Canal do Panamá: efeitos da expansão nos portos do Brasil



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Transcrição:

Canal do Panamá: efeitos da expansão nos portos do Brasil Fernando Antonio Correia Serra José Gonçalves Moreira Neto Michel Bittencourt Weber

República Federativa do Brasil Dilma Rousseff Presidenta da República Secretaria de Portos (SEP) José Leônidas Cristino Ministro Chefe Ministério dos Transportes César Augusto Rabello Borges Ministro dos Transportes Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ) Diretoria Colegiada Pedro Brito Diretor-Geral Substituto Fernando José de Pádua Costa Fonseca Diretor Interino Mário Povia Diretor Interino Superintendência de Navegação Interior Adalberto Tokarski Superintendência de Administração e Finanças Albeir Taboada Lima Superintendência de Navegação Marítima e de Apoio André Luis Souto de Arruda Coelho Superintendência de Fiscalização e Coordenação Bruno de Oliveira Pinheiro Superintendência de Portos José Ricardo Ruschel dos Santos

Fernando Antonio Correia Serra José Gonçalves Moreira Neto Michel Bittencourt Weber Canal do Panamá: efeitos da expansão nos portos do Brasil

2012 ANTAQ SEPN Quadra 514, Conjunto E, Edifício ANTAQ, Biblioteca - 5º Andar. 55 61 20296597, biblioteca@antaq.gov.br CEP 70760-545 Permitida a reprodução sem fins lucrativos, parcial, por qualquer meio, se citado a fonte. Impresso no Brasil Centro de Informação em Transporte Aquaviário Editora Direção Editorial: José Antonio Machado do Nascimento. Projeto gráfico: Flávio Madera e Rafael Duarte. Capa: Flávio Madera. Foto capa: Canal do Panamá - ACP. Revisão: Lívia Resende Lara. Assessoria de Comunicação (ASC) Assessora de Comunicação Social: Yara Rodrigues da Assunção. Relações públicas: Maria Inez Vaz Dias Albuquerque. S481C Serra, Fernando Antonio Correia Canal do Panamá: efeito da expansão nos portos do Brasil/ Fernando Antônio Corrêia Serra, José Gonçalves Moreira Neto, Michel Bittencourt Weber. Brasília: Editora ANTAQ, 2012. 144p. ISBN 978-85-64964-00-6 1 Canal do Panamá. 2 Portos. I Título CDD-387.1 6 FERNANDO ANTONIO CORREIA SERRA / JOSE GONÇALVES MOREIRA NETO / MICHEL BITTENCOURT WEBER

APRESENTAÇÃO A criação da editora ANTAQ é algo a ser comemorado no Governo Federal. Representa o renascimento do debate técnico-científico em transporte aquaviário e a promoção do acesso à informação como forma de despertar na sociedade o senso crítico sobre regulação. Durante anos a área de transportes se ressentiu de uma estrutura editorial que fosse moldada nos exemplos das melhores casas literárias do país e que pudesse reunir textos relevantes que contribuíssem para o desenvolvimento do Brasil. Essa estrutura é a Editora ANTAQ, que projetará de forma mais ampla a Política Nacional de Transportes para o modal aquaviário. Os primeiros livros da Editora apresentam profissionais como administradores, advogados, bibliotecários, economistas, engenheiros e jornalistas para dissertar sobre água de lastro, fiscalização portuária, impacto regulatório, dragagem, hidrovias, canal do panamá e suas relações com o comércio exterior brasileiro, a gestão portuária, a legitimidade das agências reguladoras, a navegação de cabotagem entre outros assuntos. Com os primeiros volumes da coleção a Editora abre um novo caminho para a infraestrutura da pesquisa em transporte aquaviário, ao congregar teoria e prática para melhorar as possibilidades de diálogo entre a ANTAQ e a sociedade brasileira. Diretoria da ANTAQ 7 Canal do Panamá: efeitos da expansão nos portos do Brasil

Foto: Uirá Cavalcante Oliveira. Contêineres no Porto de Salvador.

