UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

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Transcrição:

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU Responsabilidade Trabalhista nos Contratos de Terceirização AUTOR GABRIEL OLIVEIRA DE SOUZA ORIENTADOR PROF. CARLOS AFONSO LEITE LEOCADIO RIO DE JANEIRO 2010

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU 2 Responsabilidade Trabalhista nos Contratos de Terceirização Monografia apresentada à Universidade Candido Mendes Instituto a Vez do Mestre, como requisito parcial para a conclusão do curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Direito e Processo do trabalho Por: Gabriel Oliveira de Souza.

3 Agradeço a todos que de forma direta ou indireta me ajudaram na elaboração deste trabalho. Agradeço à minha irmã Beatriz pela ajuda; agradeço à minha mãe Tânia e ao meu pai Claudio que construíram o caminho para que eu chegasse até aqui.

4 Dedico este trabalho à minha mãe e ao meu pai, por terem sido os grandes responsáveis pela minha chegada até aqui.

5 RESUMO O presente trabalho acadêmico tem como objetivo desenvolvimento do tema a responsabilidade trabalhista nos contratos de terceirização, o qual primeiramente foi discorrido sobre seu surgimento como fato social. De toda sorte, foi analisada sua regulamentação pela legislação, passando pelo Código Civil, pela Consolidação das Leis Trabalhistas, bem como as legislações pertinentes ao tema, na qual inclui o decreto Lei 200/67, considerado como ponto de partida da terceirização no âmbito da administração pública, a Lei 6.019/74 regulamentadora da mão-de-obra temporária e a Lei 7.102/83 que decorreu da necessidade de aperfeiçoar e melhorar os meios de combates a criminalidade. Sobre as jurisprudências que envolvem o tema foi discorrida: a súmula 257 do TST que expressa a impossibilidade de vigilante de estabelecimento bancário contratado por empresa interposta ser considerado empregado do banco, analisado também foi a súmula 256 do TST, cuja redação foi objeto de severas dúvidas, gerando sua revisão pela súmula 331 do TST, que discorre sobre contrato de prestação de serviços-legalidade. Foi ressaltado as responsabilidades trabalhistas nas terceirizações lícitas, pois em que pese tais disposições, não estão isentas de responsabilidade pelos créditos trabalhistas as empresas contratantes dos serviços, em razão das regras relativas à responsabilidade civil, e dos princípios gerais acolhidos pela legislação. Segundo os quais, aquele que atua com culpa in vigilendo, eligendo ou contraendo fica sujeito à reparação do dano com seu bem. Logo, o tomador de serviço se torna responsável subsidiariamente, sendo desta forma, aplicado a súmula 331 do TST. Nas terceirizações ilícitas feitas por entes privados é declarada a nulidade do contrato com o prestador de serviços e declarado o vínculo com o tomador de serviços, tornando assim tanto o prestador de serviço como o tomador responsável solidariamente pelos encargos trabalhistas. Nos casos de terceirização ilícita dos entes públicos, ao contrário do que acontece em relação aos entes privados que se reconhece o vínculo com o tomador de serviço, não é reconhecimento o vinculo com a empregadora, mas a mesma responde solidariamente pelos encargos trabalhistas que é devido ao trabalhador.

METODOLOGIA 6 O Trabalho de pesquisa desenvolveu-se através do método teórico, por meio de estudos bibliográficos, artigos publicados sobre o tema, bem como sumulas e jurisprudências.

SUMÁRIO 7 INTRODUÇÃO... 08 CAPÍTULO I - TERCEIRIZAÇÃO E O CONTRATO DE TRABALHO... 11 CAPÍTULO II - TERCEIRIZAÇÃO E SUA REGULAMENTAÇÃO PELA LEGISLAÇÃO......18 2.1 TERCEIRIZAÇÃO E O CÓDIGO CIVIL... 18 2.2 TERCEIRIZAÇÃO E A CLT... 19 2.3 TERCEIRIZAÇÃO E O DECRETO LEI 200/67... 21 2.4 TERCEIRIZAÇÃO E A LEI 6.019/74... 22 2.5 TERCEIRIZAÇÃO E A LEI 7.102/83... 24 CAPÍTULO III - TERCEIRIZAÇÃO E A JURISPRUDÊNCIA... 26 3.1 TERCEIRIZAÇÃO E A SÚMULA 257 DO TST... 26 3.2 TERCEIRIZAÇÃO E A SÚMULA 256 DO TST... 28 3.3 TERCEIRIZAÇÃO E A SÚMULA 331 DO TST... 31 CAPÍTULO IV - RESPONSABILIDADE TRABALHISTA... 35 4.1 RESPONSABILIDADE TRABALHISTA DAS TERCEIRIZAÇÕES LÍCITAS... 35 4.2 RESPONSABILIDADE TRABALHISTA DOS ENTES PRIVADOS NA TERCEIRIZAÇÃO ILÍCITA... 38 4.3 RESPONSABILIDADE TRABALHISTA DOS ENTES PÚBLICOS NA TERCEIRIZAÇÃO ÍLICITA... 43 CONCLUSÃO... 49 REFERÊNCIAS... 51

INTRODUÇÃO 8 O presente trabalho tem como tema a Responsabilidade Trabalhista nos Contratos de Terceirização, fenômeno entendido como forma de subcontratação de mão-de-obra. Esse procedimento não é novo, tanto assim, que o artigo 455 da Consolidação das Leis do Trabalho, já estabelecia a responsabilidade do empreiteiro principal pelas obrigações derivadas dos contratos de trabalho dos empregados do sub-empreiteiro, nos casos de inadimplemento. O fenômeno da terceirização vem se desenvolvendo com o passar dos anos, e sua utilização vem sendo praticada de forma ilegal. Muitas das dificuldades encontradas atualmente pelos operadores do Direito do Trabalho se fundaram na incapacidade de compreenderem a nova realidade que este ramo jurídico visa regular. Buscam o uso de tipos jurídicos aos quais os fatos já não mais se subsumem, sendo certo, desta forma que o estudo mais especializado desta questão contribui em muito para melhor entender o fenômeno perante o Direito. A contribuição da pesquisa para a sociedade reside na forma de que a terceirização, enquanto modelo de organização do trabalho num regime capitalista de produção, é fenômeno atual e irreversível, e sua utilização, que já é grande, vem certamente a aumentando, no Brasil e no mundo. Isso porque, muito do que se diz acerca da globalização, relaciona, em parte, com o fenômeno de se delegar a terceiros a realização de atividades que eram realizadas pela própria empresa terceirizante. O presente trabalho de pesquisa justifica-se para contribuição ao operador de direito, haja vista que proporciona conhecimento das responsabilidades trabalhistas nos contratos, bem como, tem o objetivo de dirimir dúvidas e esclarecer este fenômeno de forma explicativa. Diante disso, apresentar possíveis soluções no mundo jurídico. É justamente em decorrência do aumento da utilização da mão-de-obra terceirizada que se torna importante o estudo da responsabilidade de cada um daqueles que se beneficia direta ou indiretamente da prestação dos serviços do

