Tratamento com Mobilização Neural em Paciente com Hanseníase

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Tratamento com Mobilização Neural em Paciente com Hanseníase Jonas Freire de Souza 1 Jonas_logia@hotmail.com Flaviano Gonçalves Lopes de Souza 2 Pós-graduação em ortopedia e traumatologia com ênfase em terapias manuais- FASERRA Resumo Este estudo é uma revisão literária e tem como objetivo avaliar o tratamento por meio da técnica de mobilização neural (MN) em pacientes com hanseníase. Essa técnica pode ser empregada na avaliação e tratamento das desordens do sistema nervoso onde o paciente é submetido a exercícios de flexibilidade, pois esses pacientes sofrem dor e incapacidade de locomoção devido a doença. Nesta mesma esteira o presente estudo objetivou-se em revisar os estudos já publicados que testaram a técnica no tratamento em pacientes com hanseníase. Para a realização deste trabalho desenvolveu-se um estudo de revisão no qual foram selecionados estudos publicados entre os anos de 2000 a 2017, provenientes das bases de dados GOOGLE ACADÊMICO, LILACS e SCIELO. O presente estudo identificou efeitos benéficos da mobilização neural na avaliação da tensão adversa dos nervos, assim como, na melhoria da dor, aumento do sinal eletromiográfico e da força muscular de pacientes com hanseníase. Portanto conclui-se que na fisioterapia a aplicabilidade da técnica de mobilização neural é uma modalidade eficaz no tratamento desses pacientes. Palavras chaves: Hanseníase, fisioterapia, mobilização neural Introdução O presente estudo é uma revisão literária que trata sobre o tratamento neural em pacientes com hanseníase, doença que atinge os nervos periféricos e que consequentemente se não tratada tem o comprometimento osteoarticular do indivíduo. A Hanseníase é uma patologia infectocontagiosa de evolução lenta e silenciosa, causada pela Mycobacterium leprae (bacilo de Hansen) que afeta 1 Pós-Graduando em Ortopedia e Traumatologia com Ênfase em Terapias Manuais- FASERRA/ Biocurso 2 Fisioterapeuta, Pós-Graduado em Cardiorrespiratória

2 diretamente a pele, nervos periféricos, mucosa, aparelho respiratório superior como também os olhos e principalmente os nervos 1. Essa patologia apresenta após longa evolução alterações de sensibilidade como lesões cutâneas diversas, como deformidades e mutilação que contribuem para a evolução desta moléstia gerando o isolamento social do indivíduo, o que pode ser consequência de uma cultura preconceituosa que a história cronológica da doença traduz até os dias atuais. 1. Considerando a importância da atuação de diversos profissionais da saúde nos pacientes com hanseníase, inclusive atuação do fisioterapeuta. No estudo em questão, objetivou-se a realizar um levantamento da literatura acerca do tratamento com a mobilização neural. Esta revisão foi realizada por meio de uma busca nas bases dos dados Scielo, Lilacs e Google Acadêmico além de livros e revistas acadêmicas. Portanto, o objetivo do presente estudo foi revisar e integrar a literatura científica atual quanto aos efeitos da mobilização neural na avaliação e tratamento dos sintomas neuromusculares de pacientes com diagnóstico de hanseníase. 2- Referencial Teórico 2.1- Histórico da hanseníase A hanseníase é uma doença muito antiga, causada pelo bacilo de Hansen, doença que já causou no passado certa desordem social devido a sua alta potência em infectividade, causando medo na população devido ela ser infectocontagiosa e baixa patogenicidade, onde seu poder imunogênico causa um alto teor de incapacidade no paciente 2. A hanseníase é uma doença muito conhecida por existir por muitos séculos um dos primeiros relatos é na bíblia sagrada no livro de Levíticos, onde o homem que possuía essa enfermidade era considerado imundo. Na Idade Média, a hanseníase manteve-se em alta na Europa e no Oriente Médio onde havia inclusive uma ordem que estabelecia o isolamento do doente para que não contaminasse a população sadia em alguns locais essa exclusão era mais severa, pois já havia uma ordem religiosa onde o doente era considerado um morto vivo e eram levados a residir em locais distantes que eram reservados para este fim, isolando completamente esse

