PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO A PARTIR DA MEMÓRIA: O CASO REALENGO. Palavras-chave: Memória Urbana. Geografia Urbana. Geografia Histórica. Realengo.



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Transcrição:

PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO A PARTIR DA MEMÓRIA: O CASO REALENGO MENDES, Andréa Ribeiro (Orientador) 1 SILVA, Fábio Ferreira da (Co-orientador) 2 SILVA, Luciana Conceição da 3 Palavras-chave: Memória Urbana. Geografia Urbana. Geografia Histórica. Realengo. Introdução A presente pesquisa tem o intuito de investigar a produção do espaço urbano a partir da memória do bairro de Realengo no Rio de Janeiro que, no século XVIII, pertencia à freguesia de Campo Grande e suas terras serviam para pastagem de gado e agricultura, servindo também como caminho para a estrada real de Santa Cruz, conexão entre duas propriedades imperiais, a Quinta da Boa Vista e o Palácio Imperial de Santa Cruz. Nessa área, já se contou com uma fábrica de cartucho cuja produção era completamente destinada às forças armadas de todo território brasileiro, assim como também existiram escolas militares marcando a presença de investimentos do Estado na região. Atualmente, o bairro está localizado no subúrbio do Município do Rio de Janeiro, e é visto como um lugar distante do litoral e das grandes empresas e indústrias; suas vias de locomoções mais importantes para o deslocamento da população são a linha férrea D. Pedro II e a Avenida Brasil. Ao estudar o bairro Realengo, percebemos modificações temporais e espaciais, com um passado histórico, cuja transformação se deu em função de demandas econômicas a ele submetidas, e atualmente pouco ou nenhum interesse do poder público em conservar os marcos históricos do bairro. 1 Professora da Escola de Formação de Professores da Universidade Castelo Branco/RJ. Orientadora do E-mail: amendes@castelobranco.br 2 Graduando do Curso de Licenciatura em Geografia da Universidade Castelo Branco. Aluno Voluntário do E-mail: fhferreirasilva@ig.com.br 3 Graduanda do Curso de Licenciatura em Geografia da Universidade Castelo Branco. Aluna Voluntária do E-mail: lusilvageografia@gmail.com

O objetivo dessa pesquisa é analisar os fatos de grandes significados históricos e sociais que foram capazes de modificar o espaço do bairro de Realengo, tais como a chegada da linha férrea D. Pedro II, favorecendo a instalação de algumas indústrias privadas como a Fábrica de Cartucho Realengo, escolas e instalações militares. Além disso, visou-se a contemplar o processo de urbanização do bairro através desses mesmos elementos e seus atuais estados de conservação. Procedimentos Metodológicos A pesquisa realizada utilizou-se de levantamento bibliográfico a respeito do referencial teórico privilegiado; análise de pesquisas sobre estudo da memória urbana e investigação bibliográfica e iconográfica em bibliotecas e arquivos públicos. Contemplouse a análise de antigos periódicos como instrumento de investigação da história desta temática no passado. Foram realizados trabalhos de campo objetivando a caracterização da área definida para o estudo de caso, confrontando dados pretéritos e atuais sobre o lugar onde se realizou a investigação. Análise de Dados Pretende-se através dessa pesquisa analisar a atuação dos agentes agrícolas, industriais e militares em relação ao desenvolvimento urbano do bairro de Realengo. Fez-se necessária a abordagem do contexto histórico, que proporcionou o entendimento das mudanças espaciais e temporais, no espaço geográfico. A valorização da Memória Urbana, na atualidade, tem adquirido maior relevância, e em função da necessidade das sociedades resgatarem a identidade do lugar, a fim de possibilitar a preservação de sua cultura, conhecendo seus erros e acertos, numa tentativa de reorganização urbana e de fomenta à economia local e regional. Para Le Goff (1990:14), a valorização atual do passado tem muito a ver com o fim da era de otimismo ilimitado no futuro, iniciada com o Iluminismo. Com efeito, foi a partir da Ilustração que as sociedades ocidentais passaram a redirecionar a sua visão de mundo, antes orientada para a grandeza a majestade do passado, transferindo seu foco de atenção para o futuro, para o progresso (ABREU, 1998, p.78).

