Presença de Fraquezas e Encurtamentos Musculares em Secretárias com Dor no Segmento Lombar da Coluna Vertebral



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Fisioterapia 8 1 Presença de Fraquezas e Encurtamentos Musculares em Secretárias com Dor no Segmento Lombar da Coluna Vertebral Saul Martins Neto Pesquisador Profª Ms. Cristina Maria Nunes Cabral Orientadora Resumo A postura corporal do ser humano é fruto tanto da adaptação do homem durante o processo evolutivo quanto das adaptações individuais que ocorrem durante o seu desenvolvimento, as quais surgem de maneira a suprir as necessidades físicas dos indivíduos no decorrer da vida, sendo que, dentro dessas, pode-se incluir uma determinada posição, ereta ou sentada, inadequada. Algumas posturas mantidas por longos períodos de tempo exercerão um determinado estresse sobre os tecidos moles do corpo, levando o indivíduo às chamadas síndromes dolorosas posturais. Desta forma, a proposta deste trabalho foi avaliar as funções musculares através de testes que detectaram hipotonia e encurtamentos destes músculos de 11 voluntários do sexo feminino com idade entre 18 a 44 anos (30 ± 7,3 anos) e que referiam dor no segmento lombar da coluna vertebral em algum momento do dia. Como resultados, 100% dos indivíduos obtiveram força muscular menor ou equivalente a 4 (mantém a posição da prova contra pressão leve a moderada em posição antigravitacional), de acordo com a escala de força muscular manual; 100% tiveram a prova de Thomas positiva; 90,9% tiveram encurtamento de reto femoral positivo; 100% tiveram o teste de Ober negativo; 90,9% tiveram encurtamento de cadeia posterior positivo, sendo que 81,8% apresentaram o teste de Schoeber dentro da normalidade. Os resultados desta pesquisa, nas condições experimentais utilizadas, sugerem que posturas de trabalho repetitivas, seja sentada ou em pé, podem levar a diversas anormalidades das estruturas anatômicas envolvidas, acarretando em dor no segmento lombar da coluna vertebral e que, mesmo a longo prazo, levam o indivíduo a um intenso quadro álgico crônico de caráter incapacitante. Palavras-chave: Postura. Dor lombar. Encurtamento muscular. Fraqueza muscular. Revista PIBIC, v. 1, n. 1, p. 81-91, 2004

8 2 Saul Martins Neto Abstract The corporal position of human being happens due to an adaptation of man during the evolutive process and also individuals adaptation that occurs during his development, which appears to supply the individuals physical needs of life, which include an inadequate erect or sitting position. Some postures that remain for long time will exert stress on the soft tissue resulting in the named painful postures syndromes. This article purpose was evaluate the muscle function using some tests to detect weakness and shortening muscle in a group of 11 female volunteers, aged between 18-44 years old (30 ± 7,3 years). These individuals had low back pain in some moment of the day. The results demonstrated that 100% of the volunteers had less muscle or equal than 4 (it keeps the test position and exerts a light or moderate pressure against the movement in an ant gravitational position) according manual muscle force scale; 100% had a positive Thomas test; 90,9% had recto femoral shortening; 100% had negative Ober test; 90,9% had posterior chain shortening, and 81,8% regular schoeber test. In this experimental conditions, the research results suggest that repetitive postures of work at erect or seating position, cause anatomic structures abnormalities, providing low back pain and in the future an intense painful chronical problem and functional disabilities. Key words: Posture. Low back pain. Shortening muscle. Weakness muscle. Revista PIBIC, v. 1, n. 1, p. 81-91, 2004