3 doente da sociedade e da família, além de serem obrigados a usarem certo tipo de vestimenta considerada especifica para quem possuísse essa doença e o identificando como portador da hanseníase além de portarem uma espécie de sinaleira do qual eram obrigados a tocarem quando chegavam perto de uma pessoa sadia mostrando que estava se aproximando 2. Fazendo uma avaliação nessa trajetória pode-se perceber que essas pessoas portadoras dessa doença viviam em condições consideradas sub humanas, alijadas da sociedade, como se esta doença fosse o fim para uma trajetória de vida o que de uma certa forma pode-se dizer que sim pois naquela época não havia recurso algum para que fosse pelo menos minimizado essa situação por isso essa doença causou por muitos anos uma degradação social 2. Com o passar dos anos muitos estudos começaram a surgir e consequentemente muitas ações vieram com o propósito de humanizar a vida das pessoas contaminadas através de programas de prevenções e controle e a partir desta nova etapa a hanseníase em alguns países passou a ser coisa do passado, mas no Brasil apesar de muitos esforços de políticas públicas voltadas para combater essa doença ainda existe uma grande prevalência, principalmente na região norte do país, mas uma grande conquista foi que hoje a hanseníase é uma doença de notificação compulsória em todo o território nacional e de investigação obrigatória, ou seja, é uma doença que deve obrigatoriamente receber do estado gratuitamente todos os cuidados necessários para o tratamento, que hoje é de responsabilidade das unidades básicas de saúde, ou seja de forma ambulatórial 2. Na década de 80 houve uma grande reorganização da assistência aos pacientes com hanseníase pela Secretaria de Ações Básicas de Saúde, que recebeu um importante impulso na Secretaria Nacional de Programas Especiais de Saúde passando pela Secretaria de Assistência à Saúde e pela Fundação Nacional de Saúde. Percebe-se que muitos esforços ainda têm sido feitos para erradicar essa doença é evidente, que o número de pessoas contaminadas reduziu, mas pode-se dizer que no Brasil ainda é um grande desafio a saúde publica 2. 2.2-Sinais e Sintomas Neurológicos da Hanseníase Um dos sintomas mais característicos da hanseníase são algumas lesões decorrentes de processos inflamatórios dos nervos periféricos (neurites) e podem ser

4 causados tanto pela ação do bacilo nos nervos como pela reação do organismo ao bacilo ou por ambas. Elas manifestam-se através da dor e espessamento dos nervos periféricos, perda de sensibilidade nas áreas inervadas por esses nervos, principalmente nos olhos, mãos e pés, perda de força nos músculos inervados por esses nervos principalmente nas pálpebras e nos membros superiores e inferiores 3. A neurite, geralmente, manifesta-se através de um processo agudo, acompanhado de dor intensa e edema. No início, não há evidência de comprometimento funcional do nervo, mas, frequentemente, a neurite torna-se crônica e passa a evidenciar esse comprometimento, através da perda da capacidade de suar, causando ressecamento na pele 3. Há perda de sensibilidade, causando dormência e há perda da força muscular, causando paralisia nas áreas inervadas pelos nervos comprometidos. Quando o acometimento neural não é tratado pode provocar incapacidades e deformidades pela alteração de sensibilidade nas áreas inervadas pelos nervos comprometidos. As lesões neurais aparecem nas diversas formas da doença, sendo frequentes nos Estados Reacionais. Alguns casos, porém, apresentam alterações de sensibilidade e alterações motoras (perda de força muscular) sem sintomas agudos de neurite. Esses casos são conhecidos como neurite silenciosa 3. 2.3-Mobilização neural A mobilização neural é uma técnica usada na fisioterapia mais conhecida como neurodinamica. Essa técnica parte do princípio que comprometimentos da fisiologia e da mecânica do sistema nervoso (movimento, elasticidade, condução, fluxo axoplasmático) podem levar a disfunções próprias do sistema nervoso ou em estruturas musculoesqueléticas por ele inervadas, e que o restabelecimento de sua biomecânica e fisiologia adequada, por meio do movimento e/ou tensão, permitem recuperar a extensibilidade e a função normal desse sistema, bem como das estruturas comprometidas. O efeito desta técnica pode mobilizar a dor dos pacientes em tratamento da hanseníase 4. Essa técnica consiste num conjunto terapia manual que permite realizar uma mobilização e estiramento controlados do tecido conjuntivo circundante aos nervos e do próprio nervo, e que por sua vez melhora a sua condução nervosa e mobilidade intrínseca. O tratamento consiste na aplicação de movimentos oscilatórios

