Relatório de vivencias Ver SUS Por : Ana Daniele Linard do Vale Estudante do quinto período de Terapia Ocupacional Universidade Federal da Paraíba. Primeiro dia (01-03-15) O primeiro dia foi de acolhimento. Houve uma recepção e uma roda de conversa onde todos se apresentaram (comissão organizadora, facilitadores e viventes), falaram sobre suas expectativas e desejos para com os dez dias que viriam. Em outro momento o cronograma foi exposto. Posteriormente foi realizada uma formação em reforma sanitária, construção histórica e politica do SUS, o momento foi guiado pelo professor Luciano Bezerra do DPS. O professor fez um apanhado histórico, falou sobre a oitava conferencia nacional de saúde, da importância da participação popular nesse processo de construção da saúde publica, dos interesses econômicos que movem a vida e a mercantilização da mesma, comentou ainda sobre a base social está diretamente atrelada ao processo saúde/doença. Seguindo toda essa linha o professor dividiu o grupo em grupos menores e nos propôs problematizar e discutir sobre dois pontos: Quais as agendas relevantes para a pauta da luta em saúde? Quais as formas de luta? Logo em seguida voltamos ao grupo maior e vários pontos foram levantados, tais como: Privatização/medicalização da saúde, formação atual dos profissionais, trabalho em rede, uso dos fitoterápicos, formação e empoderamento da sociedade sobre seus direitos, proibicionismo, politica de redução de danos, uso medicinal da maconha, aborto e violência obstétrica, luta
antimanicomial e participação popular. Ao final do dia assistimos um documentário sobre a reforma sanitária e saúde, com a fala de Sérgio Arouca na conferencia de saúde. No final da noite ocorreu a divisão dos viventes com sua facilitadora. Tomamos a ideia de se ter um amigo clandestino durante os dez dias, o intuito era aumentar o vinculo entre todos e proporcionar afeto. Segundo dia (02-03-15) Manhã: no segundo dia fomos a Secretaria de Saúde para entender um pouco mais sobre as redes de serviços as quais iriamos visitar. A gerencia de educação em saúde fica responsável pela regulação, autorização, monitoria e acompanhamento. Os serviços pautados foram: área técnica da saúde de
deficientes, Telessaúde Brasil, área técnica de saúde bucal, saúde do homem, saúde da população negra, saúde da criança, adolescente e nutrição, técnica de geoprocessamento, saúde da mulher, saúde do idoso, saúde mental, Hanseníase e Tuberculose. Tarde: voltamos à secretaria para formação com o Consultório na rua. Conhecemos o trabalho desses profissionais que trabalham com a população marginalizada e em situações de risco. O trabalho é pautado na politica de redução de danos, escuta acolhedora (evitando julgamentos morais), realizam a entrega de preservativos (trabalhando com a orientação) também distribuem agua. Noite: no espaço da noite houve uma formação em saúde mental com o professor Aldenildo, coordenador do projeto de extensão PalhaSUS da UFPB e Leandro do CEFOR. Inicialmente foi realizado um teatro do oprimido onde tivemos a oportunidade de vivenciar uma intervenção manicomial. Logo após esse momento ocorreu à discussão sobre a luta antimanicomial e todo o seu processo. O professor nos instigou a pensar na arte trabalhando a saúde mental, a arte como uma ferramenta de promoção a saúde.
