AS CONCEPÇÕES DE FAMÍLIA NO BRASIL

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Transcrição:

AS CONCEPÇÕES DE FAMÍLIA NO BRASIL Camila Becker Natália Abrahão Natália Silva Thiago Petri A verdadeira família é aquela unida pelo espírito e não pelo sangue. (Luiz Gasparetto) RESUMO: Este artigo tem por objetivo, compreender os diferentes tipos de estruturas familiares do século XXI. Trabalharemos baseados na pergunta: Qual é o conceito de família?, buscando respostas através do significado compreendido pela sociedade e interpretação de regras legislativas, considerando as constantes alterações destes aspectos com a modernização de nossa sociedade. Será apresentado um breve estudo realizado com jovens, sobre a evolução da Constituição Federal Brasileira e o modo o qual entendem os tipos de relações ao tema proposto. Através de pesquisa de campo, realizada, tivemos a oportunidade de concretizar a opinião de adolescentes e analisá-las, a fim de demonstrar a mentalidade daqueles que serão os futuros formadores de famílias. PALAVRAS-CHAVE: família patriarcal; família monoparental; casal homoafetivo; adoção; Constituição Federal. ABSTRACT: This article aims to understand the different types of family structures of the XXI century. We ll work based on the question: "What is the concept of family?" Searching answers through the meaning understood by society and interpretation of legislative rules, considering the constantly changing of these aspects and the modernization of our society. A short study carried out with young people, about the evolution of the Brazilian Federal Constitution and the way they understand the types of relationships to the proposed theme presented. Through field research conducted, we had the opportunity to realize the opinion of adolescents and analyze them in order to demonstrate the mentality of those who will be future families leaders. KEYWORDS: patriarchal family; single parent family; Homoaffective couple; adoption; Federal Constitution. 1 INTRODUÇÃO Abordaremos nesse artigo a melhor maneira para definir e especificar o conceito de família. Como ela é vista no meio jurídico, como era antigamente essa concepção e suas peculiaridades. Não podemos apenas nos restringir ao conceito básico de família, se referindo a um conjunto de pessoas que possuem grau de parentesco entre si e vivem na mesma casa formando um lar. As diversas configurações dos relacionamentos fizeram com que fosse ampliado o conceito de família, por isso, as mudanças na sociedade se refletiram em todos os ramos, sendo necessária a regulamentação do Direito de Família. Antigamente, por exemplo, haviam outras concepções. Com o advento do código de Hamurábi, a Babilônia passou a ser por lei patriarcal e o casamento monogâmico, embora fosse admitido o concubinato. Volume 5, Setembro de 2014. 1

Esta aparente discrepância, era resolvida pelo fato de uma concubina jamais ter o status ou os mesmos direitos da esposa. Ademais, o casamento dito legítimo, só era válido mediante contrato. Naquela época, havia a possibilidade de casamentos entre diferentes camadas sociais e o código regulava especificamente a herança dos filhos nascidos deste relacionamento. Também, era admitido o divórcio, no qual o marido poderia repudiar a mulher nos casos de recusa ou negligência, em seus deveres de esposa e dona-de-casa. Qualquer um dos cônjuges poderia repudiar o outro por mau procedimento, mas neste caso a mulher deveria ter conduta ilibada. Em situações de adultério, quando pegos, os adúlteros pagavam com a vida, entretanto o Código previa o perdão do homem. O amor entre os homens era plenamente aceito entre os povos antigos sendo, contudo, valorizado apenas o pólo ativo da relação. Isso explica porque o machismo, já naquela época, vislumbrava o ato sexual ativo como a postura masculina, sendo o ato sexual passivo tido como a feminina. Em outras palavras, não era analisado o sexo biológico para a qual o homem direcionava seu amor, mas o papel sexual que ele desempenhava. Com relação ao amor entre mulheres, não há dados esclarecedores, uma vez que sua sexualidade era ignorada. A evolução legislativa demonstra as necessidades mais pungentes da sociedade em cada época. Nota-se que a Constituição brasileira, de 1824, não fez qualquer menção relevante à família, havendo como determinante somente o casamento religioso. Naquele tempo, a Igreja assumiu um caráter delineador da moralidade, não aceitando qualquer outra forma de união que não aquela por ela definida. Ainda que se busque identificar a possibilidade do casamento homoafetivo, há quem entenda que a união entre pessoas do mesmo sexo só pode ser tratada pelo direito das obrigações, por se tratar de uma sociedade de fato. Outros acatam somente a ideia de que o casal homossexual possui os mesmos direitos da união estável heteroafetiva. Destacamos que, na sociedade de fato, as pessoas que dela fazem parte são consideradas sócias e não companheiras, visam o lucro e não a comunhão de vida. Ademais, para a divisão do patrimônio comum, necessário se faz a prova de sua contribuição. Com relação à união estável, não há dúvidas de que, efetivamente, se duas pessoas do mesmo sexo se unirem por laços de afeto, de forma pública, duradoura, Volume 5, Setembro de 2014. 2

