DOENÇA HEPÁTICA GORDUROSA NÃO ALCOÓLICA: DOENÇA SILENCIOSA E INSUFICIÊNCIA DIAGNÓSTICA.

Documentos relacionados
Epidemiologia e história natural da DHGNA. Prof Ana LC Martinelli Depto Clinica Médica Gastroenterologia FMRP-USP

Mesa redonda Doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA) DHGNA/NASH: diagnóstico Invasivo x não invasivo

Avaliação Clínica do Paciente com Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica

HISTOPATOLOGIA DA DHGNA Esteatose x Esteato-hepatite Indice de atividade histológica

AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA DO PACIENTE COM DHGNA VICTORINO SPINELLI TOSCANO BARRETO JCPM,

DOENÇA HEPÁTICA GORDUROSA NÃO ALCOÓLICA DIAGNÓSTICO E ESTADIAMENTO. Helma Pinchemel Cotrim

NECESSIDADE DE BIOPSIA HEPÁTICA EM DHGNA: Argumentação contrária

Doença gordurosa do fígado: correlação entre aspectos clínicos, ultrassonográficos e histopatológicos em pacientes obesos

DOENÇA HEPÁTICA GORDUROSA NÃO-ALCOÓLICA: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

DHGNA Transplante de Fígado

Doença hepática gordurosa nãoalcoólica

Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica

Especializanda: Renata Lilian Bormann - E4 Orientadora: Patrícia Prando Data: 16/05/2012

Diagnóstico Invasivo e Não Invasivo na Doença Hepática Gordurosa não Alcoólica. Ana Lúcia Farias de Azevedo Salgado 2017

Análise Crítica do Uso de Testes Não Invasivos na DHGNA: onde estamos?

SÍNDROME METABÓLICA ORIENTADORA, BACHAREL EM BIOMEDICINA, MESTRE EM BIOLOGIA DE FUNGOS E DOUTORANDO EM BIOLOGIA CELULAR E MOLECULAR APLICADA À

ATUAÇÃO DO NUTRICIONISTA NO TRATAMENTO DA ESTEATOSE HEPÁTICA NÃO ALCOÓLICA EM PESSOAS OBESAS. RESUMO

DOENÇA HEPÁTICA GORDUROSA NÃO-ALCOÓLICA: UMA REVISÃO DE LITERATURA

GORDUROSA NÃO ALCOÓLICA LICA DIAGNÓSTICO HELMA PINCHEMEL COTRIM FACULDADE DE MEDICINA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

PREVALÊNCIA DE SÍNDROME METABÓLICA EM PACIENTES HOSPITALIZADOS

ESTEATOSE HEPÁTICA RELACIONADA AO CONSUMO DE BEBIDAS ALCOÓLICAS E OBESIDADE

DOENÇA GORDUROSA NÃO ALCOÓLICA DO FÍGADO REUNIÃO MONOTÉMATICA DA SBH 2012

UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS - UNISINOS UNIDADE ACADÊMICA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM NUTRIÇÃO CLÍNICA

RAQUEL LONGHI BRINGHENTI

Saiba mais sobre Esteatose Hepática e como cuidar bem do seu fígado

PREVALÊNCIA DAS ALTERAÇÕES DE ENZIMAS HEPÁTICAS RELACIONADAS À DOENÇA HEPÁTICA GORDUROSA NÃO-ALCOÓLICA EM PACIENTES COM DIABETES MELLITUS

DOENÇA HEPÁTICA GORDUROSA NÃO ALCOÓLICA

SOBREPESO E OBESIDADE

ENFERMAGEM DOENÇAS HEPÁTICAS. Profª. Tatiane da Silva Campos

TERAPIA NUTRICIONAL NA DOENÇA HEPÁTICA GORDUROSA NÃO ALCOÓLICA REVISÃO DA LITERATURA

Introdução. Nutricionista FACISA/UNIVIÇOSA. 2

OBESIDADE E ATIVIDADE FÍSICA

09/07/2014. Alterações musculoesqueléticas: Diagnóstico e manejo. Definições das alterações musculares. Origem das alterações musculares