9 trabalhador, promovendo a fixação da responsabilidade do usuário da mão-deobra e ou prestador de serviço, nas modalidades de terceirização lícita e ilícita. Daí surgiu a proposta do trabalho de elucidar dúvidas acerca da responsabilidade trabalhista nos contratos de terceirização, visto que o tema se encontra em crescimento no mundo globalizado. O presente trabalho tem por objetivo esclarecer questões relevantes para o direito e a sociedade que norteiam o tema supracitado. No primeiro capítulo foi debatido a terceirização e o contrato de trabalho, bem como esclarecido seu surgimento como fato social, analisando o surgimento do Direito do Trabalho no mundo, posteriormente no Brasil e a ampliação da terceirização. No segundo capítulo, foi abordada a terceirização e sua regulamentação pela legislação, segundo a ótica do Código Civil, da Consolidação das leis Trabalhistas, bem como as legislações pertinentes ao tema, na qual inclui o Decreto Lei 200/67, considerado como ponto de partida da terceirização no âmbito da administração pública, a lei 6.019/74 regulamentadora da mão-deobra temporária e a Lei 7.102/83 que decorreu da necessidade de aperfeiçoar e melhorar os meios de combates à criminalidade. No terceiro capítulo, necessário se faz discorrer sobre as jurisprudências que norteiam a terceirização, como as súmulas 257 do TST que declara o vigilante de estabelecimento bancário contratado por empresa interposta não ser considerado empregado do banco, a súmula 256 do TST, cuja redação foi objeto de severas dúvidas, gerando a revisão pela súmula 331 do TST, que discorre sobre contrato de prestação de serviços-legalidade. No quarto capítulo, foi discutida a responsabilidade trabalhista, primeiramente ressaltando as mesmas nas terceirizações lícitas, pois em que pese tais disposições, não estão isentas de responsabilidade pelos créditos trabalhistas, as empresas contratantes dos serviços, em razão das regras relativas à responsabilidade civil, em razão dos princípios gerais acolhidas pela legislação, segundo os quais aquele que atuar com culpa in vigilendo, eligendo ou contraendo fica sujeito à reparação do dano com seu bem. Logo, se torna responsável subsidiário o tomador.

10 Após foi debatido a responsabilidade trabalhista dos entes privados na terceirização ilícita, que vem ocorrendo com freqüência em nossa sociedade, onde se observa contratações fraudulentas estabelecidas com finalidade de burlar direitos trabalhistas, em flagrante infração ao artigo 9 da CLT, o que torna estas contratações nulas de pleno direito, esclarecendo assim a nulidade da terceirização, bem como o reconhecimento do vínculo empregatício com a empresa que realmente se beneficiou da prestação do serviço. E, por último, foi destrinchada a responsabilidade trabalhista dos entes públicos na terceirização ilícita, já que neste caso não pode haver vínculo de emprego com a empresa tomadora, pois se trata de ente público, visto que atualmente esta em vigor o artigo 37, II da Constituição Federal na qual declara que para ser investido em emprego público tem que o trabalhador passar em concurso público. Esclarece ainda, se há algum direito o trabalhador que presta serviço de forma terceirizada para o ente público. Pode-se dizer que o tema é de suma importância para a sociedade, já que é um fenômeno atual e irreversível, tem o objetivo de esclarecer dúvidas a cerca da responsabilidade trabalhista, bem como contribuir ao operador do direito, dirimindo suas dúvidas sobre a responsabilidade laboral na terceirização.

11 CAPITULO I - TERCEIRIZAÇÃO E O CONTRATO DE TRABALHO Para desenvolvimento do presente trabalho acadêmico, é de suma importância salientar o surgimento da terceirização como fato social, primeiramente no mundo e posteriormente no Brasil. Para adquirir um entendimento social, das mudanças ocorridas em nossa sociedade, e desta forma demonstrar a influência histórica que trouxeram para a evolução da terceirização no contexto brasileiro. O grande marco para as relações de trabalho ocorreu nos fins do século XVIII e começo do XIX com a revolução industrial que primeiramente ocorreu na Inglaterra e depois nos demais países. 1 A revolução industrial modificou significativamente a sociedade, ou seja, sai o clero do topo da pirâmide e entra a burguesia, primeiramente estas modificações vieram a agravar as condições de trabalho, visto que o mercado ficou mais promissor e a burguesia ficou vislumbrada com o potencial econômico que a industrialização trouxe para eles. 2 A palavra de ordem era produzir o máximo possível, visto as jornadas de até 17 horas diária, trabalho de crianças e até mesmo gestantes. Os trabalhadores ficaram sufocados, haja vista o aumento da cobiça por parte da burguesia que vinham forçando seus empregados a um esforço extremo em situações abusivas em busca de maior lucro. 3 Nesta nova forma de sociedade recém criada, os operários se concentravam nas fabricas, possibilitando assim a criação do proletariado como classe social, possibilitando também desta forma as criações de técnicas coletivas de autodefesa. Todavia houve vários enfrentamentos de operários e 1 BARAÙ A, Augusto César Ferreira de. Terceirização à Luz do Direito do trabalho. São Paulo: Direito, 1997, p. 17. 2 Ibidem, p. 18. 3 Ibidem, p. 18.

