Julgamento de Recurso Administrativo Tomada de Preço nº.: 001/2014 Recorrente: G.M. ENGENHARIA CONSTRUÇÕES E COMÉRCIO LTDA 1. Trata-se, em síntese, de recurso administrativo interposto pela sociedade empresária G.M. ENGENHARIA CONSTRUÇÕES E COMÉRCIO LTDA no âmbito do procedimento licitatório, realizado na modalidade Tomada de Preço, sob nº.: 001/2014. DOS FATOS 2. Antes da análise das manifestações da empresa acima, vamos aos fatos: 3. A empresa recorrente foi inabilitada por não apresentar Atestado de Capacidade Técnica devidamente registrado no CREA que contemplasse Projeto Executivo de Estruturas de Concreto Armado e Projeto Executivo de Estruturas Metálicas, sendo que a comprovação seria aceita desde que ficasse demonstrada a realização de serviços de coordenação e/ou compatibilização de projetos elaborados por terceiros, conforme exigido na alínea a do item 29.2 do instrumento convocatório e 12.2.2., a do projeto básico. DAS RAZÕES: 4. A recorrente alega, em resumo, que os atestados encaminhados atendem sim ao exigido no Edital e que são suficientes para comprovarem a capacidade técnica da empresa na realização dos serviços. O teor de seu certificado tem característica e semelhança exigida no edital. Além disso, haveria um formalismo exacerbado que em nada colabora com o princípio fundamental das licitações. DA ANÁLISE 5. Primeiramente, trataremos da exigência do Edital. O instrumento convocatório traz a seguinte redação para comprovação da qualificação técnica: 29.2 No mínimo, um (1) Atestado de Capacidade Técnica fornecido por pessoa jurídica de direito público ou privado, devidamente registrado no CREA, que comprove a aptidão da Licitante na prestação de serviços pertinentes e compatíveis em características, quantidades e prazos com o objeto deste Projeto Básico, contemplando, ao menos, os seguintes dados: a) que faça explícita referência, pelo menos, às parcelas de maior relevância técnica e valor significativo, admitindo-se, para os itens Projeto Executivo de Estruturas de Concreto Armado e Projeto Executivo de Estruturas Metálicas, que a comprovação se faça mediante a realização de serviços de coordenação e/ou compatibilização de projetos elaborados por terceiros; b) que comprove que a Licitante tenha prestado, a contento, serviços de natureza e vulto compatíveis com o objeto ora licitado, ou que seja possível estabelecer, por proximidade de características funcionais, técnicas, dimensionais e qualitativas, comparação com os serviços objeto deste Projeto Básico. 1
29.3. Consideram-se serviços de natureza e vulto compatíveis com o objeto licitado, a elaboração de projetos similares aos especificados neste Projeto Básico, em edificações não residenciais, com, no mínimo, três pavimentos (três andares), equivalentes a 350 m² de área construída. 29.4. Serão aceitos como comprovantes de capacidade técnico-operacional o CAT (ou as ART s), em que conste como prestadora de serviços a própria Contratada, desde que as informações constantes desses documentos permitam aferir a similaridade/compatibilidade dos serviços. 6. Vejamos se a exigência colocada está em consonância com o disposto na Lei n.: 8.666/1993: Art. 30. A documentação relativa à qualificação técnica limitar-se-á a: II - comprovação de aptidão para desempenho de atividade pertinente e compatível em características, quantidades e prazos com o objeto da licitação, e indicação das instalações e do aparelhamento e do pessoal técnico adequados e disponíveis para a realização do objeto da licitação, bem como da qualificação de cada um dos membros da equipe técnica que se responsabilizará pelos trabalhos; 1 o A comprovação de aptidão referida no inciso II do "caput" deste artigo, no caso das licitações pertinentes a obras e serviços, será feita por atestados fornecidos por pessoas jurídicas de direito público ou privado, devidamente registrados nas entidades profissionais competentes, limitadas as exigências a: I - capacitação