Presença de Fraquezas e Encurtamentos Musculares em Secretárias com Dor no Segmento Lombar da Coluna Vertebral 8 3 Introdução A incidência de lesões no tronco é muito alta e, em geral, de 60 a 90% da população adulta está sob o risco de desenvolver dor lombar em algum momento da vida (HAMILL; KNUTZEN, 1999; ALBRIGHT et al, 2001). Ambos os sexos são afetados do mesmo modo, e a dor lombar é mais comum entre os 25 a 60 anos de idade, com a faixa etária dos 40 aos 45 anos sendo de maior incidência e representando as maiores causas de limitação funcional (HAMILL; KNUTZEN, 1999; GERR; MANI, 2000). Milhões de trabalhadores experimentam anualmente algum tipo de doença lombar ocupacional, sendo mais comum naqueles indivíduos que exercem atividades repetitivas durante o dia ou que sobrecarregam a própria coluna vertebral como secretárias, motoristas e outros indivíduos que permanecem por longos períodos de tempo sentados ou, ainda, pessoas que trabalham carregando uma carga excessiva, como operários de indústrias, que na grande maioria das vezes o fazem erroneamente. Os afastamentos do trabalho decorrentes da dor lombar representam de 20 a 30% de todos os casos, e quase um terço dos custos por afastamento ou abandono de emprego (GERR; MANI, 2000). As lesões no tronco no local de trabalho são geralmente o resultado do esforço intenso. Entre os fatores ocupacionais associados a um risco aumentado de dor lombar estão o trabalho físico pesado, posturas de trabalho estáticas, inclinar e girar o tronco freqüentemente, levantar, empurrar e puxar objetos, trabalho repetitivo, vibração e fatores psicológicos e psicossociais (COX, 2002). A dor, ao mesmo tempo em que é considerada um mecanismo de alerta, é também um mecanismo de defesa de defesa quando identifica um estímulo agressor que pode ferir a sua integridade, e de alerta, no sentido de fazer com que os seres vivos procurem mecanismos de restrição à normalidade. Quando não é possível interromper a sensação da dor para desenvolver o bem estar ao organismo, é desencadeado um fenômeno de perpetuação do quadro álgico, fenômeno este denominado dor crônica (KONRAD; COELI, 2001). Como a dor está associada à perda da integridade física dos indivíduos, podendo exercer forte influência no rendimento pessoal e profissional dos mesmos, esta pesquisa buscou investigar a postura das secretárias, já que foram estabelecidos alguns padrões admitidos pelas mesmas durante o decorrer dos anos na profissão, e, desta forma, poderia servir de instrumento profilático na vida de pessoas que, por algum motivo, acabam exercendo as mesmas posturas admitidas pelas secretárias. Assim, a proposta deste estudo foi avaliar a postura das secretárias por intermédio de testes funcionais, que revelaram fraqueza e encurtamentos musculares, e que estes pudessem relacionar-se com as condições de trabalho, levando em consideração o quanto essas condições influenciavam na postura e na vida desses indivíduos. 1 Material e Métodos Foram selecionados 11 voluntários adultos sedentários, do sexo feminino, do cargo de secretárias do Centro Universitário Fundação Instituto de Ensino para Osasco UNIFIEO, com alguma indicação de dor referida no segmento lombar da coluna vertebral associada com atividade de vida diária e do trabalho. Para a avaliação dos voluntários, foi disposto o Laboratório de Fisioterapia aplicada do Departamento de Fisioterapia do UNIFIEO, onde houve a coleta dos dados importantes acerca da história de vida atual dos voluntários, por meio da anamnese contida na ficha de avaliação, a qual também apresentava uma tabela de testes especiais, para que pudessem ser demarcados os resultados referentes às disfunções observadas nas secretárias. Quanto à anamnese, os voluntários foram submetidos a um questionamento sobre a sua história de dor atual e pregressa, referindo características minuciosas sobre a dor no segmento lombar da coluna vertebral, sobre como é o seu ambiente de trabalho e como se comporta diante dele e sobre a influência das atividades exercidas, tanto no ambiente de Revista PIBIC, n. 1, n. 1, p. 81-91, 2004

8 4 Saul Martins Neto trabalho, como fora dele, a respeito da dor na coluna vertebral. Os testes especiais foram realizados com a utilização de uma maca para o melhor posicionamento dos voluntários e visualização das regiões e segmentos corpóreos. Além da maca, foi utilizada uma caneta dermatográfica para demarcar a região da coluna vertebral e também fita métrica para medir o segmento lombar antes e após a flexão do tronco, durante um dos testes. Os testes realizados foram o de força muscular manual dos músculos abdominais, sendo a força muscular graduada de acordo com Kendall (1995); Prova de Thomas, que detecta encurtamento do músculo iliopsoas; teste para detectar encurtamento do músculo reto femoral; teste de Ober, que detecta encurtamento do trato iliotibial; e encurtamento da cadeia posterior músculos curtos dos pés, tríceps sural, isquiotibiais, glúteos e os paravertebrais e o teste de Schoeber, o qual mede a amplitude do movimento de flexão do segmento lombar. A análise dos dados obtidos durante a avaliação das secretárias do UNIFIEO foi realizada de forma descritiva, através da obtenção de médias e desvios padrões. 