México. Rodrigues, Fabiana GLOBO: CONCENTRADA E INTERNACIONALIZADA Razón y Palabra, vol. 13, núm. 64, septiembre-octubre, 2008

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ISSN: 1605-4806 octavio.islas@proyectointernet.org Instituto Tecnológico y de Estudios Superiores de Monterrey México Rodrigues, Fabiana GLOBO: CONCENTRADA E INTERNACIONALIZADA Razón y Palabra, vol. 13, núm. 64, septiembre-octubre, 2008 Instituto Tecnológico y de Estudios Superiores de Monterrey Estado de México, México Disponible en: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=199520727021 Cómo citar el artículo Número completo Más información del artículo Página de la revista en redalyc.org Sistema de Información Científica Red de Revistas Científicas de América Latina, el Caribe, España y Portugal Proyecto académico sin fines de lucro, desarrollado bajo la iniciativa de acceso abierto

GLOBO: CONCENTRADA E INTERNACIONALIZADA Por Fabiana Rodrigues Número 64 Resumo Tal pesquisa deter-se-ã em um estudo de caso da Rede Globo no plano das comunicaã ões no Brasil. O artigo procura analisar o processo da concentraã à o e da internacionalizaã à o presentes nas Organizaà ões Globo, que hã dã cadas permanece hegemã nica nos seus mais variados meios de difundir a comunicaã à o no Brasil. Introduà à o à com a chegada dos anos 60 que se inicia o desenvolvimento dos meios de comunicaã à o de massa no Brasil, em especial, apã³s o golpe militar de 1964. As telecomunicaã ões permitiram que de um canto a outro do Brasil, programas pudessem ser ouvidos e vistos pelos mais diversos segmentos da populaã à o brasileira. Valendo-se do pretexto da construã à o do desenvolvimento e da modernizaã à o aliados à seguranã a nacional, os meios de comunicaã à o tornaram-se prioridade no sistema militar. Todo esse pseudo processo de modernizaã à o, segundo Muniz Sodrà ⠜combinou tecnologia com interesses militares e comerciaisâ,â  tendo caracterãsticas transnacionais. O crescimento e a expansã o dos meios de comunicaã à o significaram, paradoxalmente, sua centralizaã à o e controle por uns poucos - tendãªncia ocorrida mundialmente a partir da segunda metade do sã culo XX. à ainda na voz de Muniz Sodrà que se afirma serem hoje a imprensa escrita e a radiodifusã o setores extremamente â œfamiliaisâ, pois (...) nove clã s controlam mais de 90% de toda a comunicaã à o brasileira. Trata-se de jornais, revistas, rã dios, redes de televisã o, com mais de 90% de circulaã à o, audiãªncia e produã à o de informaã ões (...) controlados pelo estamento dominanteâ (p.43). Este monopã³lio das comunicaã ões â apã³sâ anos de ditadura militar e de concessãµes controversas e praticamente ilegais, particularmente em certas regiãµes do Brasil, tem sido preocupante, pois â œnã o se adquire apenas um palanque mediã tico, mas quase um fã³rum de discussãµes polãticasâ (Gomes, 1994, p. 63), visto que se intervã m abertamente em questãµes das mais diversas, orientando-asâ com a â œaprovaã à oâ da opiniã o pãºblica, para os caminhos e desfechos que interessam aos que dominam. No Brasil hã um ambiente bastante propãcio à concentraã à o midiã tica1. O mais claro dos impasses para um sistema de comunicaã à o mais democrã tico e à tico no paãs estã na superfãcie da sua estruturaã à o como um negã³cio altamente rentã vel: o mercado fica

concentrado em poucas redes, controladas por pequenos grupos empresariais. O grande problema dessa trama à que grande parte desses grupos sã o familiares, situaã à o que faz prevalecer uma gestã o do negã³cio pãºblico, em que a empresa da comunicaã à o fica muito prã³xima do regime de uma empresa privada. Atualmente estima-se que sete grupos controlam 80% de tudo que à visto, ouvido e lido na mãdia brasileira: A famãlia Civita detã m a maior editora de revistas, fascãculos e periã³dicos do paãs, com ramificaã ões na Amà rica Latina (Abril), uma divisã o de distribuiã à o e produã à o de vãdeos (Abril VÃdeo), uma emissora de televisã o (MTV), uma operadora de sistema de TV a cabo (TVA), alã m de participaã à o na DirecTV.Sà o