MACÊDO, R. F. Rafael Freire de Macêdo



Documentos relacionados
METODOLOGIA SIMPLIFICADA DE CÁLCULO DAS EMISSÕES DE GASES DO EFEITO ESTUFA DE FROTAS DE VEÍCULOS NO BRASIL

EMISSÕES DO SETOR DE RESÍDUOS SÓLIDOS E EFLUENTES LÍQUIDOS ( )

Gases de Efeito Estufa na Aviação Civil

Estimativa de emissões de poluentes e GEE em frotas: Aplicação Prática.

ANÁLISE DAS EMISSÕES ATUAIS DE CO 2 POR FONTE DE ENERGIA E POR ATIVIDADES PARA O ESTADO DO RIO DE JANEIRO (ANO BASE 1996)

CATEGORIA: Pôster Eixo Temático - Tecnologias

Emissão Veicular de Gases de Efeito Estufa (GEE) Em Automotivos Movidos a Diesel

Padrões de produção e consumo

Estudo da Emissão Veicular de Gases de Efeito Estufa (GEE) em Veículos Movidos à Gasolina

A Importância da Elaboração dos Inventários de Emissões de Gases de Efeito Estufa nas Capitais Brasileiras

Estudo da emissão veicular de Gases de Efeito Estufa (GEE) em veículos movidos à DIESEL. Prof. Dr. Ariston da Silva Melo Júnior

rotulagem de energia eléctrica

USO DO ETANOL NA FROTA DE ÔNIBUS DA REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO COMO ESTRATÉGIA DE GESTÃO AMBIENTAL URBANA.

SUMÁRIO EXECUTIVO COMUNICAÇÃO ESTADUAL EMISSÕES NO SETOR DE ENERGIA: ABORDAGEM DE REFERÊNCIA (TOP DOWN)

Utilização de óleo diesel e emissões de CO 2 por veículos rodoviários pesados

Infraestrutura Turística. Magaeventos Esportivos e a Promoção da Imagem do Brasil no Exterior 16 e 17 de agosto Brasília.

OS BIOCOMBUSTÍVEIS E A

Participação dos Setores Socioeconômicos nas Emissões Totais do Setor Energia

Transportes e emissões de CO 2 : uma abordagem baseada na metodologia do IPCC

Seminário Soluções Técnicas e Financeiras para Cidades Sustentáveis Banco Mundial Brasília. 08 e 09 de Junho 2010

CONSULTA PÚBLICA Planos Setoriais de Mitigação e Adaptação à Mudança do Clima

O projeto de Neutralização das Emissões de Carbono do Camarote Expresso 2222 envolve as seguintes etapas:

Incentivar o Etanol e o Biodiesel. (Promessa 13 da planilha 1) Entendimento:

COMISSÃO DE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

ANÁLISE DO POTENCIAL DE REDUÇÃO DAS EMISSÕES DE CO 2 NA REGIÃO METROPOLITANA DO RIO DE JANEIRO

Sistema de Informações da Mobilidade Urbana. Relatório Geral 2011

A importância da eficiência energética para redução de consumo de combustíveis e emissões no transporte de cargas e passageiros

INVENTÁRIO DE EMISSÕES DE GASES DE EFEITO ESTUFA Versão resumida BANCO BRADESCO S.A.

Fração. Página 2 de 6

COPPE/UFRJ SUZANA KAHN

INVENTÁRIO DE EMISSÕES DE GASES DE EFEITO ESTUFA. Metodologia, resultados e ações

MEDIDAS PARA REDUÇÃO DE IMPACTOS ORIUNDOS DO CONSUMO DE ENERGIA NA INDÚSTRIA DO RIO DE JANEIRO

O Aquecimento Global se caracteriza pela modificação, intensificação do efeito estufa.

Inventário Corporativo de Emissões Diretas e Indiretas de Gases de Efeito Estufa (GEE) Ano referência: Emissões de 2010

Resultados do Programa Ambiental SETRERJ Programas Despoluir e Economizar

Novas Tecnologias para Ônibus 12/12/2012

CAPÍTULO 3 PROTOCOLO DE KIOTO

Inventário de Emissões de Gases de Efeito Estufa. Relatório de Atividades em Evento de Sustentabilidade FIESC 2012

Logística e Sustentabilidade. Valter Luís de Souza Diretor Presidente Tora Transportes Industriais Ltda

GNV. Combustível de baixo impacto ambiental para frotas de Táxis.

