Projeto TIME no contexto da construção de uma cidade digital



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Transcrição:

Projeto TIME no contexto da construção de uma cidade digital Odair Marques da Silva Prefeitura de Hortolândia - SP Av. da Emancipação, 1560 Jd. do Bosque Hortolândia - SP CEP: 13186-237, SP, Brasil Tel: (+55 19) 3809-9051 odairms@iar.unicamp.br Maria de Fátima Garcia Faculdade de São Bento Largo S. Bento, s/nº São Paulo, SP CEP:01029-010, Brazil Tel: (+55 11) 3328-8796 Faculdades Network Av. Ampélio Gazeta, s/nº - Nova Odessa, SP, Brasil Tel: (+55 19) 3466-2527 maria_defatima@yahoo.com.br João Vilhete Viegas d Abreu Núcleo de Informática Aplicada à Educação NIED/UNICAMP Caixa Postal 6082 CEP: 13083-970 Campus UNICAMP, Barão Geraldo Campinas SP, Brasil Tel: (+55 19) 3521-7136 ramal 25 Fax: (+55 19) 3521-7350 - ramal 30 jvilhete@unicamp.br RESUMO O artigo apresenta experiências, no contexto da construção de políticas públicas, citando iniciativas relacionadas à inclusão digital, no município de Hortolândia, São Paulo Brasil. A particularidade deste caso está em sua conexão com um projeto denominado Tecnologias e Mídias Interativas na Escola (TIME). A vivência no ambiente de ensino-aprendizagem, a partir do local para o global, de duas escolas municipais de ensino fundamental, oportuniza e estimula o relacionamento entre o cotidiano e o mundo virtual. Alunos, professores, gestores públicos, iniciativa privada, ONGs e comunidade são convidados a construírem a partir das novas Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), uma nova cidade: uma cidade digital cuja territorialização física é atravessada pela infovia digital. Iniciativas, ainda, iniciais, mas que começam a tomar forma, em direção a uma intensa reflexão sobre os novos paradigmas que emanam dos conceitos de políticas públicas, cidadão e cidadania digital. Categoria e Descritor do Assunto K.3.1 [Computadores e Educação]: Usos do Computador na Educação Termos Gerais Experiências Palavras-Chave: Gestão pública, Tecnologias Interativas, Mídias, Cidade Digital, Educação. 1. INTRODUÇÃO Este artigo tem como objetivo estabelecer a relação de um projeto desenvolvido em duas escolas municipais de Hortolândia, Estado de São Paulo, Brasil, com a política de gestão pública, especificamente, no que se refere às políticas sociais. É consenso de que as novas Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) estão se consolidando como ferramentais estratégicos, para a implementação de políticas de governo. Tecnologias que utilizam o geo-processamento, entre outras, ofertam um gigantesco volume de informações de interesse público, e dão suporte a programas sociais como os voltados para erradicação do analfabetismo e combate a endemias, por exemplo. A cidade de Hortolândia inicia um processo de ampliar espaços públicos de acesso a Internet, como os telecentros, os laboratórios de informática e as salas de multimídia. Desempenha importante papel motivador, como possibilidade nestes espaços, o fomento à formação profissional da juventude e da comunidade local. A busca de informações atualizadas, as pesquisas de projetos escolares, a cultura, a comunicação popular, são aspectos motivadores de freqüência nestes espaços públicos e potencializam a construção de redes de relacionamento, nas mais variadas formas de interação cultural. Políticas sociais, aliadas à política de gestão pública, permitem visibilidade e transparência nas tomadas de decisão. Os governos locais vêem-se estimulados pela visibilidade e democratização do sites eletrônicos, dando publicidade a: editais, orçamentos municipais, notícias, normas e legislação local. Atividades culturais, esportivas, seminários, promovidos pelos conselhos municipais e órgãos governamentais e da sociedade civil, possuem seus espaços de divulgação. Há todo um movimento para tornar as TICs um elemento que revolucione as relações de democratização da informação, algumas antes privilegiadas, com um acesso, cada vez mais popularizado. O projeto Tecnologias e Mídias Interativas na Escola (TIME), está inserido, neste contexto, como mais um elemento vibrante e dinâmico, propondo-se a articular e convergir, a partir do ambiente escolar, as novas tecnologias do mundo digital e mídias interativas, respeitando os planejamentos escolares, seu conteúdo programático e curricular e o projeto político-pedagógico da rede municipal. 2. O projeto TIME O projeto TIME nasce da confluência da pesquisa acadêmica, com a vivência do cotidiano escolar dos profissionais da escola pública e a preocupação de gestores públicos, em encontrar novas soluções, relacionadas ao avanço das inovações tecnológicas, para os novos problemas apresentados pela sociedade contemporânea. O cotidiano escolar permite uma interação entre os processos de ensino-aprendizagem e os instrumentais tecnológicos colocados à disposição dos docentes e dos discentes. A instalação de uma sala