2 Resultados Durante a avaliação dos voluntários, foram relatadas algumas características do trabalho de secretária, identificando fatores de risco importantes para este estudo, os quais podem relacionar-se com outros achados. Esses fatores podem ser agravantes ou até mesmo precipitantes de diversas queixas individuais, sendo uma delas a dor no segmento lombar da coluna vertebral. 2.1 Anamnese Através da anamnese, pode-se dizer que o grupo de secretárias avaliadas no decorrer da pesquisa possuía uma grande diferença em relação ao tempo de trabalho na profissão de secretária. Essa grande variação do tempo de profissão, desde o menor tempo, que correspondia a três meses, até o maior tempo, correspondente a vinte anos, mostrou que uma maioria de 72,7% já trabalhava como secretária dentro de um tempo superior a quatro anos, o que pode significar um espaço de tempo suficiente para provocar alguma lesão frente a situações que exijam força máxima com movimentos repetitivos. Foi observado ainda, de acordo com relato dos indivíduos, que 63,6% possuíam alguma outra ocupação que não a de secretária, como estudante, professora e a dupla jornada de trabalho, já que 36,3% também eram donas de casa. O que torna ainda mais fatigantes os movimentos realizados durante o serviço de secretária, tendo em vista que elas os executam muitas vezes durante o dia. Procurou-se também, no decorrer das avaliações das secretárias, colher dados referentes a posturas estabelecidas durante a jornada de trabalho, procurando relacionar essa postura às queixas, já que a postura pode desencadear algum mecanismo lesivo ao corpo humano. Dentro das condições experimentais, os resultados demonstraram que 27,2% das secretárias passavam a maior parte do tempo de trabalho na postura de pé, 45,4% passavam a maior parte do tempo sentadas e 27,2% das secretárias mesclavam a postura com posição em pé e sentado. Outro aspecto abordado neste estudo foi a carga horária total de trabalho por dia de cada funcionário relacionando com os índices de lesões, demonstrando que 9,09% tinham uma carga horária total de seis horas de trabalho por dia, sem intervalos ou pausas de descanso; 18,1% trabalhavam nove horas ao dia, com uma hora para refeição e descanso após as quatro primeiras horas da jornada de trabalho; 72,7% dos indivíduos possuíam carga horária total de nove horas e trinta minutos, com uma hora para a refeição e para o descanso após as cinco primeiras horas de trabalho. 2.2. Testes Especiais Com relação à fraqueza muscular abdominal, foi aplicada a prova de força muscular para revelar o Revista PIBIC, v. 1, n. 1, p. 81-91, 2004

Presença de Fraquezas e Encurtamentos Musculares em Secretárias com Dor no Segmento Lombar da Coluna Vertebral 8 5 grau de força e a fraqueza deste músculo, sendo que esta última causa desequilíbrio no segmento lombar. O grau de força representado de acordo com a escala de força muscular manual descrita por Kendall (1995) revelou o quanto este músculo foi comprometido. Os resultados demonstraram que 100% dos indivíduos obtiveram força muscular menor ou equivalente a quatro (mantém a posição da prova contra pressão leve a moderada em posição antigravitacional), revelando uma média de 2,45 ± 0,69 de grau de força muscular abdominal (Tabela 1) e representando um índice regular de força muscular abdominal. Os resultados dos testes de encurtamentos musculares que incluíram a prova de Thomas, encurtamento de reto femoral, teste de Ober e encurtamento da cadeia posterior estão apresentados na Tabela 2 e foram obtidos os resultados a seguir. Da amostra avaliada, 100% dos indivíduos tiveram a Prova de Thomas positiva, o que revelou que todas as secretárias tinham encurtamento do músculo iliopsoas, um dos principais flexores da coxa. No teste para detectar o encurtamento do músculo reto femoral, 90,9% dos indivíduos avaliados apresentaram este teste positivo, o que tornou quase a totalidade da amostra predisposta a lesão, já que o músculo reto femoral é outro importante flexor da coxa, além de extensor da perna. No