12 empregadores, até mesmo com derramamento de sangue. Deste modo nasceu à necessidade do estado agir como interventor e disciplinar as relações trabalhistas, surgindo o direito do trabalho como conquista coletiva, nascendo da coletividade para a sociedade. 4 O Brasil, porém permaneceram inerte as todas estas transformações sociais, até porque o mesmo nesta época era uma colônia de Portugal. Apenas pelo século XX as mudanças surgiram no Brasil, com um movimento de vocação trabalhista que veio transformar a economia brasileira tardiamente, abrindo as portas da industrialização em nosso país, movimento este denominado de Revolução de 30. 5 No Brasil o Direito do Trabalho surgiu do estado para a sociedade, pois era necessário a queimar etapas. 6 A implantação do direito do trabalho no Brasil proporcionou um enorme salto para a modernidade, já que representou uma enorme conquista para os trabalhadores. Para esclarecer o surgimento da terceirização faz necessário analisar que na década de 70 ocorreu a crise do petróleo, ou seja, crise na economia mundial, a ampliação de mercado e a oportunidade de ganho desapareceram, fazendo com que as empresas mudassem seu modo de administração, se preocupando ainda mais com sua maneira de administração e funcionamento 7. Com esta nova realidade as empresas passaram a deixaram de adotar o método de verticalização da produção, passando a programar o sistema de horizontalização da mesma, criando assim uma rede de produtores e fornecedores 8. Com este sistema adotado as empresas não mais ficaram preocupadas com os detalhes de suas produções, já que estas preocupações seriam remetidas agora para seus produtores. 4 Ibidem, p. 19. 5 Ibidem, p. 22. 6 Ibidem, p. 23 7 Ibidem, p. 35. 8 Ibidem, p. 35.

13 Pode-se lembrar que o fato da aquisição de insumos juntos a terceiros sempre existiu, mesmo na época do fordismo, já que não era comum a empresa automobilística fabricar vidros, pneus dentre outros acessórios utilizados em seus carros 9. Inúmeros estudiosos do setor automobilístico esclarecem que nas indústrias mais avançadas a quase totalidade da produção, atualmente, esta delegada a terceiros. Ficando a montadora controlando apenas os setores de projetos e financeiro. Mais importante que a especialização decorrente da produção em rede, ou seja, horizontalizada é o benefício, para quem deste método se utiliza, em alcançar uma flexibilidade de fornecimento, redução ou mesmo a supressão de estoques e eliminação de gastos com o local de trabalho. A vantagem daí decorrente está em que o valor que seria imobilizado em estoques e imóvel poder ser usado no desenvolvimento de outros produtos, ou principalmente, sua aplicação no mercado 10. Pode-se dizer que, todo raciocínio utilizado para análise da terceirização sobre os produtos, também pode ser utilizado para a análise da terceirização de serviços. Com o propósito de adquirir apenas os serviços necessários ao momento, as empresas passaram a também terceirizar serviços. Os principais exemplos são a de serviços de fornecimento de alimentação, de assistência jurídica e contábil de serviços de seguranças 11. A terceirização de serviços está, cada vez mais sendo utilizada em nossa sociedade, ou seja, é uma realidade econômica nova e irrecusável, não se pode pretender que o retorno ao cenário vigente entre o ano 1945 e 1970 faria desaparecer esta tendência, uma vez que, os ganhos referentes à produção seriam canalizados para o mercado financeiro, jamais para arcar com os custos da internalizarão de todo o aspecto produtivo. 12 9 MARTI S, Sergio Pinto, Terceirização e o direito do trabalho. 2. ed. São Paulo: Malheiros,1996. p. 21. 10 Ibidem, p. 49. 11 Ibidem, p. 35. 12 Ibidem, p. 12.

14 Dentro das condições ideais, a terceirização nada tem de ilícito. Muito pelo contrário Encontra fundamento legal no artigo 170 parágrafo único da Constituição Federal e artigo 594 do Código Civil. Art. 170 CRFB A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: Parágrafo único. É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei. Art. 594 CC Toda a espécie de serviço ou trabalho lícito, material ou imaterial, pode ser contratada mediante retribuição. A inclusão do Brasil no mercado internacional, com a ampliação do plano de concorrência desencadeou para as empresas à necessidade de mudanças em sua estrutura organizacional. E essas transformações vieram a contribuir muito para o desenvolvimento da terceirização no Brasil. Para Augusto Cezar Ferreira de Baraúna, 13 A diminuição dos custos operacionais das indústrias e empresas trazidas pela terceirização, tem sido a alternativa para o crescimento produtivo e a viabilidade dos setores estagnados da economia. Quando não diminui diretamente no preço final do produto, ela possibilita a transferência de responsabilidades de gerenciamento para outra empresa, com a conseqüente redução das preocupações do que não seja o produto final. Embora muito já se tenha dito ou escrito a respeito da terceirização trabalhista, é possível se verificar nas petições processuais, nos trabalhos acadêmicos e mesmo na imprensa alguns pontos divergentes sobre o assunto. Mesmos, nas sentenças prolatadas em autos de reclamações trabalhistas, é muito comum assistir os esforços dos juízes prolatores para lidar 13 BARAÚ A, op. cit., p. 35.

15 com este mecanismo, em face da ausência de uma legislação específica, elaboram por meio de raciocínios analógicos, formas de responsabilidades do tomador da mão-de-obra em face à falência ou simplesmente desaparecimento do seu fornecedor. A utilização deste instrumento de administração só tende a aumentar no meio empresarial e público, em face da realidade vivida, com imediatos reflexos na ordem jurídica, visto que, os conflitos de interesse neste campo são usuais. Como se ver a seguir neste ensaio, a terceirização é uma realidade presente, e tende se generalizar cada vez mais. Segundo Rodrigo Carrelli, a terceirização é definida como o processo de repasse, para a realização de complexo de atividades especializadas, sendo que estas atividades poderiam ser desenvolvidas pela própria empresa 14. O Direito do Trabalho, tentando regular esta nova forma de prestação de serviços, estabeleceu normas a fim de que a dissociação entre a relação econômica de trabalho e a relação juslaborista somente acontecesse em casos excepcionais e no termos da lei, pretendendo, com isto, evitar o enriquecimento sem causa de pessoas ou empresas que, em conluio com aqueles que pretendem diminuir o custo de sua produção, utilizassem a mais valia, distanciando os trabalhadores de sua inclusão social. No âmbito da administração pública, considera-se o Decreto-lei 200/67 como ponto de partida do processo que veio a ser conhecido como terceirização, na medida em que, pretendendo a descentralização administrativa, autorizou que os órgãos estatais promovessem a execução indireta de suas atividades intermediárias, ou seja, de seu atividade-meio, contratando, para tal, empresas especializadas na execução de tais atividades. O decreto-lei promoveu o desenvolvimento do setor de serviços vinculando ao atendimento das atividades de execução de tarefas no setor da administração direta ou indireta 15. Com isso, teve início a expansão do segmento de serviços, estimulada, também, pela crescente utilização do setor privado, sob diversas formas de 14 CARRELLI, Rodrigo de Lacerda. Terceirização e intermediação de mão-de-obra na Administração Pública. In: Revista LTr, 67. São Paulo, LTr. Junho, p. 686.