técnico-profissional: comprovação do licitante de possuir em seu quadro permanente, na data prevista para entrega da proposta, profissional de nível superior ou outro devidamente reconhecido pela entidade competente, detentor de atestado de responsabilidade técnica por execução de obra ou serviço de características semelhantes, limitadas estas exclusivamente às parcelas de maior relevância e valor significativo do objeto da licitação, vedadas as exigências de quantidades mínimas ou prazos máximos; 7. O professor Marçal Justen Filho ensina: Na linha de proibir cláusulas desarrazoadas, estabeleceu-se que somente podem ser previstas no ato convocatório exigências autorizadas na Lei (art. 3, 5 ). Portanto, estão excluídas tanto as cláusulas expressamente reprovadas pela lei nº 8.666 como aquelas não expressamente por ela permitidas. É claro que a vedação examinada não exclui o dimensionamento numérico da experiência anterior, para fins de fixação da equivalência ao objeto licitado. Ou seja, admite-se exigência de experiência anterior na execução de obras ou serviços similares. Isso envolve uma certa dificuldade, pois a similitude tanto envolve questões qualitativas quanto quantitativas. Pode-se avaliar a experiência anterior quer tendo em vista a natureza (qualitativa) da atividade como também em função das quantidades mínimas ou dos prazos máximos na execução de prestações similares. Existem situações em que o fator quantitativo é relevante, mesmo para fins de qualificação técnica profissional. Por isso, deve-se interpretar razoavelmente a própria vedação que o 1º, inc. I, estabelece a propósito de qualificação técnica profissional. Somente se aplica quando a identificação da experiência anterior não envolver a existência de um dado quantitativo ou a explicitação de um local peculiar. Se a complexidade do objeto licitado consistir precisamente nesses pontos (extensão, dificuldade de acesso e assim por diante), é perfeitamente possível exigir comprovação de experiência anterior abrangendo requisitos dessa ordem. (...) 2
Também não se admitem requisitos que, restritivos à participação no certame, sejam irrelevantes para a execução do objeto licitado. Deve-se considerar a atividade principal e essencial a ser executada, sem maiores referências a especificações ou detalhamentos. Isso não significa afirmar que tais peculiaridades sejam irrelevantes. São significativas para execução do objeto, mas não para a habilitação. Não se aplica o raciocínio quando a especificação envolver conhecimento e capacitação técnicos diferenciados, nãos usuais, infungíveis. (grifo nosso). (JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos. 11ª Edição. São Paulo: Dialética. 2005) 8. O Tribunal de Contas da União já tratou da análise do art. 30 da lei federal de licitações se manifestando da seguinte maneira: Sumário: REPRESENTAÇÃO. CONVÊNIO. RECURSOS FEDERAIS. LICITAÇÃO PARA REFORMA E AMPLIAÇÃO DO HOSPITAL MUNICIPAL DE MAGÉ. EXPEDIÇÃO DE MEDIDA CAUTELAR SUSPENDENDO O PROCEDIMENTO LICITATÓRIO. RESTRIÇÃO AO CARÁTER COMPETITIVO DO CERTAME. PRONUNCIAMENTO DO CISBAF E DA EMPRESA VENCEDORA DA LICITAÇÃO. REPRESENTAÇÃO PROCEDENTE. DETERMINAÇÃO PARA ANULAÇÃO DO EDITAL E DOS DEMAIS ATOS DECORRENTES. DETERMINAÇÕES. CIÊNCIA AOS INTERESSADOS. ARQUIVAMENTO. 1. É competência constitucional do TCU fiscalizar a aplicação de quaisquer recursos repassados pela União mediante convênio, acordo, ajuste ou outros instrumentos congêneres, a Estado, ao Distrito Federal ou a Município. 