PERCEPÇÃO DOS AGRICULTORES EM RELAÇÃO AO USO DE AGROTÓXICOS NO MUNICÍPIO DE PRESIDENTE KENNEDY, ES

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1 1 PERCEPÇÃO DOS AGRICULTORES EM RELAÇÃO AO USO DE AGROTÓXICOS NO MUNICÍPIO DE PRESIDENTE KENNEDY, ES SUPELETO, Fernanda Aparecida 1 NALESSO, Janaina Stulzer 2 JUNIOR, Fernando Cavalcanti de Sales 3 SAMPAIO, Poliane Barbosa 4 INTRODUÇÃO O modelo atual de desenvolvimento econômico exige que o produtor ofereça maiores quantidades por safra, o que leva a crescente utilização de agrotóxicos com o intuito de otimizar a produção (GOMIDE, 2005). No entanto, quanto maior á utilização de agrotóxicos nas plantações, maiores serão as chances de danos à saúde humana devido a exposição á produtos químicos potencialmente tóxicos. Trabalhadores rurais, familiares destes trabalhadores e moradores de áreas próximas a cultivos contaminados com agrotóxicos são intoxicados cotidianamente de forma direta. Os sintomas agudos de tais intoxicações são apenas uma pequena fração de um problema muito mais amplo que fica escondido por trás da subnotificação destes casos e da quase ausência de informação sobre as doenças crônicas causadas por tais exposições (BOMBARDI, 2011). Não há como negar o crescimento, em termos de produtividade, proporcionado pelo uso dos agrotóxicos no campo. Entretanto, esta difusão maciça 1 Graduanda do Curso de Ciências Biológicas do Centro Universitário são Camilo-ES, fernanda.supeleto@gmail.com; ²Graduanda do Curso de Ciências Biológicas do Centro Universitário são Camilo-ES, janainastulzer@gmail.com; ³Graduando do Curso de Ciências Biológicas do Centro Universitário são Camilo-ES, fernando.c.sales@gmail.com; 4 Professor orientador: Mestre Poliane Barbosa Sampaio, Centro Universitário São Camilo-ES, polianesampaio@saocamilo-es.br; Cachoeiro de Itapemirim ES, junho de 2013.

2 2 do uso de substâncias químicas nas plantações, constitui-se como um dos principais desafios à saúde pública no meio rural, sobretudo no que concerne ao impacto ambiental e à saúde do homem do campo (PERES; ROZEMBERG; LUCCA, 2005). Sendo assim, cabe ao biólogo atuar no meio rural, alertando os trabalhadores sobre os riscos a saúde e impactos ambientais oriundos da utilização de agrotóxicos em suas lavouras. Neste contexto, teve-se como objetivo identificar a maneira com que agricultores do município de Presidente Kennedy, sul do estado do Espírito Santo, percebem a utilização dos agrotóxicos em sua prática diária e os riscos envolvidos, de forma a contribuir com as discussões acerca do papel do biólogo na abordagem dessas situações. MATERIAL E MÉTODOS As entrevistas foram realizadas com dez agricultores do município de Presidente Kennedy, o qual está localizado no sul no estado do Espírito Santo. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2010), este município tem uma população de habitantes. Para se atingir o objetivo proposto, foi elaborado um questionário para a realização das entrevistas de forma estruturada, composta por perguntas subjetivas, anotadas e autorizadas pelos entrevistados. A amostra foi do tipo intencional. Foram investigadas as ações e percepções associadas ao manejo do agrotóxico nessa população. RESULTADOS E DISCUSSÃO De acordo com a pesquisa, todos os entrevistados utilizam agrotóxicos em sua propriedade. A maioria diz que aprendeu a usar os agrotóxicos através de suas bulas ou rótulos e vários relatos citam que o rádio e a televisão, são fonte de informação sobre o manejo do agrotóxico. Resultados semelhantes foram observados por Fonseca et al.( 2007), em estudo sobre o uso de agrotóxicos na produção de flores da região de Barbacena, Minas Gerais.