16 sub-contratação, desde a simples intermediação de mão-de-obra, vedada pelo Direito do Trabalho, até a celebração de contratos de prestação de serviços, regidos pelo Código Civil. A Lei 6.019, adotada em 1974, marco no processo de terceirização ao regular a intermediação de mão-de-obra temporária, permitiu que as empresas pudessem atender suas necessidades, relativamente à substituição temporária de empregos efetivos ou acréscimo extraordinário de serviços 16. O crescimento da violência no país, com a intensificação de assaltos a bancos, levou o governo a promulgar a Lei 7.102/83, obrigando-os a contratarem serviços permanentes de vigilância e segurança, tendo em vista a especialidade de tal atividade cujo exercício é vedado ao cidadão comum e delegado apenas àquelas empresas criadas especialmente para tal fim 17. A intensificação de sub-contratação de trabalhadores, sem qualquer regulamentação ou parâmetro que fixassem os limites da responsabilidade empresarial, salvo a regra do artigo 455 da CLT, que se referia apenas às empreitadas, levou o TST adotar a Súmula 256, que preconizava que, salvo nas hipóteses previstas na Lei 6.019/74, a contratação de trabalhadores por empresas interpostas era ilegal, formava o vínculo com o tomador dos serviços. A jurisprudência tentou evitar que, com o desvirtuamento das práticas de intermediação de mão-de-obra, maiores prejuízos fossem gerados aos trabalhadores. A redação desta súmula foi objeto de severas críticas, ensejando ainda várias dúvidas, uma vez que não abrangia todas as hipóteses de prestação de serviços, confundia a prestação de serviços com simples intermediação de mão-de-obra, e não abordava as hipóteses em que o Estado fazia parte desta relação, fato já autorizado pelo Decreto lei 200/67, ensejando a adoção de interpretação mais ampla, ora contida na Súmula 331. 18 O fenômeno da terceirização se intensifica e, em que pese os limites que a doutrina e a jurisprudência tentam impor/dar, a sociedade tem utilizado esta 15 MARTI S, op. cit. p. 66. 16 Ibidem, p. 84. 17 Ibidem, p. 85. 18 Ibidem, p. 90.

17 forma de contratação ilegalmente, aproveitando-se do amplo exército de mãode-obra de reserva existente em nosso país, decorrente, sobretudo, do desemprego, beneficiam-se da prestação de serviço dos trabalhadores sem lhes conferirem a real ligação com aqueles efetivamente se beneficiam com a prestação de seus serviços, gerando, com isso, o enriquecimento ilícito daqueles que promovem a intermediação ilegal de mão-de-obra.

18 CAPÍTULO II - TERCEIRIZAÇÃO E SUA REGULAMENTAÇÃO PELA LEGISLAÇÃO 2.1 TERCEIRIZAÇÃO E O CÓDIGO CIVIL De acordo com o disposto no artigo 421 do Código civil: A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato. Quer dizer, se dentro do aspecto organizacional de sua empresa pode o tomador de serviço decidir, ou não, pela contratação de empresas de prestação de serviços para o desempenho de atividades que, de outra forma, seriam de sua própria responsabilidade, deverá ele ter em mente não só o aspecto econômico aí envolvido, mas também os aspectos sociais relacionados a esta operação. Neste sentido, é necessário abordar os elementos que a doutrina e a jurisprudência utilizam para a responsabilização do tomador pelos créditos trabalhistas do trabalhador não saldados pela fornecedora de seus serviços, quais sejam as culpas in eligendo e in vigilendo. A empresa que contrata uma outra, seja ela especializada em serviço temporário, seja ela prestadora de serviços, tem o dever de fiscalizar a empresa contratada no tocante ao cumprimento das obrigações trabalhistas, previdenciárias e fiscais, incorrendo assim os artigos 186 e 927 ambos do Código Civil, sob pena de ser responsabilizada subsidiariamente pelos encargos supramencionados, por terem agido com culpa in eligendo, contraendo e vigilando, detendo, inclusive o direito de retenção das parcelas contratuais devidas enquanto não quitados os débitos 19. 19 Ibidem, p. 100.

19 No que tange aos entes públicos, verifica-se que a licitação para contratação de empresa prestadora dos serviços os afasta apenas das culpas in eligendo e in contraendo, porém, continua obrigação de a fiscalizar a empresa que lhe presta serviços, sob pena de ser responsabilizada subsidiariamente por culpa in vigilendo. Para que o trabalhador não fique desabrigado nas hipóteses de insolvência da empresa interposta, e não receba seus créditos, existe a responsabilidade subsidiária do tomador de serviços, se a empregadora não cumprir com os encargos trabalhistas e previdenciários para com o trabalhador. Esta responsabilidade tem origem nos princípios de proteção ao trabalhador e na teoria do risco. Então se a prestadora de serviços, não cumprir com suas obrigações trabalhistas e previdenciárias, a tomadora será responsável subsidiariamente pelos pagamentos das referidas parcelas, em decorrência de ter agido com culpa in eligendo, in vigilendo e in contraendo, se for entidade privada, e com culpa in vigilendo, se for entidade pública. 2.2 TERCEIRIZAÇÃO E A CLT Segundo o artigo 455 da CLT: Nos contratos de sub-empreitada responderá o sub-empreiteiro pelas obrigações derivadas do contrato de trabalho que celebra, cabendo, todavia, aos empregados o direito de reclamação contra o empreiteiro principal pelo inadimplemento daquelas obrigações por parte do primeiro. Parágrafo único. Ao empreiteiro principal fica ressalvada, nos termos da lei civil, ação regressiva contra o sub-empreiteiro e a retenção de importâncias a este devidas, para garantia das obrigações previstas nestes artigos.

