Criação de Espaços Funcionais Utilizando Regressão Bidimensional

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Transcrição:

1 Criação de Espaços Funcionais Utilizando Regressão Bidimensional Marcio Azeredo 1 1 Programa de Pós- Graduação em Computação Aplicada, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais INPE. Espaços Funcionais são representações do espaço geográfico que fornecem outra abordagem acerca do conceito de proximidade. Este conceito, que normalmente é associado à distância física, pode ser apresentado em função de outras variáveis. Uma rede de transporte localizada em uma determinada região geográfica, por exemplo, pode influenciar o espaço a qual pertence em função de alguns de seus atributos. Essas transformações podem ser observadas utilizando-se o método da regressão bidimensional. Neste trabalho é apresentada uma metodologia para a criação de espaços funcionais com base no tempo de acesso entre os pontos de uma rede ferroviária. Futuramente a metodologia apresentada pode ser estendida para outros tipos de redes, e ainda considerar outras variáveis.

Introdução Normalmente, a noção de proximidade entre duas localizações geográficas é dada em função da distância física que as separa sobre a superfície terrestre. No entanto, o conceito de proximidade pode assumir um caráter mais abrangente em função da variável utilizada para sua representação, fornecendo diferentes visões do espaço. Tais representações são conhecidas como Espaços Funcionais e expandem o conceito trivial de proximidade. No caso da variável utilizada ser o tempo de acesso entre duas localizações geográficas, o espaço é chamado de espaço-tempo e as localizações são visualmente mais próximas, quanto menor for o tempo de deslocamento entre elas. Uma rede de transporte valorada pelo tempo de acesso entre seus nós pode ser utilizada para modificar a representação do espaço geográfico a qual pertence. Para tal, pode ser utilizado o método da regressão bidimensional acrescido de um escalonamento multidimensional. Escalonamento Multidimensional O escalonamento multidimensional (MDS) é um método que permite a recuperação da representação bidimensional embutida em uma matriz de dissimilaridades (Friedman & Kohler, 003). Logo, uma vez definidas as localizações geográficas dos nós de uma rede de transportes e a velocidade de acesso entre os mesmos, por exemplo, é possível construir uma matriz de dissimilaridades com base no tempo de acesso entre os pontos. O método encontra a melhor configuração espacial com base na variável, criando um sistema de coordenadas próprio W(u,v). O MDS empregado pode ser métrico, que considera a proximidade calculada em função da variável, ou o não métrico, que considera o grau de proximidade em forma de enumeração. Neste estudo foi utilizado o escalonamento multidimensional clássico (CMDS) que é métrico e considera uma única matriz simétrica de dissimilaridade. Regressão Bidimensional A regressão bidimensional foi desenvolvida por W. Tobler na década de 70 tendo com base o trabalho On Growth and Form de D` Arcy Thompson. O método foi criado com o objetivo de avaliar o grau de semelhança entre duas, ou mais, representações planas de um mesmo conjunto de pontos, conhecidas suas coordenadas em cada representação (Friedman & Kohler, 003). O método foi concebido para resolver o problema de comparação entre mapas de uma mesma região, construídos em épocas diferentes. A regressão bidimensional é uma extensão da regressão unidimensional para o caso onde as variáveis em questão possuem duas dimensões de representação. Isso ocorre porque as variáveis envolvidas no processo não são as coordenadas dos pontos pertencentes às configurações planares, e sim os próprios planos de representação. Seja um espaço de referência Z definido pelas coordenadas x e y, e um espaço imagem W definido pelas coordenadas u e v (equações [1] e []). Z (( x y ), ( x y 1 1 1 1), ( x y )...( x y n n )) [1] W [] (( u v ), ( u v 1 1 1 1), ( x y )...( u v n n )) O objetivo do método é relacionar a variável W com a variável Z (figura 1). Figura 1. Transformação Z W fonte: Tobler, 1977. Para tal, é utilizada uma função do tipo W ' = f ( Z), de forma a permitir que o mapeamento Z W ' seja o mais próximo de Z W (Tobler, 1977). Feito isso, a qualidade da transformação pode ser avaliada utilizando-se o coeficiente de correlação de Tobler descrito na equação [3].