3 Emissões de Gases de Efeito Estufa

LEVANTAMENTO DO PERFIL E AVALIAÇÃO DA FROTA DE VEICULOS DE PASSEIO BRASILEIRA VISANDO RACIONALIZAR AS EMISSÕES DE DIÓXIDO DE CARBONO

Geografia. Professor: Jonas Rocha

Inventário de Gases de Efeito Estufa do Festival de Turismo das Cataratas do Iguaçu 2013

CONTROLE DA POLUIÇÃO DO AR - PROCONVE/PROMOT RESOLUÇÃO CONAMA nº 15 de 1995

Inventário Municipal de Emissões de GEE Belo Horizonte. João Marcelo Mendes


CLIMA E MEIO AMBINETE, OS DESAFIOS PARA AS CIDADES Rafael Sindelar Barczak 12 de abril, 2016, Curitiba-PR

CARTA ABERTA AO BRASIL SOBRE MUDANÇA DO CLIMA 2015

POTENCIAIS DE REDUÇÃO DE EMISSÕES DE DIÓXIDO DE CARBONO NO SETOR DE TRANSPORTES: UM ESTUDO DE CASO DA LIGAÇÃO HIDROVIÁRIA RIO-NITERÓI

COMO OS LIVROS DIDÁTICOS DE ENSINO MÉDIO ABORDAM O EFEITO ESTUFA

ESTUDO DA EMISSÃO DE GASES DE VEÍCULOS DO CICLO OTTO NO MUNICÍPIO DE LAJEADO/RS

MÁQUINAS TÉRMICAS AT-101

DÚVIDAS FREQUENTES SOBRE O DIESEL S-50. Fonte: Metalsinter

SUSTENTÁVEL. Unidade Senac: Santa Cecília. Data: 24/08/2015. Daniela Ades, Guilherme Checco e Juliana Cibim

Combate à poluição: importante como o ar que você respira.

BIODIESEL ENERGIA MÓVEL GARANTIDA 100% ECOLOGICA PARA COPA E PARA O MUNDO

Os combustíveis fósseis e as energias alternativas

CST Processos Gerenciais

Sistema de Informações da Mobilidade Urbana. Relatório Geral 2012

O DESAFIO ENERGÉTICO NOS GRANDES CENTROS:

Posição da indústria química brasileira em relação ao tema de mudança climática

DÚVIDAS FREQUENTES SOBRE O DIESEL S-50

M ERCADO DE C A R. de captação de investimentos para os países em desenvolvimento.

CONSULTA PÚBLICA Planos Setoriais de Mitigação e Adaptação à Mudança do Clima

Alternativas para mitigar a poluição gerada pelo setor industrial do Estado de Minas Gerais

PROGRAMA DE GESTÃO AMBIENTAL

Ciências Econômicas. O estudante deve redigir texto dissertativo, abordando os seguintes tópicos:

INVENTÁRIO DE EMISSÕES DE GASES DE EFEITO ESTUFA IPOJUCATUR TRANSPORTES E TURISMO LTDA ANO BASE 2009

ANÁLISE DAS EMISSÕES DE GASES DO EFEITO ESTUFA POR USINAS TERMELÉTRICAS

Relatório de Neutralização das emissões de gases do efeito estufa

Estudo comparativo dos limites legais de Emissões Atmosféricas no Brasil, EUA e Alemanha.

CST Gestão Financeira

CGD. Relatório de Compensação de Emissões de GEE

S.O.S TERRA. Associated Press

Unidade IV Ser Humano e saúde. Aula 17.1

A primeira análise do ciclo de vida da embalagem de leite UHT em toda a Europa

Combustão Industrial

Comentários sobre o. Plano Decenal de Expansão. de Energia (PDE )

Viabilidade Ec E onômic onômic Aquecimen to Solar

Metodologia de Inventário de. Federativo -Energia e Transportes-

PROJETO DE LEI Nº, DE 2011

Entre no Clima, Faça sua parte por. um MUNDO melhor.

