Turma e Ano: Flex B (2014) Matéria / Aula: Processo Penal / Aula 13 Professor: Elisa Pittaro Conteúdo: Teoria Geral dos Recursos: Conceito; Natureza Jurídica; Princípios; Efeitos. - TEORIA GERAL DOS RECURSOS CONCEITO: Recurso é um meio voluntário para impugnar uma decisão. NATUREZA JURÍDICA: 1) Majoritária (Ada Pellegrini, Paulo Rangel, Tourinho) Recurso é um desdobramento do direito de ação, ou seja, dentro de um mesmo processo haverá outro procedimento em fase recursal (posição que deve ser utilizada em concursos). 2) Hélio Tornaghi Recurso é uma ação autônoma dentro de um mesmo processo. Não pode ser o desdobramento de uma mesma ação, pois além da possibilidade de inversão dos polos ativo e passivo da relação processual, o que justifica o direito de ação é a prática de um crime, enquanto o que justifica um recurso é uma decisão judicial. Obs: Ada Pellegrini critica o entendimento, pois ao considerarmos o recurso uma nova ação, a hipótese seria de litispendência. 3) Adalberto Aranha Recurso é qualquer instrumento utilizado para impugnar uma decisão PRINCÍPIOS GERAIS: Taxatividade: Os recursos devem ter previsão legal, ou seja, não é lícito as partes criarem recurso.
O rol de hipóteses de admissibilidade do RSE é taxativo (art. 581 CPP)? 1) Ada Pellegrini e Jurisprudência Majoritária O rol é taxativo na sua essência, porém ele pode ser ampliado em situações semelhantes (ex. decisão que indefere a prisão temporária caberia RSE com aplicação analógica do art. 581, V CPP). Portanto, o dispositivo seria verticalmente taxativo (incisos), mas horizontalmente ele seria exemplificativo, podendo ser ampliado em situações semelhantes. 2) Paulo Rangel (minoritária) - O rol do art. 581 do CPP é literalmente taxativo, nas hipóteses não mencionadas no dispositivo caberá apelação residual prevista no art. 593, II do CPP. Art. 593. Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias: II - das decisões definitivas, ou com força de definitivas, proferidas por juiz singular nos casos não previstos no Capítulo anterior; Unirrecorribilidade: Cada decisão só pode ser impugnada com um único recurso. Concurso MPF: A possibilidade de interposição simultânea de Recurso Extraordinário ou Especial prevista na Lei 8.038/90 é uma exceção ao Princípio da Unirrecorribilidade? 1) Ada Pellegrini Não é exceção, pois cada recurso se presta a impugnar um único aspecto daquela decisão (RExt - questões constitucionais / REsp - questões federais). 2) Polastri É exceção, pois uma decisão será impugnada com dois recursos. Fungibilidade (Teoria do Recurso Indiferente / Teoria Tanto Vale): A parte não será prejudicada se interpuser o recurso errado, pois ele será recebido como se fosse o recurso correto, ressalvadas as hipóteses de má fé.
Voluntariedade: A interposição do recurso depende da livre manifestação de vontade da parte, ou seja, ninguém é obrigado a recorrer. Recurso de Ofício: Art. 574. Os recursos serão voluntários, excetuando-se os seguintes casos, em que deverão ser interpostos, de ofício, pelo juiz: I - da sentença que conceder habeas corpus; II - da que absolver desde logo o réu com fundamento na existência de circunstância que exclua o crime ou isente o réu de pena, nos termos do art. 411. (não se aplica mais, pois o atual dispositivo que trata da absolvição sumária não faz menção ao recurso de ofício!) O recurso de ofício é uma exceção a esse princípio? Qual a natureza jurídica desse instituto? Ele é compatível com a Constituição? 1) Doutrina e Jurisprudência Majoritárias (Ada Pellegrini, Paulo Rangel, Tourinho) Não se trata de um recurso, pois recurso pressupõe inconformismo, e o juiz não pode estar inconformado com algo que ele fez. Trata-se de condição de eficácia de determinadas decisões, que somente produzirão efeitos após submetidas ao duplo grau de jurisdição. 2) Polastri Ele tem natureza de recurso, pois foi chamado de recurso pelo CPP. Porém, como o recurso é um desdobramento do direito de ação e como a ação é exclusiva do MP, juiz não pode recorrer. 3) Geraldo Prado O art. 574 do CPP é um resquício do sistema inquisitivo, onde o legislador desconfiava de determinadas decisões que beneficiassem o réu e exigiam a sua confirmação pelo tribunal. Desta forma, por ser incompatível com o sistema acusatório, ele não foi recepcionado pela Constituição.