teste de Ober, 100% da amostra obteve resultados negativos. No teste para revelar encurtamentos de cadeia posterior, 90,9% dos indivíduos apresentaram-no positivo. Esse encurtamento afeta diretamente o segmento lombar da coluna por meio dos músculos encurtados que ali se localizam, podendo ser um fator de risco às lombalgias. Em uma avaliação da coluna vertebral, observouse que 72,7% da amostra apresentou hiperlordose lombar como sendo um dos achados clínicos importantes a serem aqui destacados, e que se correlaciona com os resultados do teste de encurtamento de cadeia posterior já apresentados. Para complementar os resultados obtidos com o teste de encurtamento de cadeia posterior, foi aplicado o teste de Schoeber, onde a medida após a flexão do tronco revelou uma média de 15,55 ± 1,13 cm, revelando que 81,8% dos indivíduos apresentaram este teste dentro da normalidade, onde o valor normal é de 15 centímetros após a flexão do tronco (Tabela 3). 3 Discussão Os resultados deste estudo apresentaram algumas hipóteses referentes às posturas adotadas pelas secretárias e que podem representar fatores reconhecidos como sendo de risco para o desenvolvimento de alterações do aparelho músculoesquelético, podendo acarretar em disfunções biomecânicas. Fatores que demonstram induzir a deficiência funcional podem ser considerados também como fatores de risco em potencial e que, quando presentes, como no caso deste estudo em relação aos envolvimentos musculares, implicam em risco de desenvolvimento de distúrbios, sendo possível assegurar a prevenção destes através da eliminação ou minimização da exposição dos indivíduos a esses fatores de risco e também da recuperação adequada após a exposição (SJØGAARD; JENSEN, 2000; DAVIDSON; KEATING, 2002). Kendall (1995) sugeriram que a alta incidência de alterações posturais em adultos relaciona-se a sua tendência para um padrão de atividade especializado ou repetitivo, o que ressaltou ainda mais a importância desta pesquisa ser realizada com secretárias, já que estas admitem posturas repetitivas por longos períodos de tempo. Antes de discutir sobre os fatores de risco em potencial e seus malefícios, torna-se necessário definir postura e má postura, dentro do conceito de estruturas músculo-esqueléticas. Segundo Kendall (1995), postura define-se como o arranjo relativo das partes do corpo, sendo a boa postura um estado de equilíbrio muscular e esquelético que protege as estruturas de suporte do corpo contra lesão ou Revista PIBIC, n. 1, n. 1, p. 81-91, 2004

8 6 Saul Martins Neto deformidade progressiva independentemente da atitude (ereta, deitada, agachada, encurvada) nas quais essas estruturas estão trabalhando ou repousando. A má postura é uma relação defeituosa entre as várias partes do corpo que produz uma maior tensão sobre as estruturas de suporte e onde ocorre um equilíbrio menos eficiente do corpo sobre sua base. Dessa forma, um desequilíbrio postural nada mais é do que um desequilíbrio entre comprimento e força muscular, podendo levar a uma mecânica deficiente na região e ao desenvolvimento de síndromes dolorosas (KISNER; COLBY, 1998). Além disso, o efeito da exposição física/mecânica sobre o sistema locomotor pode ser positivo, em forma de treinamento, ou negativo, em forma de lesão ou distúrbio (SJØGAARD; JENSEN, 2000). Para alguns tecidos e distúrbios, há evidências de que as exposições ocupacionais associam-se ao desenvolvimento da lesão, e o risco relativo de algumas delas é bem alto, como no caso das lombalgias, que a cada dia se tornam mais comuns. Todas as evidências apontam para uma complexa interação de fatores físicos (ergonômicos), psicossociais e individuais na produção dos distúrbios osteomusculares ocupacionais (WELLS, 2000; SHAW, 2001). Essas características psicossociais são relatadas por alguns indivíduos com lombalgia como fator de risco e que se envolvem em situações como relacionamento com colegas e chefia, satisfação com a empresa, entre outros (GATCHEL; 1995; DAVIS; HEANEY, 2000; SHAW, 2001). De acordo com os resultados desta pesquisa, alguns fatores relacionados com o trabalho ou com posturas admitidas ao longo da vida poderiam estar associados com disfunções lombares. Esses fatores associados ao trabalho seriam referentes ao tempo em que os indivíduos exercem a profissão que, neste estudo, provaram ter