contínua e com objetivo de constituição de família, estabelecerão entre elas um vínculo familiar de união estável. 2 A FAMÍLIA BRASILEIRA SEGUNDO A LEGISLAÇÃO A família é a instituição basilar, sendo ela, desde os tempos antigos, considerada de extrema importância para a sociedade. A estrutura familiar foi protagonista durante todo o processo de desenvolvimento de nosso meio, sendo esta modificada inúmeras vezes ao longo do período histórico. Podemos dizer que a família surge junto à monogamia. Quando um homem une-se a uma única mulher, começa a existir o reconhecimento da paternidade e com este, as obrigações de assistência e proteção aos filhos. O Brasil sofreu muita influência da Igreja Católica ao longo de sua história, tendo no casamento religioso a base para a formação familiar. Segundo Onabio Barbosa Com o surgimento da República, há a separação dos poderes político e religioso, fazendo com que em 24 de janeiro de 1890 fosse instituído o Casamento Civil como o único legalmente válido. Foi apenas em 26 de Dezembro de 1997, que foi implementada, no Brasil, a Lei 6515, conhecida como Lei do Divórcio. Durante todo esse intervalo de tempo entre a instituição do Casamento Civil e a instituição do Divórcio, a dissolubilidade do casamento era ilegal. Mas isso ainda não é o mais surpreendente. Somente em 1988, a Constituição Federal Brasileira aderiu ao conceito de Família Monoparental, isto é, a família constituída por apenas um dos membros parentais (pai ou mãe). Hoje, devido as constantes mudanças da sociedade ao longo do tempo, há uma tendência à ampliação dos conceitos de família, mesmo que tais modificações ainda não constem na Constituição Federal. A vice-presidente do IBDFAM (Instituto Brasileiro de Direito de Família), Maria Berenice Dias (Desembargadora aposentada do Tribunal de Justiça do RS, Mestre em Processo Civil e Advogada), define os seguintes conceitos de família: a) Família Matrimonial: decorrente do casamento. b) Família Informal: decorrente da união estável. c) Família Homoafetiva: decorrente da união de pessoas do mesmo sexo. d) Família Monoparental: constituída pelo vínculo existente entre um dos genitores com seus filhos, no âmbito de especial proteção do Estado. Volume 5, Setembro de 2014. 3

e) Família Anaparental: decorrente da convivência entre parentes ou entre pessoas, ainda não parentes, dentro de uma estruturação com identidade e propósito, tendo sido essa expressão criada pelo professor Sérgio Resende de Barros. Segundo as próprias palavras do professor da USP: que se baseia no afeto familiar, mesmo sem contar com pai, nem mãe. Um exemplo deste conceito seria o de duas irmãs idosas que vivem juntas, constituindo assim uma família. f) Família Eudemonista: conceito identificado para identificar uma família pelo seu vínculo afetivo, pois nas palavras de Maria Berenice Dias, a família eudemonista busca a felicidade individual vivendo um processo de emancipação dos seus membros. A título de exemplo, pode ser citado um casal que convive sem levar em conta a rigidez dos deveres do casamento, previstos nos art. 1566 do CC. Apesar de todos esses conceitos, hoje o que está sendo apontado como o principal fundamento das relações familiares é o afeto. 3 A FAMÍLIA BRASILEIRA SEGUNDO A REALIDADE SOCIAL Um grupo de pessoas passa a ser uma família a partir do momento em que nela se criam laços afetivos. Apesar de a palavra afeto não constar no Texto Maior como sendo um direito fundamental, podemos dizer que ele faz parte significativamente da valorização da dignidade humana, sendo este sim, um direito fundamental. Em 2012, o TJSP (Tribunal de Justiça de São Paulo) deu inédita responsabilidade de Abono Afetivo, condenando um pai divorciado a pagar R$200 mil reais por abandono material e afetivo. Ao mesmo tempo em que um pai com vínculos biológicos pode não ter laços afetivos com seu filho, um pai sem vínculos biológicos pode ter vínculos afetivos. É então que surge o termo Parentalidade Socioafetiva, baseada na posse de estado de filho. Deste modo, a Constituição passa de alguma forma, a aceitar estes novos modelos familiares. Apesar destes não serem abordados na Legislação Brasileira, existem interpretações favoráveis à tese de que é papel do Estado proteger a integridade física e moral de todo e qualquer indivíduo. Cabendo assim, a tomada de decisões individuais para casos específicos, como os relatados anteriormente. No senso demográfico realizado em 2010, é demonstrada a atual fragmentação dos arranjos familiares brasileiros. É através deste, que podemos provar o quão difícil seria tornar os direitos familiares, previstos por Lei, adequado para todos. Hoje cada família possui suas particularidades. Cada indivíduo possui a sua diferente conceituação de família. Volume 5, Setembro de 2014. 4