SUMÁRIO AGRADECIMENTOS... PREFÁCIO... 13 15 UMA INTRODUÇÃO AO ESTUDO SOBRE A EXPANSÃO DO CANAL DO PANAMÁ... 19 CAPÍTULO 1 CANAL DO PANAMÁ: CONDIÇÕES ATUAIS E PERSPECTIVAS... 25 1.1 O segmento de granéis sólidos... 1.2 O segmento de granéis líquidos... 1.3 O segmento de porta veículos (Ro-Ro)... 1.4 O segmento de carga geral... 1.5 O segmento de porta-contêineres... 1.6 Cenário para os próximos anos e aspectos financeiros das obras de expansão do Canal do Panamá... 1.7 As receitas do Canal... 35 40 41 43 44 47 48 CAPÍTULO 2 OUTRAS FORMAS DE ACESSO AO PACÍFICO... 53 2.1 A ferrovia interoceânica... 2.2 Rotas alternativas... 2.3 O sistema intermodal norte-americano... 2.4 A rota pelo Canal de Suez... 2.5 Outras formas de navegação América-Ásia... 53 57 59 61 63 9 Canal do Panamá - efeitos da expansão nos portos do Brasil

Foto: Uirá Cavalcante Oliveira. Porto de Rio Grande, RS. FERNANDO ANTONIO CORREIA SERRA / JOSE GONÇALVES MOREIRA NETO / MICHEL BITTENCOURT WEBER

sumário CAPÍTULO 3 OS PORTOS DE TRANSBORDO DE CARGA DO CARIBE... 67 CAPÍTULO 4 UMA JANELA DE OPORTUNIDADE: A VIABILIDADE DE UM HUB PORT BRASILEIRO... 79 CAPÍTULO 5 A NAVEGAÇÃO DE LONGO CURSO E A INFLUÊNCIA DO CANAL DO PANAMÁ NO COMÉRCIO EXTERIOR BRASILEIRO... 85 5.1 O mercado externo brasileiro... 5.2 Percepção de atores do mercado sobre a influência do Canal do Panamá no transporte de cargas... 88 94 CAPÍTULO 6 SIMULAÇÕES DO SOBRE OS POTENCIAIS PRODUTOS E PORTOS QUE SERÃO MAIS AFETADOS COM A EXPANSÃO DO CANAL DO PANAMÁ... 109 CONCLUSÃO... 129 11 Canal do Panamá: efeitos da expansão nos portos do Brasil

Foto: Uirá Cavalcante Oliveira. Porto de Rio Grande, RS. Canal do Panamá: efeitos da expansão nos portos do Brasil 12 FERNANDO ANTONIO CORREIA SERRA / JOSE GONÇALVES MOREIRA NETO / MICHEL BITTENCOURT WEBER

agradecimentos Os autores agradecem o empenho e esforço alocados pela equipe da Gerência de Estudos e Desempenho Portuário nesse projeto, em especial aos Especialistas em Regulação de Serviços de Transportes Aquaviários Camila Romero Monteiro da Silva e Paulo Henrique Ribeiro de Perni que, ao iniciaram o trabalho, contribuíram de forma relevante para a conclusão satisfatória do projeto, que se materializou nesta publicação e ao Especialista Herbert Koehne de Castro, pelo seu precioso auxílio na fase de sondagem da percepção dos atores do mercado. Especial menção ainda se faz necessária à Gerência de Desenvolvimento e Regulação da Nagevação Interior, sem a qual não seria possível a implementação das simulações apresentadas no trabalho. Destaca-se a participação do Especialista em Regulação Eduardo Pessoa de Queiroz, que sempre de forma atenciosa e prestativa operou o SIGTAQ, tornando possíveis as conclusões elencadas aqui. 13 Canal do Panamá: efeitos da expansão nos portos do Brasil

Foto: Uirá Cavalcante Oliveira. Porto de Rio Grande, RS. 14 FERNANDO ANTONIO CORREIA SERRA / JOSE GONÇALVES MOREIRA NETO / MICHEL BITTENCOURT WEBER