relação mediante à gama de alterações posturais encontradas em indivíduos de idades e tempo de trabalho na profissão diferentes. Outro resultado importante foi em relação ao posicionamento no trabalho, já que segundo Wells (2000), esse posicionamento envolve alterações na postura, e estas podem ser utilizadas para quantificar a freqüência de movimentos. Nosso estudo mostrou que a grande maioria das secretárias admitia apenas uma ou outra posição - em pé ou sentado durante o trabalho. Assim, se as posturas não se alteram como a postura de ombro e tronco durante atividade de informática por períodos de tempo prolongados, a tarefa pode ser chamada de estática (WELLS, 2000; SHAW, 2001). Ainda em relação ao posicionamento no trabalho, alguns indivíduos relataram dor lombar na posição sentada, enquanto outros apresentaram a dor na posição em pé. De acordo com Rohlmann (2001), estudos radiográficos nas posturas sentada e em pé mostram que há uma rotação da pelve e uma curvatura cifótica do segmento lombar durante a posição sentada, encontrando uma correlação entre o segmento cervical e lombar na mesma posição em diferentes posturas. O segmento cervical flexionase enquanto o lombar se estende e vice-versa. A carga da coluna vertebral depende provavelmente da posição do corpo e das curvaturas da coluna. Curvaturas excessivas como hiperlordose ou hipercifose são mais comumente encontradas na posição ortostática em comparação com a posição deitada, sendo estas curvaturas indicativas de dor lombar, através de posturas incorretas adotadas pelo indivíduo durante o dia, o que pode explicar a presença de dor lombar nos indivíduos estudados, tanto na postura em pé, quanto sentada, além de cargas repentinas ou inesperadas que também podem resultar em dor lombar (MANNION, 2000; DAVIDSON; KEATING, 2002). Outro aspecto importante ao considerar as condições de trabalho foi em relação à carga horária total por dia, já que os resultados desta pesquisa demonstraram que, apesar de existirem horários de intervalos, esse poderia ser mais um fator de risco para o desenvolvimento de lombalgias ou quaisquer outras disfunções relacionadas ao trabalho. De acordo com nossos resultados, poderíamos sugerir a introdução de algumas pausas durante o trabalho, mesmo que curtas, para que as posturas admitidas Revista PIBIC, v. 1, n. 1, p. 81-91, 2004

Presença de Fraquezas e Encurtamentos Musculares em Secretárias com Dor no Segmento Lombar da Coluna Vertebral 8 7 pelas secretárias possam ser alternadas, evitando desta forma, posições repetitivas e conseqüentemente alterações e disfunções biomecânicas. Nossas sugestões estão de acordo com Kisner e Colby (1998), que afirmaram que uma intervenção reabilitacional em um indivíduo deve enfatizar todos os fatores de risco, não só o corpo em si, mas as condições de trabalho. Assim, o dano progressivo continuará caso a sobrecarga repetitiva exceda o reparo tecidual, já que a fraqueza muscular e fadiga deixam o tecido vulnerável a lesões. Dessa forma, uma intervenção deve ser feita em relação às condições de trabalho. Além disso, Sjøgaard e Jensen (2000) sugeriram que em casos em que se considera prejudicial à saúde realizar uma determinada tarefa durante uma jornada, dia após dia, pode ser necessário limitar a carga horária, individualmente, por um trabalhador nesse processo. Relataram ainda que o tempo remanescente deve ser dedicado a outras tarefas, proporcionando desse modo, a cada indivíduo, um perfil variado de atividades. Dessa forma, nossa sugestão seria mesclar as atividades profissionais entre as secretárias que adotaram posturas em pé com as que mantinham a posição sentada. Poderse-ia, também, implementar um programa de medidas educacionais e preventivas, além do estímulo à prática de atividade física (KENDALL, 1995; SJØGAARD; JENSEN, 2000). Em relação aos testes especiais, que incluíram testes de encurtamentos musculares e provas de força muscular abdominal, os resultados serão discutidos a seguir. A prova de força muscular abdominal serviu para determinar a presença de fraqueza deste músculo, a qual desequilibra a biomecânica do segmento lombar. Nossos resultados demonstraram que 100% dos indivíduos obtiveram força muscular menor ou equivalente a 4 com uma média de 2,45 ±ð 0,69 de grau de força muscular abdominal, comprovando o enfraquecimento dos músculos