com equipamentos multimídia, dentro do conceito do projeto TIME, disponibiliza aos usuários: 18 microcomputadores com internet sem fio, uma TV tela plana de 32 e uma câmera fotográfica digital com capacidade para captação de vídeos sonorizados. Somando-se a estes o uso de pendrive, aparelho de MP3 e outros, possibilita que estas tecnologias, rapidamente, se insiram no cotidiano escolar e ampliem as opções nas apresentações dos conteúdos curriculares. Citando a professora Priscila Malavazzi, que em outro projeto pedagógico registra seus memoriais [2]:...torna-se necessário entender a criança como produtora de cultura, dando a ela tempo e espaço necessários para essa produção, assegurando-lhe o direito de brincar, possibilitando diversificadas vivências e contribuindo para sua formação como ser humano participante da sociedade em que vive. Em continuidade a sua descrição, confirma a vivência ao afirmar que,...o lúdico pode servir como um facilitador para a construção de conhecimentos. Foi a partir de então que comecei a refletir com mais convicção e agora com embasamentos teóricos sobre como as brincadeiras, as dramatizações, os experimentos, as maquetes, as excursões, os recursos tecnológicos, os jogos e os desenhos, as brincadeiras livres, são realmente muito importantes para a construção do conhecimento e da socialização dos meus alunos em todas as etapas de sua escolarização. Comecei a introduzi-las, muito mais, no cotidiano dos meus alunos. Com relação ao aspecto da informática na escola, Valente afirma a revolução que o computador provocou na concepção de ensino e aprendizagem. E atualmente, cada vez mais se relaciona o uso das mídias e tecnologias da informação na educação a uma visão crítica e político-cidadã, o que significa possibilitar ao aluno produzir conteúdos midiáticos a partir da apropriação e uso das tecnologias disponíveis tanto na sociedade quanto na escola. [4]. As atividades iniciais, percebidas na implementação do projeto TIME, vislumbram uma intensa interação entre os usuários: professores, alunos, funcionários da escola, pais e comunidade local. As primeiras apresentações dos projetos dos professores e dos alunos ensejam um potencial impacto de relações em rede, incentivando políticas governamentais de inclusão digital e caminham em direção a uma imbricada rede de comunicação social. 3. Contextualizando o município de Hortolândia/SP Brasil O município possui 62 km 2, territorialmente pequeno no contexto brasileiro, e aproximadamente 205 mil habitantes, projeção de estimativa de dados do IBGE. A densidade demográfica está próxima de 3000 habitantes por km 2. Em 2005, o município possuía uma taxa de 73% de seus moradores em imóveis próprios. Os dados da fundação SEADE indicam uma taxa de 100% de urbanização em seu território. Deu-se a emancipação político-administrativa em 1991, portanto há 16 anos. Demanda entre os desafios da gestão local a construção de prédios próprios, a inexistência de ginásio de esportes e teatro municipal. Considera-se frágil a infra-estrutura urbana, destacando-se a inexistência de esgoto tratado, os 7.6% o índice de analfabetismo e a baixa taxa de escolaridade da população em ensino superior. Desmembrado da cidade de Sumaré/SP, o município, ainda, não possui consolidada sua identidade cultural. Possui regiões distantes entre si, isto é, espaços de território dispersos por vazios urbanos, o que gera desagregação social. Não há um centro comercial propriamente dito, em função da fragmentação dos núcleos urbanos e do histórico de formação do município. Se por outro aspecto, a prefeitura possui uma dotação orçamentária relativamente saudável, os desafios de ampliação de oferta de serviços públicos são imensos. 4. As iniciativas de inclusão digital no município Considerando a não explicitação, em documentos oficiais, da gestão municipal de Hortolândia, referente a políticas de inclusão digital, já são substanciais as discussões intra-governo sobre a construção de um modelo programático que insira o município no contexto dos conceitos de cidade digital. Para ilustrar esta afirmação, uma breve pesquisa de campo possibilitou que se dispusesse uma seqüência de iniciativas de inclusão digital e acesso comunitário às novas tecnologias, as quais se seguem: 1. A empresa IBM desenvolve um projeto denominado kidsmart, que cedeu um microcomputador a cada sala de aula, com crianças de seis anos de idade, e fornece cursos de formação aos profissionais da educação infantil. Posteriormente, instalou, também, uma sala de informática com acesso à Internet e com um software