PREFÁCIO Sabe-se que o Canal do Panamá está em obras para ampliação de sua capacidade em atender aos fluxos do transpasse do Oceano Atlântico ao Oceano Pacífico. A questão, que a princípio reduzia-se a aspectos concorrenciais entre o sistema intermodal norte americano e o uso das eclusas do Canal, com consequências restritas ao eixo Estados Unidos-leste da Ásia, ganhou nova dinâmica dada a crescente importância dos mercados asiáticos, principalmente o chinês, no fluxo de comércio mundial, com intercâmbio cada vez mais intenso com países como o Brasil. Alia-se a isso a tendência atual do aumento do tamanho dos navios de carga, que hoje cruzam os oceanos em rotas diversas, na busca pela redução de custos e acréscimo da produtividade advindos da economia de escala. Identificar e estudar perspectivas não especulativas sobre a matéria, levando-se em conta o viés do escoamento para exportação das cargas brasileiras, certamente é assunto motivador e digno de considerações efetivas. Nesta ótica, estudar o Canal passa por conhecê-lo em sua essência, absorver as razões que impulsionaram as autoridades panamenhas a investirem mais de US$ 5 bilhões com a construção das novas eclusas, bem como visualizar na logística brasileira movimentos que justifiquem o interesse de armadores ou donos de cargas na sua utilização como rota ideal. Ao estudar o Canal, a ANTAQ deparou-se com abordagens relacionadas ao entendimento das rotas usadas por navios de longo curso que levam produtos brasileiros, da utilização frequente de navios conhecidos como tramp no transporte de cargas relacionadas ao agronegócio, da localização e perfil de portos na costa e interior do país, bem como na natureza das cargas e sua relação com cada rota e tipo de navio. Vários são os textos já apresentados, inúmeros são os seminários e palestras que trataram do assunto. Contudo, a ANTAQ quis ir além de especulações, inserindo elementos objetivos, lançando mão de simulações que 15 Canal do Panamá - efeitos da expansão nos portos do Brasil

Foto: ANTAQ - divulgação Canal do Panamá: efeitos da expansão nos portos do Brasil 16 FERNANDO ANTONIO CORREIA SERRA / JOSE GONÇALVES MOREIRA NETO / MICHEL BITTENCOURT WEBER

PREFÁCIO projetaram para a soja e milho carregamentos em rotas marítimas diferenciadas, a partir de portos do Brasil. Assim, além de toda análise comparativa e situacional, este trabalho investe-se de fatos concretos, gerados através de sistema de simulação logística baseada em informações georreferenciadas que, usando dados de custo, distância de rota e alternativas multimodais de transporte, levaram a Agência a postular conclusões embasadas nos resultados obtidos nas simulações. Não se trata de assunto finalizado, mas com certeza abrirá as portas para novas discussões com base em suas observações. Além disso, servirá como norte para novos estudos, principalmente aqueles que envolvem melhor conhecimento da relação produto/rota/navio, cujo resultado projetará a composição de custos e o comportamento da frota de longo curso que leva e traz produtos brasileiros. Brasília, 13 de maio de 2013. 17 Canal do Panamá: efeitos da expansão nos portos do Brasil

Uirá Cavalcante Oliveira. Porto de Antonina, PR. 18 FERNANDO ANTONIO CORREIA SERRA / JOSE GONÇALVES MOREIRA NETO / MICHEL BITTENCOURT WEBER