sã³cios do maior portal de conteãºdo de lãngua nã o inglesa do mundo (UOL). A Igreja Universal do Reino de Deus à proprietã ria da segunda maior rede de TV do paãs (Record) e de outras emissoras menores, como a Rede Mulher e a Rede FamÃlia. A famãlia Abravanel controla a terceira rede de emissoras de televisã o do paãs (SBT), mantã m parcerias com produtoras e estãºdios de cinema multinacionais, alã m de ter empreendimentos em outros setores da economia. Os Frias possuem o jornal mais lido do paãs (Folha de S.Paulo), um instituto de pesquisas de opiniã o pãºblica (DataFolha), outros jornais menores, parte de um dos maiores provedores de acesso e informaã à o do mundo (UOL), uma agãªncia de notãcias (Agência Folha ) e parte de um dos mais influentes jornais de economia (Valor Econà mico), em parceria com O Globo. A famãlia Saad controla a Rede Bandeirantes, as emissoras da Rà dio Bandeirantes AM e FM e detã m ainda o Canal 21, de grande penetraã à o e alcance na capital paulista. Os Mesquitas sã o proprietã rios da segunda maior circulaã à o em jornais no paãs (O Estado de S.Paulo), dos tradicionais Jornal da Tarde e Rà dio Eldorado FM, da Agência Estado e de uma emissora de televisã o no Maranhà o. Certamente, faltou mencionar, propositalmente, a Rede Globo de Televisà o, que serã efetivamente o objeto de estudo do artigo em questã o. Se posicionada na citaã à o acima, ela assumiria a primeira posiã à o dentre os meios de comunicaã à o mais difundidos no Brasil. A Rede Globo, ou melhor, as Organizaà ões Globo, sã o hegemã nicas desde os 1970 atã os nossos dias atuais. Tendo seu inãcio com o jornal O Globo, em 1925, conseguiu se manter no sã culo XXI como um grupo dominante de mãdia no Brasil. Pertencente à famãlia Marinho, possui atualmente, cerca de 223 veãculos prã³prios ou afiliados detã m isoladamente a lideranã a na TV aberta (Rede Globo), o terceiro jornal em tiragem no paãs (O Globo), a maior operadora e distribuidora de TV a cabo (NET), um dos portais mais acessados da internet (Globo.com), uma importante produtora e distribuidora de cinema (Globofilmes), 30.1% das emissoras de  rã dio FM e AM (incluindo a rede CBN) e um sistema de produã à o de canais para TV a cabo (GloboSat). O faturamento do seu conglomerado no ano de 2007 foi de aproximadamente 7 bilhãµes de reais. Propriedade cruzada

Và rias aberturas na constituiã à o acentuam a concentraã à o dos meios de comunicaã à o em poucas mã os e tornam mais grave a situaã à o no sistema: a possibilidade de propriedade cruzada. Isto Ã, grupos que controlam emissoras de televisã o podem ser proprietã rios de jornais e revistas e de portais na internet, situaã à o perfeitamente aplicã vel à Rede Globo. A propriedade cruzada, como citada antes, à um otimizador do processo de concentraã à o, pois facilita a expansã o desses negã³cios e dã ao consumidor uma impressã o de poderio financeiro, onipresenã a e credibilidade informativa. Essa situaã à o, proibida em muitos paãses e limitada em outros, faz com que o noticiã rio produzido em um veãculo seja apenas reproduzido em outro da mesma cadeia, muitas vezes, ignorando as caracterãsticas do prã³prio meio. Possibilita ainda que opiniãµes, valores, sãmbolos e versãµes de fatos que interessem aos grupos empresariais detentores sejam distribuãdos de maneira realista e uniforme por diversas vias, dando mais forã a à difusã o de tais idã ias, aumentando seu alcance e sua penetraã à o na sociedade. As faces da Globo De acordo com a coleta de dados, o sistema brasileiro de televisã o possui atualmente 332 emissoras, sendo que 20 sã o emissoras prã³prias da Rede Globo, o que nã o à permitido pelo decreto-lei 236/67 em seu artigo 12, o qual determina que uma mesma entidade sã³ pode deter no mã ximo 10 concessãµes de radiodifusã o de sons e imagens (TV aberta) em todo o territã³rio nacional. A maioria dos principais grupos regionais de mãdia sã o afiliados da Globo, e seu conglomerado à o único do paãs presente em todos os tipos de veãculo de comunicaã à o. Obviamente, a Rede Globo de Televisà o