3 r = 1 [3] ( x x) + ( y ( u' x) + ( v' Esse indicador permite verificar o quão bom é o W (u,v ) estimado. Como na regressão bidimensional cada variável possui duas componentes, o mapeamento Z W pode ser escrito na forma das equações [4] e [5] (Tobler, 1977). u = f ( x, [4] v = g( x, [5] Segundo Cauvin, o método da Regressão Bidimensional pode ser dividido em duas fases principais: um ajustamento das observações de W para Z (W )e uma interpolação de forma a generalizar os resultados para todo o espaço (W ). Um resumo das etapas principais da regressão bidimensional pode ser observado na figura. Figura. Etapas principais da regressão bidimensional. fonte: Adaptado de Cauvin, 00. Ajustamento O método permite mostrar as diferenças entre configurações espaciais homólogas, exprimindo as distorções entre o espaço estudado (W) e um espaço de referência (Z), baseando-se para tal, na comparação de formas (Dias et. al.). Durante a transformação entre os sistemas Z e W, as transformações geométricas sofridas pelas configurações de pontos podem ser modeladas utilizando-se parâmetros de rotação, translação, cisalhamento e escala. Estes parâmetros podem ocorrer simultaneamente ou de forma independente. São duas as transformações mais utilizadas: a

4 transformação de similaridade, onde são considerados quatro parâmetros (dois de translação, um de rotação e um de escala) e a transformação afim geral, onde são considerados seis parâmetros (dois de translação, dois de escala, um de rotação e um de cisalhamento). Após algum cálculo algébrico, os parâmetros da transformação de similaridade são reduzidos às constantes α e (equação [6]), e os parâmetros 1, α, β1 β. da transformação afim geral em α, α, β, β β e β 4.(equação [7]). 1 1, 3 As equações [9] e [10] representam as funções que minimizam a distorção total em um determinado ponto de coordenadas x e y. fx( x, = a0 + a1x + a y + wu i ( R) i= 1 [8] n f y( x, = a3 + a4x + a5 y + giu ( R) i= 1 [9] n onde R = k ln k [10] e k = P ( x, [11] i u' 1 β1 = + v' α β α [6] u' 1 β1 = + v' α β3 β x. β1 y β x. β4 y α [7] A substituição dos pontos x e y nas equações [6] e [7] permite a montagem de um sistema de equações lineares cuja solução fornece os valores dos parâmetros da transformação. Determinados os parâmetros, o conjunto de dados é ajustado pelo método dos mínimos quadrados de forma a minimizar a soma dos quadrados dos resíduos, ou seja, a diferença entre as coordenadas Z(x, e W (u,v ). Neste trabalho utilizou-se a transformação mais abrangente, ou seja, a transformação afim geral. Na equação [11], P representa o conjunto de n pontos, pertencentes à Z, usados inicialmente na transformação geométrica. As equações [8] e [9] permitem interpolar qualquer ponto x e y pertencente ao espaço e possui duas componentes: uma componente linear representada pelos termos a 0 + a 1 x + a y e a 3 + a 4 x + a 5 y, e uma componente de n curvatura wu( R) e g U( R). Sem as i= 1 i i= 1 componentes de curvatura, os pontos seriam deformados uniformemente segundo uma transformação afim. Uma metodologia, implementada no programa R, envolvendo todos os passos desde a construção da matriz de dissimilaridades (em função do tempo de acesso) até a interpolação é apresentada na figura 3. n i Interpolação O objetivo da interpolação é extrapolar os resultados obtidos para todos os pontos pertencentes ao espaço, e não só aos pontos utilizados na fase de ajustamento. Neste estudo utilizou-se o método de interpolação Thin-Plate Splines TPS, que é um método de interpolação que procura minimizar a intensidade da distorção envolvida na transformação entre as duas configurações. Figura 3. Metodologia do Experimento

5 Metodologia Para o experimento da metodologia foi selecionada uma região pertencente ao estado de Minas Gerais. Foram então selecionados alguns municípios juntamente com seus trechos da rede ferroviária e pontos de mineração (figura 4). A distribuição espacial dos nós da rede tendo como base suas coordenadas conhecidas no espaço de referência Z(x, é observado na figura 7. Figura 4. Base de dados Cada nó pertencente à rede ferroviária foi nomeado, cada aresta enumerada e valorada arbitrariamente com uma velocidade média de tráfego. De posse da distância entre os nós e da velocidade arbitrada para percorrê-los, foi possível calcular o tempo de acesso (figura 5) e montar a matriz de dissimilaridades baseada no tempo de acesso (figura 6). Figura 7. Distribuição espacial dos nós da rede no espaço de referência. Aplicando-se o método CMDS determina-se a configuração espacial D baseada no tempo de acesso entre os nós. Este método fornece as coordenadas W(u,v) e o resultado é apresentado na figura 8. Figura 8. Distribuição espacial W(u,v). Figura 5. Identificação da rede e tempos de acesso. Figura 6. Matriz de tempos de acesso. A determinação das coordenadas no sistema W é seguida de um ajustamento fornecendo as coordenadas W (u,v ). De posse das coordenadas nos espaços Z e W, são identificados os vetores de deslocamento, ou deformação (figura 9), elementos fundamentais para a realização da interpolação.