UMA INTRODUÇÃO AO ESTUDO SOBRE A EXPANSÃO DO CANAL DO PANAMÁ Desde as primeiras previsões sobre a expansão do Canal do Panamá, fala-se em todos os meios de comunicação sobre as consequências desse evento para o comércio mundial de cargas. No entanto, pelo menos com relação ao Brasil, não há nada sobre o tema que se lastreie em algo mais sólido. Os textos publicados refletem pensamentos e suposições sobre prováveis consequências do aumento de capacidade do Canal na movimentação de cargas nas instalações portuárias brasileiras. De forma semelhante, há alguns estudos feitos para traduzir a expansão do Canal com relação aos seus efeitos no mercado dos EUA. Constata-se, no entanto, que o foco e a realidade da qual buscam algum conhecimento são distintos do contexto brasileiro. Nestes casos, leva-se muito em consideração o sentido competitivo entre o sistema intermodal americano, que atravessa toda região central americana unindo a costa oeste à leste, e a utilização do Canal do Panamá, que com o crescimento se sua capacidade atual poderá fazer frente a esta preferência atual. Assim, a ANTAQ dentro de sua missão de disponibilizar elementos de incentivo ao seu setor regulado tomou a iniciativa de visualizar o Canal por ângulo mais bem especificado, deixando de lado as paixões regionais ou setoriais, para conduzir o estudo sobre vantagens competitivas para o Brasil em função da nova distribuição de capacidade a ser adquirida a partir de 2014 pelo Canal do Panamá. O desafio da projeção de estudos sobre tendências em movimentação de cargas e demandas de mercados externos advém da ausência de dados consolidados sobre infraestrutura e logística no Brasil. Até o surgimento do Plano Nacional de Logística de Transportes PNLT, em 2007, patrocinado pelo Ministério dos Transportes MT, o que se tinha em termos de planejamento era, em essência, apenas o sentimento baseado na vivência das pessoas que compunham o setor aquaviário. O PNLT permitiu que ferramentas baseadas em Sistemas de Informações Georrefenciadas (GIS) pudessem dele se utilizar para suas projeções origemdestino, constituindo-se como elemento fundamental na determinação de 19 Canal do Panamá - efeitos da expansão nos portos do Brasil

UMA INTRODUÇÃO AO ESTUDO SOBRE A EXPANSÃO DO CANAL DO PANAMÁ caminhos logísticos ideais, seja por fatores de distância como por custo mínimos. Ainda que a base de dados do PNLT possa sofrer críticas quanto à sua maior ou menor aproximação à realidade, não se pode dizer que ela não é marco para a constituição de planejamento face às previsões atuais e futuras de demanda. Além disso, o PNLT passa, atualmente, por processo de atualização, cujo resultado será uma nova base, já adequada às novas realidades dos próximos anos. No entanto, mesmo reconhecendo a importância desses instrumentos inovadores, é importante ter em mente que a tarefa aqui posta está longe de ser simples, devido ao elevado número de variáveis envolvidas na complexa rede de transportes. Para compor o cenário a ser consubstanciado em conclusão mais objetiva sobre a vantagem ou não da expansão do Canal para os portos brasileiros, os elementos fomentadores são os que estão representados na Figura 1, a seguir. Visitação a portos candidatos a serem afetados pela expansão do CP Entrevistas com setores produtivos da economia brasileira PNLT (matriz de produtos e pares O-D) Elementos objetivos para conclusões Rotas de navegação Custos da navegação Mercados mundiais Infraestrutura interna Figura 1 - Variável na análise das vantagens da expansão do Canal do Panamá para os portos brasileiros. 20 FERNANDO ANTONIO CORREIA SERRA / JOSE GONÇALVES MOREIRA NETO / MICHEL BITTENCOURT WEBER

UMA INTRODUÇÃO AO ESTUDO SOBRE A EXPANSÃO DO CANAL DO PANAMÁ Tratando-se de obra com a magnitude da expansão do Canal do Panamá e considerando-se as matérias já publicadas sobre o assunto, a ANTAQ desenvolveu uma linha de estudo, cuja base foca a vocação para o fluxo de cargas no Canal em função da natureza da carga, da localização dos portos brasileiros e dos produtos candidatos ao transpasse pelo Istmo. Os aspectos a serem analisados passam pelo entendimento de como se dá a navegação marítima de longo curso e cabotagem, nas interações intermodais para o transporte de cargas no interior do Brasil, na corrente de comércio brasileira com relação aos mercados relacionados com o Canal, bem como na localização e infraestrutura de portos marítimos candidatos a serem favorecidos com a sua expansão. No nosso entendimento, sem essa abordagem, as afirmações feitas não agregariam valor, tampouco deixariam de constar no campo especulativo até então em voga, cuja visão não encontra proposições objetivas para problemas logísticos presentes. O enfrentamento da questão básica, relacionada ao estabelecimento do impacto da expansão do Canal em portos e mercados brasileiros, passa por uma delimitação de escopo do estudo, como já dito bastante complexo, sem o qual não se pode chegar a resultados mais concretos. Dessa forma, neste estudo, as condições de entrada foram assim determinadas: Foco nos produtos mais viáveis de exportação, identificando-se as cargas com condições mais favoráveis de transpasse e consequentemente mais suscetíveis à expansão do canal; Foco nos mercados externos asiáticos; Foco nos portos das regiões norte e nordeste como mais favoráveis em função da menor distância entre eles e o Canal do Panamá; Dessa forma, a abordagem feita pela ANTAQ nesse livro busca contextualizar, nos três primeiros capítulos, a infraestrutura instalada para o transporte de cargas entre os oceanos Atlântico e Pacífico. No Capítulo 1, são explicitadas as condições atuais do Canal do Panamá e suas perspectivas futuras com a expansão, destacando-se inclusive a percepção das autoridades do canal quanto à expansão prevista dos mercados atuais de acordo com o tipo de carga transportada e os aspectos relacionados às taxas cobradas para o transpasse do canal. 21 Canal do Panamá: efeitos da expansão nos portos do Brasil