especialista, (Accessibility Works) que possibilita aos deficientes visuais (baixa visão) e pessoas com problemas de coordenação motora e deficiência cognitiva navegarem pela web. Na biblioteca pública municipal, a IBM instalou uma sala de informática com acesso a internet, contemplada, também, com dois quiosques especialistas, contendo os softwares educacionais TryScience e Eternal Egypt; 2. A empresa DELL, através de seu projeto de inclusão digital, estabeleceu parceria com a ONG Associação de Defesa e Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente Patrulheiros e Guarda Mirim de Hortolândia, com início em março de 2007, atuando na área de formação profissional de adolescentes e instalando uma sala com microcomputadores com acesso a internet; 3. A fundação CPQD (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações), que desenvolve tecnologias sobre a TV digital, instalou equipamentos em salas de uma escola municipal de ensino fundamental e está realizando experimentos de transmissão de sinais digitais, acompanhados de um projeto denominado SAPSA (Serviço de Apoio ao Professor em Sala de Aula). Através deste projeto, o professor poderá selecionar vídeos em uma biblioteca digital e exibi-los em sala de aula. Estes mesmos vídeos poderão ser produzidos pelos próprios alunos e educadores, dentro dos conteúdos programáticos da escola e de seus projetos pedagógicos. Por meio de um Set-Top Box instalado na sala de aula, este conteúdo estará armazenado em um servidor local ou na secretaria de educação do município, cujas transmissões ocorrerão via rede WIMAX, possibilitando inclusive a exibição tempo real aos alunos;

4. A municipal de educação instalou quatro salas de informática em escolas de ensino fundamental, através de recursos próprios e organizou uma equipe de coordenadores pedagógicos que se especializam na formação docente; 5. A municipal de educação, com o apoio do Governo Federal/MEC (ministério da educação), através de recursos do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento Educacional) conquistou através de projetos de infra-estrutura escolar, a instalação de outras duas salas de informática, em outras duas escolas municipais de ensino fundamental. 6. O Projeto TIME, coordenado pelo Núcleo de informática Aplicada à Educação (NIED/UNICAMP), instalou duas salas multimídia, em duas escolas municipais de ensino fundamental, através de um projeto financiado com recursos FAPESP (Fundo de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo). 7. O Governo, do Estado de São Paulo, instalou uma sala de acesso à internet gratuita a comunidade local, no modelo telecentro, no bairro Jardim Amanda. 8. O Governo federal, através do Ministério da Cultura, instalou no município seu projeto denominado CASA BRASIL, que contem uma sala de acesso gratuito a internet na comunidade do Jardim Campos Verdes, e em anexa, uma outra a sala de aula para educação profissional. 9. A municipal de cidadania, trabalho e promoção social, com o apoio do FUMCRIA (Fundo dos Direitos da Criança e Adolescente) e CMDCA (Conselho dos Direitos da Criança e Adolescente), instalou o projeto click cidadania. 10. Em espaços comunitários, a cidade possui modelos de inclusão digital popular, como o que ocorre no bairro Jardim Sumarezinho, onde uma biblioteca popular disponibiliza uma sala com 12 equipamentos conectados à internet, para os quais recebe o apoio das empresas MICROSIGA e CORREIOS. 11. A prefeitura municipal está instalando uma rede de comunicação digital de ponta, no contexto do modelo alvarium, WI-MAX, consiste em equipamento de transmissão de sinais via rádio de 5.8 GHZ, conectados a três (3) repetidoras em espaços geográficos em virada a 120 0, possibilitando uma cobertura de 360 0, atingindo 90% do território do município. a prédios das repartições públicas municipais, 28 unidades escolares instaladas e outras 18 unidades previstas até o final de 2007. O segundo passo deste projeto, em estudo de viabilidade técnica, é a instalação de fibra ótica, backbone, espinha dorsal do fluxo de informações, previstos 36 pares e 10 km de fibra no município, os quais permitirão rapidez e amplitude ao envio de dados e sinais de vídeo em tempo real. Em síntese, os principais projetos de inclusão digital da prefeitura podem ser apresentados, resumidamente, conforme a Tabela 1. Tabela 1. Indicadores de Impacto Social do Projeto e de Inclusão Social do Município de Hortolândia Projeto Objeto Gestor Impacto Social TIME Experimentos NIED e Atinge 20 Casa Brasil Inclusão digital para deficientes Iniciação ao mundo digital para adolescente Kidsmart Acessa São Paulo em tecnologias e mídias interativas Laboratório de informática, auditório para cursos e biblioteca Projeto pedagógico especializado para