INSTITUIÇÃO: CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS

PERFIL CLÍNICO E NUTRICIONAL DOS INDIVÍDUOS ATENDIDOS EM UM AMBULATÓRIO DE NUTRIÇÃO DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO (HUPAA/UFAL)

AVALIAÇÃO DA TAXA DE FILTRAÇÃO GLOMERULAR EM CÃES OBESOS RESUMO

Atividade Física na DHGNA F I S I O T E R A P E U T A L A R I S S A B E R T O L I N I A N D R E A T T A S A M M A R C O

AVALIAÇÃO DE PROTOCOLOS CINESIOTERÁPICOS COMO

NUT-154 NUTRIÇÃO NORMAL III. Thiago Onofre Freire

DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA HEPATITE AUTO- IMUNE

VI WIAH Curitiba, Junho de 2012

RESUMO OBESIDADE E ASMA: CARACTERIZAÇÃO CLÍNICA E LABORATORIAL DE UMA ASSOCIAÇÃO FREQUENTE. INTRODUÇÃO: A asma e a obesidade são doenças crônicas com

Saiba mais sobre Esteatose Hepática e como cuidar bem do seu fígado

Guilherme Lourenço de Macedo Matheus Alves dos Santos Fabiana Postiglione Mansani

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS FACULDADE DE NUTRIÇÃO MESTRADO EM NUTRIÇÃO RENATA PEREIRA DA SILVA

DIABETES MELLITUS E HIPERTENSÃO ARTERIAL EM POPULAÇÃO ATENDIDA DURANTE ESTÁGIO EM NUTRIÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA DA UNIVERSIDADE DO SAGRADO CORAÇÃO

TÍTULO: EFEITO DA TERAPIA PERIODONTAL NÃO CIRÚRGICA SOBRE O CONTROLE GLICÊMICO EM INDIVÍDUOS COM DIABETES TIPO2 E PERIODONTITE CRÔNICA: ENSAIO CLÍNICO

PERCEPÇÃO DE PACIENTES DIABÉTICOS QUE FREQUENTAM UMA FAMÁCIA COMERCIAL EM FORTALEZA SOBRE DIABETES MELLITUS TIPO 2

CATEGORIA: EM ANDAMENTO ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE SUBÁREA: FARMÁCIA INSTITUIÇÃO: UNIVERSIDADE DE RIBEIRÃO PRETO

Perfil Hepático FÍGADO. Indicações. Alguns termos importantes

ULTRASSONOGRAFIA. UNITERMOS: Ultrassonografia abdominal. Ressonância magnética. Obesidade grau III. Esteatose hepática.

Perda de peso no tratamento da doença hepática gordurosa não alcoólica: uma revisão sistemática da literatura

1º DIA - 13 DE AGOSTO - TERÇA-FEIRA

INCIDÊNCIA DE ESTEATOSE HEPÁTICA GORDUROSA NÃO ALCÓOLICA NA POPULAÇÃO ADULTA ATUAL

Disponível em

Manejo do Diabetes Mellitus na Atenção Básica

LUCAS SPADARI MAGGIONI

TÍTULO: HIPERTRIGLICERIDEMIA PÓS-PRANDIAL EM PACIENTES COM DIABETES MELLITUS TIPO 2 E O RISCO CARDIOVASCULAR

HIPERTENSÃO DIABETES ESTEATOSE HEPÁTICA

UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES CAMPUS DE ERECHIM DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE CURSO DE ENFERMAGEM

PREVALÊNCIA DA HIPERTENSÃO ARTERIAL E PERFIL DE SAÚDE EM UMA AMOSTRA DA FEIRA DE SAÚDE DO CENTRO UNIVERSITÁRIO LUSÍADA RESUMO