5 e/ou brevemente mantidos ao tecido neural para restaurar o movimento e a elasticidade do sistema nervoso, promovendo o retorno de suas funções normais 4. Em geral, o aparecimento das manifestações desta doença pode ocorrer muito tempo depois do período inicial (período de incubação) que é de aproximadamente cinco anos, podendo ser de 10 anos ou mesmo mais longo, como também podem surgir algumas reações agudas, que podem surgir bem no início da doença quanto dez anos depois da poliquimioterapia 4. A hanseníase por ser uma afecção do sistema nervoso periférico, que implica perdas axonais extensas, as pessoas acometidas podem desenvolver algumas deficiências e deformidades físicas que podem limitar com incapacidades na rotina diária. Neste sentido, estudos têm indicado que aplicar cargas mecânicas através do estiramento neural periférico, promovido pelos exercícios de mobilização neural podem trazer benefícios clinicamente relevantes à saúde humana 5. O conjunto de exercícios proposto por essa pesquisa são associados com melhoras significativas nas propriedades neurodinamicas, tais como, a morfologia, fisiologia e biomecânica do tecido neural. Na prática clínica, os efeitos da MN parecem ser mediados pela diminuição da aderência, melhora da plasticidade e redução do edema neural. A Mobilização neural tem sido referida como método de diagnóstico e tratamento dos distúrbios neurodinâmicos e estruturas adjacentes em pacientes hansenianos 5.. 3-Metodologia Esta pesquisa é uma revisão literária realizada no período de maio a agosto de 2017 na qual se adotou os critérios de escolha dos autores de acordo com a linha de pensamento deste artigo, onde foram avaliados especificamente os efeitos da mobilização neural no tratamento de pacientes com diagnóstico de Hanseníase. Já a triagem dos estudos se deu por meio da leitura dos títulos e resumos. Assim, foram identificadas 50 referências das quais 36 foram excluídos por não estarem em acordo com os critérios de escolha definidos. Foram excluídos os artigos que não apresentavam abordagens terapêuticas ou métodos de avaliação pertinentes à Fisioterapia.

6 Foram usadas como embasamento desta pesquisa as 14 literaturas publicadas entre os anos 2010 a 2017, todos em Língua portuguesa com base de dados PubMed, na Lilacs e no Google, como também em revistas e livros. Os critérios de inclusão adotados foram a forma que era discorrida a ideia do autor fazendo sempre menção ao tratamento de forma positiva e quanto o critério de exclusão foi o linguajar cientifico duvidoso de algumas obras transmitindo certa insegurança ao leitor. 4-Resultados e Discussão: 4.1 Resultados: A transmissão se dá principalmente por meio de convívio com o paciente sem tratamento e transmitidas pelas vias aéreas superiores, e uma característica comum dessa doença é a inflamação (dentro e ao redor do nervo), que se gera devido à situação de imunidade no aspecto imunitário 6. Percebeu-se nas pesquisas que alguns autores se referem a esse método como mecanismo essencial para o tratamento, já que o edema intercelular no tronco do nervo que pode ocasionar certa pressão das fibras nervosas e, provavelmente dos vasos sanguíneos, levando mais danos 7. Esse quadro neurológico acomete os nervos periféricos, atingindo desde as terminações na derme até os troncos nervosos que consequentemente atingindo as juntas ósseas 7. O nervo, atingido pelo bacilo que causa sua degeneração, apresenta um processo inflamatório que atinge os tecidos circunjacentes, conferindo-lhe características de síndromes compressivas como o comprometimento da circulação e mobilidade, perda de força e dor 8. No presente estudo foram identificadas várias intervenções que podem aliviar a dor neuropática na hanseníase, mas entre as opções de tratamento a fisioterapia apresenta-se como uma opção de tratamento não invasivo 8. Estudos evidenciaram interessantes efeitos da MN no controle da dor, ganho de flexibilidade, melhora da força muscular e funcionalidade. Desta forma os autores estudados se referem a esta técnica como uma interessante opção para avaliação e tratamento de pacientes com hanseníase, uma vez que essa doença se inicia com reações inflamatórias que podem causar espessamento do tecido nervoso, gerando zonas de inflamação, aderência, tensão e por fim, neuropatia periférica, a qual acomete principalmente os nervos ulna,