abarca mais da metade do mercado publicitã rio brasileiro destinado ao meio televisivo, ou seja, quase 80% do total destinado à s emissoras de TV aberta, alã m de liderar os Ãndices de audiãªncia em praticamente todos os horã rios. Analisando o poder da Globo em questã o à regionalidade, vãª-se claramente a sua predominã ncia, uma vez que na maioria dos Estados brasileiros as redes de comunicaã à o sã o formadas por duas forã as principais â geralmente aliadas ao grupo de Robert Marinho, e figuram na posiã à o de lãderes no segmentos de jornal diã rio, rã dio e televisã o. Alguns pesquisadores chegaram à seguinte conclusã o: uma emissora de TV, geralmente afiliada à Rede Globo, predomina na audiãªncia local e com a presenã a de, pelo menos, dois jornais diã rios, sendo que, na maioria dos casos, um deles estã vinculado a um canal de TV (quase sempre afiliado à Rede Globo de Televisà o), que tambã m à ligado a uma rede de emissoras de rã dio AM e FM. Alà m da penetraã à o nacional e local, outra afirmaã à o à a de que noticiã rios em nãvel nacional veiculados por emissoras de rã dio e TV da Rede Globo, e tambã m seus jornais, sã o reproduzidos por todos os veãculos dessa teia de comunicaã à o entã o criada localmente. Rede Globo: uma mãdia internacionalizada O processo de internacionalizaã à o pode ser entendido como um ato pela qual a propriedade, estrutura, produã à o, distribuiã à o ou o conteãºdo da mãdia de um paãs à influenciado por interesses, cultura e mercados da mãdia estrangeira. A lei 10.610 que regulamenta a entrada do capital estrangeiro foi sancionada em 20 de dezembro

de 2002 pelo entã o Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, e liberou a entrada de 30% de capital estrangeiro nas empresas brasileiras. Com a regulamentaã à o desta lei criaram-se obrigaã ões para as empresas de radiodifusã o apresentarem aos órgà os de registro civil e comercial, declaraã à o de seu capital social atã o último dia útil de cada ano. Neste trã mite, o Poder Executivo serã o responsã vel para solicitar das empresas e dos órgà os as informaã ões e documentos necessã rios para a verificaã à o do cumprimento à s regras de participaã à o societã ria. Contudo, a aprovaã à o dessa Lei nã o fez diferenã a no cenã rio midiã tico brasileiro, pois o investimento de capital estrangeiro em empresas do paãs continuou acontecendo à revelia da Lei A Rede Globo de Televisà o praticamente jã nasceu internacionalizada, pois com investimentos da Time Life, empresa estrangeira que financiava emissoras de televisã o na Amà rica Latina, aos poucos, a empresa de Marinho foi se consolidando no mercado televisivo atravã s da aquisiã à o das Organizaà ões Victor Costa (OVC) a TV Paulista, canal 5 de Sà o Paulo. Nos primeiros tempos, a TV Paulista ficou como uma espã cie de afiliada da Globo, quando entã o foi formada a Rede Globo. Nesta à poca, os programas ainda nã o passavam em rede nacional, que inexistia. O nome da empresa, justamente vem, do maior sonho seu proprietã rio Roberto Marinho: criar uma televisã o que cobrisse o paãs todo, entã o criou o nomeâ Rede Globo de Televisà o â com isso ela se transformou na maior produtora de programas prã³prios de TV do mundo Alà m de ser hegemã nica no Brasil, a Rede Globo continuou detendo grandes parcerias midiã ticas no exterior. Na dã cada de 70, a Rede Globo vendendo telenovelas para a Amà rica Latina, Europa e depois para o restante do mundo, marcou definitivamente o comeã o da internacionalizaã à o das Organizaà ões Globo. Atualmente a Globo à associada à News Corporation, uma das maiores empresas de comunicaã à o social dos EUA. Em 2007 a News Corp. comprou a Dal Jones  que à proprietã ria doâ Wall Street Journal. E a concentraã à o nã o pã ra por aã. O empresã rio australiano Rupert Murdoch, proprietã rio da News Corporation, tornou-se um dos dois controladores da TV a cabo nos EUA quando sua empresa comprou 80% da New World, resultando em 22 canais em 40% dos lares norte-americanos. Os outros 40% sã o controlados pela Time Warner Turner, incluindo