[CUIDADOS COM OS ANIMAIS IDOSOS]

Universidade Federal do Rio de Janeiro Centro de Ciências da Saúde Faculdade de Medicina

AVALIAÇÃO LABORATORIAL DO FIGADO Silvia Regina Ricci Lucas

MANEJO HEPATITES VIRAIS B/C

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca J. Baeta Vianna Campus Saúde UFMG

CORRELAÇÃO ENTRE OS NÍVEIS PLASMÁTICOS DE TRANSAMINASES E O TEMPO DE PROTROMBINA EM PACIENTES COM LITÍASE BILIAR

FIBROTEST e FIBROMAX. Diagnóstico não invasivo para doenças do fígado

CAFÉ VERDE. Gerenciamento de peso com 45% de Ácido Clorogênico. Informações Técnicas

DOENÇA HEPÁTICA GORDUROSA NÃO ALCOÓLICA TRATAMENTO COM DROGAS

Faculdade de Medicina. Programa de Pós-Graduação em Medicina: Ciências Cirúrgicas

CORRELAÇÃO ENTRE ACHADOS NA HISTOPATOLOGIA HEPÁTICA E OS NÍVEIS DE ADIPOCINAS EM PACIENTES SUBMETIDOS A CIRURGIA BARIÁTRICA

USG intra-op necessária mesmo com boa Tomografia e Ressonância?

26 a 29 de novembro de 2013 Campus de Palmas

Mudanças hepáticas secundárias ao processo de envelhecimento.

Doença hepática gordurosa não alcoólica e esteatohepatite não alcoólica

NUTRIÇÃO NA DOENÇA HEPÁTICA GORDUROSA NÃO ALCOÓLICA E SÍNDROME METABÓLICA: UMA REVISÃO INTEGRATIVA

PERFIL NUTRICIONAL E DE SAÚDE DE IDOSOS DIABÉTICOS ATENDIDOS NO AMBULATÓRIO DE NUTRIÇÃO DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO LAURO WANDERLEY

ANÁLISE DA TAXA DE MORTALIDADE EM IDOSOS COM DIABETES MELLITUS EM ALAGOAS: O RECORTE DE: 2011 Á 2015

N o n a l c o h o l i c F a t t y L i v e r D i s e a s e s a n d N o n a l c o h o l i c S t e a t o h e p a t i t i s 364

Doutoramento em Actividade Física e Saúde

19/04/2016. Profª. Drª. Andréa Fontes Garcia E -mail:

Métodos de Imagem na Avaliação evolutiva da esquistossomose mansônica. Ana Lúcia Coutinho Domingues

Perder peso comendo bem. Melhores alimentos e chás para emagrecer.

ENFERMAGEM ATENÇÃO BÁSICA E SAÚDE DA FAMÍLIA. Parte 26. Profª. Lívia Bahia

Obesidade Infantil. Nutrição & Atenção à Saúde. Grupo: Camila Barbosa, Clarisse Morioka, Laura Azevedo, Letícia Takarabe e Nathália Saffioti.

O que é a obesidade? Nas doenças associadas destacam-se a diabetes tipo II e as doenças cardiovasculares.

PERFIL CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICO DAS DOENÇAS HEPÁTICAS CRÔNICAS NO AMBULATÓRIO DE GASTROENTEROLOGIA DO UNIFESO

AVALIAÇÃO DA SÍNDROME METABÓLICA EM POLICIAIS MILITARES DE CAMPINA GRANDE-PB

Nuno Jorge Fernandes dos Santos

Patrícia Calado Ferreira Pinheiro Gadelha

INSUFICIÊNCIA HEPÁTICA AGUDA EM GATOS

Faculdade de Medicina da Universidade do Porto

QUALIDADE DE VIDA DE IDOSOS OBESOS QUE REALIZARAM A CIRURGIA BARIÁTRICA

COMPLICAÇÕES NEUROLÓGICAS PÓS-CIRURGIA BARIÁTRICA: UMA REVISÃO DE LITERATURA

UNISC- UNIVERSIDADE DE SANTA CRUZ DO SUL CURSO DE NUTRIÇÃO. Caroline Taiane Thumé QUALIDADE DA DIETA E FATORES DE RISCO PARA DOENÇAS CRÔNICAS