Para Maurício Godinho Delgado 20, 20 Na relação enfocada pela CLT há três pólos: o tomador da obra ou serviço, o empreiteiro principal e o sub-empreiteiro, contratado pelo segundo. Em tais casos, há responsabilidade solidária, derivada da lei (artigo 455 da CLT), incidindo sobre o empreiteiro principal com respeito aos créditos trabalhistas contratados pelo último pólo, o subempreiteiro. Resultante de texto legal expresso, tal responsabilidade solidária tem tido apreensão predominante na interpretação conclusiva do direito, pela jurisprudência. O artigo 455 da CLT refere-se apenas a empreitadas. O objetivo deste artigo foi de coibir práticas das sub-empreitadas sem ônus ao empreiteiro principal, sendo instituído para assegurar os direitos dos trabalhadores, pois nem sempre os sub-empreiteiros possuem idoneidade econômica ou financeira para arcar com as responsabilidades trabalhistas 21. Este artigo veio permitir que o trabalhador pudesse buscar seus direitos diretamente contra o empreiteiro principal, visto que, nem sempre o trabalhador prestava serviços para empresa interposta idônea, ou seja, fica ele sem seus direitos trabalhistas e previdenciários garantidos, por este motivo que veio a tona o artigo 455 da Consolidação das Leis do Trabalho, o qual permite reclamar diretamente com o empreiteiro principal o reconhecimento da responsabilidade subsidiária ou solidária. Nessa direção, existem circunstâncias fáticas, juridicamente absolvidas no direito do trabalho, que não autorizam o afastamento da empresa contratante da obra dos compromissos trabalhistas assumidos pelo efetivo empregador. 22 20 DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr., 1993. 21 BARAÚ A, op. cit., p. 51. 22 Ibidem, p. 61 e 62.

21 Na relação de empreiteiros e sub-empreiteiros, ambos se utilizam de trabalhadores alheios, os comandam, então podemos dizer que se trata de um caso de solidariedade passiva estabelecido pela lei. Aplicado pelo costume da época com justa consonância da realidade, surgiu este dispositivo legal, que responsabilizava o empreiteiro e o subempreiteiro pelos pagamentos dos empregados. A sentença poderá condenar ambas as empresas solidariamente, declarando a existência de vínculo empregatício com o tomador, ou não o declarando, podendo também conferir aos trabalhadores direitos mais benéficos a sua categoria, quanto ao salário, jornada de trabalho e etc. Tudo com o fundamentado legalmente no artigo 9º da Consolidação das Leis do Trabalho, já que o ajuste entre empregadores que prejudicam o trabalhador frauda seus direitos laborais. Pode-se interpretar pela configuração de grupo econômico artigo 2 e 3 da CLT, já que no conceito de empregador estabelece aquele que assume, admite, assalaria e tem o direito de dirigir a prestação de serviço pessoal, conforme artigo 3 da Consolidação das Leis do Trabalho, e no que prevê os princípios do Direito do Trabalho, ou seja, integração do trabalhador na empresa 23. E este é o entendimento majoritário da doutrina. O fato é que ambos os sujeitos são responsáveis por qualquer prejuízo trazido ao trabalhador, sendo devedores solidários de quaisquer direitos trabalhistas ou fiscais não pagos. 2.3 TERCEIRIZAÇÃO E O DECRETO LEI 200/67 No âmbito da administração pública, o Decreto - Lei 200/67 é considerada o ponto de partida da terceirização, pois em busca da descentralização administrativa, autorizou que os órgãos do estado promovessem a execução indireta de suas atividades intermediárias, contratando assim empresas especializadas. 23 Ibidem, p. 61.

22 Assim teve início a expansão do segmento de serviços, estimulado pelo setor privado, com diversas formas de subcontratação. A terceirização no âmbito da administração pública será examinada de forma mais ampla no capítulo IV. 2.4 TERCEIRIZAÇÃO E A LEI 6.019/74 A Lei 6.019/74, ao regulamentar a mão-de-obra temporária, foi um marco no processo de terceirização, permitindo que as empresas pudessem atender suas necessidades, nos casos de substituição temporária de empregados efetivos ou o acréscimo extraordinário de serviços. Sobre a diferenciação entre a empreitada e o trabalho temporário, comenta o ensinamento do Professor Henrique Macedo 24 : Cumpre, pois não confundir a empreitada de lavor, na qual o empreiteiro contrata a execução de determinada obra, sem oferecer o material, mediante certo preço, com o simples fornecimento de mãode-obra para trabalhar sob a direção e responsabilidade da empresa locatária, que está hoje limitado à hipótese de trabalho temporário, nas estritas condições estatuídas pela Lei n 6.019 de 1974. Há, portanto, nítido desvirtuamento da empreitada, quando, em virtude desde contrato celebrado, o empreiteiro apenas encaminha empregados para que realizem, sob a direção da empresa locatária, atividades normais desta, recebendo aquele uma comissão sobre os salários pagos. E a situação mais se agrava quando tais empregados trabalham lado a lado dos que são registrados como empregados da empresa locatária, cabendo a esta preparar a folha de pagamento e encaminhar à pseudo empreiteira o correspondente valor para que os salários dos seus pseudo empregados. Formalmente, esses trabalhadores estão juridicamente vinculados à empreiteira; mas, na realidade, são empregados da locatária, a quem prestam serviços não eventuais, com subordinação ao seu poder de comando e mediante salário que, de fato, ela lhes paga (artigo 3 da CLT).

23 Como justificativa para criação da lei 6.019/74, o tipo de trabalhadores que iriam se utilizar da mesma, seriam os jovens com idade de serviço militar, que por causa disto tinham dificuldades de arrumar empregos, as donas de casa, sem prejuízos nos seus serviços domésticos, os estudantes que tem pouco tempo e só poderiam trabalhar em certa época do ano, já que o trabalho permanente iria atrapalhar seus estudos, os trabalhadores com idade mais avançada e com capacidade laboral, que encontram dificuldades para encontrar empregos permanentes, e, também, os trabalhadores que possuem tempo vago, possa arrumar outro trabalho para complementar sua renda. 25 A aprovação da lei do trabalho temporário no Congresso Nacional foi repleta de cautelas, pois havia o medo de vir a concorrer com o trabalho permanente, já amplamente defendido e cercado de conquistas econômicas e sociais. A empresa de trabalho temporário tem seu conceito, no artigo 4 da lei 6.019/74, a saber: É aquela cuja a atividade consiste em colocar à disposição de outras empresas, temporariamente, trabalhadores devidamente qualificados, por elas remunerados e assistidos. (artigo 4 da Lei 6.019/74) O tempo para duração do serviço temporário é de 3 meses, podendo ser prorrogado se cumprir as necessidades legais pelo prazo de mais 3 meses, mediante provação do Ministério do Trabalho. Caso contrário pode ocorrer à declaração de vínculo empregatício entre o trabalhador e o tomador de serviços, tornando-se nulo o contrato com o prestador de serviços. 24 HI Z, Henrique Macedo. Legislação do trabalho. In: Revista LTr. 05. São Paulo, LTr: Maio de 2005. 25 BARAÚ A, op. cit., p. 64.

