INCONSCIENTE COLETIVO E O ARQUÉTIPO DA PERSONA: NOÇÕES INTRODUTÓRIAS 1 Fernanda Batista de Almeida 2 Patrick Nascimento¹ Rosangela de Souza Ramos¹ Dayla Rocha Duarte Fiusa 3 RESUMO: Carl Gustav Jung foi discípulo de Sigmund Freud e um dos mais proeminentes teóricos da chamada abordagem neo-psicanalítica. Designou conceitos importantes e muito difundidos na ciência da Psicologia contemporânea, como por exemplo, o inconsciente coletivo e os arquétipos. Portanto, o presente estudo far-se-á de forma introdutória, buscando identificar e analisar tais conceitos, articulando uma analogia, primordialmente, ao arquétipo da persona. Para tanto, o estudo prevalecerá de uma revisão bibliográfica de obras acadêmicas conceituadas nos derradeiros cinco anos, bem como em obras do próprio autor. Palavras-chave: Carl Gustav Jung. Psicologia Analítica. Arquétipos. Persona. INTRODUÇÃO Carl Jung formou-se médico e se especializou em psiquiatria. Ao conhecer o trabalho de Sigmund Freud, através da conhecida obra A Interpretação dos sonhos, logo se comprometeu com o sistema da psicanálise, começando assim o relacionamento conturbado de ambos. Apesar de ter sido designado por Freud como herdeiro da psicanálise, Jung era um discípulo crítico, começando assim a criar seus próprios conceitos, a aprimorar os já existentes, divergindo da psicanálise ortodoxa e elaborando uma nova teoria da personalidade humana, a qual chamou de Psicologia Analítica. (SCHULTZ & SCHULTZ, 2011, pg. 85-87) 1 1 Artigo premiado em 3º lugar no 2º Ciclo Científico da Unijipa. 2 Acadêmica (o) do 2º Período do Curso de Psicologia da Faculdade Panamericana de Ji-Paraná UNIJIPA. 3 Pós-Graduada em Saúde Mental e em Metodologia e Didática do Ensino Superior pela Faculdade de Rolim de Moura RO, FAROL, Pós-Graduada pelo Centro de Estudos Superiores de Maceió AL, Professora do Curso de Psicologia da Faculdade Panamericana de Ji-Paraná UNIJIPA.
2 Dentre os principais pontos de divergência, pode-se citar a com relação ao conceito de inconsciente. Ao contrário dos outros neopsicanalistas, Jung enfatizou o inconsciente ainda mais que o próprio Freud, investigando-o mais profundamente e acrescentando-o uma nova dimensão, mais profunda, onde conteria as experiências herdadas da espécie humana e além. (SCHULTZ & SCHULTZ, 2011, pg. 85) Trata-se do notório conceito do inconsciente coletivo, repositório de experiências humanas e pré-humanas universais herdadas, conhecidas também como arquétipos, o que se buscará analisar e identificar de forma mais detalhada a seguir. 1 O INCONSCIENTE COLETIVO A parte mais profunda e inacessível da psique, o inconsciente coletivo é um dos conceitos junguianos mais controversos. Assim Jung o define, um depósito dos processos mundiais encravados na estrutura do cérebro e no sistema nervoso simpático [que] constitui, na sua totalidade, um tipo de imagem mundial atemporal e eterna que contrabalanceia a nossa imagem consciente momentânea do mundo. (apud RYCKMAN, 2008, p. 81, tradução nossa) Destarte, tem-se que o inconsciente coletivo é um repositório de experiências universais, que se repetem a cada geração e, consequentemente, são herdadas pelas gerações subsequentes, mas não diretamente, mas sim são herdadas as potencialidades ou predisposições, as quais influenciam o comportamento atual. (SCHULTZ & SCHULTZ, 2011, p. 93) Para justificar metodologicamente seu conceito, Jung se apoiou em evidências coletadas em seus estudos sobre mitologia e história humana. Assim, quando se analisa a existência de elementos e temas comuns em civilizações ao longo do tempo e espaço, percebe-se a aparência repetitiva dos mesmos, sem que as mesmas tivessem contato. (SCHULTZ & SCHULTZ, 2011, p. 94) Jung (2000, p.51), ao buscar delibera-lo, diferencia-o do inconsciente pessoal da seguinte forma: Enquanto o inconsciente pessoal é constituído essencialmente de conteúdos que já foram conscientes e, no entanto desapareceram da consciência por terem sido esquecidos ou reprimidos, os conteúdos do