a CNN e a HBO. A Rede Globo entrou na alianã a com News Corp, Televisa e TCI, formando a Sky Latin America, com aproximadamente 120 mil assinantes atã o fim de 1997. A Fox, pertencente ao estãºdio de cinema internacional Twentieth Century Fox Film Corporation, faz parte da News Corp. entã o, conseqã¼entemente, tambã m pertence à s Organizaà ões Globo. Em 2005, a News Corporation e a Sky/Globo adquiriram a DirecTV, sendo assim, a News Corporation passou a deter 50% do controle da Sky Brasil. Na nova Sky resultante da compra da DirecTV, a News Corporation teria 72% e a Globo 28%. Mediante a todas essas transaã ões no cenã rio midiã tico brasileiro, o procurador do CADE (conselho administrativo de defesa econã mica) resolveu, na à poca das negociaã ões, emitir um parecer em que identificava vã rias possibilidades de abuso de poder econã mico da News Corp. e da Globo, e considerou que havia riscos: nos mercados onde hã sã³ DTH, pois a Sky/ DirecTV terã 97% do mercado de TV paga;

onde a Net Servià os opera como competidora do DTH, pois a Globo à acionista comum da Sky e da Net; onde hã outros competidores em TV paga, pois nã o haveria poder econã mico para fazer frente à concorrãªncia do DTH e do grupo Globo; no mercado como um todo, pois 97,5% da audiãªncia estã o de alguma forma vinculados à Globo e à News Corp; no mercado como um todo de fornecimento de programaã à o, em que a Globo tem 74,6% de licenciamento de canais; e no mercado de aquisiã à o de tecnologia. Mesmo com o parecer do procurador sendo contrã rio à compra da DirecTV pela Sky, a transaã à o acabou sendo autorizada pelo CADE, portanto, os grupos News Corporation e Globo passaram a controlar cerca de 77% do mercado brasileiro de TV paga, isto Ã, os atuais 61% da NET/ Sky acrescidos dos 16% da DirecTV. Na TV por satã lite (DTH), o controle serã de 95%, jã que, alã m da NET/Sky e da DirecTV, a outra empresa que opera no setor â a Tecsat â controla apenas aproximadamente 5% do mercado. Por mais que existam leis que proãbam as oligarquias e os monopã³lios, bem como, a propriedade cruzada da mãdia por um mesmo grupo dentro nos mercados locais (regionais) e nacionais, tais leis nunca se fizeram valer com rigor no Brasil; a concentraã à o da mãdia brasileira, por grupos como a Rede Globo, cada vez mais acelerou seus passos formando verdadeiros cartã is da comunicaã à o no paãs. Brà ulio Ribeiro, do Intervozes - ONG que trata de assuntos referentes à Comunicaà à o â afirma que â œa Globo tem atuado quase como um partido polãtico, defendendo teses, candidatos e projetos que lhe interessam no Congresso. E faz tudo isso usando um bem pãºblico, que à o espectro radioelã trico. Mas, assim como qualquer emissora de rã dio ou televisã o, a Globo à uma concessionã ria de um bem pãºblico. Portanto, o interesse pãºblico à que deveria reger o uso desse bemâ. Porà m, os controladores dos meios de comunicaã à o sã o avessos à s crãticas e à contestaã à o de suas atitudes, permanecendo invulnerã veis a qualquer contrapartida social. O problema da concentraã à o A concentraã à o em poucas mã os dificulta a entrada de novas empresas, estilos e conteãºdos no mercado, padronizando as notãcias e tambã m o entretenimento da populaã à o, e, ferindo certamente, a questã o da liberdade de expressã o e da democracia em nosso paãs. Mas, essa concentraã à o ocorre tambã m nas mã os da classe polãtica e tambã m de igrejas. Deputados, senadores, governadores e prefeitos detãªm concessãµes pãºblicas de emissoras de rã dio e TV, controlando tambã m jornais e, muitas vezes, utilizando-se desses meios de comunicaã à o para aumentarem suas vozes junto ao eleitorado, ampliando, assim, seu poder e influãªncia sobre a populaã à o. Sobre esse domãnio nas mã os de uma mesma famãlia, polãticos e religiosos na mãdia brasileira, LOBATO argumenta que â œos oligopã³lios se formaram atravã s de uma brecha deixada na lei. Ela fixou os limites por entidade e por acionista, mas nã o previu um artifãcio simples: o registro de concessãµes em nome de vã rios membros da famãliaâ.