7 mediano, radial, tibial posterior e fibular comum que consequentemente comprometem as juntas osseas 6. 4.2- Discussão: Como pode-se constatar nas diversas literaturas a hanseníase é uma doença infectocontagiosa que atinge pele e nervos periféricos podendo levar o paciente a incapacidade. O alto potencial incapacitante da hanseníase está diretamente relacionado ao poder imunogênico do bacilo M. leprae 9. O autor que discorre sobre as alterações tróficas e as atrofias musculares afirma que os segmentos neurais afetados fornecem dados sobre a intensidade da perda e da cronicidade da lesão. O trofismo da pele e dos seus anexos é também de importância na avaliação das neuropatias, pois a hanseníase tem uma evolução extremamente crônica, porém, coexistem períodos agudos e subagudos durante reações inflamatórias imunomediadas, no decorrer da doença 9. As compressões dos nervos ocorrem quando cruzam os túneis anatômicos que gera um processo inflamatório que gera dor e desconforto ao paciente. Esse processo inflamatório intenso, que resulta também em edema, leva à expansão rápida do tronco nervoso dentro do túnel e, consequentemente, ao aprisionamento do nervo, ocasionando intensos distúrbios da função neural. A partir desses sintomas os pacientes apresentam sintomas dolorosos agudos, intensos e contínuos, que se acentuam principalmente no período noturno. A dor neuropática pode ocorrer de forma isolada ou ser concomitante à dor nociceptiva resultante dos fenômenos inflamatórios agudos 10. Diante de tais fatos pode-se constatar nas literaturas por vários autores que a intervenção fisioterápica por meio da mobilização neural pode ser realizada em até 90 dias dependendo de cada caso. Em alguns artigos o autor relata que os atendimentos devem ser semanais e pode ser iniciado com o teste neurodinamico do fibular para se trabalhar a primórdio a região anterolateral, ou seja, a região da perna, dorso e pés 11. Outro autor afirma que a mobilização deverá ser feita nas raízes lombos sacrais, com o paciente em posição supino, membros inferiores cruzados, com o quadril e joelho que serviram de alavanca a 90º, por cima, e a outra perna a ser mobilizada foi estendida por baixo 12, com o profissional de fisioterapia segurando ambas as pernas, fazendo uma oscilação em inclinação lateral da lombar usando como alavanca os membros inferiores 12. Outro autor afirma que no início do tratamento deve ser realizado as mobilizações deslizantes para o nervo ciático com viés para o nervo