UMA INTRODUÇÃO AO ESTUDO SOBRE A EXPANSÃO DO CANAL DO PANAMÁ O Capítulo 2 abordará, em contraponto à utilização do Canal do Panamá, formas alternativas de acesso ao Oceano Pacífico, com destaque para a ferrovia interoceânica que liga as duas costas do Panamá, e constitui-se em uma relevante opção de transpasse do Istmo sem a utilização das eclusas do canal. Já no capítulo 3 serão destacados os portos de transbordo de carga localizados na região do Mar do Caribe, denominada de triângulo de transbordo, e que se constituem em importante elo na cadeia logística de transporte mundial de cargas pela via marítima, além de exercerem relevante papel na utilização do Canal do Panamá, primordialmente no que tange ao transporte de contêineres. Nos capítulos seguintes, será dada ênfase especial ao impacto das obras de expansão nos portos nacionais e nas cargas destinadas ao mercado externo brasileiro. Demonstrar-se-á de forma objetiva, ainda que dentro de cenários hipotéticos, quais portos e produtos podem sofrer com mais intensidade os efeitos positivos advindos das obras do canal. Nesse contexto, o Capitulo 4 abordará a janela de oportunidade aberta para a constituição de um hub port brasileiro, com a expansão do canal e o consequente incremento da movimentação de cargas e embarcações na região do triângulo de transbordo. O Capítulo 5 apresenta um breve diagnóstico da navegação de longo curso no Brasil e a possível influência das obras do canal no mercado externo brasileiro. Serão analisados os transportes de cargas em contêineres, granéis sólidos (produtos agrícolas e minerais) e granéis líquidos. Serão delimitados os principais produtos e mercados consumidores externos bem como as características do transporte marítimo vinculado às mesmas. Ainda nesse capítulo será explorada a percepção de empresas de navegação e logística consultadas pela ANTAQ no que se refere à influência do Canal do Panamá sobre os principais produtos brasileiros exportados, tecendo-se considerações acerca da natureza de carga que mais se adequa às características do Canal. Finalmente, no Capítulo 6 serão apresentadas as simulações realizadas com auxílio de um sistema de tratamento de informações georreferenciadas, denominado internamente como SIGTAQ, para projetar perspectivas de carregamento de produtos mapeados no Capítulo 5, mais afetos à expansão do Canal do Panamá. Serão analisados os caminhos percorridos desde a origem até os destinos da mercadoria, com foco nos portos de saída, principalmente aqueles localizados mais ao norte do país, e nas rotas marítimas mais vantajosas, confrontando a utilização das rotas do Canal do Panamá e do Cabo da Boa Esperança e traçando a importância relativa da expansão do 22 FERNANDO ANTONIO CORREIA SERRA / JOSE GONÇALVES MOREIRA NETO / MICHEL BITTENCOURT WEBER