abdominais. Segundo Kendall (1995), essa fraqueza pode estar, indiretamente, aumentando a lordose lombar pelo tracionamento, já que este músculo (mais especificamente o transverso abdominal) é responsável pela estabilização do segmento lombar, já que sua inserção proximal está em contato com a fáscia toracolombar. Além disso, vale ressaltar, que durante as avaliações posturais, foi observada a presença de hiperlordose lombar nas secretárias com um percentual de 72,7% o que pode ter sido desencadeado pela fraqueza dos músculos abdominais. Dessa forma, em um processo de reabilitação, um músculo alvo para o tratamento das lombalgias poderia ser o transverso abdominal, cujo fortalecimento contribuiria para o reequilíbrio das estruturas corpóreas. A fraqueza dos músculos abdominais acarreta em mais desuso destes músculos, o que os torna ainda mais enfraquecidos. A despeito disso, a contração dos músculos transversos abdominais e oblíquos internos, ambos músculos abdominais, aumenta a pressão intra-abdominal. Esse aumento da pressão intra-abdominal empurra esses músculos, aumentando sua tensão e tração sobre a metade lateral do abdome, que é transmitida para as fibras anguladas da fáscia toracolombar. Esse mecanismo de pressão, acoplado com a tração dos músculos e aumento da tensão na fáscia toracolombar, ajuda a contrapor o momento de flexão do segmento lombar nas atividades de levantamento de peso (KISNER; COLBY, 1998; HAMILL; KNUTZEN, 1999). A realização da prova de Thomas, usada para detectar encurtamento do músculo iliopsoas, revelou um grande índice de indivíduos envolvidos (100%). Segundo Marques (2000), esse músculo tem por função principal a flexão da coxa, podendo, quando encurtado ao nível de sua inserção proximal (localizada na superfície ventral dos processos transversos de todas as vértebras do segmento lombar), aumentar a lordose lombar. Esse encurtamento provavelmente é decorrente do posicionamento admitido pelas secretárias, já que quase a metade da amostra posiciona-se sentada durante a jornada de trabalho, o que favoreceria o encurtamento do referido músculo. Além disso, de acordo com Hamill e Knutzen Revista PIBIC, n. 1, n. 1, p. 81-91, 2004

8 8 Saul Martins Neto (1999), o músculo iliopsoas pode iniciar flexão do tronco e tracionar a pelve para frente, criando uma postura lordótica nas vértebras lombares. Se esse músculo tensiona-se, pode-se desenvolver uma inclinação anterior exagerada da pelve, e se esta inclinação não for contraposta por músculos abdominais fortalecidos, a lordose aumenta e desenvolve-se uma sobrecarga compressiva sobre as articulações sinoviais e o disco intervertebral é tracionado posteriormente. Kisner e Colby (1998) completam dizendo que a lesão, o uso excessivo ou o trauma repetitivo podem ocorrer em qualquer músculo que está sendo submetido a esse tipo de sobrecarga, e acarretando em dor. Nossos resultados demonstraram ser favoráveis para o desenvolvimento de sobrecargas compressivas sobre as articulações do segmento lombar, através do encurtamento do músculo iliopsoas em conjunto com a fraqueza dos músculos abdominais. Um outro importante flexor da coxa abordado nesta pesquisa foi o músculo reto femoral, sendo que os nossos resultados, em que 90,9% dos indivíduos apresentaram encurtamento, mostraram que esse músculo pode sofrer influência do posicionamento adotado pelo homem, seja no trabalho ou no lazer. Trata-se da postura sentada por longos períodos de tempo, já que este músculo tem por função a flexão da coxa e extensão da perna, o que faz com que a articulação do joelho deva ser considerada. Como na posição sentada, a coxa fica fletida, este músculo, quando submetido a esta posição por um longo período de tempo, tenderá ao encurtamento (HAMILL; KNUTZEN, 1999). Como 45,4% da amostra deste estudo trabalham na postura sentada, seria interessante um programa de reabilitação que enfatizasse o alongamento dos flexores da coxa e o fortalecimento dos abdominais visando reequilibrar as forças exercidas sobre o segmento lombar, além de orientações quanto a posturas estabelecidas no trabalho, como já discutido anteriormente. Como o teste de Ober representou resultados negativos em 100% da amostra estudada, podemos sugerir que os músculos abdutores são músculos que pouco se comprometem em casos de posturas estáticas com movimentos