As famílias de antigamente eram tidas todas como famílias tradicionais, onde se encontrava um único padrão, sendo formada por um homem, uma mulher e seus filhos. Devido a configuração de um novo tipo de família, as atuais vêm se modificando de uma forma em que, hoje, já se é aceito por uma pequena parte da sociedade. Encontramos em destaque os relacionamentos homossexuais e as adoções. Os relacionamentos homossexuais são aqueles que apresentam um homem que se une a outro homem ou mulher que se une a outra mulher. Quando estes casais almejam ter filhos, estes serão gerados de uma forma não tradicional pelo casal, por meio de inseminação artificial e ou adoção. A evolução da sociedade faz com que ocorra uma mudança no conceito Tradicional de família. Esta nova realidade familiar, diz respeito a como cada integrante deve ser aceito. A aceitação jurídica da união estável, entre casais homoafetivos, também é uma necessidade jurídica atual. Casos de adoção por cônjuges do mesmo sexo, também se enquadram em uma realidade mais recente, aceita por parte da sociedade. Desde então, casais homoafetivos e pais adotivos buscam de alguma forma, a proteção e posicionamento definitivos da legislação, para serem aceitos. É muito comum que depois de um tempo de relacionamento alguns casais planejem ter filhos. Nas relações heteroafetivas e homoafetivas, este planejamentos não se tornam distintos. Porém, as coisas se complicam um pouco nas relações homoafetivas, devido ao preconceito e a diferença de padrão em relação a família tradicional. Para fecundação de um bebê, é necessário o óvulo da mulher e o esperma do homem. Em casos de relacionamentos homossexuais, o casal possui duas vezes uma única parte, sendo assim deficitário da outra parte. Uma das soluções possíveis seria a adoção de uma criança. Esta, que deveria ser em todos os casos uma possível solução, não é o suficiente, pois a adoção implica em muitos problemas sociais e jurídicos. De acordo com o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) a possibilidade de duas pessoas realizarem uma adoção existe, desde que sejam cônjuges. Agora com a última alteração, ao invés de cônjuges, podem ser também casados no civil ou desde que tenham uma relação de união estável. Além do STJ (Superior Tribunal de Justiça) ter considerado a adoção por casais homoafetivos legal, da mesma forma a adoção não pode ser negada a este tipo de casal. Também considerando o fato de existirem mais de 50 Volume 5, Setembro de 2014. 5

milhões de crianças sem família, ainda se encontram diversos obstáculos para um casal considerado não convencional adotar uma criança. Uma pesquisa feita recentemente, mostra que 55% dos brasileiros são contra a adoção de crianças por casais homossexuais. Muitas pessoas defendem a opinião de que casais do mesmo sexo podem interferir na criação da criança, influenciando no futuro sua orientação sexual. Prejudicando, também, pela falta de referência maternal e/ou paternal, além dos fatores religiosos e preconceituosos em geral. Muitos casos de adoção para casais homoafetivos foram negados, enquanto outros se estendem por longo tempo. Alguns alegam a incapacidade do casal homoafetivo de montar uma família, quando na verdade isto não passa de preconceito. Na maioria das vezes, este preconceito é velado pelos próprios condutores do processo de adoção. A questão é que não existe nenhum estudo que comprove que ser filho de um casal homoafetivo interfere no psicológico de uma criança, muito menos que influencia em suas relações amorosas ou sexuais. O que deve ser levado em conta, como principal fator, é a capacidade de uma família de criar uma criança com amor, carinho e dar um bom exemplo de caráter. 4 A família brasileira segundo o indivíduo: Um estudo de caso Para melhor ilustramos todo o conteúdo deste artigo, realizamos uma pesquisa com 220 adolescentes, com idades entre 13 e 17 anos. Organizamos questionamentos acerca de algumas situações abordadas ao longo deste trabalho, enfatizando o verdadeiro significado da família para cada um dos indivíduos. Já na primeira pergunta, o questionamento-chave, inserimos doze tipos diferentes de constituições familiares, porém nenhuma das opções foram consideradas pelos entrevistados verdadeiras famílias. A família Anaparental (formada por duas irmãs idosas), teve grande rejeição, o que prova que laços sanguíneos não são o suficiente para se constituir uma família. Todas as outras opções tiveram números muito próximos, apenas destacando-se a Família Parental, como já era esperado. Volume 5, Setembro de 2014. 6