UMA INTRODUÇÃO AO ESTUDO SOBRE A EXPANSÃO DO CANAL DO PANAMÁ canal na configuração do transporte dessas cargas. Ao final, serão elencadas as principais conclusões do estudo, bem como as possíveis investigações futuras que permitirão um entendimento mais amplo da dinâmica complexa da utilização das principais rotas marítimas mundiais. Essa publicação consiste na apuração mais recente de fatos e publicações sobre a expansão do Canal do Panamá, de estudos similares desenvolvidos principalmente nos Estados Unidos da América do Norte sobre tal tema, bem como na efetiva simulação de cargas específicas do agronegócio com destino às exportações para a China, Japão e Taiwan. Nesse sentido, sedimenta de forma concreta as vantagens dos movimentos de carga pelo Canal para as exportações brasileiras, identifica necessidades de aparelhamento da infraestrutura brasileira de portos e transportes em geral, bem como projeta números sobre provável movimentação da carga de soja e milho em função do seu comportamento logístico, tanto pelo Canal quanto pelos portos já tradicionais em escoamento desse tipo de carga. Salienta-se que não se trata de estudo definitivo, nem tem a intenção de tal, pois muito se aponta como necessidade de investigações futuras, em especial, o comportamento da navegação de longo curso que chega ao nosso continente, bem como sua relação com tipos de cargas transportadas e rotas. Além disso, deve-se atentar também para o surgimento de novos mercados, que poderão emergir em função do efeito catalisador da expansão do Canal, projetando vantagens competitivas para os portos do Brasil, assim como a exportação de frutas para a Ásia, hoje inviabilizada pelo excessivo tempo de viagem face ao caráter perecível dos produtos. Tais mercados não serão aqui explicitados pela absoluta falta de dados e conhecimento aprofundado das complexas estruturas do mercado brasileiro de cargas, no entanto se reconhece aqui a factibilidade de seu nascedouro. 23 Canal do Panamá: efeitos da expansão nos portos do Brasil

Foto: ANTAQ - divulgação

Capítulo 1 CANAL DO PANAMÁ: CONDIÇÕES ATUAIS E PERSPECTIVAS Estudos realizados pela Autoridade do Canal do Panamá (ACP), visando conhecer em detalhes os fatores que mais influenciam o comportamento da movimentação de cargas na região e subsidiar o planejamento das obras de expansão, apontam que o tráfego por esta via continuará seguindo a tendência atual e apresentará taxas de crescimento consideráveis nos próximos anos. No cenário mais provável é projetado que o total de cargas (em toneladas) que transitam por tal passagem apresente uma taxa média de crescimento de 3,2% ao ano até 2025, horizonte de tempo considerado nos estudos. Em termos de número de navios que passam pelo Canal do Panamá, as estimativas indicam um incremento da ordem de 2,2% ao ano. Esse comportamento está respaldado principalmente no aumento de cargas sendo transportadas pelos navios porta contêineres, como será visto adiante. Ainda de acordo com esses mesmos trabalhos e considerando-se o comportamento esperado do tráfego, o Canal atingirá sua capacidade máxima sustentável de operação entre os anos de 2009 e 2012. Uma vez que esta situação seja atingida, tal via não será capaz de absorver a demanda crescente e, consequentemente, a qualidade do serviço se deteriorará, resultando na redução da competitividade da rota marítima do Panamá.