CLIMATÉRIO E AUMENTO DE PESO

Imagem da Semana: Ressonância nuclear magnética

Transcrição:

DOENÇA HEPÁTICA GORDUROSA NÃO ALCOÓLICA: DOENÇA SILENCIOSA E INSUFICIÊNCIA DIAGNÓSTICA. MENESES, C. E. S. 1 ; BARROS, Á. G. T. S. 1 ; MOREIRA, F. A. S. 1 ; SILVA, J. C. S 2 ; SILVA, M. S. M 3, BARROSO, W. A 4 RESUMO CURSO DE FARMÁCIA DO CENTRO UNIVERSITÁRIO SANTO AGOSTINHO¹ CURSO DE BIOMEDICINA DA FACULDADE MAURÍCIO DE NASSAU - UNINASSAU² PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA PARASITÁRIA DA UNIVERSIDADE CEUMA 3 FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO 4 Introdução: A doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA) evoluiu como epidemia no mundo e é apontado nos países ocidentais como o tipo mais comum de doença hepática crônica, acometendo até 25% da população global. O presente trabalho objetiva explanar sobre a DHGNA discutindo dados epidemiológicos, métodos diagnósticos e abordando aspectos referentes à insuficiência diagnóstica atual. Metodologia: Trata-se de uma revisão integrativa de literatura de maneira sistemática. Para o levantamento bibliográfico optou-se pela busca de artigos nas bases de dados PubMed, Scielo e LILACS, no período de 2008 a 2018. Os descritores utilizados foram: fígado gorduroso não alcoólico; fisiopatologia e diagnóstico. Como critérios de inclusão: pesquisas que abordassem a DHGNA e os trabalhos repetidos foram desconsiderados. Resultados e Discussão: A DHGNA é apontada nos países ocidentais como o tipo mais comum de doença hepática crônica, com prevalência de 20 a 30% na população geral. No Brasil há relatos que a prevalência pode ser de 35,2% entre os pacientes de meia-idade (com idade igual ou superior a 55 anos). Os exames para diagnóstico da NAFLD são: biópsia hepática; laboratoriais (aspartato aminotransferase-ast, alanina aminotransferase- ALT; gama glutamil transferase-ggt; colinesterase e ferritina); ecografia e ressonância magnética. Mesmo com vários meios para o diagnóstico, esta patologia se mostra como uma adversidade para os profissionais da saúde e costuma passar despercebida na maioria dos casos, pois é assintomática, silenciosa para o paciente e médico, tendo seus sintomas apresentados quando a doença já se encontra em um estágio avançado. Conclusões: A DHGNA é mundialmente um problema de saúde pública, que está associada ao estilo de vida desregrado e que acomete um alto índice de pessoas, sendo necessária uma atenção maior para diagnosticá-la. Palavras-chave: Fígado gorduroso não alcoólico; Epidemiologia; Saúde pública; Diagnóstico laboratorial.. ABSTRACT Introduction: The nonalcoholic fatty liver disease (NAFLD) has evolved as an epidemic in the world and is pointed in Western countries as the most common type of chronic liver disease, affecting up to 25% of global population. This paper aims to explain about NAFLD discussing epidemiological data, diagnostic methods and addressing aspects related to current diagnostic failure. Methodology: This is a literature integrative review in systematic way. For literature review, articles were searched in PubMed, SciELO and LILACS databases, from 2008 to 2018. The