2.5 TERCEIRIZAÇÃO E A LEI 7.102/83 24 A Lei 7.102/83 decorreu da necessidade de aperfeiçoar e melhorar os meios de combate da criminalidade da época. Buscavam interessados na utilização de serviços particular de natureza privada. São empresas terceirizadas com homens devidamente armados e treinados para evitar qualquer tentativa de roubo ou furto ao patrimônio particular. 26 É importante ter em mente que a terceirização deste setor foi uma conseqüência, visto o aumento da violência que assola as instituições bancárias e financeiras, assim surgiram empresas instituídas legalmente, que em muito contribuiu para melhorar a segurança privada e a diminuição dos índices de criminalidade. São empresas especializadas em treinamento e capacitação humana, para enfrentar e impedir qualquer turbação ao patrimônio particular, mediante pagamento contratualmente firmado. Para o funcionamento destas empresas é necessário ser expedido alvará pelas secretarias de segurança estaduais, mediante cumprimento de alguns requisitos tais como, cofres de segurança empresarial, fiscalização de suas armas pela polícia federal brasileira, devendo ainda, seus vigilantes terem idade mínima de 21 anos, possuírem cursos profissionalizantes por estabelecimento autorizado, além de aprovação física e mental. 27 Com o objetivo de dar segurança às intuições financeiras, surgiu a lei 7.102/83, evidenciando, assim, que as prestadoras de serviços de vigilância são lícitas, visto que é possível terceirizar estes serviços. O que vem acontecendo na atualidade é o desrespeito às regras do artigo 20 da lei 7.102/83, haja vista não estar acontecendo fiscalização adequada às empresas prestadoras de serviços. Pode-se dizer que existem empresas que não se preocupam com o treinamento e a formação psicológica de seus homens, como também existem 26 MARTI S, op. cit., p. 55. 27 BARAÚ A, op. cit., p. 74.

25 empresas sérias em que dão todo e qualquer treinamento necessário para a formação de um vigilante preparado para enfrentar situações adversas. Então, para solucionar estes problemas ocorridos a secretária de segurança deve fiscalizar com mais rigor tais prestadoras de serviços, para que não coloque em risco a vida do profissional e da sociedade. Este tipo de terceirização é licita, porém deve observar os parâmetros legais estabelecidos. 28 A Lei 7.0102/83 sofreu alterações pela Lei 8.863/94, que veio a garantir aos vigilantes contratados por empresas prestadoras de serviços, o piso de sua categoria econômica, visto que os trabalhadores estariam ganhando salários inferiores ao acordo e convenção coletiva de sua categoria. 29 28 Ibidem, p. 74. 29 Ibidem, p. 75.

26 CAPÍTULO III - TERCEIRIZAÇÃO E A JURISPRUDÊNCIA Diante da ausênc ia de uma legislação que regulamente a terceirização de forma global, ganhou expressiva importância a uniformização jurisprudencial do TST, como destacado abaixo. 3.1 TERCEIRIZAÇÃO E A SÚMULA 257 DO TST É de extrema importância analisar a súmula 257 do TST, para esclarecimento do fenômeno da terceirização. A Súmula n 257 do TST prevê: o vigilante, contratado diretamente por banco ou por intermédio de empresas especializadas, não é bancário. Essa súmula, foi um marco na introdução da terceirização de serviços de vigilância e transporte de valores no setor bancário. Não é permitida a igualdade em categoria social entre bancários e vigilantes, pois estão regulados por disposição legal diferenciada, na qual o trabalho do vigilante não é igual a do bancário, até porque o bancário tem uma jornada de trabalho de 6 horas e o vigilante de 8 horas, o segundo recebe ordem do seu superior hierárquico das empresas terceirizadas. 30 Logo, de acordo com a súmula 257 do TST, mesmo se o vigilante fosse contratado pela empresa bancária, o seu trabalho deveria ser regulado pela lei 7.102/83. Segundo, Sérgio Pinto Martins 31 : De outro lado, não há que se falar em tratamento isonômico, pois as situações são diversas e as categorias também são diversas, merecendo, portanto, tratamento distinto. O fato do vigilante trabalhar na banco e não na empresa de vigilância não desnatura o contrato, pois o que importa é que a subordinação do vigilante seja com a empresa de vigilância e não com a instituição bancaria. 30 Ibidem, p. 78. 31 MARTI S, op. cit., p. 68.

27 Sobre a súmula 257 do TST, é de se observar os precedentes que deram sua origem, ou seja, não apenas verificar seu texto. A referida súmula teve como referencia o texto d artigo 3º da Lei nº 7102/83, haja vista que este dispositivo dá a opção pela contratação de vigilantes por empresa terceirizadas ou diretamente contratados pelo próprio banco. 32 O vigilante, antes da lei 7.102/83, tinha prerrogativas de policial, de acordo com o decreto nº 1304/1969. Com o surgimento da lei 7.102/83, foi revogado tal decreto, tratando desta forma o emprego de vigilante de forma paramilitar. 33 Podemos dizer que, assim como a lei 7.102/83, a súmula 257 do TST, também propiciou a introdução de serviços de vigilância e transporte de valores nos bancos de forma terceirizada. Assim não ficou caracterizada a igualdade entre os bancários e os vigilantes, já que fazem trabalhos diversos uns dos outros. Mesmos que os vigilantes e os bancários trabalhem no mesmo local, eles não seguem ordem de uma mesma pessoa, sendo que os vigilantes recebem ordens de seu superior hierárquico de dentro da empresa prestadora. Os vigilantes, mesmo que sejam contratados pela própria empresa bancária ou por empresa especializada, devem obedecer à sua disposição legal própria. Não sendo possível então, que sejam atribuídos a eles trabalhos semelhantes a dos bancários. Neste mesmo sentido entende o ilustre Sergio Pinto Martins 34, Verifica-se que a orientação do enunciado 257 do TST é coerente com a lei nº 7.102, pois esta permite a terceirização de serviços de vigilância e transporte de valores. Logo, não se poderia falar que o vigilante que presta serviços em banco seria bancário, diante 32 MARTI S, Sergio Pinto. A Terceirização e o direito do trabalho, 7. ed., São Paulo: Atlas, 2005. p. 104. 33 Ibidem, p. 105. 34 Ibidem, p. 106.