O art. 7º da Lei 1.521/51 (Crimes contra a Economia Popular) que exige recurso de ofício da decisão que arquiva inquérito foi recepcionado pela Constituição? 1) Frederico Marques O dispositivo é válido, se o Tribunal discordar do arquivamento, o MP é obrigado a denunciar. 2) Paulo Rangel O dispositivo é válido, tratando-se de uma cautela a mais do legislador, pois se o tribunal discordar do arquivamento ele deverá aplicar o art. 28 do CPP. O MP em alegações finais pede a condenação do agente nos moldes da denúncia, porém o réu é absolvido. Nessa hipótese, o MP é obrigado a recorrer? Apesar do recurso ser um desdobramento do direito de ação e do Princípio da Obrigatoriedade orientar as ações penais públicas, o MP não é obrigado a recorrer. Com a prolação da sentença, a situação processual se altera, exigindo uma reanálise do promotor, que pode se conformar com a decisão judicial. Determinado réu foi intimado da sentença condenatória e renunciou expressamente a interposição de recurso. Quando o seu advogado for intimado, ele poderá recorrer? 1) Damásio (Minoritária) Esse recurso não deve ser recebido, pois o direito de recorrer pertence ao réu, além de ser um direito perfeitamente renunciável. 2) Súmula 705 STF Por conta do princípio que proíbe a reformatio in pejus, a situação do réu não poderá ser agravada e, portanto, esse recurso não lhe trará qualquer prejuízo. Ademais, o próprio art. 577 do CPP deu legitimidade ao advogado para interpor recurso. Súmula 705 STF: A renúncia do réu ao direito de apelação, manifestada sem a assistência do defensor, não impede o conhecimento da apelação por este interposta.
Proibição da reformatio in pejus (art. 617 CPP): Art. 617. O tribunal, câmara ou turma atenderá nas suas decisões ao disposto nos arts. 383, 386 e 387, no que for aplicável, não podendo, porém, ser agravada a pena, quando somente o réu houver apelado da sentença. Está previsto no art. 617 do CPP, no capítulo que trata da apelação, porém é um princípio tão importante que é aplicado para todos os recursos no processo. De acordo com a proibição da reformatio in pejus é proibida a reforma para pior no julgamento de recurso exclusivo da defesa. Ao proferir a sentença condenatória o juiz fixou a pena em 3 anos e, em seguida, promoveu o acréscimo de 1/3, totalizando 3 anos e 6 meses de prisão. O tribunal poderia promover a correção durante o julgamento de recurso exclusivo da defesa? E o juiz da VEP poderá promover a correção? Apesar do erro de cálculo, o tribunal não poderia corrigir, pois estaria violando a proibição da reformatio in pejus. O juiz da VEP também não poderia promover a correção, pois estaria violando a coisa julgada. Reformatio in pejus Indireta: É possível que o tribunal, ao julgar recurso exclusivo da defesa, anule parte do processo, devolvendo o feito ao juízo singular para a sua reconstrução. Nesse momento seria possível agravar a situação do réu? Apenas a sentença foi anulada: 1) Ada Pellegrini O art. 617 do CPP proíbe a reforma para pior feita pelo tribunal e não pelo próprio juiz sentenciante. Ademais, aquela sentença foi invalidada e não é possível agravar o que não existe mais. 2) Jurisprudência Majoritária e Tourinho Não é possível agravar a situação do réu, pois isso seria uma reformatio in pejus indireta ou por via oblíqua, o que é proibido pelo art. 617 do CPP. O processo é todo anulado (ab ovo): 1) Tourinho Nesse caso, não há como limitar a atuação do juiz competente, sendo possível agravar a situação do réu.
2) Jurisprudência não é possível agravar a situação do réu, pois isso seria uma reformatio in pejus indireta, que é proibida pelo art. 617 do CPP. A foi pronunciado e submetido a Plenária pela prática de um homicídio duplamente qualificado. Durante o julgamento, foram afastadas as qualificadoras e ele condenado a 6 anos de reclusão por homicídio simples. Julgado procedente recurso exclusivo da defesa, A será submetido a novo júri. Nesse Plenário, será possível agravar a situação do réu? (soberania dos veredictos x ampla defesa) 1) Tourinho, Damásio, Mirabete e Polastri (prestígio a soberania dos veredictos) O primeiro julgamento foi invalidado, desapareceu da ordem jurídica, não servindo de parâmetro para mais nada. Ademais, a soberania dos veredictos é um dogma constitucional que não pode ser limitado. 2) Ada Pellegrini e STF (prestígio a ampla defesa e proibição da reformatio in pejus) A soberania dos veredictos será respeitada na medida em que os jurados apreciarão o feito livremente, podendo até reconhecer as qualificadoras. Porém, a pena não poderá ultrapassar a do julgamento anterior, porque o réu não poderá ser prejudicado quando estiver no exercício da ampla defesa constitucional. 3) STJ e Pacelli (corrente intermediária ) Se no segundo plenário os jurados julgarem da mesma forma, reconhecendo por exemplo as mesmas qualificadoras, não será possível agravar a situação do réu. Porém, se os jurados reconhecerem mais qualificadoras não há como limitar a soberania dos veredictos. Reformatio in mellius: É possível a reformatio in mellius? 1) Majoritária - A reformatio in mellius consiste na reforma para melhor no julgamento de recurso da acusação. Por conta dos princípios do favor rei e do favor libertatis, juiz e tribunais podem sempre reconhecer de ofício qualquer questão que beneficie o réu. 2) Mirabete Não pode ocorrer, em razão do princípio tantum devolutum quantum apellatum (delimita o objeto de impugnação do recurso).
EFEITOS DOS RECURSOS: Devolutivo é aquele efeito que cria o âmbito de impugnação do recurso, ou seja, aquilo que será apreciado pelo tribunal. O princípio do tantum devolutum quantum apellatum é aplicado no processo penal brasileiro? Independente de quem esteja recorrendo, este recurso sempre devolverá ao tribunal qualquer questão que beneficie o réu, mesmo no recurso da acusação, com o objetivo de agravar a situação do réu, o tribunal poderá reconhecer de ofício qualquer questão para beneficiá-lo. Logo, o princípio do tantum devolutum quantum apellatum não é aplicado no processo penal!