descriptors used were: Nonalcoholic fatty liver; pathophysiology and diagnosis. The inclusion criteria: studies that addressed NAFLD and repeated works were disregarded. Results and discussion: NAFLD is pointed in Western countries as the most common type of chronic liver disease, with a prevalence of 20 to 30% in general population. In Brazil there are reportes that the prevalence may be 35.2% among middle-aged patients (aged over 55). Diagnostic tests for NAFLD are: hepatic biopsy, laboratory analysis (AST-Aspartate aminotransferase, Alanine aminotransferase-alt, gamma glutamyl transferase-ggt; cholinesterase; ferritin), ultrasound and magnetic resonance imaging. Even with various means for diagnosis, this condition appears as an adversity to health professionals and often go unnoted in most cases because it is asymptomatic, silent for patient and doctor, having your symptoms appear when the disease is already at an advanced stage. Conclusions: The NAFLD is a worldwide public health problem which is associated with unregulated lifestyle affecting a high number of people, and greater attention is needed to diagnose it. Key words: Nonalcoholic fatty liver; Epidemiology; Public health; Laboratory diagnosis. INTRODUÇÃO A obesidade é uma das maiores causas de mortalidade evitável no mundo (BASNESS, 2007), sendo caracterizada pelo acúmulo de gordura corporal resultante de um desequilíbrio energético prolongado, o qual pode ser causado pelo consumo excessivo de calorias e/ou inatividade física (WHO, 2016). A Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta a obesidade como um dos maiores problemas de saúde pública no mundo, e no Brasil vem crescendo cada vez mais. Além disso, a obesidade é considerada como a principal responsável pela crescente prevalência da síndrome metabólica (SM), a qual envolve um complexo de fatores de risco interrelacionados como hiperglicemia, hipertensão arterial sistêmica, dislipidemia e obesidade abdominal. Estudos relatam que o conjunto de anormalidades presentes na SM também está associado à gravidade e progressão da DHGNA, a qual é apontada como a manifestação hepática dessa síndrome (PETTA et al., 2016). Dentre as várias causas relacionadas com a iniciação da DHGNA está a resistência à insulina (RI) e a acumulação de lipídeos no fígado. Como um dos fatores moleculares relacionados temos o coativador-1α do receptor ativado por proliferadores de peroxissoma gama (PGC-1α, do inglês), que surge como uma das vias que controla a inflamação hepática via NF-KB (BARROSO et al., 2017). De 10-25% dos pacientes com esteatose hepática progridem para esteatohepatite não alcoólica (NASH, do inglês), sendo esta capaz de evoluir para um estado de cirrose e carcinoma hepatocelular. Assim, a NASH é de grande preocupação para a saúde em todo o mundo, a qual é identificada como uma das causas críticas da DHGNA. O presente trabalho objetiva explanar sobre a DHGNA com enfoque nos métodos diagnósticos, discutindo também os dados epidemiológicos e abordando aspectos referentes à insuficiência diagnóstica atual.