Impactos Socioeconômicos da Indústria de Biodiesel no Brasil. Joaquim J.M. Guilhoto Marcelo P. Cunha

Solução Verde para o trasporte dacidade de São Paulo. Maio 2011, Rio de Janeiro

Divisão de Questões Globais PROCLIMA Programa de Prevenção às Mudanças Climáticas CETESB Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental

estufa para setores agropecuários

A ANP e a Resolução CONAMA 315/2002 Waldyr Luiz Ribeiro Gallo Assessor de Diretor - ANP

Emissões Atmosféricas e Mudanças Climáticas

Mudança do Clima. Luiz Gylvan Meira Filho

URBS. Urbanização de Curitiba S.A

1.1 Poluentes atmosféricos. 1.2 Principais Poluentes Atmosféricos

POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA. Maria Lúcia Pereira Antunes UNESP Unidade Diferenciada Sorocaba/Iperó. Eng. Ambiental GEA Grupo de Estudo Ambientais

Viver Confortável, Morar Sustentável

Inventário Municipal de Emissões e Remoções Antrópicas de Gases de Efeito Estufa (GEE) e outros Produtos no Município de São Paulo

Projecto Bio-Escola Episódios de uma escola sustentável

Sumário. Resumo Executivo 1 INTRODUÇÃO IDENTIFICAÇÃO DA INSTITUIÇÃO OBJETIVO MATERIAL E MÉTODOS Limites Organizacionais 06

Novo Marco Regulatório do Etanol Combustível no Brasil. Rita Capra Vieira Superintendência de Biocombustíveis e Qualidade de Produtos - ANP

Papel do setor sucroenergético na mitigação das mudanças climáticas

ALEXANDRE UHLIG Instituto Acende Brasil. EXPANSÃO DA GERAÇÃO NA ERA PÓS- HIDRELÉTRICA Guia para debates

Transcrição:

INVENTÁRIO DE EMISSÕES DE DIÓXIDO DE CARBONO (CO 2 ) GERADAS POR FONTES MÓVEIS NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE PERÍODO DE JANEIRO DE 2003 A JUNHO DE 2004 Rafael Freire de Macêdo Graduando do Curso de Tecnologia em Controle Ambiental do Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio Grande do Norte CEFET/RN. Graduando do Curso de Engenharia Química da Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRN. Estagiário do Laboratório de Meio Ambiente do Centro de Tecnologias do Gás CTGÁS rafaelmacedo@digizap.com.br Artigo recebido em agosto/2004 e RESUMO A elevada contribuição de fontes móveis para o aumento das concentrações de dióxido de carbono na atmosfera torna-se fator de estudo. O estado do Rio Grande do Norte apresenta um alto índice de motorização, cerca de 35 veículos por cada 100 habitantes, portanto, um elevado consumo de combustíveis derivados do petróleo. Estatísticas apontam que 97% das emissões veiculares são de CO 2, comprovando a preocupação de se realizar inventários destas. A método top-down, reconhecido internacionalmente e recomendado pela ONU, foi seguido para a quantificação de gases de efeito estufa emitidos pela combustão de combustíveis fósseis em motores de veículos rodoviários, comprovando os altos teores de poluentes atmosféricos lançados na atmosfera do estado. A poluição atmosférica afeta a saúde ambiental bem como a estética urbana, acarretando perdas econômicas. A substituição do modal de transporte particular pelo coletivo e a adoção de novas tecnologias trarão ganhos ambientais além de impulsionar novas matrizes energéticas. INVENTORY OF CARBON DIOXIDE (CO 2 ) EMISSIONS FROM MOBILE SOURCES IN THE STATE OF RIO GRANDE DO NORTE PERIOD FROM JANUARY 2003 TO JUNE 2004 ABSTRACT The elevated contribution for increasing carbon dioxide concentration in the atmosphere from mobile sources make it a case to study. The state of Rio Grande do Norte presents a higher indices of motorization, about 35 vehicles per 100 habitants, however, a high consumption of combustible derived from petrol. Statistics shows that 97% of vehicle emissions are from CO 2, proving the concern to do them inventories. The top-down method, internationally recognized and recommended by UN, were followed to quantity the emission of greenhouse gases from the combustion of fossil combustible on road vehicles motors, proving the higher tenor of atmospheric pollutants introduced in the state atmosphere. The atmospheric pollution affects de environmental health as well the urban esthetics, bringing economics lost. The substitution of the particular transportation modal by the collective and the adoption of new technologies will bring environmental gains and will push new energetic matrices. HOLOS, Ano 20, outubro/2004 1

