Número do 1.0188.14.006589-0/001 Númeração 0695660- Relator: Relator do Acordão: Data do Julgamento: Data da Publicação: Des.(a) Wagner Wilson Des.(a) Wagner Wilson 29/04/2015 08/05/2015 EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO REIVINDICATÓRIA. COISA JULGADA MATERIAL. INOCORRÊNCIA. ART. 526 DO CPC. DESCUMPRIMENTO. ALEGAÇÃO E COMPROVAÇÃO PELO AGRAVADO. NÃO CONHECIMENTO DO RECURSO. Nos termos do art. 469 do CPC, apenas a parte dispositiva da sentença transita em julgada. Considerando que o cumprimento do disposto no art. 526 do CPC pelo agravante é requisito de admissibilidade do agravo de instrumento e tendo sido demonstrado que a determinação legal não foi cumprida, imperioso o não conhecimento do recurso. AGRAVO DE INSTRUMENTO-CV Nº 1.0188.14.006589-0/001 - COMARCA DE NOVA LIMA - AGRAVANTE(S): GERSON DE ALMEIDA NEVES E SUA MULHER TEREZINHA MARIA SODRE NEVES, TEREZINHA MARIA SODRÉ NEVES - AGRAVADO(A)(S): FABIA JUNIA LIBERATO, FERNANDA MARINA LIBERATO PEDROSA, KARINA KELLY LIBERATO, MARIA MADALENA LIBERATO E OUTRO(A)(S), POLLYANA CRISTINA LIBERATO, EDIL VANDERSON ALMEIDA GOMES, ANDRESA MADALENA LIBERATO, FRANCISCO GOMES PEDROSA A C Ó R D Ã O Vistos etc., acorda, em Turma, a 16ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos, em REJEITAR A PRELIMINAR DE COISA JULGADA E ACOLHER A PRELIMINAR DE DESCUMPRIMENTO DO ART. 526 DO CPC PARA NÃO CONHECER DO RECURSO. DES. WAGNER WILSON FERREIRA 1
RELATOR. DES. WAGNER WILSON FERREIRA (RELATOR) V O T O Trata-se de Agravo de Instrumento interposto por GERSON DE ALMEIDA NEVES e TEREZINHA MARIA SODRE NEVES contra a decisão proferida pelo Juízo da 2ª Vara Cível da comarca de Nova Lima/MG (fls. 55/56) que, nos autos de Ação Reivindicatória ajuizada por MARIA MADALENA LIBERATO e outros, deferiu o pedido liminar formulado determinando a imediata desocupação do imóvel objeto do litígio, sob pena de imissão compulsória das proprietárias em sua posse. Os agravantes alegam que, nada obstante a declaração de nulidade do contrato de compra e venda, é indevida a restituição das partes ao estado anterior, uma vez que foram realizadas inúmeras benfeitorias no imóvel objeto do contrato, que lhes garantem o direito à sua retenção. Asseveram que, em cumprimento ao contratado entre as partes, quitaram as parcelas referentes à aquisição do imóvel adquirido e que não lhes foram restituídas após a declaração da nulidade do contrato, fato que também lhes garante o direito de permanecerem na posse do imóvel. Afirmam que não foi possível a produção de provas ao longo do processamento da Ação Declaratória de Nulidade do contrato de compra e venda em relação às benfeitorias realizadas, por culpa exclusiva de seu advogado que, deliberadamente, abandonou a causa antes de iniciar a fase probatória. Pedem o provimento do recurso, para que seja indeferida a liminar de desocupação do imóvel e seja determinada a outorga compulsória da respectiva Escritura Pública. 2
O recurso foi recebido em ambos os efeitos, deferindo-se os benefícios da Justiça Gratuita aos agravantes (fls. 146/147-TJ) Informações prestadas às fl. 171-TJ. Contraminuta às f. 152/159-TJ, em que foi argüida preliminar de não conhecimento do recurso em razão de coisa julgada material. Em fl. 168-TJ pede-se o não conhecimento do recurso, considerando o descumprimento da regra do art. 526 do Código de Processo Civil. É o relatório. PRELIMINAR Não conhecimento do recurso em razão da coisa julgada Os agravados, em contraminuta, sustentam que o presente recurso não deve ser conhecido, vez que a matéria nele ventilada resta acobertada pelo manto da coisa julgada material. Sem razão