Capítulo 1 - CANAL DO PANAMÁ: CONDIÇÕES ATUAIS E PERSPECTIVAS Maximum Sustainable Capacity of the Canal 700 Historical Forecast Annual PCUMS Volume (in millions) 600 500 400 300 280-290 million PCUMS per year (FY 2007-2008) 280 330-340 million PCUMS por year (FY 2011-2012) 508 200 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 Year Maximum sustainable capacity Manageable demand Probable Demand Figura 2 Capacidade máxima prevista do Canal do Panamá até 2025. Fonte: ACP. Entre diversos determinantes, os aspectos técnicos e físicos são fatores que influenciam a capacidade do Canal em suportar o aumento e as alterações da demanda. Os mais relevantes destes fatores são as variações de tamanhos e tipos de navios que transitam pelo Istmo. Nas atuais configurações do Canal, quanto maiores os navios, menor o trânsito que poderá ser suportado pela via. Concomitantemente, os registros dos últimos anos indicaram um crescimento médio de 20% no tamanho dos navios que circulam por esta região. Outro fator que influencia a capacidade máxima sustentável do Canal é o nível de serviço demandado por seus usuários. Para a rota ser competitiva, o comércio marítimo internacional que se desenvolve na região precisa ser capaz de atender às necessidades de seus usuários de maneira ágil, confiável, segura. Essa adequação deve atender às especificidades demandadas por cada segmento de mercado. Consequentemente, estes requisitos irão determinar o nível de confiabilidade e qualidade do serviço que o Canal deve oferecer para que não perca sua parcela de mercado e não cause distorções que resultem em impactos negativos no comércio marítimo relacionado a esta passagem. O nível de serviço do Canal é especialmente importante para aqueles segmentos que operam com itinerários e cargas de alto valor agregado, tais como os segmentos de porta-contêineres e navios porta-veículos (Ro-Ro). 26 FERNANDO ANTONIO CORREIA SERRA / JOSE GONÇALVES MOREIRA NETO / MICHEL BITTENCOURT WEBER

Capítulo 1 - CANAL DO PANAMÁ: CONDIÇÕES ATUAIS E PERSPECTIVAS Ao ser atingida a capacidade máxima do Canal, suas condições de suportar navios de maior porte e fluxos intensos de trânsito irá comprometer a performance. Desta forma, a rota panamenha não irá captar volumes adicionais de carga, fazendo com que todos os aumentos de receita voltem-se para aumentos das tarifas. Isso levaria o Canal a uma drástica queda na sua produtividade, tornando-o menos competitivo com relação a rotas alternativas. Demand Forecast for Container Vessels in PCUMS Tons 450 400 Historical Forecast 407 Annual PCUMS Volume (in millions) 350 300 250 200 150 100 50 345 296 279 237 0 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 Year Historical Pesimistic Forecast Optimistic Forecast Probable Range Forecast Most Probable Forecsast Source: ACP with Mercer Management Consulting s demand model Figura 3: Previsão de demanda para navios porta-contêineres. Fonte: ACP. Um arrefecimento da capacidade do Canal também causaria impactos negativos não só relacionados ao transporte marítimo, mas também em diversos outros níveis, tais como: Perda de importância do Panamá como uma rota marítima chave para o comércio mundial, e consequente redução do valor do Istmo como centro de conexão continental; Falta de crescimento do país e possível redução no médio e longo 27 Canal do Panamá: efeitos da expansão nos portos do Brasil

Capítulo 1 - CANAL DO PANAMÁ: CONDIÇÕES ATUAIS E PERSPECTIVAS prazo dos pagamentos ao Tesouro Nacional; Enfraquecimento gradual da capacidade econômica do Panamá, comprometendo o crescimento e desenvolvimento, com o consequente impacto negativo na geração de empregos; e Perda de oportunidade de usufruir os variados benefícios que o crescimento da demanda poderia gerar. A construção do terceiro jogo de eclusas que resultará na expansão do Canal - permitirá que seja absorvida toda demanda adicional projetada pelo menos até o ano de 2025, ampliando a capacidade de movimentação para mais de 600 milhões de toneladas ao ano através do trânsito anual de aproximadamente 16.000 navios 1. Maximum Sustainable Capacity of the Canal Expanded with the Third Set of Locks 700 Historical Forecast Annual PCUMS Volume (in millions) 600 500 400 300 280-290 million PCUMS per year (FY 2008-2009) Maximum capacity of the system with post-panamax locks 600 million PCUMS per year 267 280 330 Start of operations of the third set of locks 508 200 95 96 97 98 99 00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 Year Maximum sustainable capacity Demand Figura 4: Previsão de demanda para navios porta-contêineres. Fonte: ACP. 1. Em 2010 o número registrado de viagens no Canal foi de 14.230, o que representou a movimentação de aproximadamente 300 milhões de toneladas líquidas CPSUAB*. * Sistema de medição do Canal do Panamá conforme o Sistema Universal de Arqueo de Buques (CP/SUAB). 28 FERNANDO ANTONIO CORREIA SERRA / JOSE GONÇALVES MOREIRA NETO / MICHEL BITTENCOURT WEBER

