VI-047 - USOS E OCUPAÇÃO DA FAIXA DE PRAIA NO LITORAL NORTE DO RIO GRANDE DO SUL UMA EXPERIÊNCIA DE GESTÃO COMPARTILHADA



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Transcrição:

VI-047 - USOS E OCUPAÇÃO DA FAIXA DE PRAIA NO LITORAL NORTE DO RIO GRANDE DO SUL UMA EXPERIÊNCIA DE GESTÃO COMPARTILHADA Luciana Petry Anele (1) Arquiteta e urbanista, formada pela UFRGS em 1985, com especialização em Geografia Ambiental. Desenvolve atividades na área de gerenciamento costeiro e planejamento ambiental na FEPAM desde 1997. Entre 1985 e 1996, trabalhou na Fundação Estadual de Planejamento Metropolitano e Regional, com atuação voltada ao planejamento territorial. Maria Lúcia Bernardes Coelho Silva Engenheira Química, formada pela UFRGS em 1977, com especialização em Ecologia Humana, desenvolve atividades relacionadas à gestão dos recursos hídricos na Fundação Estadual de Proteção Ambiental do Estado do Rio Grande do Sul desde janeiro de 1978. Lilian Maria Waquil Ferraro Geógrafa, formada pela UFRGS em 1982, com mestrado em Ciências Ambientais. Desenvolve atividades no setor de geoprocessamento da FEPAM, desde 1998. Entre 1982 e1998, trabalhou no Centro de Ecologia da UFGRS, com climatologia e geoprocessamento. Endereço (1) : Rua Carlos Chagas, 55 7.º andar sala 707 Centro Porto Alegre RS Cep.: 90030.020 Tel: (51) 212-4227/ 225.1588 r: 280 Fax: (51) 212.4151 e-mail: reg.litoral@fepam.rs.gov.br RESUMO A Fundação Estadual de Proteção Ambiental (FEPAM) iniciou em novembro de 2001 um processo de gestão ambiental da faixa de praia do litoral norte do Rio Grande do Sul, tendo como base de discussão um diagnóstico realizado em setembro do mesmo ano e que apontou a atual situação da orla de dez municípios litorâneos que compõem este litoral quanto a sua utilização por quiosques e outros estabelecimentos comerciais. Foram catalogados 650 quiosques em 120 km de orla, onde verificou-se diversos problemas relacionados aos mesmos, como alteração na dinâmica do ambiente, potencial de contaminação da areia, interferência paisagística, entre outros. Partindo da necessidade de uma atuação voltada ao equacionamento dos problemas detectados realizou-se reuniões com representantes do poder público municipal, Ministério Público Estadual e Patrulha Ambiental da Brigada Militar onde foram estabelecidos os elementos mínimos que integram o Plano Municipal de Uso da Faixa de Praia, os prazos para o seu atendimento e os critérios ambientais estabelecidos pela FEPAM. As Prefeituras assinaram um termo de compromisso onde comprometeram-se a apresentar o ordenamento das atividades junto a orla através do Plano Municipal de Uso da Faixa de Praia. Neste termo foi incluída a obrigatoriedade da realização de audiências públicas com objetivo de garantir que os referidos planos fossem divulgados e discutidos pela sociedade envolvida. A viabilização dos planos municipais depende de avaliação técnica da FEPAM com base nos critérios ambientais e nas contribuições da comunidade. Espera-se com isto que os municípios envolvidos passem a atuar na faixa de praia de uma forma mais orientada e controlada, já que todas as atividades desenvolvidas serão de responsabilidade da Prefeitura, o que otimiza a fiscalização. Esta ênfase na responsabilidade da esfera municipal de poder permite um maior comprometimento local e cria possibilidades mais concretas da manutenção da qualidade dos recursos ambientais da zona costeira. PALAVRAS-CHAVE: faixa de praia, quiosques, plano de uso, orla, gestão costeira ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 1