os agravantes. Em 04/12/2003, as partes celebraram um contrato de promessa de compra e venda (fls. 33/34-TJ), cujo objeto é o imóvel ora reivindicado. Ocorre que, estando o bem em condomínio, já que não finalizada a partilha, as demais herdeiras não participaram da alienação e nem tiveram observado o seu direito de preferência na aquisição do imóvel. Em decorrência disso, nos autos da Ação de Declaração de Nulidade ajuizada pelas agravadas, a Magistrada Singular julgou procedente o pedido inicial, declarando nula a alienação, sendo certo 3
que os efeitos de tal decisão retroagiram de modo a devolver as partes envolvidas na negociação ao status quo ante (fls. 52/55-TJ). Contra referida sentença não foi interposto qualquer recurso, pelo que o decisum transitou em julgado. Em sua fundamentação, a MM. Juíza afirmou que os réus não faziam jus a qualquer indenização relacionada às alegadas benfeitorias realizadas no imóvel, diante da ausência de qualquer prova neste sentido. Ocorre que, nos termos do art. 469 do Código de Processo Civil, apenas a parte dispositiva da sentença transita em julgada. Com efeito, todos os argumentos e as fundamentações jurídicas explanadas ao longo da decisão proferida podem ser objeto de nova discussão, desde que não afrontem a conclusão lógica do dispositivo. A propósito: ARRENDAMENTO MERCANTIL - RAZÕES QUE DISCUTEM APENAS DESENVOLVIMENTO DO RACIOCÍNIO DO MAGISTRADO NO CORPO DA SENTENÇA - VALOR DO DÉBITO EM ABERTO - REAPRECIAÇÃO EM OUTRA AÇÃO - POSSIBILIDADE - ARTIGOS 469 DO CPC DANO MORAL - INEXISTENCIA - INADIMPLÊNCIA COMPROVADA - RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. 1. Os motivos, ainda que importantes para determinar o alcance da parte dispositiva da sentença, não fazem coisa julgada - inteligência do art. 469 do CPC. 2. Como o desenvolvimento de raciocínio do Magistrado utilizado no corpo da sentença não transita em julgado, pode ser reapreciado em outra ação, sendo livre o magistrado para dar a ele a interpretação e valor que entender correto. (TJMG - Apelação Cível 4
1.0024.05.893794-7/001, Relator(a): Des.(a) Sebastião Pereira de Souza, 16ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 31/10/2007, publicação da súmula em 29/02/2008) - destaquei. Pois bem. O presente recurso não visa rediscutir a validade do contrato, matéria que indiscutivelmente transitou em julgado com o dispositivo sentencial que ora se transcreve: Pelo exposto e por tudo mais que dos autos consta, com fulcro no artigo 269, I, do CPC, JULGO PROCEDENTE o pedido formulado pelas requerentes para declarar nulo o contrato de ff. 14/15 celebrado entre os réus. Ainda JULGO EXTINTA sem mérito a reconvenção, com fulcro no art. 267, inciso I, do CPC. (fl. 55-TJ) O que se discute, na verdade, é a possibilidade da concessão liminar, inaudita altera parte, nos autos da presente Ação Reivindicatória, determinando a imediata desocupação do imóvel objeto do litígio, sob pena de imissão compulsória das proprietárias em sua posse. Salienta-se que a reconvenção, que de fato se refere à possibilidade da retenção do imóvel em razão das benfeitorias úteis e necessárias nele realizada, foi julgada extinta, sem resolução do mérito, porquanto inepta a petição inicial, não havendo óbice para a rediscussão da matéria ali tratada, por ausência de coisa julgada material. Mediante tais fundamentos, rejeito a preliminar argüida em contraminuta. O DES. JOSÉ MARCOS RODRIGUES VIEIRA - De acordo com o(a) Relator(a). 5