TV Digital na mira da Globo Com a chegada da TV digital levantou-se a esperanã a de uma possãvel mudanã a na condiã à o do monopã³lio e da concentraã à o midiã tica no Brasil, porã m houve controversas em relaã à o ao assunto. No Brasil cada canal de TV ocupa um espaã o de 6 MHZ no espectro eletromagnã tico. Na TV analã³gica esse era o espaã o necessã rio para se colocar uma única programaã à o. Portanto, quando à conseguida uma liberaã à o de TV, ela obtã m junto este espaã o de 6MHZ para que possa transmitir sua programaã à o. A todo esse processo se dã o nome de canal de televisã o, tanto para o sistema VHF quanto para UHF. Na TV digital, utilizando o mesmo espaã o citado, à possãvel colocar muito mais informaã ões. O mesmo espaã o de 6 MHZ que somente comportavaâ apenas uma programaã à o de TV hoje suporta atã quatro programaã ões simultã neas e ainda sobra espaã o para a transmissã o de dados (tãpica dos serviã os interativos). à tomando esse fato como base, que foi apresentada a proposta de se criar no Brasil o â œoperador de redeâ. As emissoras deixariam de transmitir cada uma sua prã³pria programaã à o, a partir de sua antena exclusiva. Suas grades de programaã à o seriam entregues ao operador de rede, que reuniria todas as grades dessa programaã à o e transmitiria tudo junto a partir de uma única antena. Desta forma, as emissoras nã o precisariam investir na digitalizaã à o de suas torres de transmissã o, bastando apenas, pagar uma mensalidade para o operador de rede. Este tipo de tecnologia favoreceria as emissoras menores que dispunham de menos recursos para promover a sua programaã à o, pois o operador de rede poderia acoplar atã quatro programaã ões diferentes e colocã -las todas dentro de uma mesmo canal de 6 MHZ, que comportava, atã entã o, apenas uma programaã à o. Neste conceito de TV digital, trabalha-se com a teoria de que se foi recebida uma concessã o do Estado, um espaã o para a veiculaã à o de uma programaã à o,â entã o nada mais justo, que haja uma divisã o do espectro eletromagnã tico em que se permita que mais emissoras possam transmitir a sua programaã à o. O problema estava justamente nesta teoria.â A Rede Globo procurava evitar a adoã à o do â œoperador de redeâ, portanto, as emissoras continuariam a transmitir de sua prã³pria antena e cada uma permaneceria dona de seu canal de 6 MHZ. A Globo, nessa condiã à o, transmitiria trãªs vezes a mesma programaã à o, mas com definiã ões de imagens diferentes, entrando no que se chama â œsegmentaã à o espectralâ. Dois modelos de semicondutores foram disponibilizados para serem usados no Brasil: o europeu DVB e o japonãªs ISDB. Esses modelos poderiam ser usados sem nenhuma perda de qualidade do sinal nas TVs brasileiras, porã m havia um impasse nisso: com o DVB europeu nã o haveria como transmitir dentro do mesmo canal de 6 MHZ trãªs tipos de definiã ões de imagens que fazem a â œsegmentaã à o espectralâ,â destinadas aqueles que possuem TVs de alta definiã à o, com telas nã o menores a 42â ; ou para aqueles que continuariam com as suas TVs atuais, mas que por conta disso teriam que comprar terminais de acesso para receberem o sinal digital, ou ainda, para aqueles que assistiam TV em movimento, utilizando celulares ou pequenas TVs colocadas nos seus meios de transporte. Mas com o DVB seria perfeitamente viã velâ dividir o canal em 6 MHZ em mais programaã ões, colocando outras emissoras na disputa da audiãªncia. Caso a Globo quisesse transmitir a sua programaã à o com os trãªs diferentes tipos de definiã à o, teria que ser adotado o operador de rede, que colocaria no ar as programaã ões das emissoras que transmitissem em alta definiã à o, transmitissem as programaã ões no formato standard e ainda, transmitissem as programaã ões para recepã à o em movimento. A Globo manteria a estratã gia de transmitir a sua programaã à o em trãªs diferentes definiã ões de imagem, mas, para isso, teria que abrir mã o do controle do