INTRODUÇÃO Os automóveis são responsáveis por grande parte das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE), principalmente em centros urbanos. Devido ao modo de crescimento econômico adotado pelo Brasil pós-guerra, há uma exponencial demanda por meios de transporte rodoviário. A elaboração de novas políticas públicas para o setor faz-se necessário, instituindo tecnologias menos impactantes e mais eficientes. A crescente discussão sobre o aquecimento global levou o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) a elaborar um manual de práticas para inventários nacionais de emissões atmosféricas causadoras de efeito estufa. Este tem como a principal finalidade, instituir metodologias para estimar as quantidades de gases gerados a partir do uso de energéticos, principalmente os de origem fóssil, em todos os países que compõem a Organização das Nações Unidas (ONU), uniformizando o conhecimento sobre o acréscimo destes na atmosfera e seus possíveis efeitos sobre o clima terrestre. O Good Practice Guidance and Uncertainty Management in National Greenhouse Inventories Revised 1996 IPCC Guidelines for National Greenhouse Gas determina que as emissões de gases de efeito estufa de fontes móveis são melhor calculadas pela quantidade de combustível queimado, teor de carbono e as emissões correspondentes de CO 2 (método Tier 1 ou top-down). Segundo o IPCC, o CO 2 é responsável por 97% das emissões totais de GEE provenientes de fontes móveis, admitindo uma incerteza de 5% principalmente devido à operação do veículo, mais do que pela imprecisão do fator de emissão correspondente (Álvares Jr., Linke, 2000). Portanto, o conhecimento sobre as emissões deste gás é de extrema importância. As emissões veiculares de metano (CH 4 ), hidrocarbonetos (HC), óxido nitroso (N 2 O), monóxido de carbono (CO) e óxidos de nitrogênio (NO x ), correspondem a 3% do total, sendo mais difíceis de serem estimadas pois seus fatores de emissão são muito reduzidos, além de dependerem de elevado conhecimento sobre a mecânica veicular, da qualidade dos combustíveis e diversas características de operação. Porém, podem ser estimadas através do consumo de combustível de cada subgrupo de veículos e de seus fatores de emissão (método Tier 2 ou bottom-up), desde que os dados sejam confiáveis (Ribeiro, 2001). O IPCC recomenda o uso de fatores de emissão locais para aplicação dos cálculos, uma vez que seu manual adota fatores de emissão relativos aos combustíveis utilizados nos Estados Unidos e nos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Os órgãos nacionais que determinam os fatores a serem utilizados são o Ministério de Minas e Energia (MME), o Ministério de Ciências e Tecnologia (MCT) e a Agência Nacional do Petróleo (ANP). Realizar o inventário sobre a emissão de GEE de fontes móveis facilita a análise e compreensão dos ganhos ambientais e econômicos na adoção de novas matrizes energéticas, além de auxiliar na elaboração de novas políticas publicas voltadas para o transporte coletivo em centros urbanos. HOLOS, Ano 20, outubro/2004 2

POPULAÇÃO E FROTA DE VEÍCULOS AUTOMOTORES NO RN O estado do Rio Grande do Norte há anos vem se destacando pela sua participação na extração e produção de fontes primárias de energia fóssil. Conforme a ANP, é o segundo do Brasil, ficando atrás apenas do Rio de Janeiro, que possui a maior reserva nacional de petróleo e gás natural, localizada na Bacia de Campos. Este importante fator contribui para que os preços aplicados no estado, dos combustíveis derivados do petróleo, sejam inferiores a média nacional, o que relativamente impulsiona, junto ao estilo de consumo da população, o transporte rodoviário particular. Atualmente, segundo o DETRAN-RN, a frota de veículos automotores do estado é de 417.045, sendo 386.933 veículos leves e 30.112 veículos pesados. A capital Natal possui 196.569 veículos, enquanto o interior 220.495. A população estadual em 1 de julho de 2004, estimada pelo IBGE, foi de 2.962.107 habitantes. A capital Natal abriga cerca de 766.081 residentes enquanto o interior 2.196.026, o que implica um índice de motorização para a capital igual a 25 veículos por 100 habitantes e para o interior igual a 10 veículos por 100 habitantes. Observando o crescimento da frota de veículos desde de 1988, nota-se que a partir de 1994, ano em que se instituiu o plano real, o número de veículos automotores cresceu rapidamente, o que consolida o modelo de transporte rodoviário em detrimento aos demais. 500.000 400.000 300.000 200.000 100.000 0 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2004 CAPITAL INTERIOR ESTADO Figura 1 - Evolução da Frota de Veículos Automotores no RN - 1988 a 2004 Este crescimento, de certo modo descontrolado, acarretou em diversos problemas infraestruturais, fazendo com que o governo buscasse investimentos para solucioná-los, porém, de forma a beneficiar o transporte particular colocando o transporte coletivo em segundo plano. Evidentemente, os níveis de GEE presentes na atmosfera elevam-se, o que se torna motivo de estudo, pois muito se pode perder em questões de saneamento, saúde ambiental, preservação de fachadas e limpeza urbana. Políticas públicas e leis que concretizem o maior controle sobre as emissões veiculares e a manutenção periódica dos veículos automotores em circulação, devem ser adotadas. A reversão do modal, que beneficia o HOLOS, Ano 20, outubro/2004 3