METODOLOGIA Trata-se de uma revisão integrativa de literatura de maneira sistemática. Para o levantamento bibliográfico optou-se pela busca de artigos nas bases de dados PubMed, Scielo e LILACS, onde foram encontrados 28 artigos, sendo 22 lidos e 11 utilizados no estudo. Os descritores empregados enquadram-se nos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS). Utilizou-se o modo de pesquisa avançada e integrada com os seguintes descritores: doença do fígado gorduroso não alcoólico; fisiopatologia; diagnóstico. Para que a pesquisa contasse com dados recentes,o período destinado à busca de artigos ocorreu de 2008 até 2018, não excluindo publicações de datas anteriores que possuíssem material relevante para o estudo. Foram definidos como critérios de inclusão: pesquisas que abordassem a DHGNA, considerando também aspectos nutricionais, diagnósticos, estudos clínicos e dados epidemiológicos. Como critérios de exclusão: trabalhos que não se apresentassem na íntegra. RESULTADOS E DISCUSSÃO A doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA) é apontada nos países ocidentais como o tipo mais comum de doença hepática crônica, com prevalência de 20 a 30% na população geral, representando um grande problema de saúde em adultos e crianças. Já na Ásia essa estimativa é menor (5 a 18%).. A prevalência da NASH no mundo foi estimada entre 2 e 3 % (Satapathy SK; Sanyal AJ, 2015). Em relação à DHGNA no Brasil, sua prevalência pode ser de 35,2% entre os pacientes de meia-idade (com idade igual ou superior a 55 anos) (Karnikowski M et al, 2007). A DHGNA está profundamente relacionada com a obesidade. A estimativa global é que 51% dos obesos têm desenvolvido a DHGNA, e essa estimava aumenta para 90% na obesidade mórbida (Younossi et al, 2015). Ademais, 5-8% de indivíduos não obesos também podem desenvolvê-la (Magee N at al, 2016). Com relação à fisiopatologia e evolução da DHGNA, a teoria inicial dois hits relata que a obesidade e a RI levariam ao armazenamento de triglicerídeos (TG) nos hepatócitos (primeiro hit) e logo após um segundo hit como citocinas e adipocinas inflamatórias, disfunção mitocondrial e estresse oxidativo acabariam levando à esteatohepatite e à fibrose. Porém, esta visão foi revista pela hipótese de múltiplos hits, onde múltiplos sinais extra e intra-hepáticos estariam implicados, além do fígado também ser alvo de sinais de outros tecidos, como tecido adiposo, intestino e sua microbiota (Petta S, 2016). Conforme apontado na Tabela 1, uma das formas de detectar a DHGNA é através de exames laboratoriais, onde as anormalidades mais comuns são os níveis séricos elevados das transaminases, aspartato aminotransferase (AST) e alanina aminotransferase (ALT), em aproximadamente 50% dos pacientes que apresentam DHGNA e de até 80% em pacientes com NASH (os níveis também podem se apresentar normais). Da mesma forma, os níveis séricos de gama glutamil transferase (GGT), colinesterase e ferritina podem estar elevados. Apenas os parâmetros laboratoriais de rotina não atingem níveis satisfatórios de sensibilidade e especificidade para o diagnóstico da DHGNA ou para diferenciá-la de outras doenças hepáticas (NASH, esteatose decorrente do uso de álcool, entre outras) (Dietrich P; Hellerbrand C, 2014). De acordo com o exposto na Tabela 1, a DHGNA

pode ser diagnosticada de forma não invasiva pelo achado de esteatose hepática no estudo de imagem abdominal (ecografia) e ressonância magnética. Logo, a biópsia hepática nem sempre é necessária para confirmar o diagnóstico, porém, atualmente, ela ainda é imprescindível para diferenciar a esteatose isolada da NASH e estágios de gravidade da fibrose. A não distinção pode, posteriormente, afetar o risco de progressão e manejo da doença. São características histológicas fundamentais para confirmar o diagnóstico de NASH: a esteatose, inflamação lobular, balonização hepatocelular e fibrose (Brunt EM, Tiniakos DG, 2010). Tabela 1. Exames Realizados Para diagnóstico da DHGNA Exame Sensibilidade Observações Biópsia hepática Padrão ouro É requerida para estabelecer o diagnóstico e estadiamento da DHGNA Laboratoriais Baixa AST/ ALT; GGT; Colinesterase; Ferritina Ecografia Limitada Insensível; salvo se a esteatose > 33%; dependente do operador. Ressonância Magnética Limitada Os exames são custosos, disponíveis em poucos centros, não podem distinguir entre esteatose e fibrose ou estágio da doença, e são insensíveis se < 33% de esteatose. Fonte: Dados da pesquisa, 2018. AST-Aspartato aminotransferase; ALT-Alanina aminotransferase; GGT-Gama glutamil transferase. Mesmo com vários meios para o diagnóstico, a DHGNA se mostra como uma adversidade para os profissionais da saúde, visto que costuma passar despercebida na maioria dos casos, pois é assintomática, silenciosa para o paciente e médico, tendo seus sintomas apresentados quando a doença já se encontra em um estágio avançado. Devido a isso, é necessário que os profissionais envolvidos tenham uma experiência avançada para reconhecer e diferenciar a DHGNA. Também se torna adversa pela escassez destes profissionais em contato com esta patologia, pois além de ser uma doença silenciosa, a maioria não está familiarizada com os sintomas e sinais a ponto de demandar ou solicitar algum exame clínico. Devido a tais adversidades torna-se evidente o grande número de casos com insuficiência diagnóstica, onde a doença continua sua evolução silenciosa podendo provocar sérios problemas de saúde ao paciente. No entanto, há maneiras para realizar a prevenção, as quais devem ser indicadas principalmente ao grupo de risco como obesos e portadores de síndrome metabólica. A forma mais eficaz de prevenção da DHGNA é a prática de hábitos saudáveis como mudança na alimentação e prática de exercícios físicos, tais medidas diminuem consideravelmente o risco de desenvolvimento desta patologia.