Terceiro dia (03-03015) Manhã: o nosso grupo composto por cinco integrantes (contando comigo), realizou hoje a primeira visita, que, foi ao Centro de Praticas Integrativas e Complementares (CPICS) localizado no bairro Valentina em João Pessoa. Fomos muito bem recebidos pela equipe e pelos usuários que ali estavam. Conhecemos o serviço e participamos de uma atividade. Evidentemente o serviço funciona de forma efetiva, mas, ainda há um tabu entre os próprios profissionais da saúde, pois, estes muitas vezes não encaminham seus pacientes aos CPICS por desacreditar no tratamento não medicamentoso, e ainda há o fato de que grande parte dos usuários desconhece o serviço e suas praticas. Seria um ator produtivo implantar uma educação permanente em saúde de modo ate mesmo incentivar a cultura e o saber popular dessa comunidade. Tarde: na parte da tarde houve uma formação em saúde, levantando questões sobre o capitalismo e como isso afeta o trabalho e promoção em saúde. Noite: esse espeço foi destinado ao projeto Iandé Guatá da Faculdade de Ciências Medicas que abordou a saúde da população indígena. Muitos pontos foram debatidos, dentre eles: direito e luta pela terra, atenção à saúde indígena, exploração da terra, valorização da cultura e saberes esse povo, indústria farmacêutica entre outros.
Quarto dia (04-03-15) Manhã: o serviço visitado hoje foi a Unidade de Saúde da Família (USF) Timbó I, o NASF apoiador nos recepcionou e apresentou todo o serviço da unidade. Nesse espaço tivemos a oportunidade de perguntar vários pontos sobre os quais nos interessávamos. Falamos sobre o cadastro, o acolhimento, os pontos fortes (a equipe que dava conta de atender a demanda do Timbó e sempre buscar o melhor atendimento), pontos fracos (a marcação da unidade e só um marcador para exames clínicos e etc.). Posteriormente conversamos com a ACS e questionamos sobre o vinculo da comunidade com a USF, a divulgação dos programas que ainda é carente, sobre o ESUS, a territorialização, o processo de trabalho qualitativo da ACS e sua importância. Tarde: fomos a Unidade Básica de Saúde Mandacaru, que fica responsável em atender a população que está descoberta. A unidade atende uma demanda grande e há problema de marcação. A unidade funciona ate às nove da noite.
Noite: foi reservado esse momento para que houvesse um repasse entre os grupos dos acontecimentos diários, das impressões, receios e futuras devolutivas. Foi uma roda de conversa bem rica onde todos puderam trocar suas experiências.
Quinto dia (05-03-15) Manhã: Fomos recebidos no Instituto Cândida Vargas (IVC) pela psicóloga e pediatra que nos contaram sobre o dia-a-dia da unidade, as demandas espontâneas, do trabalho de planejamento familiar, violência obstétrica, sobre a demanda de mulheres violentadas que são acolhida nessa maternidade, o ambulatório. Conhecemos todo o prédio, dialogamos com mulheres que lá estavam profissionais (medico, psicóloga, assistente social) e ainda sobre o trabalhado das Doulas. Tarde: visitamos a USF Varadouro, a situação dessa unidade era bem mais precária, a começar pelo prédio que era improprio, havia uma queda constante de energia, porem, apesar de todos esses fatores o equipe buscava o melhor, tentando firmemente dar apoio a essa população. Noite: uma roda de conversa e um documentário cujo tema era: luta antiproibicionista. O tema foi discutido entre os todos. Sexto dia (06-03-15) Hoje visitamos a Ocupação Urbana Tijolinho Vermelho, localizada no centro de João Pessoa. Trata-se de um prédio antigo que foi ocupado e atualmente mora uma base de cento e trinta famílias, a situação da ocupação é bastante precária,
não há energia ou agua, as famílias se viram como podem. Há infiltrações, lixo e escuro. Esses hóspedes esquecidos pelo tempo e pela sociedade sofrem diariamente a dor de apenas sobreviver e não... Viver. As crianças buscam no lixo algo que possam chamar de brinquedo, algo para fugir da fome e do medo. Passamos o dia inteiro lá, conversamos com moradores, sentimos os animais e toda sua carência, carência de dignidade e qualidade de vida. A tarde houve uma roda de conversa com uma moradora, o movimento Terra Livre e a conselheira municipal de saúde, foram abordadas questões mínimas de saúde, futuras intervenções que poderiam ser feitas juntamente com os moradores e voluntários. Durante a noite voltamos para a UFPB e lá demos continuidade ao que poderia ser feito futuramente, devolutivas para essa comunidade, questionamos nós mesmos como serres humanos, sobre como estávamos vendo e ouvindo esse povo.