6 Figura 9. Vetores de deslocamento. Z W. A interpolação estende os vetores de distorção a todos os pontos do espaço, o que é conseguido, neste trabalho, com a aplicação do método TPS. Para facilitar a visualização da representação de todo o espaço em função da variável tempo de acesso, é utilizada uma grade regular de pontos (figura 10). Figura 11. Grade deformada com os vetores de distorção. Quanto maior a quantidade de vértices da grade, mais suave são as distorções observadas. As localizações dos vértices da grade regular subtraídas das respectivas posições interpoladas fornecem os vetores de deslocamento para toda a região (figura 1). Figura 10. Grade Regular. Utilizando as equações [8] e [9] a grade regular é interpolada dando origem a uma grade distorcida (figura 11). Figura 1. Vetores de deslocamento. Z W. É possível observar a distorção da representação do espaço com base no tempo de acesso entre os nós da rede ferroviária usada.

7 Resultados e Conclusões A distorção da rede ferroviária é observada na figura 13 juntamente com os respectivos valores de tempo de acesso entre seus nós. Os valores correspondem, respectivamente, à contração e distensão do espaço. Em conseqüência, é possível observar que a representação do espaço de referência Z (figura 15) sofre uma deformação (figura 16) quando representado com base no tempo de acesso. Figura 15. Espaço de referência com a grade regular. Figura 13. Deformação da rede. Nas regiões onde o tempo de acesso é menor, os pontos estão mais próximos. Tempos maiores de acesso geram pontos mais afastados (figura 14). Figura 16. Espaço funcional resultante com a grade regular. Figura 14. Deformação dos municípios. Do ponto de vista metodológico, os resultados do experimento permitem concluir que a metodologia apresentada possibilita a construção de espaços funcionais baseados no

8 tempo de acesso entre os nós de uma rede de transporte. No entanto, outros trabalhos podem testar a eficiência da metodologia em redes mais complexas, como por exemplo, redes multimodais, ou ainda utilizando outras variáveis. Referências Bibliográficas Bookstein, F. L.; 1989. Principal Warps: Thin- Plate Splines and the Decomposition of Deformations. Transactions on Pattern Analysis and Machine Intelligence, v. II, nº 6. Cauvin, C.; 001. Cognitive and Cartographic Representations Towards a Comprehensive Approach. Cybergeo. nº 06. Cauvin, C.; 00. A Systemic Approach to Transport Accessibility. A Methodology Developed in Strasbourg: 198-00. Cybergeo. nº 311. Dias, M. H.; Cauvin, C.; Alegria, M. F.; 000. Comparação de configurações cartográficas através da regressão bidimensional. Finisterra, 69, p. 95-107. Friedman A.; Kohler B.; 003. Bidimensional Regression: Accessing the Configural Similarity and Accuracy of Cognitive Maps and Other Two-Dimensional Data Sets. Psychological Methods, v. 8, nº 4, p. 468-491. Kitchin, R. M.; Fotheringham, A. S.; 1998. The Effects os Spatial Locational Cueing on the Analysis of aggregate Cognitive Mapping Data. Enviromment and Planning, v. 30, p. 45-53. Symington, A.; Charlton, M. E.; Brunsdon, C. F.; 001. Using bidimensional regression to explore map lineage. Computers, Enviromment and Urban Systems. v. 6, p. 01-18. Tobler W.; 1977. Bidimensional regression : a computer program. University of Santa Barbara. Tobler W.; 1977. The trilateration problem. University of Santa Barbara. Wallace R. G.; 00. The Shape of Space: Applying Geometric Morphometrics to Geographic Data.. Enviromment and Planning A, v. 34, p. 119-144. Young F. W.; 1985. Multidimensional Scaling. Encyclopedia of Statistical Sciences, v. 5.