CONDIÇÕES E CONTRADIÇÕES DO TRABALHO DOS APANHADORES DE CAFÉ NA REGIÃO DE NEPOMUCENO-MG

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Transcrição:

CONDIÇÕES E CONTRADIÇÕES DO TRABALHO DOS APANHADORES DE CAFÉ NA REGIÃO DE NEPOMUCENO-MG Gianni Tonelli 1 Luiz Fábio Tezini Crocco 2

PALAVRAS-CHAVE: café; rural; saúde; trabalho; Nepomuceno. 1. INTRODUÇÃO A cidade de Nepomuceno está localizada no sul de Minas Gerais e economicamente é caracteriza pela monocultura do café, principal produto e fonte de renda, direta e indireta, para a população. Esta pesquisa está inserida nos campos de estudos interdisciplinares sobre sociedade, trabalho e saúde e tem o objetivo de investigar as características do trabalho na lavoura cafeeira da região de Nepomuceno-MG, além dos reflexos desta atividade na saúde dos apanhadores de café. De acordo com a aproximação de distintas áreas de conhecimento como sociologia, saúde e direitos trabalhistas, este estudo se apoia em investigações importantes como as realizadas pela Rede de Estudos do Trabalho (RET) e pelos Fóruns Trabalho e Saúde que realizaram importantes pesquisas sobre as relações entre capitalismo e trabalho. 2. METODOLOGIA Inicialmente, a pesquisa foi fundamentada em estudos e análises bibliográficas e documentais e, posteriormente, a partir de investigação empírica a partir da coleta de dados com base em questionários semiestruturados (qualitativos e quantitativos) específicos. Foram aplicados questionários a 20 apanhadores de café e a uma agente de saúde da Santa Casa da Misericórdia de Nepomuceno (MG). A partir desta coleta, os dados foram analisados de forma empírica com a finalidade de refletir e problematizar as questões suscitadas nos objetivos desta pesquisa. 299

3. DISCUSSÃO E RESULTADOS 3.1 Os apanhadores de Café 3.1.1 A saúde, o tempo e as formas de trabalho e de pagamento De acordo com as entrevistas, verificou-se que 90% dos trabalhadores são residentes de Nepomuceno e os outros 10% são da cidade de Lavras (MG), porém residem em Nepomuceno há muito anos. Observou-se que na cidade não há muita demanda por fazendas com máquinas de alta tecnologia, até porque a maioria das fazendas é do tipo familiar e elas não possuem condições financeiras favoráveis para investir em intensa mecanização. Desta forma, pôde-se constatar que 55% dos trabalhadores atuam na lavoura de forma semimecanizada, ou seja, manual. Porém, utilizam alguns equipamentos apropriados, como roçadeiras, derriçadeiras e motosserras, mas os outros 45% trabalham totalmente de forma manual. Como a maioria das formas de trabalho da região é manual ou semimecanizada, não há muitos casos registrados de acidentes com máquinas agrícolas como em outras regiões. Houve apenas o caso de um apanhador que relatou ter tido graves cortes nas pernas, provocado pela hélice de uma roçadeira, que se soltou enquanto trabalhava na lavoura. Outro dado central nesta pesquisa é o fato de que todos os apanhadores trabalham por produtividade, ou seja, seu salário está condicionado à quantidade de café colhido, o que causa um grande desgaste físico e mental no trabalhador, interferindo diretamente na sua saúde. 3.1.2 Condições precárias de trabalho, saúde e segurança 300 Em relação ao acesso à saúde, 55% dos trabalhadores entrevistados disseram que se caso ocorresse algum tipo de acidente no trabalho, ou que se adquirissem alguma doença por causa deste,

não ficariam desamparados, pois seus patrões iriam proporcionar assistência médica. E os outros 45% afirmaram que, se tais acidentes ocorressem, a procura por assistência médica seria por conta própria. Um importante dado a complementar é que os 55% dos trabalhadores que disseram ter acesso garantido à saúde pelos patrões possuem carteira assinada e os outros, que trabalham informalmente, possuem apenas acordos verbais. Isso denota a vulnerabilidade dos trabalhadores que não possuem carteira assinada, pois somente trabalhadores que possuem vínculo empregatício e contribuem para a previdência social têm o direito à seguridade em caso de acidentes no trabalho e, portanto, possuem mais segurança e melhores condições de vida e saúde. 3.1.3 A utilização dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) Um fator de suma importância para a preservação da saúde e prevenção contra acidentes e doenças é a utilização correta dos EPIs. Os dados são alarmantes, pois 65% disseram não utilizar nenhum tipo de EPI; 25% disseram utilizar botas, luvas e capacetes; 5% utilizam protetores auriculares, óculos e capacetes; e os outros 5% máscaras, óculos, luvas e botas. De acordo com os dados coletados, os EPIs não são corretamente utilizados devido à jornada árdua e a incerteza de boa colheita. Muitos trabalhadores dizem que os equipamentos são muito desconfortáveis e atrapalham no desempenho da colheita. Além disso, mesmo sendo legalmente indispensável e de responsabilidade do empregador, foi relatado que são poucos os fazendeiros que proporcionam alguns desses equipamentos aos trabalhadores. 3.1.4 A saúde e a utilização de agrotóxicos 301 A pesquisa revelou também que 65% dos trabalhadores não utilizam agrotóxicos, mas os outros 35% utilizam. Esse baixo índice decorre