transporte particular ao coletivo, necessita de um aumento gradativo de investimentos de longo prazo, o que beneficiará o todo ao invés de uns. CONSUMO DE COMBUSTÍVEIS POR FONTES MÓVEIS NO RN - JANEIRO DE 2003 A JUNHO DE 2004 Dos 417.045 veículos automotores presentes no estado, 73,94% utilizam gasolina, 9.52% álcool, 9,09% diesel, 5,72% gás natural veicular (GNV) associado a outro combustível, restando 1,73% para as demais fontes, conforme o DETRAN-RN Devido ao alto índice de motorização, o consumo de combustíveis por fontes móveis no estado do Rio Grande do Norte também é elevado se comparado a sua população. Os dados a seguir, obtidos na revista Brasil Energia, demonstram o consumo diário de combustíveis por fontes móveis no estado durante o período de estudo. Tabela 1 Consumo Diário de Combustíveis GNV GASOLINA DIESEL ALCOOL HIDRATADO jan/03 137,4 650,5 931,6 60,8 fev/03 137,7 608,2 943,0 58,9 mar/03 136,1 470,6 746,3 42,2 abr/03 139,0 533,0 813,2 43,9 mai/03 141,0 576,1 877,0 39,1 jun/03 141,7 573,9 836,8 39,1 jul/03 144,1 597,4 895,5 44,4 ago/03 147,6 592,7 867,3 53,5 set/03 144,3 610,5 969,5 50,3 out/03 150,8 642,7 1.024,6 50,5 nov/03 152,5 592,2 949,6 50,9 dez/03 157,4 716,0 1.043,2 56,9 jan/04 154,1 646,7 1.117,2 52,3 fev/04 148,6 649,4 889,9 53,0 mar/04 149,1 615,4 922,0 51,4 abr/04 148,6 636,7 945,8 64,3 mai/04 154,1 620,2 866,5 79,7 jun/04 152,3 nd* nd* nd* MÉDIA 146,5 607,8 919,9 52,4 DESVIO PADRÃO 6,5 53,7 89,1 10,1 CONSUMO DE GNV EM 1.000 M 3 / DIA CONSUMO DE GASOLINA, DIESEL E ÁLCOOL HIDRATADO EM 1.000 LITROS / DIA * nd: DADO NÃO DISPONÍVEL HOLOS, Ano 20, outubro/2004 4