repetitivos no trabalho. Talvez, esse resultado seja relacionado ao fato de que a abdução e os músculos abdutores são importantes, principalmente, em seu papel como estabilizadores da pelve e coxa durante a marcha (HAMILL; KNUTZEN, 1999), e que não se apresentam comprometidos em profissionais como as secretárias, que não tem como movimento característico durante a jornada de trabalho a marcha, mas sim a postura estática, seja sentada ou em pé. Outro grupo muscular importante ao desempenho biomecânico do segmento lombar da coluna é o grupo formado por músculos da cadeia posterior músculos curtos do pé, tríceps sural, isquiotibiais, glúteos e paravertebrais. Nossos resultados demonstraram que 90,9% dos indivíduos apresentaram o encurtamento da cadeia posterior, o que pode ter sido mais um fator para o desenvolvimento de dor lombar. Esse comprometimento pode ser explicado por fatores de risco considerados como extrínsecos ao indivíduo, podendo ser o uso de sapatos com salto alto, bastante admitido pelas secretárias no dia-a-dia, principalmente quando o indivíduo necessita ficar por muito tempo na postura em pé ou ainda na postura sentada. Um encurtamento em cadeia posterior afeta diretamente o segmento lombar da coluna vertebral por meio de seus músculos que poderá acarretar, após algum tempo, em alguma disfunção lombar devido às intensas dores na região. De acordo com o que demonstraram os resultados referentes ao teste de Schoeber, onde 81,8% dos indivíduos apresentaram-no dentro da normalidade, aproximadamente em 15 centímetros após a flexão lombar, podemos sugerir que os músculos paravertebrais lombares não se apresentam encurtados o suficiente para comprometer toda a cadeia posterior. Provavelmente, os músculos posteriores do membro inferior demonstraram ser mais comprometidos que os da coluna vertebral, o que fez com que o teste de cadeia posterior tenha sido positivo na grande maioria da amostra, embora o teste de Schoeber tenha ficado dentro de seu padrão normal. Revista PIBIC, v. 1, n. 1, p. 81-91, 2004

Presença de Fraquezas e Encurtamentos Musculares em Secretárias com Dor no Segmento Lombar da Coluna Vertebral 8 9 Pelo que demonstraram os resultados, podemos sugerir que, em um estágio mais determinado da lesão, independentemente de qual estaria causando dor lombar, as alterações anatômicas como músculos e ligamentos geralmente vêm seguidas de alterações estruturais, como uma lesão degenerativa discal. Cox (2000) discorda, afirmando que entre todas as estruturas que teoricamente poderiam estar envolvidas no processo de dor, somente o disco intervertebral mostra alterações anatômicas em um estágio tão precoce. Cox (2000) ainda relata que apesar dos pacientes com dor lombar se recuperarem dentro de dois meses, 2 a 3% eventualmente desenvolvem dor lombar crônica incapacitante. De forma geral, 83,6% retornam até após sete meses. Aproximadamente 16% nunca retornam ao trabalho com sucesso dentro do período de acompanhamento, o que pode ser explicado justamente pelo que foi discutido anteriormente, onde, talvez, dentro desses 16% de indivíduos, a maioria já tenha desenvolvido uma lesão irreparável, onde não adiantaria só tratar e retirar as conseqüências, mas sim as causas precipitantes e desencadeantes das dores lombares. Pelo que demonstraram os resultados desta pesquisa, seria interessante que as secretárias, não apenas as que participaram da pesquisa, pudessem ter acesso a informações sobre posturas adotadas no trabalho e sobre modificações em seu posto de trabalho, no intuito de diminuir sua exposição a lesões que possam, mesmo a longo prazo, prejudicar o seu desempenho dentro da empresa onde trabalha e no seu dia-a-dia, seja em casa ou no lazer. Conclusão Dentro das condições experimentais utilizadas nesta pesquisa, pode-se concluir que a hiperlordose lombar é um achado clínico comum na avaliação postural de secretárias. Os principais músculos que sofrem encurtamento durante a atividade profissional de secretária, mantida por pelo menos três meses, são iliopsoas, reto femoral e músculos da cadeia posterior. As posturas adotadas no trabalho levam a vários encurtamentos de músculos importantes para o desempenho da função, como reto femoral e iliopsoas, podendo ser estes músculos, instrumentos enfocados no processo de reabilitação. Posturas de trabalho