INTRODUÇÃO A faixa costeira de transição entre a terra e o mar contém alguns dos mais produtivos e valiosos habitats da biosfera, formados pelo dinamismo natural que caracteriza estes ambientes. Por outro lado, o impacto da ação humana na faixa de praia altera a dinâmica natural, trazendo danos consideráveis à vida destes lugares. Deste modo, para a manutenção da qualidade ambiental, é necessária a elaboração de planos que orientem o processo de ocupação adequados à capacidade de suporte dos ambientes. No Rio Grande do Sul, cabe a Fundação Estadual de Proteção Ambiental (FEPAM) a tarefa de planejar, disciplinar, controlar e fiscalizar as atividades, empreendimentos e processos que causem ou possam causar degradação ambiental, conforme o artigo 236 do cap. XVI do Código Estadual do Meio Ambiente. Nesta tarefa, inclui-se a zona costeira do Estado. Ainda conforme o Código, o Gerenciamento Costeiro deve promover e incentivar a elaboração de planos municipais, compatibilizando as políticas e planos setoriais de desenvolvimento com os princípios da Política Estadual de Meio Ambiente (art. 239, cap. XVI). Soma-se a esta relação Estado-município, a atuação do Projeto Orla, uma iniciativa do governo federal com o objetivo de fortalecer a articulação dos diferentes atores do setor público para a gestão integrada da faixa de praia, desenvolvendo mecanismos de mobilização social e de desenvolvimento sustentável. O domínio costeiro do Estado destaca-se pelas suas peculiaridades. Os ventos, constantes e intensos, deram origem à formação da cobertura de dunas, desenvolvidas paralelamente à linha de costa. Estes campos de dunas frontais, embora sejam de indiscutível importância na dinâmica destes ambientes, em algumas situações foram considerados como um obstáculo paisagístico, incentivando a ocupação da faixa de praia, principalmente por bares, restaurantes e quiosques, ameaçando importantes ecossistemas, e algumas vezes privatizando áreas de praia. Esta situação de conflito tem ampliado a demanda de pedidos de licença destas atividades na FEPAM e induzido a elaboração de diretrizes que orientem o processo de licenciamento. Por outro lado, em função do grande afluxo de veranistas, este tipo de atividade apresenta-se como uma alternativa de apoio ao lazer na faixa de praia e resulta numa atividade econômica tradicional, como fonte de renda para as populações locais. Neste contexto, o presente trabalho procura descrever a situação atual de ocupação da faixa de praia do litoral norte quanto aos quiosques, bares, restaurantes e urbanização irregular, buscando aprimorar os critérios adotados pela FEPAM nos processos de licenciamento ambiental destas atividades. Da mesma forma, visa definir o planejamento a ser adotado na otimização das ações de licenciamento, buscando compartilhar a gestão ambiental com os municípios, através da definição de uma estratégia para o licenciamento e planos de ocupação faixa de praia. Neste trabalho foi possível verificar a convergência entre as ações do Projeto Orla e as adotadas pelo Estado. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 2

ÁREA DE ATUAÇÃO A costa do Rio Grande do Sul é formada por áreas planas que se estendem por aproximadamente 618 km no sentido norte-sul, denominada Planície Costeira, que ocupa o setor oriental do Estado, desde o rio Mampituba, ao norte, até o arroio Chuí, ao sul. É uma planície sedimentar, abrangendo o conjunto de terras mais baixas do Estado (Gonçalves e Santos, 1985), sendo formada por uma estreita faixa ocupada por restingas, Lagoa dos Patos, Lagoa Mirim, Lagoa Mangueira e outras lagoas costeiras, totalizando uma superfície aproximada de 37.000 km 2. Para fins do Programa Nacional de Gerenciamento Costeiro (GERCO), a região foi delimitada em função da sua formação geológica, relevo, bacia de drenagem e limites políticos, alternando-se a importância destas variáveis conforme as características mais marcantes da região de planejamento. A FEPAM iniciou o GERCO no Estado pelo Litoral Norte, a partir de 1988, em função do ritmo intenso das transformações que vêm ocorrendo nestes municípios, resultante da maior concentração populacional e pelo nível de organização político-administrativa, facilitando as fases de execução e implementação do referido programa. Com base nos critérios descritos, a área adotada para o planejamento do Litoral Norte está enquadrada entre as coordenadas geográficas 29 12'S e 30 17'S de latitude, 49 43'W e 50 30'W de longitude, ocupando uma área de 3.766 km 2 (Fig. 1). Abrange 19 municípios, sendo que, destes, 10 se estendem pela linha da costa, quais sejam: Torres, Arroio do Sal, Terra de Areia, Capão da Canoa, Xangri-lá, Osório, Imbé, Tramandaí, Cidreira e Balneário Pinhal. A população da região caracteriza-se principalmente pela flutuação sazonal entre os meses de inverno e verão. Se durante a maior parte do ano a população dos dez municípios costeiros fica em torno de 181.699 habitantes, no verão este contingente atinge cerca de 569.542 habitantes. Esta variação de 387.843 habitantes gera uma pressão muito grande nos setores de serviços, comércio e infra-estrutura urbana, exigindo políticas públicas e ações que garantam a qualidade ambiental e a proteção dos recursos naturais e ecossistemas da região. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 3

