A FORMAÇÃO CONTINUADA EM CONTEXTO: A POSSIVEL PRÁXIS PEDAGÓGICA DE UMA ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL 165 Bruna Barboza TRASEL; Celso José MARTINAZZO Universidade Regional do Noroeste do Rio Grande do Sul- UNIJUI. CEP: 98700000. E-mails: brunabarbozatrasel@gmail.com; martinazzo@unijui.edu.br Resumo O presente artigo apresenta e discute a questão da formação continuada em contexto como possibilidade de práxis pedagógica apoiada na conceituação a partir de dois autores, Julia Oliveira-Formosinho e Francisco Imbernón, que concordam ao considerar que a formação continuada deve ocorrer em contexto ou no lócus. A reflexão se caracteriza por ser uma pesquisa bibliográfica de método dedutivo-indutivo. Palavras-chave: Formação. Contexto. Práxis. INTRODUÇÃO O caminho delineado para esta pesquisa, que se caracteriza por ser um recorte da Dissertação de Mestrado que vem sendo construída e reconstruída no âmbito do curso de Pós-graduação em Educação nas Ciências da Unijuí/Ijuí/RS, perpassa a construção de um conceito de formação continuada a partir da contribuição, especialmente, de dois autores centrais: Julia Oliveira-Formosinho e Francisco Imbernón. A primeira é professora associada da Universidade do Minho/Braga/POR, Vice-presidente da Associação Criança, membro da direção da EECERA (Associação Europeia de Investigação em Educação de Infância), e suas pesquisas abordam a formação em contexto como desenvolvimento profissional. Já o segundo, Professor da Universidade de Barcelona/ESP, propõe que gestores da educação devem cuidar do aperfeiçoamento em serviço, com momentos de formação no lócus da escola, indicando a
166 importância da formação dos formadores, que compreendemos que são os professores/coordenadores pedagógicos. Esses conceitos construídos ao longo da trajetória da graduação e dos cursos de pós-graduação instigaram-me a pensar sobre a união da teoria vinculada nos momentos de formação continuada com a postura dos educadores em sua prática, pensando, assim, nas questões pedagógicas que envolvem a teoria e a prática no trabalho do professor. Já asseguro, neste primeiro momento, como hipótese inicial que a teoria e a prática são indissociáveis e que, embora seja possível fazer referência a uma teoria ou a pressupostos teóricos e não utilizá-los na prática, ao contrário, a prática pedagógica revela, em sua sutileza, as concepções do educador. Estas constatações se deram neste período como professora/coordenadora pedagógica ao observar o cotidiano da escola. Assim, munida de todas essas concepções que me constituem a educadora que me tornei, pretendo nesta pesquisa abordar, com a profundidade possível nesse período, questões relacionadas à práxis, conceito que vem tomando forma ao longo dos anos e que segundo o meu entendimento, enquanto pesquisadora, é a conduta ou a ação do educador. Coloco como questão primordial, no primeiro capítulo da dissertação, A práxis pedagógica em um contexto de complexidade: Discutindo a relação teoria-prática da docência na Educação Infantil, um resgate histórico da concepção do termo práxis pelos gregos, avanço historicamente nas referências herdadas de Karl Marx e, por fim, ouso discutir a práxis pedagógica a partir dos pressupostos do Paradigma da Complexidade. No segundo capítulo, O Professor/Coordenador Pedagógico e a formação continuada em contexto: a possível práxis pedagógica de uma Escola de Educação Infantil, pretendese apresentar o conceito de formação continuada em contexto, enfatizando o lugar de formador do Coordenador Pedagógico e tendo como apoio teórico as ideias de Edgar Morin e de outros