repetitivas, seja sentada ou em pé, podem levar a diversas anormalidades das estruturas anatômicas envolvidas, acarretando em dor no segmento lombar da coluna vertebral e que, mesmo a longo prazo, levam o indivíduo a um intenso quadro álgico crônico de caráter incapacitante. Como a grande maioria da amostra apresenta encurtamentos musculares e posturas deficitárias adotadas no trabalho, seria interessante a elaboração e a aplicação de um programa preventivo que visasse o reequilíbrio muscular e a orientação em relação às atividades profissionais e de vida diária. Como encaminhamentos futuros, seria interessante a aplicação deste programa citado acima e, logo após, uma análise dos resultados desta intervenção com base no desempenho das funções e relato das condições da dor desses indivíduos, visando a melhora do rendimento pessoal e profissional. Revista PIBIC, n. 1, n. 1, p. 81-91, 2004

9 0 Saul Martins Neto Tabelas Tabela 1 Valores individuais e média e desvio-padrão do grau de força muscular manual dos músculos abdominais nos indivíduos avaliados (n=11) Prova de força muscular abdominal Indivíduos Grau de força muscular 1 2 2 2 3 3 4 2 5 2 6 2 7 2 8 3 9 4 10 3 11 2 Média 2,45 Desvio Padrão 0,69 Tabela 2 Distribuição individual e percentual dos testes funcionais observados no aparelho músculo-esquelético que revelaram encurtamentos musculares (n=11) Testes de encurtamentos musculares Indivíduos Prova de Thomas Encurtamento de Teste de Ober Encurtamento de reto femoral cadeia posterior D E D E D E 1 + + + + + 2 + + 3 + + + + + 4 + + + + + 5 + + + + + 6 + + + + + 7 + + + + + 8 + + + + + 9 + + + + + 10 + + + + + 11 + + + + + Total % 100 100 90,9 90,9 0,0 0,0 90,9 LEGENDA D: direito E : esquerdo + : presente : ausente Revista PIBIC, v. 1, n. 1, p. 81-91, 2004

Presença de Fraquezas e Encurtamentos Musculares em Secretárias com Dor no Segmento Lombar da Coluna Vertebral 9 1 Tabela 3 Valores individuais e média e desvio-padrão da medida após flexão de tronco revelada através do teste de Schoeber das secretárias avaliadas, em centímetros (n=11) Indivíduos Medida após flexão de tronco 1 15 2 16 3 16 4 16 5 17 6 16 7 14 8 16 9 13 10 16 11 16 Média 15,55 Desvio Padrão 1,13 Referências ALBRIGTH, J. et al. Philadelphia Panel Evidence-Based Clinical Practice Guidelines on Selected Rehabilitation Interventions for Low Back Pain. Physical Therapy. 81 (10): 1641-1665, 2001. COX, J. M. Dor lombar. Mecanismo, diagnóstico e tratamento. 6. ed. São Paulo: Manole, 2002. DAVIDSON, M.; KEATING, J. L. A Comparison of Five Low Back Disability Questionnaires: Reliability and Responsiveness. Physical Therapy. 82 (1): 8-24, 2002. DAVIS, K. G.; HEANEY, C. A. The Relationship Between Psychosocial Work Characteristics and Low Back Pain: Underlyng Methodological Issues. Clinical Biomechanics. 15: 389-406, 2000. GATCHEL, R. J. et al. The Dominant Role of Psychosocial Risk Factors in the Development of Chronic Low Back Pain Disability. Spine. 20 (24): 2702-2709, 1995. GERR, F.; MANI, L. Work-Related Low Back Pain. Primary Care. 27 (4): 865-874, 2000. HAMILL, J.; KNUTZEN, K. M. Bases biomecânicas do movimento humano. São Paulo: Manole, 1999. KENDALL, F. P. et al. Músculos: provas e funções. 4. ed. São Paulo: Manole, 1995. KISNER, C.; COLBY, L. A. Exercícios terapêuticos: fundamentos e técnicas. 3. ed. São Paulo: Manole, 1998. KONRAD, H.; COELI, S. M. C. M. Dor, fisiopatologia e tratamento. In: LIANZA, S. Medicina de reabilitação. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. MANNION, A. F. et al. Sudden and Unexpected Loading Generates High Forces on the Lumbar Spine. Spine. 25 (7): 842-852, 2000. MARQUES, A. P. Cadeias musculares: um programa para ensinar avaliação fisioterapêutica global. São Paulo: Manole, 2000. ROHLMANN, A. et al. Loads on an Internal Spinal Fixation Device During Sitting. Journal of Biomechanics. 34: 989-993, 2001. SHAW, W. S. et al. Working with Low Back Pain: Problem- Solving Orientation and Function. Pain. 93: 129-137, 2001. SJØGAARD, G.; JENSEN, B. R. Patologia muscular por atividade excessiva (Overuse). In: RANNEY, D. Distúrbios osteomusculares crônicos relacionados com o trabalho. São Paulo: Roca, 2000. WELLS, R. Análise de tarefas In: RANNEY, D. Distúrbios osteomusculares crônicos relacionados ao trabalho. São Paulo: Roca, 2000. Revista PIBIC, n. 1, n. 1, p. 81-91, 2004