Normas Internacionais de Contabilidade Processo de harmonização



Documentos relacionados
DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS COMBINADAS

ANEXO ÀS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS DEFIR ANGOLA

- Reforma do Tesouro Público

Impostos Diferidos e o SNC

Efeito do Sistema de Normalização Contabilística

Manual do Revisor Oficial de Contas. Directriz de Revisão/Auditoria 701

Introdução à Contabilidade 2014/2015. Financeira

ANEXO AO BALANÇO E À DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS Anexo ao Balanço e à Demonstração de Resultados

CAPITAL DE RISCO EM MUDANÇA

O desenvolvimento da Contabilidade está naturalmente ligado ao desenvolvimento económico

FNABA Federação Nacional de Associações de Business Angels. Algarve Business Angels Associação de Business Angels do Algarve

III COLÓQUIO INTERNACIONAL SOBRE SEGUROS E FUNDOS DE PENSÕES. Sessão de Abertura

NBC TSP 10 - Contabilidade e Evidenciação em Economia Altamente Inflacionária

NORMA CONTABILÍSTICA E DE RELATO FINANCEIRO 15 INVESTIMENTOS EM SUBSIDIÁRIAS E CONSOLIDAÇÃO

Apresentação ao mercado do processo de adopção plena das IAS/IFRS

Paula Gomes dos Santos 1

NORMA CONTABILISTICA E DE RELATO FINANCEIRO 14 CONCENTRAÇÕES DE ACTIVIDADES EMPRESARIAIS. Objectivo ( 1) 1 Âmbito ( 2 a 8) 2

Contabilização e divulgação das despesas de I & D pelas empresas. Domingos Cravo Comissão Executiva da Comissão de Normalização Contabilística

Normas Contabilísticas e de Relato Financeiro NCRF

NCRF 3 Adopção pela primeira vez das normas contabilísticas e de relato financeiro (NCRF)

newsletter Nº 82 NOVEMBRO / 2013

NOVAS REGRAS SOBRE CONTAS ANUAIS E CONSOLIDADAS

CONTABILIDADE. Docente: José Eduardo Gonçalves. Elementos Patrimoniais


Definições (parágrafo 9) 9 Os termos que se seguem são usados nesta Norma com os significados

Trabalho de Grupo. Contabilidade Geral 1. Ano lectivo 2007/2008 1º Semestre

Em ambos os casos estão em causa, sobretudo, os modos de relacionamento das empresas com os seus múltiplos stakeholders.

Fundo de Investimento Imobiliário Aberto. ES LOGISTICA (CMVM nº 1024)

PROMOTORES: PARCEIROS/CONSULTORES: FUNCIONAMENTO RESUMO

Manual do Revisor Oficial de Contas. Projecto de Directriz de Revisão/Auditoria 840

Contabilidade Financeira II 2008/2009

RESOLUÇÃO CFC Nº /09. O CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, no exercício de suas atribuições legais e regimentais,

O MEP nos Investimentos em Associadas e Subsidiárias

CURSO SECTOR NÃO LUCRATIVO REGIME FISCAL E CONTABILÍSTICO (ESFL)

O seu parceiro de negócios. APRESENTAÇÃO AGEMPER LISBOA XX de junho de

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO: SISTEMA DE NORMALIZAÇÃO CONTABILÍSTICA (SNC) 5ª Edição

FEUP RELATÓRIO DE CONTAS BALANÇO

NP EN ISO 9001:2000 LISTA DE COMPROVAÇÃO

Contabilidade Normas Internacionais Futura Normalização Contabilística. 1 de Março de 2007

NCRF 2 Demonstração de fluxos de caixa

PROJECTO DE CARTA-CIRCULAR SOBRE POLÍTICA DE REMUNERAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS

PASSAPORTE PARA ANGOLA


DC20 - Demonstração dos Resultados por Funções (1) Directriz Contabilística nº 20

A Supervisão do Sistema Financeiro

GOVERNO REGIONAL DOS AÇORES

CNC CNC COMISSÃO DE NORMALIZAÇÃO CONTABILÍSTICA CONTABILIZAÇÃO DOS EFEITOS DA INTRODUÇÃO DO EURO DIRECTRIZ CONTABILÍSTICA Nº21 1. INTRODUÇÃO DO EURO

CURSO DE GESTÃO DE VENDAS (15 horas)

REACH A legislação mais ambiciosa do mundo em matéria de produtos químicos

Conselho Nacional de Supervisores Financeiros. Better regulation do sector financeiro