CONCLUSÕES A DHGNA é mundialmente um problema de saúde, que está associado ao estilo de vida desregrado que acomete um alto índice de pessoas. Sendo necessária uma atenção maior para diagnosticá-la, visto que requer um melhor conhecimento dos profissionais da saúde acerca desta doença, a fim de desenvolver um percurso terapêutico profícuo para solucionar esta desordem metabólica. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1) Barroso WA et al., (2017) High-fat diet inhibits PGC-1α suppressive effect on NFκB signaling in hepatocytes. Eur J Nutr. 2017 May 24. doi: 10.1007/s00394-017-1472-5 2) Barness LA, Opitz JM, Gilbert Barness E (2007) Obesity: genetic, molecular, and environmental aspects. Am J Med Genet A 143 (24):3016-3034 3) Brunt EM, Tiniakos DG (2010) Histopathology of nonalcoholic fatty liver disease. World J Gastroenterol 16 (42):5286. 4) CARVALHO, Elaine Alvarenga de Almeida. OBESIDADE: ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS E PREVENÇÃO. Rev Med Minas Gerais, v. 23, n, 1, p. 74-82, 2013. 5) Dietrich P, Hellerbrand C (2014) Non-alcoholic fatty liver disease, obesity and the metabolic syndrome. Best Pract Res Clin Gastroenterol 28 (4):637-653. 6) Magee N, Zou A, Zhang Y (2016) Pathogenesis of Nonalcoholic Steatohepatitis: Interactions between Liver Parenchymal and Nonparenchymal Cells. Biomed Res Int 2016 7) Karnikowski M, Córdova C, Oliveira RJd, Karnikowski MGdO, Nóbrega OdT (2007) Non-alcoholic fatty liver disease and metabolic syndrome in Brazilian middle-aged and older adults. Sao Paulo Med J 125 (6):333-337 8) Organization WH (2016) Obesity and overweight Fact sheet N 311. Updated June 2016. http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs311/en/. Acesso: 07 de junho de 2018 9) Petta S, Valenti L, Bugianesi E, Targher G, Bellentani S, Bonino F (2016) A systems medicine approach to the study of non-alcoholic fatty liver disease. Dig Liver Dis 48 (3):333-342 10)Satapathy SK, Sanyal AJ Epidemiology and natural history of nonalcoholic fatty liver disease. In: Seminars in liver disease, 2015. vol 03. Thieme Medical Publishers, pp 221-235 11) SOUZA, Andréia C. T. Oliveira; ARANTES, Bruna F. Raimundo; COSTA, Patrícia Dolabela Costa. A OBESIDADE COMO FATOR DE RISCO PARA DOENÇAS CARDIOVASCULARES. Rev. Edu., Meio Amb. e Saúde, v. 3, n. 1, p. 107-116, 2008