PROGRAMA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E MESTRADO PICME

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Transcrição:

22 a 26 de outubro de 2012 PROGRAMA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E MESTRADO PICME

Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2012) 9627-9631 POLINÔMIOS CICLOTÔMICOS E TEOREMA DE WEDDERBURN Matheus Dantas e Lima (mathmatematica@gmail.com) Orientadora: Prof a. Dr a. Shirlei Serconek (shirlei@mat.ufg.br) 1. INTRODUÇÃO Instituto de Matemática e Estatística Este trabalho apresenta uma breve noção de polinômios ciclotômicos e o Teorema de Wedderburn, um importante resultado de classificação de anéis. 2. DEFINIÇÕES E RESULTADOS PRELIMINARES Definição 2.1 Seja K um anel de divisão e F um corpo, F K. A dimensão de K como um F-espaço vetorial é o grau de K sobre F e será denotada por [K : F]. Lema 2.1 Seja F um corpo finito com q elementos e suponha que F D, onde D é um anel de divisão finito. Então D tem q n elementos, onde n =[D : F]. Lema 2.2 Seja D um anel de divisão e sejam Z = {d D;dz = zd, z D} e C D (a)={d D;ad = da}. Então, Z é corpo e C D (a) é anel de divisão. Definição 2.2 O corpo Z do lema 2.2 é dito o centro de D. O anel de divisão C D (a) do lema 2.2 é dito o centralizador de a em D. Definição 2.3 Seja G um grupo. A cardinalidade de G será chamada a ordem de G e será denotada por G. Teorema de Lagrange Sejam G um grupo finito e H um subgrupo de G. Então a ordem de H divide a ordem de G. Equação das classes de conjugação Seja G um grupo finito e Z(G) seu centro. Então, G = Z(G) + x i G x i / Z(G) C xi, onde os x i são representantes de classes de conjugação distintas. 9627

Teorema 2.1 Sejam G um grupo e C a uma classe de conjugação de G com representante a. Então, C a =[G : C G (a)], onde C G (a) é o centralizador de a no grupo G. Teorema 2.2 Seja F um corpo e G um subgrupo finito do grupo multiplicativo dos elementos não nulos de F. Então G é um grupo cíclico. Lema 2.3 Seja q um número inteiro positivo e suponha que q n 1 divida q m 1, onde m e n são inteiros positivos. Então n divide m. 3. POLINÔMIOS CICLOTÔMICOS Considere o polinômio p(x)=x n 1 como um elemento de C[x], onde C denota o conjunto dos números complexos. Em C[x], x n 1 = (x λ), onde λ éumnúmero complexo que satisfaz o polinômio p(x). Definição 3.1 Um número complexo ζ é dito raiz n-ésima primitiva da unidade se ζ n = 1 mas ζ m 1, para todo m, m < n (m,n Z +). Os números complexos satisfazendo o polinômio p(x)=x n 1 formam um subgrupo finito, sob a multiplicação, do grupo C ; logo, pelo Teorema 2.2, esse subgrupo écíclico. Definição 3.2 Seja U n o conjunto de todas as n-ésimas raízes primitivas da unidade. O polinômio n φ n (x)= (x ζ)= (x ζ s ) ζ U n s=1 é chamado o n-ésimo polinômio ciclotômico. Da definição acima, temos que Exemplos φ 1 (x)=x 1 φ n (x)= x n 1 φ d (x) d n, d<n 9628

φ 2 (x)= x2 1 x 1 = x + 1 φ 3 (x)= x3 1 x 1 = x2 + x + 1 φ 6 (x)= x 6 1 (x 1)(x + 2)(x 2 + x + 1) = x2 x + 1 Reagrupando os termos de forma conveniente no polinômio p(x) obtemos x n 1 = φ d (x) d n Vamos agora expor mais dois resultados necessários à demonstração do Teorema de Wedderburn. Teorema 3.1 Para cada n 1, φ n (x) émônico, com coeficientes inteiros. Demonstração Por indução sobre n. Para n = 1, φ 1 (x) =x 1, que émônico, com coeficientes inteiros. Suponha agora que o teorema vale para n = r 1. Então φ n (x) émônico para todo r, r n,r n. Daí temos que: x n 1 = φ d (x)=φ n (x)g(x) d n onde g(x) é mônico e com coeficientes inteiros, pela hipótese de indução. Comparando os coeficientes, concluímos que φ n (x) émônico e com coeficientes inteiros, encerrando a demonstração. Teorema 3.2 Se d n, d n, então φ n (x) x n 1 x d 1. 4. TEOREMA DE WEDDERBURN Pequeno Teorema de Wedderburn Todo anel de divisão finito é um corpo. Demonstração: Seja D um anel de divisão finito e seja Z seu centro (pelo Lema 2.2, Z é corpo). Suponhamos que Z = q e que [D : Z] =n. Então, pelo Lema 2.1, D = q n. Seja C D (a) o centralizador de a em D. Então, C D (a) é um anel de divisão que contém Z e, portanto, C D (a) é um Z-espaço vetorial. Assim, pelo Lema 2.1, C D (a) = q m(a), onde m(a)=[c D (a) : Z]. Afirmamos que m(a) divide n. Para ver isso, seja C D (a), o conjunto dos elementos não-nulos de C D (a). Como C D (a) é anel de divisão, C D (a) é subgrupo de D e, pelo 3 9629

Teorema de Lagrange, C D (a) divide D, isto é, q m(a) 1 divide q n 1. Então, pelo Lema 2.3, m(a) divide n. Consideremos agora a equação de classes do grupo D. O centro de D é Z, donde Z = q 1. Para cada elemento a de D, C D (a) = q m(a) 1, para algum m(a) Z. Pelo Teorema 2.1, C a =[D : C D (a) ]= qn 1 q m(a) 1, onde C a é a classe de conjugação de a em D. Desse modo, a equação de classes do grupo D é q n 1 = q 1 + m(a) n m(a) n q n 1 q m(a) 1 Seja agora φ n (x) o n-ésimo polinômio ciclotômico. Pelo Teorema 3.1, φ n (q) é inteiro e, pelo q n 1 Teorema 3.2, φ n (q) divide q m(a), para cada m(a), onde m(a) n e m(a) n. Temos ainda 1 que φ n (q) divide q n 1 pois φ n (x) divide x n 1. Sendo assim, φ n (q) divide q 1 (pela equação das classes de conjugação). Por definição, φ n (x)= n (x ζ s ) s=1 onde ζ é uma n-ésima raiz da unidade. Então, temos que φ n (q) = n q ζ s n (q 1) q 1 s=1 s=1 Mas φ n (q) divide q 1 e, então, φ n (q) =q 1. Portanto, n = 1eD = Z, encerrando a demonstração. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] HERSTEIN, I. N. Topics in Algebra. Chicago: University of Chicago, 1975. [2] LAM, T. Y. A first course in non-commutative rings. New York: Springer-Verlag, 1991. 9630

[3] LIDL,RUDOLF AND NIEDERREITER, HARALD Finite fields. Cambridge: Cambridge University Press, 1997. 9631