2. Exigir-se comprovação de capacidade técnica para parcelas da obra que não se afiguram como sendo de relevância técnica e financeira, além de restringir a competitividade do certame, constitui-se em clara afronta ao estabelecido pelo art. 30 da Lei n. 8.666/93 e vai de encontro ao disposto no art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal. 3. A inadequação das exigências editalícias relacionadas à avaliação de capacidade técnica, que atentam contra o princípio da isonomia, da legalidade, da competitividade e da razoabilidade, insculpidos no art. 37, inciso XXI, da Constituição da República e no art. 3º, caput e 1º, inciso I, da Lei de Licitações e Contratos, conduz à anulação do procedimento licitatório. Relatório do Ministro Relator: O conteúdo e a extensão da qualificação técnica dependem diretamente do objeto da licitação. A definição dos aspectos relativos à comprovação de capacidade técnica número e conteúdo dos atestados, quantitativos mínimos e parcelas mais relevantes deve ser fundamentada em critérios técnicos, baseados nas características do objeto a ser licitado, e deve refletir o equilíbrio entre o interesse da Administração em buscar identificar aqueles que efetivamente dispõem de condições técnicas para executar o objeto pretendido e o interesse público de ampliar ao máximo o universo de possíveis competidores. A propósito, citamos Celso Antônio Bandeira de Mello, nas palavras de Adilson Abreu Dallari (Aspectos jurídicos da licitação, 5. ed. São Paulo: Saraiva, p. 115): Celso Antônio Bandeira de Mello assinala que a Administração deve conciliar o princípio da isonomia com a necessidade de segurança, oferecendo iguais oportunidades de contratação a quem comprove estar realmente habilitado a executar o objeto de cada específica licitação, não havendo sequer a possibilidade de se estabelecer um padrão universal de idoneidade. (Processo n. 021.415/2006-6 Publicação: DOU, 16/02/2007 Ministro Relator: Valmir Campelo) 9. Assim, não resta dúvida que a Administração não pode limitar a participação no certame, sob a exigência de aptidão de desempenho com quantitativos idênticos ao do objeto licitado, 3
uma vez que, segundo a Lei n. 8.666/93, as exigências contidas nos atestados de capacidade técnica devem se restringir às parcelas de maior relevância e valor significativo do objeto da licitação. 10. E o Edital e seus anexos não o fazem. Frise-se que, em momento algum, foram exigidos atestados contendo serviços idênticos ao ora licitados. E se verificou dentre todos os serviços que a empresa vencedora do certame deverá prestar, quais são aqueles que compõem as parcelas de maior relevância. Estas foram assim definidas: Projeto Executivo de Estruturas de Concreto Armado e Projeto Executivo de Estruturas Metálicas. Além disso, a empresa deveria demonstrar sua capacidade técnica na coordenação e/ou compatibilização de projetos elaborados por terceiros. Contudo, destacaram-se as parcelas mais relevantes para a boa execução dos serviços e segurança para este Conselho Federal. 11. Essa última exigência se faz para a segurança da Administração. Isto, porque os serviços da contratada não se findam ao término da entrega dos projetos de reforma. A empresa deverá acompanhar a execução da reforma dando suporte ao contratante, por meio do responsável técnico dos projetos, dirimindo quaisquer dúvidas a respeito dos problemas relacionados ao projeto, e se necessário, fazer visitas técnicas à edificação a ser reformada, desde o início até a entrega final da obra, conforme item 7.5. do projeto básico. 12. Assim, a necessidade de demonstrar que a empresa não só confecciona projetos, mas também acompanha e coordena a execução desses trabalhos é imperiosa para uma segura contratação por parte deste Conselho Federal como também está alinhada ao objeto do edital. De que a empresa detém conhecimento na elaboração dos projetos, e também no acompanhamento de sua execução. 13. Quanto aos documentos apresentados pela sociedade empresária G.M. (...), esta apresentou dois atestados. O primeiro registrado no CREA/GO sob o número: CAT 1020140001443 referente a serviços de projeto e execução de serviços ao SENAC. O segundo com o número CAT: 1503/2010 registrado no CREA/DF informa que a recorrente executou projeto de cobertura em estrutura metálica, entre diversos outros fornecimentos. Não se verifica em nenhum dos documentos apresentados que a empresa tenha realizado a coordenação e/ou compatibilização de projetos elaborados por terceiros. 