Sétimo dia (07-03-15) Visitamos a comunidade Quilombola de Paratibe, formos recepcionados pela ACS e pelo professor de Capoeira. O mesmo nos proporcionou uma mine oficina de Capoeira e Maculelê. Depois ficamos livres para interagir com a comunidade, alguns foram brincar com as crianças, outros conversar com os moradores e conhecer o território. Depois do almoço a ACS nos levou para uma visita mais profunda no território, conhecemos casas
e também um mangue. Posteriormente houve uma formação em saúde da população negra, debatemos sobre as questões internas dessa comunidade, elencamos o fato de que muitas vezes a saúde negra esta somente relacionada à anemia falciforme, foi ainda falado sobre a dificuldade da própria comunidade se reconhecer como quilombola.
Oitavo dia (08-03-15) Fazendo jus ao dia de hoje tivemos uma formação sobre saúde da mulher, o momento foi facilitado por Verdande que é doula na Cândida Vargas, o espaço abordou diversos pontos, dentre eles a violência obstétrica, o direito de escolha da maternidade, parto humanizado, contanto mãe e filho, direito a acompanhante, questões sociais que implicam na vida pessoal e profissional de uma mulher. Durante a noite o espaço foi dedicado a saúde e direitos das pessoas LGBTTS, questões sobre identidade de gênero, nome social, atendimento humanizado, violência sofrida, desconstrução de preconceitos e construção de respeito. Após a roda de conversa houve uma intervenção por Brune Magalhães e seguimos com uma cultural cujo tema era: desgeneralizando.
Nono dia (09-03-15) Durante a manhã houve uma formação sobre controle social, conselhos, conferencia e participação popular na construção e consolidação do SUS. Debatemos sobre a realidade de João Pessoa e como estão as unidades de saúde. Pelo resto do dia houve a discussão e o planejamento das devolutivas que seriam feitas. Decidimos por uma carta (levantados os pontos negativos e positivos do
sistema) e um jornal de cunho informativo com assuntos relevantes ( controle social, a situação da ocupação tijolinho vermelho, as unidades de saúde, dentre outros).
Décimo dia (10-03-15) Houve a divisão de grupos para cada devolutiva e durante o dia os grupos se uniram e planejaram como iam desenvolver suas devolutivas. A tarde cada vivente foi organizar seu presentinho fina para seu camarada, nos reunimos para o encerramento da mística, vimos um vídeo produzido pela comissão organizadora com os momentos do VerSUS. E encerramos com festejo.
Relatório de facilitação Para mim foi uma experiência única, primeiramente admiro a ideia de ser realizado com e por alunos em formação, a junção de alunos e professores faz desse estágio uma vivencia grandiosa e riquíssima para nós, futuros profissionais da saúde (e também para aqueles que não estão diretamente ligados à saúde, mas ao ser humano). O fato de eu ter sido facilitadora não fez de mim mais importante que qualquer um lá, diria apenas que na leitura desse livro eu estava uma pagina adiantada! A ideia é importante, pois os alunos são orientados por próprios alunos fazendo desse processo uma construção horizontal e continua. Quero agradecer ao acaso e ao VerSUS pela oportunidade linda. E dizer que amei a minha equipe, pessoas lindas e de alma guerreira. Viva a vida e viva o SUS (esse forte que estamos construindo)!! Nossa equipe: Ana Daniele Linard do Vale - Terapia Ocupacional Leânea Teixeira Alexandre Enfermagem
Gardênia Aragão Pereira- Educação Física Gleydson Henrique de Oliveira Dantas- Enfermagem Hannah Shiva Ludgero Farias- Fonoaudiologia
19-03-15 João Pessoa