C N INTERPRETAÇÃO TÉCNICA Nº 2. Assunto: RESERVA FISCAL PARA INVESTIMENTO Cumprimento das obrigações contabilísticas I. QUESTÃO

LICENCIATURA EM ECONOMIA CONTABILIDADE II. Contabilidade II. Resultados. O Relatório de Gestão e a. Certificação Legal de Contas

Anexo ao balanço e à Demonstração de Resultados

Informação complementar ao Relatório de Governo das Sociedades referente ao Exercício de 2007

Índice Descrição Valor

! " # $%&' (") *+)( *+)* , " # - %. " / 012 $ )"* *+)( 012+"4 "# *+)( 012 5"5 " 6! ! " '.! " 7 . % "' *+)( $%, % " ## *++* -. - ! $ ." )+#.

IFRS A nova realidade de fazer Contabilidade no Brasil

ASSUNTO: Plano de Contas (Caixa Central e Caixas de Crédito Agrícola Mútuo)

Manual do Revisor Oficial de Contas. Directriz de Revisão/Auditoria 300 ÍNDICE

Identificação da empresa

DC24 - Empreendimentos Conjuntos (1) Directriz Contabilística nº 24

Nota de abertura - Fórum de Economia e Finanças. Exmo. Senhor Amilcar Silva Presidente da Associação Angolana de Banco,

Análise Financeira. Universidade do Porto Faculdade de Engenharia Mestrado Integrado em Engenharia Electrotécnica e de Computadores Economia e Gestão

Programas das Unidades Curriculares Mestrado em Contabilidade

POC 13 - NORMAS DE CONSOLIDAÇÃO DE CONTAS

Princípios de Bom Governo

CONTABILIDADE ANALÍTICA

1. Os AFT devem ser contabilisticamente mensurados no reconhecimento inicial pelo seu custo.

Software Livre Expectativas e realidades

Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa Ano Lectivo 2013/2014 1º Semestre. 28 de NOVEMBRO de 2013 Duração da prova: 60 minutos

TERMOS DE REFERÊNCIA PARA O POSTO DE CONSELHEIRO EM GESTÃO DE FINANÇAS PUBLICAS

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO: NORMALIZAÇÃO CONTABILÍSTICA NO SECTOR NÃO LUCRATIVO

Finance. Estudos de Remuneração 2012

1. Objectivos do Observatório da Inclusão Financeira

Como preparar um orçamento da saúde que o cidadão-contribuinte entenda?

SISTEMA DE APOIO AO FINANCIAMENTO E PARTILHA DE RISCO DA INOVAÇÃO (SAFPRI)

Fundação Denise Lester

DOCUMENTOS DE GESTÃO FINANCEIRA Realizado por GESTLUZ - Consultores de Gestão

Portaria n.º 104/2011, de 14 de Março, n.º 51 - Série I

SERVIÇOS MUNICIPALIZADOS DE ÁGUA E SANEAMENTO DE VISEU Rua Conselheiro Afonso de Melo VISEU N.º de Identificação Fiscal

IMPARIDADE DE ACTIVOS FINANCEIROS

Impacto fiscal das normas IAS/IFRS Especial ênfase no sector não financeiro e não segurador. Domingos Cravo GETOC ISCA UA Out2007

SUSTENTABILIDADE FINANCEIRA, PRESTAÇÃO DE CONTAS E RESPONSABILIDADE

Manual do Revisor Oficial de Contas IAS 7 (1) NORMA INTERNACIONAL DE CONTABILIDADE IAS 7 (REVISTA EM 1992) Demonstrações de Fluxos de Caixa

ORA newsletter. Resumo Fiscal/Legal Agosto de Contratos de Construção Enquadramento Contabilístico e Fiscal 2 Revisores e Auditores 7

1. O Fluxo de Caixa para á Análise Financeira

3. RELATÓRIO DE GESTÃO ANÁLISE ECONÓMICA E FINANCEIRA

INOVAÇÃO PORTUGAL PROPOSTA DE PROGRAMA

REGULAMENTO DA COMISSÃO DE AUDITORIA DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA IMPRESA-SOCIEDADE GESTORA DE PARTICIPAÇÕES SOCIAIS, S.A.