pessoas deficientes Salas de informática para formação e iniciação profissional Iniciativa social da IBM, computadores adaptados para alunos de pré-escola Salas de informática abertas à comunidade, para acesso gratuito a Internet de Educação de Cultura e Ministério de Ciência e Tecnologia Centro Integrado de Educação e Reabilitação ONG, Associação dos patrulheiros de Hortolândia, de Educação e IBM Projeto de inclusão digital do governo do Estado e Prefeitura municipal professores e 1100 alunos cerca de 750 usuários por mês, com acesso à Internet cerca de 180 pessoas com diferentes tipos deficiência 120 alunos em programas de estágio nas empresas Atinge cerca de 2500 crianças entre 5 e 6 anos de ensino infantil mensal de 1100 usuários por mês num bairro periférico da cidade 5. Cidade digital Perscrutando alguns autores, reconhece-se que o conceito de cidade digital é um termo aberto. Holanda apresenta uma definição que se integra ao contexto deste caso: Cidade digital é aquela que apresenta, em toda a sua área geográfica, infraestrutura de telecomunicações e Internet, tanto para acesso individual quanto público, disponibilizando à sua população informações e serviços públicos e privados em ambiente virtual. Para Holanda, Dall Antonia e Souto, o conceito de cidade digital é descrito como: [3] ambiente ou plataforma de rede digital (...) que interliga sistemas tecnológicos avançados para conectar serviços públicos, bens, marcas, escolas, organizações do terceiro setor, empresas, micro e macro-comunidades de pessoas, disponibilizando informações em diversas ordens e padrões com o propósito de desenvolver as potencialidades da sociedade de informações e transformar o cidadão em ator e protagonista de uma outra realidade: a virtual. O desafio da gestão municipal de Hortolândia em criar um modelo organizacional e de infra-estrutura que possibilite a interação dos projetos de inclusão social e digital encontra no custeio para sua universalização uma barreira significativa.

O reconhecimento de que seu território urbano está estrategicamente localizado para a reprodução do capital globalizado mostra-se fundamental realizar estudos de impacto sócio-ambiental, de modo que a configuração dos projetos não amplie as distâncias da exclusão social. Próximo de rodovias, de um aeroporto internacional, de centros de formação universitária, de centros de excelência em pesquisa tecnológica, estes fatores vêm atraindo para o município de Hortolândia as empresas multinacionais e de tecnologia de ponta. Como expõe Souto et al [3] deve-se reconhecer que na cidade, como estruturada nos dias atuais, o emprego do conhecimento está diretamente relacionado com a produção de riqueza. Nesse processo, a informação é a matéria-prima a ser transformada. A comunicação se torna o meio de escoamento de produção, ao mesmo tempo em que é um dos elementos necessários à geração da informação e à consolidação do conhecimento. E continua, complementando que, inegavelmente, a aceleração das inovações tecnológicas e o aproveitamento das TICs para atender às demandas atuais da sociedade encontram eco e são absorvidos pelo espaço urbano. Todavia, o próprio progresso tecnológico, sob a égide das relações econômicas e a expansão vertiginosa das cidades geram desigualdade e exclusão social, o que precisa ser equacionado com políticas e planejamento voltados ao crescimento sustentável e ao desenvolvimento humano. Holanda, Dall Antonia e Souto descrevem uma série de termos relacionados ao conceito de cidade digital, cujas definições podem ser coadunadas às apresentadas, sendo: cidade virtual, cibercidade, cidade eletrônica, comunidade virtual, cidadeciborgue, cidade informacional, cidade de bits, etc., todas, contudo, associadas à noção de espaço virtual, ciberespaço ou infosfera... [3] Considerando os profissionais que atuam junto aos projetos de inclusão digital, como agentes multiplicadores do conceito de cidade digital, enquanto um meio de acesso a novos conhecimentos, à participação popular e a transformação social, é oportuno afirmar que, em curto espaço de tempo, novas dinâmicas inter-relacionais serão estabelecidas. Para tanto, é fundamento para as novas lideranças, preparar-se para um novo paradigma de relacionamentos sociais, de processos de ensino-aprendizagem e de equacionamento de demandas e contradições sócio-culturais. Um novo cidadão e um novo aspecto de cidadania está surgindo com as novas TICs, imbricadas ao conceito de cidadania digital. As expectativas, desenhadas no contexto do projeto TIME, vislumbram atividades de formação permanente envolvendo um ambiente de um currículo em ação. Este conteúdo curricular vivenciado pelo professor, funcionário da escola, pais e alunos pode expandir-se à comunidade local e, pelos próprios meios de comunicação das TICs implantadas, ramificar-se a toda comunidade moradora do território municipal. E, sem muitas dificuldades, expandir-se a toda rede de internet mundializada. É o local expandindo-se ao global. 