3 inconsciente coletivo nunca estiveram na consciência e portanto não foram adquiridos individualmente, mas devem sua existência apenas à hereditariedade. Enquanto o inconsciente pessoal consiste em sua maior parte de complexos, o conteúdo do inconsciente coletivo é constituído essencialmente de arquétipos. Aparece, assim, o conceito de arquétipo, intrinsicamente ligado ao do inconsciente coletivo, temas ou modelos recorrentes que se manifestam no mesmo, os quais serão fruto de melhor exame a seguir. 2 ARQUÉTIPOS Segundo o próprio Jung (2000, p. 54), o conceito de arquétipo, que constitui um correlato indispensável da ideia do inconsciente coletivo, indica a existência de determinadas formas na psique, que estão presentes em todo tempo e em todo lugar. Percebe-se assim, claramente, a inter-relação entre esses dois conceitos basilares em sua teoria. Mas o que viria a ser tal conceito? Assim elucida Ryckman (2008, p. 82, tradução nossa), arquétipos são temas que existiram em todas as culturas através da história [...] a natureza de tais memórias são universais por causa de nossa evolução e estrutura cerebral comum. Desta maneira, esses temas ou imagens primordiais, como Jung também os chama, são experiências universais, existindo tantos quantos são as experiências humanas comuns a todos, gravados em nossa psique e expressos através de nossos sonhos. (SCHULTZ & SCHULTZ, 2011, p. 94) Em toda sua obra e, principalmente, em seu livro Die Archetypen und das kollektive Unbewusste, Jung propôs os mais diversos arquétipos, como por exemplo, a mãe, Deus, morte, nascimento (experiências básicas que ocorrem em todas as gerações), e outros distintos, entre eles, o self, a sombra e a persona, a qual se dará destaque em frente. 3 PERSONA
4 Segundo Jacobi (apud RYCKMAN, 2008, p. 83, tradução nossa), o arquétipo da persona é o compromisso [...] entre as demandas do ambiente e as necessidades da constituição interior do indivíduo, ou seja, são máscaras que os indivíduos utilizam para melhor relacionar-se com as pessoas das quais convivem. Corrobora esse entendimento Schultz & Schultz (2011, p. 94), o arquétipo da persona é uma máscara, a face pública que usamos para nos darmos bem com uma série de pessoas [...] Jung achava que a persona é necessária porque somos forçados a representar vários papéis na vida. culta, Ao conceitua-lo, Jung (2000, p. 30) utiliza-se de sua conhecida linguagem Verdadeiramente, aquele que olha o espelho da água vê em primeiro lugar sua própria imagem. Quem caminha em direção a si mesmo corre o risco do encontro consigo mesmo. O espelho não lisonjeia, mostrando fielmente o que quer que nele se olhe; ou seja, aquela face que nunca mostramos ao mundo, porque a encobrimos com a persona, a máscara do ator. Mas o espelho está por detrás da máscara e mostra a face verdadeira. Destarte, concebe-se que o arquétipo da persona é uma dimensão exterior do indivíduo, aspecto relacional da personalidade, uma máscara adotada para relacionar-se no dia-a-dia com as diversas pessoas que compõe a sociedade. (DALGALARRONDO, 2008, p. 261) Todavia, Jung nos adverte dos aspectos negativos da persona, no tocante ao indivíduo acreditar que ela reflete sua verdadeira natureza ou identidade, tornandose aquele papel, assim, este não desenvolveria sua personalidade por inteiro. Esse processo ocorreria quando o ego se identificasse com a persona. (SCHULTZ & SCHULTZ, 2011, P. 94) Portanto, o pressuposto teórico de Jung (2000, p. 128) descreve o referido processo como: O mundo exige um certo tipo de comportamento e os profissionais se esforçam por corresponder a tal expectativa. O único perigo é identificar-se com a persona, como por exemplo, o professor com o seu manual, o tenor com sua voz; dai a desgraça. É que, então, se vive apenas em sua própria biografia, não se é mais capaz de executar uma atividade simples de modo natural. Nessa explanação, Jung pretende demonstrar que o arquétipo da persona pode ser prejudicial, no sentido de que quando essa máscara (quer ela seja profissional, social, etc.) se confunde com o próprio aspecto consciente da
5 personalidade da pessoa, esta não mais representa um papel, mas sim se torna aquele papel. CONSIDERAÇÕES FINAIS Depreende-se do estudo em tela que C. G. Jung foi um dos teóricos mais brilhantes da teoria da personalidade, porém, possui uma linguagem técnica que dificulta o acesso da população leiga. Faz-se necessário ao profissional da Psicologia adquirir tal conhecimento, identificando-o de forma acertada e analisandoo, para assim aplicar em sua vida profissional de forma satisfatória. REFERÊNCIAS JUNG, Carl Gustav. Os arquétipos e o inconsciente coletivo. 2.ed. Petrópolis: Vozes, 2000. RYCKMAN, Richard M. Theories of Personality. 9.ed. Belmont: Thomson Wadsworth, 2008. SCHULTZ, Duane P. SCHULTZ, Sydney Ellen. Teorias da Personalidade. 2.ed. São Paulo: Cengage Learning, 2011. DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. 2.ed. Porto Alegre: Artmed, 2008.