ÁREA DE ATUAÇÃO Figura 1 Litoral Norte METODOLOGIA A concepção da metodologia de trabalho buscou estabelecer uma atuação articulada, vinculando o licenciamento ambiental com o comprometimento dos agentes municipais, através de uma gestão ambiental compartilhada e legitimada pela sociedade. Estes fatores visam aumentar a eficiência da gestão, com a descentralização de ações e a participação dos atores locais no processo. O trabalho desenvolveu-se em 03 fases; a primeira compreendeu o conhecimento da realidade atual de ocupação da orla; a segunda corresponde a de um processo de mobilização do poder público municipal e dos demais atores diretamente envolvidos. Em paralelo, foi promovida a articulação com outros níveis de decisão ( federal e estadual ), buscando minimizar conflitos de atuação. A terceira etapa é a implementação e acompanhamento do planejamento proposto. Na realização das atividades adotou-se as seguintes etapas metodológicas: 1 FASE - DIAGNÓSTICO - Levantamento contemplando, além da caracterização da dinâmica ambiental da região costeira, a situação atual de ocupação da orla marítima, através de mapeamento georreferenciado de todas as construções identificadas, in loco. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 4

2 FASE - ENVOLVIMENTO E ARTICULAÇÃO DO PODER PÚBLICO MUNICIPAL E FEDERAL - Realização de reuniões com representantes do Poder Público Municipal e a participação do Ministério Público Estadual e Patrulha Ambiental da Brigada Militar, buscando sensibilizar sobre a importância de uma atuação compartilhada na gestão da faixa de praia. - Realização de reuniões com o representante da Gerência Regional do Patrimônio da União visando compatibilizar procedimentos de atuação, bem como avaliar as orientações do Projeto Orla Marítima. COMPROMETIMENTO DO PODER PÚBLICO MUNICIPAL - Assinatura de Termo de Compromisso com as prefeituras municipais definindo prazos e formas de apresentação do Plano de Uso da Faixa de Praia Planos Municipais de Uso da Faixa de Praia - Apresentação de proposta de planejamento municipal para licenciamento no órgão ambiental. Audiências Públicas - Realização de audiências públicas em cada município, com a participação de todos os atores envolvidos, através de convites específicos e divulgação nos meios de comunicação local e regional, para discutir e legitimar as propostas. 3 Fase - Viabilização Ambiental e Implementação dos Planos - Licenciamento do Plano e acompanhamento da sua implementação, com base nos critérios ambientais e nas contribuições da comunidade. RESULTADOS 1 Fase Para realização do diagnóstico foi contratado um consultor que em conjunto com técnicos do órgão ambiental levantou a situação atual da ocupação da faixa de praia quanto aos quiosques, bares e restaurantes nas praias de Torres, Arroio do Sal, Terra de Areia, Capão da Canoa, Xangri-lá, Osório, Imbé, Tramandaí, Cidreira e Balneário Pinhal, durante o inverno de 2001. Foram estabelecidos critérios que caracterizaram cada estabelecimento: o tipo, o estado de conservação, a dimensão, a sazonalidade da ocupação, presença de sanitários, conexão à rede elétrica e hidráulica, a distância entre as construções, a padronização e a relação dos mesmos com o meio local. Esta avaliação foi realizada a partir de levantamentos in loco com a obtenção de registros fotográficos, georeferenciados e apresentados em mapas individuais para cada município. Os resultados obtidos demonstraram a existência de 650 quiosques ao longo dos 120 km da área de estudo, com forma, distribuição, e conservação muito semelhantes. Percebe-se existir uma relação direta entre a densidade de quiosques e o nível de urbanização. Observa-se uma grande variedade de quiosques ao longo dos da orla, principalmente no que se refere ao tipo de construção, material utilizado, localização na praia e estado de conservação. Os problemas ambientais e sociais relacionados aos quiosques são semelhantes em todos os municípios. Os principais problemas observados foram: - Quiosques em péssimo estado de conservação. - Quiosques construídos sobre as dunas frontais ou em locais que interferem na dinâmica das mesmas. - Existência de quiosques dentro do curso das águas de sangradouros. - Quiosques abandonados, - Alta densidade de quiosques próximo a calçadões e centros urbanos. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 5