3 3 Observa-se que 90% dos trabalhadores sabem que o uso de agrotóxicos compreende perigos para a saúde, mas mesmo assim não utilizam os equipamentos de proteção individual, dizendo que estes incomodam e não são adequados para o clima quente, enquanto outros, dizem que nem mesmo sabem o que são EPI's. Quanto ao cuidado básico de não se alimentar durante a aplicação do produto, tevese como resultado que 60% dos entrevistados negligenciam este ato. Há, inclusive, entre os entrevistados aqueles que utilizam cachaça durante a pulverização, dizendo que esta neutraliza a ação do veneno. Assim, como no estudo de Gomide (2005) desenvolvido em São João do Piauí e João Costa, municípios do sudeste do Estado do Piauí, parece haver, um entendimento de que o perigo à saúde está no procedimento de aplicação do agrotóxico, não sendo perigoso depois que o agrotóxico estiver sobre o cultivo e disperso no ambiente. Quando perguntados sobre o destino das embalagens vazias de agrotóxicos, 40% dos agricultores dizem colocar as embalagens junto ao lixo doméstico, 30% devolvem ao local de compra, 10% fazem a incineração, 10% guardam em anexos de suas residências e 10% deixam largadas na lavoura. Percebe-se que não há um consenso de que as embalagens de agrotóxicos devem ser devolvidas no local da venda do produto, constituindo-se as outras formas de descarte responsáveis pela dispersão de resíduos tóxicos no solo e nos cursos de água. Na grande maioria das vezes, os trabalhadores reconhecem a atividade como perigosa, embora desconheçam os limites deste risco em função da invisibilidade do problema ( PERES; ROZEMBERG; LUCCA, 2005). Em seus relatos e falas, pode-se observar a alusão a determinadas pessoas que são "fracas para o veneno", enquanto outras são fortes e resistentes, não há o entendimento de que o tempo e a frequência da exposição do indivíduo ao produto tóxico são determinantes do risco de contaminação. CONCLUSÃO Os agricultores entrevistados consideram que o agrotóxico é um veneno e assim o denominam. Sabem que a sua utilização oferece riscos à saúde, no entanto, não utilizam corretamente os equipamentos de proteção individual. Portanto, fica

4 4 bem claro, que a percepção do risco se revela permeada por crenças e que estas norteiam o comportamento dos trabalhadores. Durante as entrevistas todos afirmaram que para se ter uma boa safra é necessário a utilização intensiva de agrotóxicos no combate a pragas, visão a qual que deve ser alterada, no intuito de proteger o solo e os cursos de água da contaminação por metais pesados. É nesta perspectiva que deve atuar o biólogo, alertando sobre os riscos à saúde humana e ao meio ambiente oriundos da utilização dos agrotóxicos e também propondo formas de cultivos ecologicamente corretos aos trabalhadores rurais. Finalmente, devemos ressaltar que o presente estudo, ao revelar as maneiras de pensar e agir dos agricultores no município de Presidente Kennedy, aponta para a necessidade de programas educativos que tratem do uso de agrotóxicos no meio rural, os quais podem e necessitam ser urgentemente realizados por biólogos capacitados. REFERÊNCIAS BOMBARDI, Larissa Mies. Intoxicação e morte por agrotóxicos no Brasil: a nova versão do capitalismo oligopolizado. Boletim DATALUTA, set FONSECA, Maria das Graças Uchoa et al. Percepção de risco: maneiras de pensar e agir no manejo de agrotóxicos. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v.12, n.1, mar GOMIDE, Márcia. Agrotóxico: que nome dar?. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v.10, n.4, out IBGE. Brasil, Disponível em: < >. Acesso em: 20 jun PERES, Frederico; ROZEMBERG, Brani; LUCCA, Sérgio Roberto de. Percepção de riscos no trabalho rural em uma região agrícola do Estado do Rio de Janeiro, Brasil:

5 5 agrotóxicos, saúde e ambiente. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.6, n.21, p , nov