A aceitação da Família Homossexual nos surpreendeu bastante, acreditávamos que por ser uma pesquisa com adolescentes, poderia ocorrer alguma estranheza, o que não aconteceu. Na terceira pergunta, a maioria absoluta acreditou que o melhor para a criança é ter uma família, não importando sua constituição. Isso, para nós, demonstra uma grande mudança na sociedade, já que o futuro desta são os jovens do presente. Essas mudanças que vem acontecendo, diferenciam também alguns importantes conceitos. Nossa pesquisa de campo também confirmou que o conceito de casamento modificou-se ao longo do tempo. Se antigamente, o casamento no papel e, até mesmo no religioso, era de extrema importância, hoje não é mais. Segundo o resultado de nossa pesquisa, os adolescentes acreditam que o casamento compreende residir no mesmo local, dividir igualmente as despesas e responsabilidades. A religião vem interferindo cada vez menos no modo de pensar e agir das novas gerações, acabando com vários preconceitos antigos. O ápice de nossa pesquisa foi a confirmação da ideia de que na atualidade a base da família não é uma pessoa, nem mesmo um grupo, ou algo do tipo. Mas sim, os laços afetivos e as relações que se estabelecem entre um grupo de pessoas. Quando pedimos para que os entrevistados definissem família em uma palavra surgiram, entre várias outras, Amor, União, Fraternidade, Companheirismo, Carinho e Proteção. Esse é o verdadeiro sentido da Família, a melhor concepção de Família é aquela onde há amor. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao final deste artigo podemos concluir que temos as mais diversas concepções de família. Sendo assim, é praticamente impossível ter uma única definição para a mesma. Com a evolução da sociedade, as famílias vêm sendo constituídas numa multiplicidade de maneiras, acabando com a exclusividade da chamada família tradicional. Em consequência da pluralidade de constituições familiares, a parte jurídica legal ainda não conseguiu atualizar-se a contento. Volume 5, Setembro de 2014. 7

A religião não está mais sendo imprescindível para a formação de uma família e a sociedade está aos poucos modificando a sua mentalidade. Para a maioria da sociedade atual, sentimentos como o amor, o afeto e o companheirismo aparecem como requisitos de uma família. Independente se forem heteroafetivas ou homoafetivas. Concluímos que as concepções de família estão evoluindo e transformando-se, assim como a sociedade. REFERÊNCIAS Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/>. Acesso em: 23 Jul. 2014. DIAS, Maria Berenice. Homoafetividade e Direito Homoafetivo. 2005. Disponível em: <http://www.mariaberenice.com.br/uploads/52_homoafetividade_e_direito_homoafetivo.pdf>. Acesso em: 12. Ago. 2014. LOURENÇO, Luana. Maioria dos brasileiros é contra união estável e adoção por casais homossexuais. 2011. Disponível em: <http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2011-07-28/maioria-dos-brasileirose-contra-uniao-estavel-e-adocao-por-casais-homossexuais>. Acesso em: 12 Ago. 2014. SANTOS, Claudine. A parentalidade em famílias homossexuais com filhos: um estudo fenomenológico da vivência de gays e lésbicas. Tese (Doutorado em Psicologia) - Universidade de São Paulo. Ribeirão Preto, 2004. SANTOS, Jonabio Barbosa. Família Monoparental Brasileira. Revista Jurídica da Presidência. Brasília, v. 10, n. 92, p. 01-30, out./2008 a jan./2009. Disponível em: <https://www4.planalto.gov.br/revistajuridica/copy_of_vol-1-n-1-fev-maio-2009/menuvertical/artigos/artigos.2011-01-13.0443799902>. Acesso em: 23 Jul. 2014. TARTUCE, Flávio. Direito civil: Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil. São Paulo: Metodo, 2008. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/revista/revistajuridica/artigos/pdf/jonabiobarbos a_rev92.pdf>. Acesso em: 14 Jun. 2014. Volume 5, Setembro de 2014. 8

ANEXO FONTE: http://oglobo.globo.com/infograficos/familias/. Acesso em: 18 Jun. 2014. Volume 5, Setembro de 2014. 9