14. Deve-se afastar ainda a possibilidade de aceitar os atestados apresentados alegando que são de maior complexidade. Segundo Marçal, não seria possível inabilitar licitante que, não tendo executado anteriormente objeto similar ao licitado, apresentar experiência de maior complexidade. Ocorre que os atestados apresentados se referem a serviços executados em área de 1.840,45 m² em edificação de três pavimentos (SENAC) e outro de 568,80m² (Ministério da Defesa), de menor dimensão, portanto, já que a área do prédio do Cofen é de aproximadamente 2.435m², com 5 pavimentos. 15. Além disso, não há formalismo exacerbado como a requerente faz crer. O serviço de coordenação do qual faz parte do objeto a ser contratado implica no interesse direto da Administração de contratar uma licitante com conhecimento e experiência adequados, principalmente porque durante a execução da reforma, a empresa deverá acompanhar a futura 4
contratada nas diversas etapas da execução visto que no Cofen poderá dispor de profissional capacitado para tal. 16. Outrossim, esta Comissão está vinculada às exigências contidas no instrumento convocatório e não pode deixar de cumpri-las no curso do certame, o que implica em errônea condução do procedimento licitatório. 17. Encontramos respaldo na doutrina e jurisprudência do Tribunal de Contas da União: 18. Acórdão 628/2005 Segunda Câmara: Após examinados e julgados os documentos apresentados para efeito de habilitação dos licitantes, mediante confronto com as exigências e condições do ato convocatório, serão desclassificados e não aceitos aqueles que não atenderem ao que foi estabelecido (...) O licitante que deixar de fornecer, quaisquer dos documentos exigidos, ou apresentá-los em desacordo com o estabelecido no ato convocatório ou com irregularidades será considerado inabilitado. (Licitações e Contratos Orientações Básicas 3ª Edição Revista, Atualizada e Ampliada Brasília 2006 TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO. Página 169). (grifo nosso). Observe com rigor os princípios básicos que norteiam a realização dos procedimentos licitatórios, especialmente o da vinculação ao instrumento convocatório e o do julgamento objetivo, previstos nos artigos 3º, 41, 44 e 45 da Lei nº 8.666/1993. (grifo nosso) Princípio do Julgamento Objetivo: Esse princípio significa que o administrador deve observar critérios objetivos definidos no ato convocatório para o julgamento das propostas. Afasta a possibilidade de o julgador utilizar-se de fatores subjetivos ou de critérios não previstos no ato convocatório, mesmo que em benefício da própria Administração. Princípio da Impessoalidade: Esse princípio obriga a Administração a observar nas suas decisões critérios objetivos previamente estabelecidos, afastando a discricionariedade e o subjetivismo na condução dos procedimentos da licitação. Princípio da Vinculação ao Instrumento Convocatório: obriga a Administração e o licitante a observarem as normas e condições estabelecidas no ato convocatório. Nada poderá ser criado ou feito sem que haja previsão no ato convocatório. 19. Verifica-se, então, que se trata de uma análise objetiva dos documentos apresentados e se seu teor está devidamente atinente ao pedido ao Edital. Não ficou clara a demonstração que a empresa cumpre com os requisitos de habilitação, nada restando, então, a fazer senão inabilitar a empresa. CONCLUSÃO: 20. Assim, após verificação e análise do documento encaminhado, CONHEÇO do recurso interposto pela RECORRENTE, por ser tempestivo e estar nos moldes legais para, no mérito, julgá-lo IMPROCEDENTE, e, como consequência, DECIDO manter a INABILITAÇÃO da sociedade empresária G.M,. 5
Brasília, 10 de fevereiro de 2015 Alexandre Tadeu dos Santos Barreira Presidente da CPL Karinne Batista Domingues de Jesus Membro da CPL Matheus Moreira Cruz Membro da CPL 6