Os gráficos a seguir representam o consumo mensal de combustíveis por fontes móveis no estado durante o período de estudo. 5.000 4.750 4.500 4.250 4.000 3.750 3.500 3.250 3.000 2.750 2.500 2.250 2.000 1.750 1.500 1.250 1.000 4.879,40 3.855,60 2.470,70 1.173,00 1/03 2/03 3/03 4/03 5/03 6/03 7/03 8/03 9/03 10/03 11/03 12/03 1/04 2/04 3/04 4/04 5/04 6/04 GNV (1.000 m3/dia) ALCOOL HIDRATADO (m3/mês) 34.000 32.750 31.500 30.250 29.000 27.750 26.500 25.250 24.000 22.750 21.500 20.250 19.000 17.750 16.500 15.250 14.000 34.633,20 22.196,00 23.135,30 14.588,60 1/03 2/03 3/03 4/03 5/03 6/03 7/03 8/03 9/03 10/03 11/03 12/03 1/04 2/04 3/04 4/04 5/04 GASOLINA (m3/mês) DIESEL (m3/mês) Figura 2 Consumo Mensal de Combustíveis por Fontes Móveis no RN 01/2003 a 06/2004 A tabela a seguir apresenta o consumo total de combustíveis por fontes móveis no estado durante o período de estudo. Tabela 2 Consumo Total de Combustíveis GNV GASOLINA DIESEL ALCOOL HIDRATADO TOTAL 80.138.520,00 314.865,20 476.631,10 27.160,30 CONSUMO DE GNV EM 1.000 m 3 /mês, CONSUMO DE GASOLINA, DIESEL E ÁLCOOL HIDRATADO EM m 3 /mês HOLOS, Ano 20, outubro/2004 5

EMISSÕES DE CO 2 RELATIVO AO CONSUMO DE COMBUSTÍVEIS POR FONTES MÓVEIS NO RN - JANEIRO DE 2003 A JUNHO DE 2004 O método top-down descrito a seguir foi extraído da publicação Metodologia Simplificada para Cálculo das Emissões de Gases de Efeito Estufa de Frotas de Veículos no Brasil, elaborada em 2001 pelo Engenheiro Olimpio de Melo Álvares Jr. e o Físico Renato Ricardo Antonio Linke, ambos gerentes setoriais da unidade de Fontes Móveis da CETESB SP. CONSUMO DE ENERGIA Seguindo o método top-down, aconselhado pelo MME em 2003 no Balanço Energético Nacional BEN, para estimar as emissões de GEE, faz-se necessário a conversão de todas as medidas de consumo de combustíveis para uma unidade comum. Em nosso caso de estudo a unidade comum adotada foi o tera-joule (1 TJ = 10 12 J). Para conversão dos volumes consumidos dos combustíveis utiliza-se a seguinte equação: CC = CA x Fconv x 41,841 x 10-3 x Fcorr (eq. 01) Onde: CC = Consumo de energia em TJ; CA = Consumo de combustível (m 3 ); Fconv = Fator de conversão da unidade física de medida da quantidade de combustível para tonelada equivalente de petróleo (tep), com base no poder calorífico superior (PCS) do combustível. Para o ano de 2003, conforme o Anuário Estatístico da Agência Nacional do Petróleo (ANP), os valores dos Fconv são: Gás Natural Seco e Úmido = 0,9361 tep/10 3 m 3 ; Gasolina C e A = 0,75205 tep/m 3 ; Óleo Diesel = 0,88 1 18 tep/m 3 ; Álcool Hidratado = 0,5097 tep/m 3. Para o ano de 2004 não há referência bibliográfica, portanto adota-se o Fconv de 2003; 1 tep = 41,841 x 10-3 TJ (terá-joule = 1012 J); Fcorr = Fator de correção de PCS para PCI (poder calorífico inferior). No BEN, o conteúdo energético tem como base o PCS, mas para o IPCC, a conversão para unidade comum de energia deve ser feita pela multiplicação do consumo pelo PCI. Para combustíveis sólidos e líquidos o Fcorr = 0,95 e para combustíveis gasosos, o Fcorr = 0,90, conforme Ministério da Ciência e Tecnologia MCT. Portanto, aplicando a equação 01 ao consumo mensal de combustíveis por fontes móveis no estado durante o período de estudo tem-se o consumo total de energia em TJ, apresentado os resultados na tabela a seguir: Tabela 3 Consumo Total de Energia em tera-joule (TJ) GNV GASOLINA DIESEL ALCOOL HIDRATADO TOTAL 2.824,93284 9.412,32772 16.706,21753 550,26876 CONTEÚDO DE CARBONO A quantidade de carbono emitida na queima do combustível deve ser estimada conforme a equação a seguir: HOLOS, Ano 20, outubro/2004 6