Capítulo 1 - CANAL DO PANAMÁ: CONDIÇÕES ATUAIS E PERSPECTIVAS Para efeitos de maior detalhamento dos estudos realizados, a Autoridade do Canal do Panamá segmentou o mercado - respeitando as categorias de navios estabelecidas pela indústria marítima - que correspondem às necessidades de transporte dos diferentes tipos de carga. Tal segmentação foi realizada com o objetivo de auxiliar a explicar o comportamento do tráfego pelo Canal e poder projetar seu futuro. Nessa visão, os segmentos de mercado previstos para o Canal são a seguir destacados: Navios graneleiros: transportam grãos como soja, trigo e outros granéis como minério de ferro, carvão, ferro manufaturado e aço, fertilizantes, cobre, alumínio, açúcar, sal e cimento; Navios petroleiros: transportam óleo cru, produtos derivados do petróleo e também outros produtos químicos; Navios refrigerados: transportam produtos perecíveis, que incluem frutas, carnes e laticínios; Navios porta veículos: transportam automóveis, caminhões e veículos para projetos (equipamento pesado). Esta categoria inclui os navios Roll On Roll Off (Ro-Ro); Navios de carga geral: transportam uma grande variedade de produtos, a maioria em menores quantidades e em rotas regionais; Cruzeiros: transportam passageiros em viagens a turismo. A indústria de cruzeiros vê o Canal e o Panamá como um destino turístico, contribuindo com a indústria de turismo nacional; Navios porta-contêineres: transportam contêineres que levam toda espécie de mercadoria, principalmente produtos processados ou acabados, que no geral, possuem maior valor agregado. A utilização da rota do Panamá é determinada por três componentes principais: o preço, o movimento de cargas derivado do intercâmbio comercial e a localização dos pontos de origem e destino das cargas. Desta maneira é importante ressaltar que apesar de o Canal manter uma relação comercial com as companhias de navegação, a característica de sua demanda é determinada pelo tipo de carga, suas opções de rota de transporte e os pedágios cobrados (taxas de passagem). Portanto, considerando-se todos os segmentos, o volume de tráfego pelo Canal depende, dentre vários itens, da demanda e condições do 29 Canal do Panamá: efeitos da expansão nos portos do Brasil

Capítulo 1 - CANAL DO PANAMÁ: CONDIÇÕES ATUAIS E PERSPECTIVAS transporte marítimo a serviço do comércio mundial. Em todos os cenários e segmentos considerados no estudo, o incremento será proporcionalmente maior em tonelagem do que em número de navios que transitarão pelo Canal, o que é decorrência do aumento da participação dos navios de maior porte que trafegarão por esta passagem. Neste contexto e seguindo a tendência de aumento do volume esperado de carga, estima-se que o segmento que continuará apresentando as maiores taxas de crescimento é o de portacontêineres, seguido pelos de porta-veículos (Ro-Ro) e de passageiros (Figura 5). Tonelaje Neto (en millones) 100 80 60 40 20 0 1925 1935 1945 1955 1955 1975 1985 1995 2005 Tanquero Graneleros Portavehículos Carga General Portacontenedores Otros Pasajero Refrigerados Fuente: Base de datos de la ACP, PMM Figura 5: Tonelagem líquida dos principais segmentos de navios. Fonte: ACP. Atualmente, o Canal do Panamá é passagem para mais de 140 rotas marítimas que operam com navios de vários tamanhos e tipos. Contudo, os fluxos comerciais de cargas mais relevantes são representados por doze rotas, que se relacionam principalmente com duas áreas geográficas específicas: Ásia e EUA. Há ainda seis rotas vinculadas aos EUA e outras relacionadas à América do Sul e Oceania. Algumas dessas rotas atendidas pelos serviços do Canal do Panamá são: 30 FERNANDO ANTONIO CORREIA SERRA / JOSE GONÇALVES MOREIRA NETO / MICHEL BITTENCOURT WEBER