ANEXOS ÀS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS

ANEXO AO BALANÇO E À DEMONSTRAÇÃO DOS RESULTADOS EM

Transcrição:

02 Dossier Normas Internacionais de Contabilidade Processo de harmonização

Opinião Francisco Manuel Banha A globalização na contabilidade No dia 1 de Janeiro de 2005 assistimos àquela que tinha vindo a ser considerada por alguns como a maior revolução contabilística operada no espaço de uma geração, com a entrada em vigor de um conjunto de normas contabilísticas que as empresas cotadas, que apresentavam contas consolidadas, tiveram de passar a aplicar para efeitos da elaboração das respectivas demonstrações financeiras. Francisco Manuel Banha Fundador e Presidente do Conselho de Administração da Gesbanha, Gesventure, Gesentrepreneur, da Associação Portuguesa de Investidores em Start-Up s (Business Angels Club) e Administrador de várias start-ups. Presidente da Federação Nacional das Associações de Business Angels, exerce, desde 1986, funções de Assessor/Consultor nas áreas administrativas, contabilísticas, fiscais, económicas e financeiras de diversas empresas nacionais e multinacionais; Consultor de Capital de Risco, Corporate Finance, Empreendedorismo, Estratégia Empresarial, Tecnologias de Informação, Capital de Conhecimento, Internet, Agrobusiness, Contabilidade e Fiscalidade. Mestre em Gestão de Empresas e MBA em Estratégia Empresarial pelo ISEG, é licenciado em Organização e Gestão de Empresas pelo ISNP. TOC desde 1986 e formador credenciado é ainda autor de diversos livros, publicando regularmente artigos de opinião em vários meios de comunicação social nacionais. Mais recentemente, no passado dia 16 de Abril, foi apresentado em Audição Pública o Novo Sistema de Normalização Contabilística (SNC) que visa substituir o actual Plano Oficial de Contas (POC) e legislação complementar e que a curto prazo será de aplicação obrigatória em todas as empresas. O documento apresentado encontra-se agora, por um período de 60 dias, em audição pública, facto que configura um período de excepcional relevância para o seu debate. A entrada em vigor deste normativo surgiu num contexto europeu marcado pelo prolongamento da recessão, pronunciando-se, por isso, como um ambiente propício à sua implementação, pois os ciclos económicos têm- -nos demonstrado que os mercados prósperos são maus para as reformas. Assim, este conjunto de normas contabilísticas além de assegurar um elevado grau de transparência, atendendo à utilização de uma linguagem comum compreensível por todos os utilizadores de cada país, não é mais do que o reflexo da crescente globalização económica e dos mercados financeiros, que impõe às empresas a necessidade de apresentarem informação mais transparente e mais credível, disponibilizada de uma forma célere e atempada. Um exemplo disso é a legislação publicada este ano pela CMVM referente à avaliação dos activos dos fundos de Capital de Risco que contempla já o método do justo valor, a par com o do valor conservador, numa medida que influencia centenas de empresas que, não sendo na sua vasta maioria cotadas, têm de conviver com os novos padrões de avaliação. A ocorrência dos pressupostos acima mencionados implica que as empresas não assumam apenas a necessidade de mudar as políticas de contabilidade dos seus países com os padrões