QC = CC x Femiss x 10-3 (eq. 02) Onde: QC = Conteúdo de Carbono expresso em Giga grama de Carbono (1 GgC = 1.000 toneladas de Carbono); CC = Consumo de energia em TJ; Femiss = Fator de emissão de carbono em tonelada de carbono por terá-joule (tc/tj). Os valores do IPCC, 1996 e MCT, 1999 dos Femiss são: gasolina (18,9 tc/tj); álcool anidro (14,81 tc/tj); álcool hidratado (14,81 tc/tj); diesel (20,2 tc/tj); gás natural seco (15,3 tc/tj); 10-3 = tc/ggc. Portanto, aplicando a equação 02 ao consumo total de energia relativo ao consumo total de combustíveis por fontes móveis no estado durante o período de estudo tem-se o conteúdo total de carbono emitido em Giga grama de Carbono (GgC), apresentado os resultados na tabela a seguir: Tabela 4 Conteúdo Total de Carbono Emitido em Giga grama de Carbono (GgC) GNV GASOLINA DIESEL ALCOOL HIDRATADO TOTAL 43,22147251 177,8929939 337,465594 8,149480327 EMISSÕES REAIS DE DIÓXIDO DE CARBONO (CO 2 ) As emissões de dióxido de carbono podem ser calculadas a partir dos dados já obtidos anteriormente. Em função das massas moleculares do Carbono (C) e do Dióxido de Carbono (CO 2 ), 44 tco 2 corresponde a 12 tc. Portanto, ao aplicar a equação seguinte obtém-se a quantidade real de emissões de CO 2. ECO 2 = (QC x 44/12) x 1.000 (eq. 03) Onde: ECO 2 = Emissões reais de dióxido de carbono em tco 2 ; QC = Conteúdo de carbono em GgC; 44/12 = Conversão entre pesos moleculares; 1.000 = 1 GgCO 2 = 1.000 toneladas de Dióxido de Carbono Portanto, aplicando a equação 03 ao conteúdo total de carbono emitido obtém-se as emissões reais totais de dióxido de carbono, em tonelada de CO 2, geradas pelo consumo de combustíveis por fontes móveis no estado durante o período, demonstrado na tabela a seguir: Tabela 5 Emissões Totais de Dióxido de Carbono em tonelada (tco 2 ) GNV GASOLINA DIESEL ALCOOL HIDRATADO TOTAL 158.478,73253 652.274,31092 1.237.373,84470 29.881,42786 HOLOS, Ano 20, outubro/2004 7

CONSIDERAÇÕES FINAIS As alterações climáticas em nosso planeta são influenciadas por ações naturais, porém, o homem, sendo o ser dominante de seu ecossistema, pode contribuir significantemente caso não tome conhecimento sobre os possíveis impactos causados por suas atividades, e não reverta suas ações. O Rio Grande do Norte apresenta uma frota de veículos automotores particular extremamente elevada. Percebe-se que há evolução no uso de veículos bi-fuel, principalmente aqueles que utilizam GNV e álcool. Este crescimento é importante tanto para elevar as matrizes energéticas e diminuir a dependência de outras, como também para a diminuição das emissões de CO 2. Entretanto, muitas conversões de veículos ainda são feitas irregularmente, o que, ao invés de beneficiar o consumidor, contribui para a descredibilidade do mercado e o aumento de gases poluentes. A gasolina é o principal combustível utilizado por carros leves no estado, o que é preocupante, devido aos altos fatores de emissão de gases e á dependência de mercados externos que controlam grande parte da produção. Entretanto, o diesel, subsidiado pelo governo, impulsiona o mercado nacional, pois é utilizado no transporte de carga, não sendo diferente no estado. É notadamente o combustível mais poluente e economicamente custioso, se considerarmos todas as perdas ambientais, infraestruturais e governamentais de seu uso. Hoje passamos por uma crise neste setor, o que deverá fazer com que novas alternativas energéticas venham suprir, adequar e diminuir os gastos deste sistema. O transporte coletivo e público, principalmente nos grandes centros urbanos, poderá ser o ponto de partida para o desuso de diesel. Existem ônibus desenvolvidos pela PETROBRAS que utilizam gás natural como combustível, sendo um sistema de co-geração de energia fornecendo refrigeração interna. Cidades como São Paulo e Rio de Janeiro já utilizam estes ônibus em fase experimental. No Código do Meio Ambiente do Município de Natal, capítulo VI, que trata da poluição do ar, em seu artigo 78, dispõe que será prioritário o uso do gás natural por parte do sistema de transporte público. Portanto, ações conjuntas entre setores privados e públicos podem mudar o modal de locomoção no Rio Grande do Norte. As legislações vigentes no Brasil, instituídas pelo IBAMA através do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores - PROCONVE, não especificam a quantidade de CO 2 que pode ser emitida pela mecânica veicular em operação. Contudo, a quantificação deste gás é de interesse na análise de eficiência dos componentes específicos de controle de emissões nos motores, uma vez que estes têm a finalidade de favorecer as reações de oxi-redução, transformando as moléculas de CO e HC contidas nos gases de exaustão em CO 2 e H 2 O (reação de oxidação), bem como as moléculas de NO x em N 2 e O 2 (reação de redução). Reação de Oxidação 2CO +O 2 2CO 2 2HC +2O 2 2CO 2 +H 2 O Reação de Redução 2CO +2NO 2 2CO 2 +N 2 4HC + 10NO 4CO 2 + 2H 2 O +5N 2 HOLOS, Ano 20, outubro/2004 8