28 daquele comando legal, pois o trabalho do vigilante não seria mais extenuante que o do bancário de modo a ser contemplado com jornada de 6 horas. A Lei nº 7.102 não dispõe, inclusive, que o vigilante deveria ter jornada de trabalho de 6 horas, o que mostra que sua jornada de trabalho seria igual a 8 horas. De outro lado, não há de se falar em tratamento isonômico, pois as situações são diversas e as categorias também são diversas, merecendo, portanto, tratamento distinto. O fato de o vigilante trabalhar no banco e não na empresa de vigilância não desnatura o contrato, pois o que importa é que a subordinação do vigilante seja com a empresa de vigilância e não com a instituição bancária. 3.2 TERCEIRIZAÇÃO E A SÚMULA 256 DO TST. A súmula 256 do TST expressa que, salvo os casos de trabalho temporário e de serviço de vigilância, previstos nas Leis nº 6.019, de 3 de janeiro de 1974, e 7.102, de 20 de junho de 1983, é ilegal a contratação de trabalhadores por empresa interpostas, formando-se o vínculo empregatício diretamente com o tomador de serviços No Brasil nunca foi proibida a prática de terceirização da prestação de serviços, até que surge a súmula 256 do TST. Porém não quer dizer que antes do surgimento da súmula 256 do TST não havia nenhuma forma de regulagem da referida prática. O entendimento que predominava no TST, era que salvo nos casos de trabalho temporário e de serviços de vigilância, seria ilegal a contratação de trabalhadores por empresas interpostas, formando-se vínculo empregatício diretamente com o tomador dos serviços. 35 35 Ibidem, p. 122.

29 O precedente aberto com a súmula ora citada é que um empregado terceirizado que prestava serviços com habitualidade, ou seja, que não era temporário, teria seu vínculo com a empresa tomadora. 36 A CLT, em seu artigo 455, assegurou o direito dos empreiteiros e subempreiteiros a entrar com ação contra o empreiteiro principal, no caso de inadimplemento do empreiteiro secundário, no que tange às obrigações trabalhistas, podendo desta forma o empreiteiro principal ingressar com uma ação de regresso em face do sub-empreiteiro. Para o Sergio Pinto Martins 37 Não se pode falar em responsabilidade solidária entre tomador dos serviços e a empresa prestadora dos serviços, pois a solidariedade surge como exceção à regra; não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes. Segundo Jurisprudência Locação de mão-de-obra - Aplicação do enunciado 256. O Enunciado 256 não pode ser aplicado indiscriminadamente, mas apenas naqueles casos em que fica demonstrado que a intermediação teve objeto fraudulento. Recurso de revista conhecido e improvido.(tst, RR 5.708/89, Rel. Min. Almir Pazzianotto, Ac. 1ª. T., 757/90). Esta súmula deixou de lado o princípio da igualdade, visto que, declarou como lícitos os serviços de vigilância e o trabalho temporário, não declarando lícitos os serviços de limpeza, deixando claro uma desigualdade, pois se os primeiros são considerados lícitos porque o último também não foi declarado lícito para efeitos da terceirização. 38 Deve-se observar cada caso em particular, pois a orientação da súmula 256 do TST teria que ser direcionada para evitar fraude, mas não interpretar como fraudulenta a terceirização realizada de forma lícita. 36 Ibidem, p. 120. 37 MARTI S, A Terceirização..., op. cit., p. 127. 38 Ibidem, p. 124.

30 Então as normas contidas na súmula 256 do TST hoje cancelada, podem ser consideradas exemplificativas, com o objetivo de evitar empresas de fachadas, ou seja, que existe apenas aparentemente, que tem total incapacidade financeira, não podendo arcar com os encargos trabalhistas dos empregados. Então aí, neste caso, deverá responder o tomador de serviços, pela culpa in eligendo, ou seja, escolheu mal a empresa da qual tinha contrato de prestação de serviços. 39 A jurisprudência condena o trabalho habitual de mão-de-obra que contraria a lei, como por exemplo, o contrato de trabalho temporário que exceda três messes. Caso não exista norma que proíbe a prestação de serviços de terceiros, esta pode ser considerada livre, não havendo fraude. Então, neste caso, há licitude para a contratação do ato a ser praticado. Esclarece Sérgio Pinto Martins em seus ensinamentos, 40 Lembre-se de que a nova Lei do FGTS (Lei nº 8.036/90) admite como empregador o fornecedor de mão-de-obra ( 1º do art. 15 e inciso I do art. 2º do RFGTS), descaracterizando a hipótese de fraude na contratação com terceiros. Tal norma evidencia que as atividades de fornecimento de mão-de-obra são lícitas, o que envolve não só as empresas de trabalho temporário e de vigilância, mas também as de limpeza. O próprio 2 do art. 15 da mesma norma menciona que é também trabalhador a pessoa que presta serviços a locador de mão-de-obra, evidenciando como lícita tal atividade. Ressalta-se, também, que o quadro anexo ao art. 577 da CLT prevê, no 5º grupo, uma série de empresas que prestam serviços a terceiros, como os de limpeza e conservação, de administração de imóveis, de conservação de elevadores etc., que, portanto, têm suas atividades consideradas lícitas para efeito de enquadramento sindical, inclusive para o pagamento da contribuição sindical. Logo, são lícitas, também, essas atividades. 39 Ibidem, p. 125. 40 Ibidem, p. 126.

31 Se a empresa tomadora de serviços contrata um trabalhador de uma empresa interposta o qual da ordem, ou seja, ordena e direciona o trabalho deste empregado terceirizado, este terá seu vínculo com a tomadora, pois está terceirização seria considera fraudulenta. A redação da súmula 256 do TST foi objeto de severas dúvidas, por isso teve necessidade de sua revisão, cancelando-a, desta forma, pela Resolução nº 1 do TST, de 19 de Novembro de 2003. A súmula 256 do TST foi revista pela súmula 331 do TST. 3.3 TERCEIRIZAÇÃO E A SÚMULA 331 DO TST Expressa a súmula 331 do TST que, CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS- LEGALIDADE I- A contratação de trabalhadores por empresa interposta é ilegal, formando-se o vinculo diretamente com o tomador dos serviços, salvo no caso de trabalho temporário (Lei n. 6.019, de 03.01.1974) II- A contratação irregular de trabalhador, mediante empresa interposta, não gera vinculo de emprego com os órgãos da administração pública direta, indireta ou fundacional (art. 37,II, da CF/1988) III- Não forma vinculo de emprego com o tomador a contratação de serviços de vigilância (Lei n. 7.102, de 20.06.1983) e de conservação e limpeza, bem como a de serviços especializados ligados a atividade-meio do tomador, desde que inexiste a pessoalidade e a subordinação direta. IV- O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do empregador, implica a responsabilidade subsidiária do tomador dos serviços, quanto àquelas obrigações, inclusive quanto aos órgãos da administração direta, das autarquias, das fundações públicas, das empresas públicas e das sociedades de economia mista, desde que hajam participado da relação processual e constem também do título executivo judicial (art. 71- da Lei n. 8.666, de 21.06.1993).