espectro eletromagnã tico em troca da adoã à o do operador de rede. Neste nãvel, a Globo ficaria sujeita a redistribuiã à o deste espaã o para que o operador de rede pudesse colocar no mesmo espaã o mais emissoras de TV. Verdadeiramente, a questã o de honra para a Globo era a seguinte: continuar mantendo o controleâ sobre a propriedade do espectro eletromagnã tico. Outro impasse tambã m veio à tona quanto ao assunto da TV digital: a tecnologia usada na confecã à o dos semicondutores para transmissã o digitalizada. A Globo foi proprietã ria durante anos da japonesa NEC e possuãa relaã ões comerciais com a outra japonesa SONY., portanto, decorre desse aspecto, as escolha pelo padrã o japonãªs  ISDB, pois alã m de realizar excelentes acordos comerciais, a Globo continuarã mantendo o seu controle sobre o espectro eletromagnã tico, impedindo que outras emissoras entrem no ar. Para VenÃcio, a TV digital era uma forma de mudar o atual cenã rio midiã tico brasileiro: â œa introduã à o da TV digital, por outro lado, constituiu, durante anos, outra fonte de grande esperanã a. A escolha do padrã o tecnolã³gico japonãªs (ISDB) pelo governo, em junho de 2006, no entanto, confirma que nã o haverã a esperada multiplicaã à o de canais atravã s de novas concessãµes e, mais ainda, que os canais digitalizados permanecerã o sob o controle dos mesmos grupos historicamente dominantes em nossa radiodifusã oâ. (2006, p.114) Consideraà ões finais Descumprindo toda e qualquer lei na constituiã à o que delimita o poder de propriedade cruzada e concentraã à o da mãdia, a Rede Globo de Televisà o segue invicta no seu poder de monopolizar a informaã à o no Brasil. A pluralidade de opiniãµes fica cada vez mais escassa, pois cada vez mais hã uma padronizaã à o do que à transmitido à sociedade. A internacionalizaã à o, outro problema o qual o governo permite que aconteã a, acaba beneficiando as pessoas e empresas que conseguiram concessãµes de funcionamento. Porà m, como descreveu BAGDIKIAN, hã interesses de governos na concorrãªncia internacional dos grupos nacionais, porque o poder de transmissã o da informaã à o estã subjugado à s mã os de poucos; sã o empresã rios, polãticos, donos de igrejas que freqã¼entemente usam seus meios de comunicaã à o para advogar em causa prã³pria, esquecendo-se de que o sistema de comunicaã à o à um bem pãºblico e nã o uma empresa privada. Qualquer medida que seja usada para diluir a concentraã à o midiã tica, terã que enfrentar a prã³pria mãdia, portanto, o labirinto à infindã vel.  Nas palavras de VENà CIO, â œesta à a realidade da mãdia brasileira: concentrada e internacionalizada. E sem sinais que indiquem mudanã a de rumo a curto ou mã dio prazo.â Bibliografia BAGDIKIAN, Ben H. O monopã³lio da mãdia. Traduà à o de Maristela M. de Faria Ribeiro. Sà o Paulo: Pà gina Aberta, 1993.

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conteãºdo (informaã à o e entretenimento) e tecnologia (o mesmo conteãºdo à utilizado na imprensa,â no audiovisual e na internet)â (2006, p. 95) Fabiana Rodrigues Mestranda em Comunicaà à o e Linguagens da UTP â Curitiba BR.