Os dados obtidos nesta pesquisa visam dar suporte cientifico na comprovação de que a utilização de combustíveis com fatores de emissão baixos, como o gás natural e o álcool hidratado, devem ser incrementados tanto em veículos particulares como no transporte coletivo urbano e o de carga, favorecendo os ganhos ambientais e financeiros. Apesar de não haver dados de emissões atmosféricas provenientes de outros setores e que sirvam de comparação aos aqui publicados, pode-se afirmar que as quantidades de GEE emitidas pelos transportes rodoviários no estado são elevadas, se comparadas a outros; muito devido ao alto índice de motorização e à crescente evolução exponencial da frota de veículos. Inventariar as emissões de GEE oriundas destas atividades fornece ferramentas para compreensão da evolução do efeito estufa, fenômeno natural que mantém o clima terrestre propício à manutenção da vida. O CO 2 vem sendo continuamente acrescentado à atmosfera em concentrações elevadas, o que poderá ser motivo de aumento da temperatura média global. Caso isso venha acontecer, mudanças vitais ocorrerão. BIBLIOGRÁFIA CONSULTADA AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO ANP. Anuário Estatístico da Agência Nacional do Petróleo 2003. Disponível em www.anp.com.br. Acesso em 22 Ago. 2004. ÁLVARES Jr., Olimpio de Melo; LACAVA, Carlos Ibsen Vianna; FERNANDES, Paulo Sérgio. Emissões Atmosféricas. Brasília: SENAI/DNI, 2002. 373 p.. LINKE, Renato Ricardo Antônio Metodologia Simplificada de Cálculo das Emissões de Gases do Efeito Estufa de Frotas de Veículos no Brasil CETESB. São Paulo, 2002. BRASIL. Ministério das Minas e Energia MME. Balanço Energético Nacional 2003 BEN. Disponível em www.mme.gov.br. Acesso em 22 Ago. 2004.. Ministério da Ciência e Tecnologia MCT. Disponível em www.mct.gov.br. Acesso em 22 Ago. 2004. BRASIL ENERGIA. Rio de Janeiro: Ed. Brasil Energia. 266 v a 285 v. Mensal. NATAL, Prefeitura Municipal do. Código do Meio Ambiente do Município de Natal. Lei nº 4.100/92. 24 p. IPCC (1996) - Good Practice Guidance and Uncertainty Management in National Greenhouse Inventories Revised 1996 IPCC Guidelines for National Greenhouse Gas - Intergovernmental Panel on Climate Change, United Nations Environment Program, the Organization for Economic Co-operation and Development and The International Energy Agency, London, United Kingdom.. Revised 1996 IPCC Guidelines for National Greenhouse Gas Inventories The Reference Manual Volume 3 Energy. Intergovernmental Panel on Climate Change, United Nations Environment Program, the Organization for Economic Co-operation and Development and The International Energy Agency, London, United Kingdom. HOLOS, Ano 20, outubro/2004 9

RIBEIRO, Suzana Kahn; de Mattos, Laura Bedeschi Rego A importância do Setor de Transporte Rodoviário no Aquecimento Global O Caso da Cidade do Rio de Janeiro. COPPE. Rio de Janeiro, 2001. SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM INDUSTRIAL SENAI. Manual Técnico de Inspeção Veicular. São Paulo, 2001. 227 p. HOLOS, Ano 20, outubro/2004 10