do fato de os entrevistados atuarem predominantemente na colheita do café e não nas fases anteriores da produção que envolvem a aplicação de agrotóxicos. Apesar disso, houve relatos de problemas com a aplicação desses insumos em outras atividades rurais desenvolvidas por esses trabalhadores. Há um caso especial de um homem que teve infecções sérias no fígado devido ao excesso de utilização de agrotóxicos e, por isso, ficou afastado do trabalho por 30 dias. 3.2 Gestor da Saúde 3.2.1 Principais doenças e acidentes Além dos trabalhadores, uma agente de saúde da Santa Casa de Misericórdia de Nepomuceno (MG) foi entrevistada. Questionada sobre a saúde dos apanhadores de café, foi relatado que é muito comum esses trabalhadores buscarem ajuda quando adquirem algum tipo de gripe, intoxicação, enjoos e diarreias, devido à exposição à umidade e mudanças bruscas de temperatura nos períodos de trabalho. Há também muitos casos de acidentes, como picadas de animais peçonhentos (aranhas, cobras, escorpiões) e intoxicações devido ao uso de agrotóxicos. Entretanto, o acidente mais frequente é denominado pelos trabalhadores de estocada. Os apanhadores de café utilizam esse termo para se referir aos acidentes de perfuração da pele ou de algum membro do corpo, como a entrada de farpas nas unhas, galhos na pele ou nos olhos. Desta forma, pode-se dizer que estocada é a entrada de objetos pontiagudos em algum membro do corpo, podendo ferir gravemente o trabalhador. Percebe-se que a maioria destes acidentes é causada pela ausência ou uso inadequado dos EPIs. Foi relatado que são poucas as fazendas que utilizam EPIs e isso é um fator muito grave, pois além de ser um trabalho árduo, é insalubre e deixa o trabalhador submetido a qualquer tipo de acidentes e doenças. 302

4. CONCLUSÃO A partir das investigações realizadas, foi possível notar as características da colheita, da atividade dos apanhadores de café e de sua relação com a saúde dos trabalhadores. Notou-se, portanto, que o trabalho de apanhador de café na região de Nepomuceno (MG) é marcado por fatores de riscos específicos à segurança e à saúde do trabalhador. Alguns desses fatores ocorrem devido à própria periculosidade e insalubridade da atividade, pela forma de pagamento por produtividade, que torna o trabalhador explorador de si mesmo e impõe a ele formas intensas de trabalho para ter melhores salários e, além disso, ao descumprimento por parte dos empregadores das leis trabalhistas que determinam, por exemplo, o uso de EPIs e a formalização dos contratos de trabalho. Assim, pode-se perceber que os apanhadores estão sujeitos a acidentes com as plantas de café, com as máquinas, com picadas de animais peçonhentos, com ruídos dos maquinários e com a incidência solar por trabalhar por muitas horas ao dia. Os trabalhadores sacrificam sua saúde para sustentar sua família e muitas vezes não recebem salários justos. Devemos também mencionar o quanto que os órgãos públicos da região deixam a desejar em questões de atendimento específico e fiscalização. Deste modo, esse estudo veio contribuir com o conhecimento sobre as características e os riscos envolvidos no processo laboral da apanha do café na região da pesquisa. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COALIZAÇÃO DO CAFÉ et al. (Org) Café: vida, produção e trabalho agricultores familiares e assalariados rurais. Florianópolis: Instituto Observatório Social, 2004. 303 MENEGAT, R. P. e FONTANA, R. T.. Condições do trabalhador rural e sua interface com o risco de adoecimento. Revista Ciência, cuidado e saúde, Maringá-PR, v.9, n.1, p.52-59, 2010.

NOTAS 1 Cursando o 2 ano de Mecatrônica Integrado, Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG), Campus IX, Nepomuceno-MG, Brasil. giannitonelli20@gmail.com. 2 Doutor em Ciências Sociais, professor efetivo do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG), Campus IX, Nepomuceno-MG, Brasil. fabiocrocco@nepomuceno.cefetmg.br. 3 Rede de Estudos do Trabalho da UNESP-Marília. http://www.estudosdotrabalho.org/. 4 Iniciativa interdisciplinar de pesquisadores de áreas distintas para a organização de eventos e publicações. Mais detalhes em: http:// www.estudosdotrabalho.org/anais-3fts2011.pdf. AGRADECIMENTOS Agradeço ao apoio do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais FAPEMIG pela bolsa PIBIC Jr. concedida. Agradeço também ao Grupo de Pesquisa Trabalho, Cultura e Materialidade da Unidade de Nepomuceno. 304