167 teóricos e pensadores que entendem o Paradigma da Complexidade como suporte epistemológico e pedagógico. O terceiro capítulo objetiva analisar a documentação pedagógica construída por coordenadores pedagógicos e professores através da utilização de portfólios e os próprios portfólios a partir de categorias pré-determinadas e tem por título Documentação pedagógica: a utilização de portfólios como instrumento de comunicação das aprendizagens e da práxis pedagógica dos professores de uma escola de Educação Infantil. Neste capítulo, pretende-se resgatar a figura do professor/coordenador pedagógico como pesquisador, como sujeito que constrói o conhecimento a partir da documentação pedagógica das formações continuadas em contexto. É sobre o segundo capítulo, O Professor/Coordenador Pedagógico e a formação continuada em contexto: a possível práxis pedagógica de uma Escola de Educação Infantil, que me debruço a pensar neste escrito. O PROFESSOR/COORDENADOR PEDAGÓGICO E A FORMAÇÃO CONTINUADA EM CONTEXTO: APRESENTANDO CONCEPÇÕES A formação continuada de professores é um tema altamente discutido e pensado pelos pesquisadores das mais diversas áreas. O tema vem ganhando relevância na última década por diversos fatores, dentre os quais escolho três fatores práticos, vivenciados nas escolas, para referenciar essa mudança de perspectiva na formação de professores. Em primeiro lugar, a crise na função do professor: no ensinar. Em segundo lugar, a tomada de consciência de que somente a formação inicial é incompleta para e completude que é ser professor e, por fim, que, para conquistar uma identidade profissional, o professor precisa estar em constante reflexão sobre a prática. A tomada de consciência de que somente a formação inicial é incompleta para a completude que é ser professor se dá em
168 decorrência da crise citada anteriormente. Afinal, como formar um professor que não somente ensina, mas também participa do processo de aprendizagens ocupando outros lugares, subjetivando e objetivando conhecimentos de muitas maneiras? Como poderiam, em quatro anos, obter o conhecimento para o ensino de crianças por toda uma vida profissional? A formação inicial passou a ser vista como base, o básico ou mínimo, para que o sujeito receba da República Federativa a autorização para dizer-se licenciado em. Oferta a esses sujeitos o mínimo de ferramentas cognitivas/subjetivas e ferramentas objetivas (ou o fazer pedagógico) para atuar como profissional professor, mas não somente isso, para tornar-se professor. Porém, para conquistar uma identidade profissional, o professor precisa estar em constante reflexão sobre a prática, isto porque, não se torna professor ao receber o título de licenciado em, se torna professor no exercício efetivo da profissão. Assim, a identidade docente se constrói no legítimo ato de educação escolar, na sequência efetiva de ações, que são diversas, sem modelo e sem fórmula. Assumir a identidade docente requer pensar sobre a relevância de sua profissão no âmbito social munido da possibilidade de repensar constantemente sua prática. Isto é possível pela formação continuada de professores. Desta forma e em relação a estes três fatores, busco compreender mais sobre a formação continuada como possibilidade de desenvolvimento profissional 1, utilizando-me desses dois autores: Oliveira-Formosinho e Imbernón, destacando, em suas preposições, a possibilidade de pensar a formação continuada como parte da práxis docente. Julia Oliveira-Formosinho propõe um conceito de formação continuada em contexto articulada ao desenvolvimento 1 Desenvolvimento profissional é um conceito abordado por Julia Oliveira- Formosinho e João Formosinho (2002, p. 6) como sendo um processo vivencial não puramente individual, mas um processo em contexto, um processo de construção coletiva e de avanço na identidade docente.