27 constantes das Normas Internacionais de Informação Financeira (NIIF). É preciso ir mais longe! As empresas têm, necessariamente, que ajustar as suas estratégias de negócio e os seus indicadores, bem como repensar as suas medidas de comunicação e de performance com o mercado de capitais. E, nessa medida, este processo de transição pode ser mesmo considerado como uma verdadeira revolução cultural, ao permitir que as empresas e os seus gestores passem a ser avaliados cada vez mais pelo mercado, uma vez que: o tempo de reacção dos investidores será cada vez mais curto; o tempo e os custos com o reporting financeiro mais reduzidos; os custos com a emissão de capital menores; a linguagem interna dos Grupos mais harmonizada e a qualidade da informação para a Gestão necessariamente melhorada. Transição: mudança constrangedora ou oportunidade de conquista? Este cenário de transição para um novo método de reporting trouxe implicações relevantes, bem como obrigações acrescidas para as empresas como sejam a divulgação geral nas contas mais abrangente e rigorosa ou certos critérios de avaliação, como o do justo valor, bastante mais complexo de se aplicar do que o custo histórico chegando por isso, em certos casos, a ser mesmo encarado como mais um constrangimento regulamentar e uma mudança difícil para as empresas. É certo que na Europa continental predomina a posição tradicional de que a contabilidade é feita por razões tributárias ou tendo os credores como principais destinatários, não sendo, por isso, especialmente orientada para os accionistas e investidores, como sucede no universo empresarial anglosaxónico. Além disso, a Europa não possui uma tradição profunda no estabelecimento de normas, podendo uma das implicações das NIIF traduzir- -se na já referida mudança cultural. No entanto, a implementação destas não deixa de representar uma oportunidade única para as empresas europeias conquistarem terreno perdido na procura de maior credibilidade das suas demonstrações financeiras. As novas normas são, porém, altamente inspiradas das Normas Internacionais de Contabilidade (NIC), passando a substituir o cariz jurídico do modelo actual para um modelo contabilístico de cariz económico. Esta alteração é evidente logo nas definições de activo e passivo, sempre fazendo referência a recursos ou obrigações económicas, e a benefícios económicos futuros raiz económica da definição. O que se afigura também mais relevante, ainda, são os critérios de mensuração em que se adopta abundantemente o critério de justo valor, em que os activos e os passivos, mediante determinadas circunstâncias, podem ser mensurados pelo justo valor em detrimento do custo histórico. No caso concreto da estrutura contabilística nacional, as NIIF embora venham introduzir alterações ao enquadramento vigente, na sua globalidade, não parecem anunciar alterações profundas de procedimentos. Efectivamente, as normas de contabilidade por tuguesas, já acolhem muito do con teúdo destas normas, na medida em que evidenciam um reconhecimento das transacções baseadas em normas que tentam conciliar a realidade económica e financeira com o cálculo dos impostos a pagar. No entanto, e considerando que as NIIF colocarão o enfoque na determinação da posição económica e financeira da empresa liberta do espartilho fiscal, será, então, necessário que a sua aplicação seja acompanhada pela separação clara da informação para efeitos de determinação do imposto a pagar da informação apresentada aos restantes stakeholders da organização: empregados, forne cedores, credores comerciais, clientes e investidores. Muita reflexão tem vindo a ser feita sobre esta matéria, e em particular sobre a melhor forma de alinhar as práticas contabilísticas nacionais com os novos procedimentos contabilísticos internacionais. Impacto na actividade das organizações Reportando esta realidade ao tecido empresarial português, significativamente marcado por PME, importará agora ponderar o impacto desta nova realidade contabilística que nos permite captar uma fotografia da situação presente da empresa em vez de captar uma imagem do passado. Considero que a melhor forma de analisar esta questão passa por proporcionar uma análise prática de algumas das alterações técnicas que ocorreram em 2005. Analisemos, então, alguns exemplos comparativos:

1. Contabilização de grandes reparações no valor de 250.000 Euros, num edifício valorizado, na altura da sua aquisição, em 1.500.000 Euros (D) 250.000 - Imobilizado (C) 250.000 Fornecedores Valor da reparação deve ser capitalizado e posteriormente amortizado. (D) 250.000 Custos do Exercício (C) 250.000 Contas a Pagar Não existindo benefícios económicos futuros associados ao activo o custo será do exercício. 2. Despesas de escritura e registos, 4000, relacionados com alterações dos estatutos sociais. (D) 4.000 Imobilizado Incorpóreo (C) 4.000 - Disponibilidades Os custos em causa são capitaliza dos (D) 4.000 Custos do Exercício (C) 4.000 Disponibilidades Devem considerar-se como custos por não se prever virem a gerar benefícios económicos futuros. 3. Despesas de investigação e pesquisa, 50.000, para um novo produto do qual não se conhece ainda o potencial de sucesso. (D) 50.000 Imobilizado Incorpóreo (C) 50.000 Consultores/Assessores Capitalização dos custos com pesquisa. (D) 50.000 Custos do Exercício (C) 50.000 Contas a pagar Não permite a capitalização dos custos relacionados com a pesquisa. 4. Imóvel está escriturado por 100.000 mas estudos de avaliação bem sustentados mencionam que o seu valor actual é de 280.000 euros. (D) 180.000 Investimentos em Imóveis (C) 180.000 Reserva de Reavaliação A reavaliação é permitida (DC 16) mas o seu reflexo é conta de situação líquida. (D) 180.000 Investimento em Imóveis. (C) 180.000 Proveitos Aplicação do modelo do justo valor com o excedente contabilizado em resultados. 5. Diferenças de câmbio favoráveis, entre valor da factura e o pagamento, no valor de 800. (D) 800 Fornecedores (C) 800 Proveitos Financeiros Registo efectuado nos resultados financeiros. (D) 800 Contas a pagar (C) 800 Stocks Registo incide sobre o valor dos stocks. 6. Correcção do valor contabilístico, líquido de amortizações, de um bem com o valor de 15.000 cujo valor de uso havia sido determinado em 10.000. (IMPARIDADE) Procedimento Actual(POC) (D) 5.000 Custos perdas extraordinária (C) 5.000 Amortizações Acumuladas Estão previstas amortizações extraordinárias. (D) 5.000 Custos do exercício (C) 5.000 Imobilizado Devem ser registadas as perdas por imparidade. (Quando na data do balanço um activo se encontra escriturado por um valor superior ao preço de venda líquido ou ao seu valor de uso). 7. Empresa realiza uma Promoção: Satisfação garantida ou reembolso do seu dinheiro. Procedimento Actual O custo com as devoluções de clientes é reconhecido à medida em que estas se verificam. Criação de uma estimativa de custo para as garantias reais a prestar e para os produtos devolvidos. O custo será reconhecido ao longo das vendas. 8. Empresa possui casos em Contencioso. Procedimento Actual Provisão efectuada apenas em casos de contencioso já em tribunal. Criação de uma provisão pela criação de um passivo contingente no caso de ser previsível saída de dinheiro face ao mesmo;