6. CONCLUSÃO A construção de uma política pública, de inclusão digital, no plano de uma gestão municipal, aliado ao conceito de cidade digital, no contexto de um modelo de gestão pública, permite a construção de bases sócio-educativas, através de três pilares: motivação a participação popular, a ampliação de espaços democráticos e a transparência pública. Neste contexto, faz-se essencial, aos projetos político-pedagógicos das redes municipais de educação a inclusão de valores transformadores da sociedade que não discriminem as TICs, como instrumento de sua dinâmica, nos processos de ensinoaprendizagem e inclusão social. Freire, enquanto secretário municipal de educação do município de São Paulo comenta sua experiência:... nosso objetivo, até o final da gestão, é implantar computadores em todas as escolas da rede, para melhorar o processo de ensino-aprendizagem [1]. Penso que a educação não é redutível à técnica, mas não se faz educação sem ela. Não é possível a meu ver, começar um novo século sem terminar este. Acho que o uso de computadores no processo de ensinoaprendizagem, em lugar de reduzir, pode expandir a capacidade crítica e criativa de nossos meninos e meninas.... A comunicação digital, neste contexto, pode propiciar uma integração sócio-relacional, estimulando inclusive a interação inter-bairros e permitindo um diálogo entre seus moradores, cujas barreiras geográficas, sociais e culturais as dificultavam. Estas iniciativas geram novas motivações em direção a revisão de políticas públicas, ampliando as resultantes e as interconexões das iniciativas. O estímulo às parcerias entre sociedade civil organizada, voluntariado, organizações sociais, governo e iniciativa privada geram um contexto cultural inovador, conectando os profissionais, técnicos e especialistas em informática aos de educação, os usuários aos especialistas em comunicação, e assim, sucessivamente, permite um novo olhar sobre as vivências presenciadas. As escolas participantes do projeto TIME passam, desta forma, a tornar-se um forte elo de conectividade entre as ações pedagógicas intra-muros e as iniciativas da cidade, coadunadas às tecnologias digitais e a seus respectivos processos de acessibilidade e usabilidade. O contato cotidiano com estas mídias interativas, neste contexto, oportuniza a desmistificação dos discursos da exclusão em função das dificuldades de uso e acesso das novas tecnologias. A inclusão digital como eixo programático na elaboração e execução de políticas públicas locais, com o advento das inovações tecnológicas e a drástica diminuição de seus custos de implantação, deixa de ser um elemento disperso em planos diretores e projetos político-pedagógicos, caminhando em direção a tornar-se o centro das atenções dos gestores municipais. Para concluir, vale ressaltar que, o município possui cerca de 1200 professores em sua rede municipal, 800 atendidos em projetos, cerca de 70%. Quanto aos alunos, a rede municipal atinge 24 mil alunos, 7330 atendidos em projetos de inclusão digital, aproximadamente 30% representados. Outro dado significativo consiste nos acessos a rede Internet, atendendo cerca de 21500 usuários em um ano, considerando que a população municipal esta próxima de 200 mil habitantes, estes projetos atingem diretamente 10% da população local. Este impacto social é extremamente relevante ao considerar-se que em 2005, 90% destes projetos não estavam implementados. Isso demonstra, também, o grande interesse que a população dos bairros atendidos, considerados de baixa renda e, níveis deficitários de escolaridade, estão se interessando pela inclusão digital, como forma sustentável de inclusão social.

7. AGRADECIMENTOS Agradecemos a Fundação para Amparo à Pesquisa de Estado de São Paulo FAPESP por ter propiciado, nos âmbitos do projeto TIME o desenvolvimento da parceria entre o NIED/UNICAMP e a Prefeitura de Hortolândia. 8. REFERÊNCIAS [1] Freire, Paulo. A Educação na Cidade, Cortez Editora, São Paulo, Brasil, 2005. [2] Malavazzi P., in Soligo, Â; Alexandrino, R. (Orgs). Histórias de professoras. (Re)construções em memoriais de formação. de Educação Hortolândia/SP, em parceria com FE- UNICAMP, Campinas, Brasil, 2007. [3] Souto, Á. A.; Dall Antonia, J.C.; Holanda, G.M. (Orgs). As cidades digitais no mapa do Brasil: uma rota para a inclusão digital. Ministério das comunicações, Brasília, Brasil, 2006. [4] Valente, J. A. Por quê o Computador na Educação?: in Valente, J. A. (Org). Computadores e Conhecimento: Repensando a Educação, NIED-UNICAMP, Campinas, 1993.