Na área de nossa pesquisa, o atual bairro de Realengo, a urbanização aconteceu de forma desorganizada, sem planejamento urbano social, pouca infraestrutura e mobilidade urbana; no entanto, na área próxima à antiga Fábrica de Cartucho e à Escola Militar a urbanização se mostra inicialmente organizada, contudo com o escopo de mobilidade de tropas militares e não da população em geral, com o fim dessas atividades, passou-se ao esquecimento e ao ostracismo, a perda de interesse pelo poder público gerou o abandono. Vemos a mudança de função de algumas dessas instituições e observamos em muitos casos a alteração de suas formas, fato observado principalmente pela forma da construção da Fábrica de Cartuchos Realengo que atualmente permanece com sua forma pouco alterada, contudo com uma nova função voltada para educação, onde está em funcionamento o Colégio Pedro II; assim como o caso da Escola Militar, que hoje suas instalações abrigam um quartel do Exército Brasileiro. Cabe ressaltar que com todo o contexto histórico social que é percebido no bairro de Realengo, não foram verificadas por parte do Estado ações com o escopo de conservar os marcos históricos e seus reais significados. Considerações Finais A intenção dessa pesquisa foi de apresentar os processos da formação urbana do bairro Realengo, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, analisando o conteúdo histórico e geográfico, observando as mudanças espaciais e temporais que foram acontecendo conforme a necessidade do momento. A localização da área favoreceu para que Realengo passasse pelas etapas agrícola, militar e industrial. A organização aconteceu como em outras áreas do Rio de Janeiro: através da linha férrea que diminui o tempo de deslocamento e encurta as distâncias, favorecendo um desenvolvimento urbano, representado pela chegada do poder público com as Instituições Militares e Industriais, tais como a Fábrica de Cartucho Realengo. A Estrada de Ferro, além disso, conectou o bairro Realengo a outros, como Bangu, devido à fábrica de tecido Bangu, Pavuna por causa da indústria de calçados e Deodoro com a presença de vários quartéis na área, vimos através das investigações sobre a linha férrea que alguns funcionários da Fábrica de Tecido Bangu e da Indústria Manual de Calçados Elidina

moravam em Realengo e se deslocavam com os trens. A produção do Espaço Urbano foi construída por diferentes usos da terra, com o crescimento de novos moradores de classe média e baixa. Os proprietários fundiários, por terem suas atividades enfraquecidas, deram espaço para o setor imobiliário que produziu habitações para satisfazer a demanda dos moradores atuais, aproveitando os valores baixos das terras e a oferta dos meios de transportes. Insta salientar que, com a saída da Escola Militar para Resende no Estado do Rio de Janeiro, os investimentos públicos cessaram deixando a área em decadência, fazendo com que elementos emblemáticos, como a Fábrica de Cartucho e a Escola Militar, fossem gradativamente esquecidos e deteriorados, escondendo da população a importância do seu real significado para a região. Em seguida novas funções surgem para atender as pessoas que vivem no tempo presente, como a antiga Fábrica de Cartucho, que ficou durante um tempo esquecida e sem função e deu espaço para uma nova atividade, o Colégio Pedro II, embora os anexos nesse mesmo terreno ainda estejam em estado de abandono, evidenciando planejamento e/ou execução incompletas para a área, nos permitindo deduzir que a preservação da memória se encontra em vias de pouco desenvolvimento em Realengo. Referências Bibliográficas ABREU, Maurício de Almeida. A evolução urbana do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: IPANRIO/ZAHAR, 1987. ABREU, Maurício de Almeida. Sobre memória das cidades. Revista Território. Rio de Janeiro: v.3,n.4, jan/jun, 1998. CORRÊA, Roberto Lobato. A Produção do Espaço Urbano; Agentes e Processos, Escalas e Desafios. Ana Fani Alessandri Carlos. São Paulo: Contexto, 2011. FRIDMAN, Fania. Donos do Rio em nome do rei: uma história fundiária da cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: J. Zahar Editor, 1999.. As propriedades públicas no Rio de Janeiro. America Latina en la Historía Económica. Mexico, v. 7, p. 49-71, jan./jun. 1998. LE GOFF, Jacques. História e Memória. Campinas: Editora da Unicamp, 1996.

MEIRY, José Carlos Bom, SIQUEIRA, Sonia A. de. Fragmentos discursivos de bairros do Rio de Janeiro: história oral. 1998. 3 v. Tese (Mestrado em Memória Social e Documento) UNI - RIO NORONHA SANTOS, Francisco. Meios de transporte no Rio de Janeiro: história e legislação. Rio de Janeiro: Tipografia do Jornal do Comércio, 1934. PAZ, Ermelinda Azevedo. As Pastorinhas de Realengo. Rio de Janeiro: Editora Universitária da UFRJ, 1987. SANTOS, Milton. Espaço e Método. 3 ed. São Paulo: Nobel, 1992. VASCONCELLOS, Max. Vias Brasileiras de Comunicação. Rio de Janeiro: Pimenta de Melo & Cia., 1928. WENCESLAU, Carlos Alberto da Cruz. Realengo, meu bem querer. Rio de Janeiro: Ciezo, 2004.