29 9. Investimentos Financeiros de curto prazo. Débito de 1.000 em títulos Negociáveis e de 50 em Custos Financeiros por crédito em Bancos (1050 ); Débito de 1.050 em Instrumentos Financeiros por Crédito em Caixa de 1.050 ; Em 31/Dez é apurada a valorização da acção com débito em Instrumentos Financeiros de 50 por crédito nos Ganhos por aumentos de justo valor. Importa referir que as empresas não cotadas, não tendo sido directamente afectadas pela entrada em vigor das NIC em 2005 terão em breve que abandonar os seus princípios de contabilidade actualmente aceites. Porém, se pensarmos que não é a dimensão das empresas que determina a sua responsabilidade social e que a adopção das NIIF proporciona consistência à contabilidade e contribui inevitavelmente para a modernização das empresas, tal poderá reflectir algum sentido prático. A par desta realidade, obviamente que os desafios da conversão para as empresas serão variáveis não somente de país para país, mas também entre os diversos sectores. Certo é que, independentemente do seu sector ou país, todas as empresas têm que entender que a transição para as NIIF vai muito mais além de um mero exercício técnico, na medida em que um projecto bem sucedido exigirá seguramente alterações empresariais profundas e que se estendem muito além dos departamentos financeiros e tesouraria. Tal implica um forte investimento ao nível da formação dos principais quadros, dos sistemas e infra-estruturas de TI e de todos os sectores operativos das empresas, os quais terão que estar muito mais preparados, designadamente para divulgar mais informação do que anteriormente acontecia. Isto porque as empresas além de ter que passar a estar conformes com as normas, terão também que explicar os procedimentos utilizados para fazê-lo. Para terminar, não poderei deixar de lançar uma consideração contextual sobre esta nova dinâmica que se avizinha. Para tal, e por considerar oportuno parafrasear o Professor Rogério Fernandes Ferreira, mentor que muito prezo, diria que: O mundo alargou-se e a regulação passou a ser-nos imposta de fora. As áreas de conhecimento em que a contabilidade se centra aparecem sujeitas a directivas e normas supranacionais. No entanto, partilho inteiramente do seu entendimento quando afirma que: as mudanças devem fazer-se em sentido útil, de progresso e de melhoria do existente. Por isso, acredito, pois, que a nível nacional, à semelhança da generalidade dos países da Europa continental, nos primeiros períodos de implementação, irá ocorrer alguma falta de consistência ao nível da aplicação das normas no mercado, tendo em consideração que as divergências suscitadas na interpretação destas irão reflectir-se em muitos aspectos, mesmo tendo em conta o desbravamento realizado pelas organizações que já as utilizam desde 2005. Esta afigurou-se seguramente uma das ameaças mais sérias a todo o processo de transferência das empresas cotadas para as NIIF a incapacidade do mercado compreender a informação que recebe. A este factualismo não será estranha a instabilidade e a indefinição subjacente ao conteúdo das novas normas contabilísticas. Ora, as consequências desta indefinição numa reforma contabilística desta dimensão poderão ser profundas. Significa assim que esta reforma, apesar de ser um passo importante e absolutamente necessário na obtenção da homogeneização contabilística global, temse revelado um processo complexo e difícil, e nessa medida, apenas a longo prazo iremos obter contas transparentes e globalmente comparáveis, e consequentemente, um acesso mais fácil aos mercados de capitais. Às empresas competirá aprender as regras globais do jogo e adaptarem-se progressivamente à mudança. Afinal, em qualquer época da História e em qualquer lugar do Mundo, apenas as empresas capazes de se adaptar constantemente à evolução da técnica e do mercado conseguiram sobreviver. Assim, neste processo de transição contabilística a capacidade de adaptação das empresas é determinante, pois será a capacidade da empresa para se adaptar no momento apropriado e com as soluções adequadas que determinarão o seu êxito ou o seu fracasso!