32 A súmula 256 do TST abriu vários precedentes para a criação da súmula 331 do TST, pois na maioria dos acórdãos do TST, verificavam inúmeros debates sobre os empregados de empresa de limpeza ter vínculo com a tomadora. Entendia se que os trabalhadores de empresa interposta prestando serviços de limpeza, para um tomador de serviços, deixando assim de ter os benefícios da empresa tomadora, tornava esse serviço fraudulento. 41 A súmula 331 do TST, foi dividida em quatro partes, dando assim uma maior amplitude ao tema, incluindo assuntos como a prestação de serviços de limpeza e a serviços prestados na administração pública. Não se deve entender a súmula 331 do TST como taxativa e sim exemplificativa, pois há casos que mesmo em atividades indicadas no texto da súmula, pode haver fraude ou ainda existir outras atividades que não estão expressas e ser terceirizada de forma lícita. Na súmula 331 do TST está previsto a ilegalidade da terceirização, exceto no caso de trabalho temporário, mas na verdade a contratação de empregados terceirizados não pode ser vista como ilegal, só podendo ser considerada ilegal em caso de fraude em relação a aplicação das leis trabalhistas. Então no caso de fraude este trabalhador terá seu vínculo reconhecido com a tomadora. 42 O texto da súmula 331 do TST veio a condenar a terceirização na atividade fim. Deve entender como atividade-meio aquelas que não são exercidas na atividade principal da empresa, ou seja, são as atividades em que não se destina a empresa tomadora de serviços. 43 Não se deve dizer que só será permitida a terceirização na atividademeio, pois fica a cargo do administrador decidir a questão, porém desde que a terceirização seja lícita. Pois deve se levar em conta o princípio da livre iniciativa contida no artigo 170 da Constituição Federal. Até mesmo porque 41 Ibidem, p. 131. 42 Ibidem, p. 132 e 133. 43 BARAÚ A, op. cit., p. 103.

33 certas atividades que antigamente eram consideradas fim, hoje podem ser consideradas acessórias, com os avanços tecnológicos que nos cercam no mundo de atual. 44 Então para identificar a fraude na terceirização, basta levar em conta quem dá ordem para o trabalhador da empresa interposta, se o mesmo trabalha na sede da tomadora este deverá receber ordens não de empregado do tomador e sim do preposto da empresa interposta, então se deve observar a pessoalidade e subordinação. 45 Para cobrar direitos trabalhistas da empresa tomadora, tem que incluir-lá no pólo passivo da ação, pois quem não for parte no processo de conhecimento não pode ser parte na execução. 46 Com isso, pretende-se orientar as empresas tomadoras a contratar empresas idôneas, sob pena de o empregado ajuizar ação em face da prestadora de serviços e da tomadora, esta última pode ficar responsável pelos pagamentos de verbas trabalhistas, em função da inidoneidade da prestadora dos serviços pela culpa in eligendo. Faz a distinção da responsabilidade subsidiária da responsabilidade solidária o ilustre Sergio pinto Martins que nos esclarece que, 47 A subsidiaria não tem previsão em lei, nem Código Civil. Se o devedor não pagar a dívida, paga o responsável secundário subsidiário. A solidariedade tem fundamento na lei ou na vontade das partes. O TST decidiu, acertadamente, sobre responsabilidade subsidiária. A súmula 331 do TST interpreta corretamente o dispositivo consolidado ao se falar em responsabilidade subsidiária. O tomador dos serviços não é, portanto, solidário com o prestador dos serviços. Somente responderá se o prestador 44 MARTI S, A Terceirização..., op. cit., p. 137. 45 Ibidem, p. 137. 46 BARAÚ A, op. cit., p. 100. 47 MARTI S, A Terceirização..., op. cit., p. 138.

34 dos serviços não pagar sua dívida trabalhista e seu patrimônio for insuficiente para o pagamento do débito. 48 Só acarretará a responsabilidade solidária, quando a empresa for do mesmo grupo econômico, ou em caso de falência da prestadora, todavia aquele que pagou as verbas trabalhistas do real prestador, terá direito regresso contra o mesmo. 49 48 Ibidem, p. 140. 49 Ibidem, p. 139.

35 CAPÍTULO IV - RESPONSABILIDADE TRABALHISTA 4.1 RESPONSABILIDADE TRABALHISTA DAS TERCEIRIZAÇÕES LÍCITAS Na terceirização lícita se encontra uma relação jurídica entre o fornecedor de serviço e a empresa tomadora. Para ensejar a validade da terceirização, ou seja, para termos uma terceirização lícita não pode existir subordinação do trabalhador para com o tomador de serviços, visto que é um elemento pertinente a relação de serviços. A tomadora não poderá ser considerada superior hierárquica do trabalhador, nem ao menos haver controle de ponto por parte dela, visto que este tipo de controle não poderá ser pessoal e sim através da empresa terceirizadora de serviços. 50 As tomadoras de serviços devem ter o maior número de informações sobre a empresa prestadora de serviços contratada. Segundo Henrique Macedo Hiniz, 51 E,se, para contratarem, o tomador e o fornecedor podem e devem lançar mão da busca do maior número de informações acerca de seu futuro parceiro contratual, em relação aos trabalhadores tal não se dá.. Na terceirização de serviços, sobretudo naquelas onde ocorrem os maiores casos de violação a direitos trabalhistas, os empregados costumam ser de baixa qualificação e pouca instrução, o que, aliado ao seu grau de necessidade de obterem uma fonte de renda, torna inviável se esperar dos mesmos qualquer consideração desta natureza a respeito de quem os contrata. Mais que isso, não se pode esperar dos trabalhadores uma preocupação quanto à higidez financeira de quem os pretende contratar, quando se sabe do grave quadro de desemprego que assola nosso país. 50 Ibidem, p.159. 51 HI Z, op. cit., p. 589.