169 profissional, focada nas questões do contexto. A pergunta é por que em contexto? Essa autora considera que o desenvolvimento do ser humano tem a ver, direta e indiretamente, com os seus contextos vivenciais. E mais, a formação continuada em contexto começa assim no desenvolvimento de uma visão do mundo que pensa na imagem de pessoa a imagem de criança, a imagem de adulto profissional. Além disso, a desconstrução da forma tradicional de pensar a educação de infância é um requisito para pensar e fazer formação em contexto, pois o peso histórico da pedagogia de infância tradicional precisa de ser refletido [...] (OLIVEIRA- FORMOSINHO, 2016, p. 87). Desta forma, a formação continuada em contexto começa, portanto, na desconstrução do modo tradicional de fazer pedagogia da infância (2016, p. 88). Francisco Imbernón (2010, p. 56) discute a formação continuada de professores e pondera que não bastam apenas momentos para as formações, mas, sim, as necessidades reais de um grupo de professores que tem a percepção de que participar da formação significa participar de uma maneira consciente, o que implica suas éticas, seus valores, suas ideologias, fatos que nos permitem compreender os outros, analisar suas posições e suas visões. Esse autor ainda coloca que a formação precisa partir de dentro 2, do lócus da instituição, daquilo que produz problemática para o grupo de educadores. A formação serve para caminhar em busca de uma utopia de escola. Existe um ideal de escola, produzido/sonhado pelos professores da equipe gestora, mas também pelos demais, apoiados em documentos como as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil DCNEI, e a formação tem sido o caminho para chegar a este ideal. Em virtude desse ideal de escola, a função do coordenador pedagógico possui o tencionamento de estar sempre dando vida a esse ideal. 2 No Glossário do livro Formação Continuada de Professores, Imbernón conceitua formação a partir de dentro como a formação realizada na instituição educacional, partindo-se das necessidades e situações problemáticas do usuário da formação e promovendo-se uma repercussão na totalidade dessa instituição (2010, p. 115).
170 E, em relação a tal panorama, Imbernón (2010) ratifica a ideia de que os professores/coordenadores pedagógicos enquanto formadores necessitam superar algumas condições apontando mudanças. Menciona que o formador deve assumir cada vez mais o papel de um colaborador prático em um modelo mais reflexivo, no qual será fundamental criar espaços de formação, inovação e pesquisa [...] (IMBERNÓN, 2010, p. 94). Assim, propicia a problematização do cotidiano escolar, buscando o efetivo avanço nas práticas educativas. Nos últimos anos, têm se intensificado os espaços/tempos de formação continuada nos contextos escolares, indicando que a melhor forma de avançar na efetivação de uma escola de qualidade perpassa pela formação e ressignificação de saberes daqueles que concretizam o processo de educação formal. Reafirma-se aqui que a formação continuada deve incluir e envolver todos os profissionais da educação, independentemente da função que ocupam. CONSIDERAÇÕES FINAIS Em virtude das premissas apresentadas, pretendia-se evidenciar o conceito de formação continuada em contexto que abrange os momentos de estudos e discussões de todos os profissionais da escola/educação infantil, sendo eles professores, auxiliares, monitores e funcionários, discutindo o cotidiano e proporcionando a possibilidade de articulação dos saberes teóricos e práticos, enfatizando momentos de práxis pedagógica. Essas considerações apresentadas objetivaram delinear um cenário propício à discussão do cotidiano, do habitual e costumeiro, no sentido de problematizar a prática pedagógica recorrente a fim de avançar no sentido de qualificar a Escola Infantil como espaço do acolhimento e do saber. REFERÊNCIAS OLIVEIRA-FORMOSINHO. Júlia. A formação em Contexto: a mediação do desenvolvimento profissional praxiológico. In: CANCIAN, Viviane Ache;
171 GALLINA, Simone Freitas da Silva; WESTENFELDER, Noeli (orgs.). Pedagogias das Infâncias, Crianças e Docências na Educação Infantil. Santa Maria: UFSM, Centro de Educação, Unidade de Educação Infantil Ipê Amarelo; [Brasília] Ministério da Educação, Secretária da Educação Básica, 2016. IMBERNÓN, Francisco. Formação Permanente do Professorado: novas tendências. Trad. Sandra Trabucco Valenzuela. São Paulo: Cortez, 2009.. Formação Continuada de Professores. Tradução Juliana dos Santos Padilha. Porto Alegre: Artmed, 2010.. Formação Docente e Profissional: formar-se para a mudança e a incerteza. Trad. Silvana Cobucci Leite. 9ª ed. São Paulo: Cortez, 2011.. Caminhos para melhorar a Formação Continuada de Professores. Disponível em: <http://gestaoescolar.org.br/formacao/francisco-imbernon-falaca minhos-melhorar-formacao-continuada-professores-636803.shtml>. Acesso em: 28 set. 2016, às 10:32.