, dores musculares e cansaço excessivo também podem estar relacionados à esta resistência. Uma maneira, sugerida pelos autores, de incentivar a adesão ao exercícios, é promover o envolvimento dos familiares no programa. Pesquisas realizadas por diferentes autores (Castaneda e colaboradores, 2002; Cardoso e colaboradores, 2007; Arsa e colaboradores, 2009), revelam a forte influência que os familiares possuem sobre o comportamento e estilo de vida dos portadores. A execução de reuniões periódicas que auxilie a família na compreensão da importância do exercício para o controle glicêmico do portador, pode contribuir para o estimulo (apud ZABAGLIA et al, 2009, p.551). Alguns profissionais da saúde aconselham exercícios aeróbios para os portadores de diabetes, visto que os resistidos, muitas vezes, estão associados a um maior risco de lesões ou comprometimento cardiovascular. Logo, se atentar para os riscos iminentes desta prática, também é importante. No artigo escrito por Zabaglia e seus colaboradores (2009), são destacados alguns dos perigos que o educadores físicos devem estar atentos, como: a manobra de Valsava, o aumento da pressão arterial e a elevação da frequência cardíaca. Neste sentido, os profissionais envolvidos na elaboração do programa de treinamento resistido devem estar vigilantes às especificidades dos praticantes. É importante que cada atividade prescrita seja elaborada de maneira individualizada, e, se possível, baseando-se em avaliações clínicas, físicas, laboratoriais e nutricionais. É aconselhável ainda, que uma equipe multiprofissional acompanhe o desenvolvimento do programa. Desta forma, os riscos podem ser minimizados e aquele que aderiu aos exercícios, pode usufruir dos benefícios. CONSIDERAÇÕES FINAIS A proposta deste trabalho, teve como objetivo apresentar os efeitos do Treinamento Resistido (TR) para os portadores de diabetes Mellitus, a partir de uma 13
revisão bibliográfica de pesquisas realizadas na área, que apresentam os benefícios e riscos proporcionados por esta dinâmica de exercícios. Todo conteúdo estudado, apresenta uma preponderância de evidências concretas sobre os benefícios que este programa pode oferecer aos portadores. Se realizado de forma atenta as recomendações, o TR exibe poucas contraindicações e revela-se como uma forma eficaz de prevenção e tratamento, que agrega custos-benefícios exequíveis para esta população. Dentre os principais impactos favoráveis apresentados, temos: o aumento da sensibilidade à insulina, adição de massa muscular, controle cardiovascular, retardo de complicações crônicas futuras, melhora do metabolismo basal entre outros. As prescrições básicas para este tipo de atividade envolve o acompanhamento de uma equipe multiprofissional que avalie individualmente cada portador, a partir de resultados clínicos, físicos, laboratoriais e nutricionais. Ao entrar em contato com o tema, foi observado que há uma carência de estudos investigativos que exploram os efeitos fisiológicos dos exercícios anaeróbios para aqueles que sofrem da doença. Mais raros ainda, são aqueles que envolvem especificamente a população diabética de Tipo 1. Neste sentido, podemos dizer que esta proposta de trabalho possui um aspecto inovador, embora tímido diante do que ainda poderá vir a ser apresentado em outras pesquisas. Espera-se que todo conteúdo aqui exposto, contribua de maneira qualitativa para a ampliação de um debate que envolve profissionais que atuam de maneira direta ou indireta com esta população. Que todas as informações aqui contidas, auxilie no propósito de fornecer à pessoa diabética a oportunidade de ter uma vida mais ativa e saudável. 14
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