A DESA. APARECIDA GROSSI - De acordo com o(a) Relator(a). DES. WAGNER WILSON FERREIRA (RELATOR) Não conhecimento do recurso em razão do descumprimento do art. 526 do Código de Processo Civil Com o advento da Lei n.º 10.352/2001 a comunicação da interposição do Agravo de Instrumento passou a ser requisito de admissibilidade do recurso, uma vez que se trata de verdadeiro ônus do recorrente, e não mais uma mera faculdade. Em petição de fls. 168/169-TJ, o agravado pugnou pelo não conhecimento do presente recurso em razão do descumprimento do artigo 526 do Código de Processo Civil, que assim dispõe: Art. 526 - O Agravante, no prazo de três dias, requererá a juntada, aos autos do processo, de cópia da petição do agravo de instrumento e do comprovante de sua interposição, assim como a relação dos documentos que instruíram o recurso. Parágrafo único - O não cumprimento do disposto neste artigo, desde que argüido e provado pelo agravado, importa inadmissibilidade do agravo. Como se vê, é dever do agravante juntar aos autos cópia do recurso interposto, bem como dos documentos que o instruíram, dentro do prazo de três dias, sob pena de inadmissibilidade do recurso. 6
A finalidade dessa providência é dar ciência ao juízo de Primeiro Grau da interposição do agravo, para se quiser, exercer o juízo de retratação acerca da decisão impugnada, o que torna desnecessário o processamento do recurso perante o Tribunal. No caso em apreço, a Magistrada a quo, ao prestar informações (fl. 171- TJ) informou que, de fato, não restou cumprida a determinação do artigo 526 do Código de Processo Civil. Dessa forma, há que se reconhecer que o presente recurso é inadmissível, não podendo ser apreciada a matéria recursal. Neste sentido: AGRAVO DE INSTRUMENTO - DESCUMPRIMENTO DO ARTIGO 526 DO CPC - ARGUIÇÃO E COMPROVAÇÃO DA PARTE AGRAVADA - NÃO- CONHECIMENTO DO RECURSO. O descumprimento da expressa exigência do caput do artigo 526 do CPC, deixando a parte agravante de colacionar nos autos originários cópia da petição do agravo de instrumento e da relação de documentos que instruíram o recurso, torna-o inadmissível, desde que tenha sido a omissão arguida e provada pelo agravado, mormente quando tal circunstância foi informada pelo juiz da causa. (Agravo de Instrumento Cv 1.0024.06.994103-7/007, Relator(a): Des.(a) Armando Freire, 1ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 21/01/2014, publicação da súmula em 27/01/2014) AGRAVO DE INSTRUMENTO. ARTIGO 526, DO CPC. AUSÊNCIA DE CUMPRIMENTO. NÃO CONHECIMENTO DO RECURSO. 1. Nos termos da redação dada ao 'caput' do artigo 526, do CPC, pela Lei 9.139 / 95, resta claro que o Agravante deve juntar aos autos, na Primeira Instância, cópia de todo o recurso, sob pena de não conhecimento, nos termos do parágrafo único da mesma norma legal, com a redação que lhe foi dada pela Lei 10.352 / 2001.2. A exigência 7
do artigo 526, do CPC, tem como finalidade proporcionar ao Juiz de Primeira Instância a retratação da decisão agravada, bem como permitir à parte Agravada tenha acesso às razões do recurso para se manifestar sobre ele. Preliminar acolhida e recurso não conhecido. (Agravo de Instrumento Cv 1.0024.12.321793-7/001, Relator(a): Des.(a) Pereira da Silva, 10ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 26/11/2013, publicação da súmula em 06/12/2013) Mediante tais fundamentos, ACOLHO A PRELIMINAR DE DESCUMPRIMENTO AO ART. 526 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL E NÃO CONHEÇO DO RECURSO. Custas ao final. É como voto. O DES. JOSÉ MARCOS RODRIGUES VIEIRA - De acordo com o(a) Relator(a). A DESA. APARECIDA GROSSI - De acordo com o(a) Relator(a). SÚMULA: "REJEITARAM A PRELIMINAR DE COISA JULGADA E ACOLHERAM A PRELIMINAR DE DESCUMPRIMENTO DO ART. 526 DO CPC, PARA NÃO CONHECER DO RECURSO." 8