8 fibular, que consiste em movimentos oscilatórios de extensão de quadril e joelho, mantendo-se a flexão plantar com inversão, sempre com a amplitude de movimento em Grau II 13, evitando movimentos tensionantes que possam irritar o sistema nervoso 13. Desta forma confrontando as ideias dos autores chegou-se à conclusão de que a mobilização neural mesmo ainda com pouco conhecimento por parte dos profissionais é um tratamento que os resultados da presente revisão indicam que a mobilização neural apresenta efeitos positivos em relação à avaliação e tratamento de pacientes com hanseníase 14. 5-Conclusão Mesmo com a alta incidência da hanseníase em países em desenvolvimento, sobretudo no Brasil, ainda se verifica uma pequena produção científica envolvendo métodos de avaliação e tratamento pertinentes ao fisioterapeuta, apesar da expressiva atuação clínica desses profissionais em indivíduos acometidos pela referida doença. Conclui-se que tanto o diagnóstico quanto a rotina de tratamento fisioterápicos ainda são feitos de maneira tardia, ocasionando na maioria das vezes dificuldades no processo de reabilitação e sérias complicações no quadro funcional do paciente. Apesar das literaturas relatarem os efeitos positivos, concluiu-se que ainda há necessidade de mais pesquisas nesta temática, principalmente com estudo de casos para que haja o maior número de evidências para que futuramente sirva como embasamento teórico para novas pesquisas. Por fim, apontamos para o fato de que o nosso estudo evidenciou por meio de algumas literaturas a eficácia deste método no tratamento da hanseníase. Referências Bibliográficas 1- BACCARELLI R, Marciano L., Garbino J. Avaliação e monitoração das ciências. Reabilitação da Hanseníase, Tratado de medicina de reabilitação. São Paulo: Roca; 2007

9 2- EIDIT L. Breve história da hanseníase: sua expansão do mundo para as Américas, o Brasil e o Rio Grande do Sul e sua trajetória na saúde pública brasileira. Saúde e Sociedade. 2004. 3-BRASIL, Guia para o Controle da Hanseníase. Brasília: Ministério da Saúde; 2002. 4- MUTARELLI E, Coelho F., Haddad M. Distúrbios de sensibilidade. Propedêutica neurológica: do sintoma ao diagnóstico. São Paulo: Sarvier; 2000. 5 PIMENTEL M, Borges E, Sarno E, Nery J, Gonçalves R. O exame neurológico inicial na hanseníase multibacilar: correlação entre a presença de nervos afetados com incapacidades presentes no diagnóstico e com a ocorrência de neurites francas. SP;2003. 6-OLIVEIRA J., Teixeira AH. Mobilização do sistema nervoso: avaliação e tratamento. Fisioterapia, nov. 2007 7 - LIMA E., Cavalcante D, Oliveira I, Pinheiro E, Martinez A, Baptista A. Mobilização neurodinâmica e regeneração nervosa periférica: revisão bibliográfica. Revista Pesquisa em Fisioterapia, Salvador, 2013. 8- MESQUITA R, Melo L, Vasconcelos RS, Soares D, Félix G, Férrer L. Avaliação neurofuncional em pacientes com hanseníase. Revis. Brasil Promoção Saúde, Fortaleza, 2014. 9- VIEIRA S, Silva Jm., Almeida Neto A, Dibia Filho A, Gomes C. Métodos de avaliação e tratamento da hanseníase: uma abordagem fisioterapêutica. Consciência e Saúde. 2012 10- VÉRAS L, Vale RGS, Mello D., Castro J., Dantas E. Avaliação da dor em portadores de hanseníase submetidos à mobilização neural. Fisioterapia Pesq. 2011 11- LIBERATO F. e Silva T. A importância da fisioterapia na reabilitação de pessoas atingidas pela hanseníase: uma revisão integrativa, Revista Digital. 2014. 12- MACHADO G., Bigolin S. Estudo comparativo de casos entre a mobilização neural e um programa de alongamento muscular em lombálgicos crônicos. Fisioterapia. 2010 13- RODINI C.B; Gonçalves M; Barros A; Mazzer N; Elui V; Fonseca M.; Prevenção de incapacidade na hanseníase com apoio em um manual de autocuidado para pacientes Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v.1, 2010. 14-VASCONSELOS D., Lins L, Dantas E. Avaliação da Mobilização neural sobre o ganho de amplitude de Movimento. Fisioterapia, nov. 2011