Para fins de interpretação, estes resultados são apresentados por município. BALNEÁRIO PINHAL Os resultados obtidos apontaram para a existência de 37 quiosques em aproximadamente 9 quilômetros de extensão no município com distâncias entre os mesmos variando de poucos metros até mais de um quilometro. Dados obtidos na prefeitura do município apontam para uma redução do número de estabelecimentos de 1998 à 2001 de 49 para 37, ou seja, 32%. É importante ressaltar que a largura do pós praia oscilou entre 30 e 70 metros, sendo definido pelo grau de proximidade da ocupação humana. Essa largura é de fundamental importância para o planejamento da utilização da orla, pois quanto mais estreita for a praia, mais intensos serão os efeitos das ressacas na mesma. CIDREIRA O município possui aproximadamente 15 quilômetros de orla marítima, onde foram catalogados 30 quiosques, sendo que a distância entre os mesmos varia de 50 metros ate mais de 1 quilômetro. A largura da faixa de praia de Cidreira variou entre 30 e 80 metros, conforme do tipo de urbanização. Nas áreas onde as construções não invadem a orla essa largura tende a ser maior. Da mesma maneira que Balneário Pinhal, o município de Cidreira encontra-se em uma área onde a erosão costeira tem sido mais evidente nos últimos anos, sendo que vários estudos apresentam indícios da efetividade deste fenômeno. Este fato implica em uma atenção quanto ao planejamento da faixa litorânea, pois além de suscetível a ação de ondas de tempestade, a mesma teve o seu cordão de dunas frontais bastante alterado. TRAMANDAÍ A faixa de praia do município de Tramandaí possui diferentes graus de urbanização, sendo que as características dos estabelecimentos a beira mar está atrelada a esta urbanização. A porção sul da orla do município é desabitada, em contraste com altas densidades populacionais existentes no município. A faixa de praia de Tramandaí, nos 14 quilômetros de extensão apresentou largura de aproximadamente 100 metros e a distância entre os 151 quiosques catalogados no município variou de 15 metros até 500 metros, sendo que grande parte deles encontra-se a distâncias inferiores a 50 metros. Em comparação aos dados coletados junto a prefeitura do município, observamos um crescimento de aproximadamente 10% no número de estabelecimentos comerciais na faixa de praia entre os anos de 1998 e 2001, quando os mesmos passaram de 136 para 151. A padronização de 80% dos quiosques é relevante, pois 120 quiosques seguem os padrões estabelecidos pela prefeitura, embora esta padronização apresente variações para os diferentes setores da orla. Observamos que existem estruturas de quiosques abandonadas junto à praia, o que pode trazer problemas para a segurança dos veranistas. IMBÉ O município apresenta uma orla com poucas áreas não urbanizadas, sendo o setor sul o que apresenta uma urbanização mais intensa com a presença dos principais pontos de comércio e serviços, alem de um calçadão com centenas de metros. Os setores norte e central desenvolveram um padrão com bairros que apresentam características residenciais e de veraneio (STROHAECKER 2001). Imbé, em seus 11,5 quilômetros de extensão, possui hoje 117 quiosques instalados, número que representa uma queda de 17% no total de estabelecimentos entre 1998 e 2001. OSÓRIO ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 6

O município de Osório era constituído pelas terras correspondentes aos atuais municípios de Tramandaí, Cidreira, Balneário Pinhal, Capão da Canoa, Xangri-lá e Imbé. Hoje a orla do município possui aproximadamente 3 quilômetros de extensão, constituindo-se em uma das menores faixas de praia do Litoral Norte do Estado. Neste espaço foram catalogados 13 quiosques (em 1996 eram 5 e em 1998 eram 14) relativamente bem distribuídos, sendo que a maioria deles encontram-se em bom estado de conservação. XANGRI-LÁ Neste trabalho observamos a existência de 85 quiosques, na faixa de 11 quilômetros de orla do município, sendo que no período entre 1998 e 2001 praticamente não houve variação no número de estabelecimentos (em 1998 eram 84). Estes resultados apontam para um certo padrão dos estabelecimentos, embora nem sempre esta padronização possa ser visível, pois o modelo de quiosque e localização junto a praia variam bastante. Os resultados quanto a dimensão indicam a presença de construções de tamanho médio e grande (69%), quase todos ligados de alguma maneira a rede de água e luz e sem a presença de sanitários em 92%. Observamos existir variações nos padrões dos quiosques que concordam com os padrões de urbanização do município, no setor sul os quiosques são menores e mais espaçados, enquanto que ao norte os mesmos são maiores e com uma infra-estrutura mais sofisticada. CAPÃO DA CANOA Foram catalogados 118 quiosques, na faixa de 18 quilômetros de extensão de orla, em contrapartida aos 65 existentes em 1998, segundo dados da prefeitura. Estes valores indicam um crescimento do número de estabelecimentos de aproximadamente 45% neste período. A presença de estruturas de madeira utilizada em eventos esportivos durante o verão intensifica o processo de utilização da orla, pois as mesmas não são retiradas após a temporada de veraneio, ficando sujeitas a ação dos ventos, chuvas e ressacas. Muitas vezes a mesma estrutura é reaproveitada no ano seguinte. Uma peculiaridade de Capão da Canoa é o percentual de quiosques construídos em alvenaria. Foram catalogados 59 quiosques de alvenaria, grande parte deles localizados próximos a zona central e alguns sobre o calçadão existente na orla. Além disto, a localização de alguns estabelecimentos próxima ou sobre as dunas frontais ocasiona problemas tanto para a estrutura construída como para o ambiente, pois as dunas afetadas tendem a diminuir de tamanho com a incidência das ondas de ressaca no inverno e tem dificuldade para sua reconstituição no verão, pois muitas vezes os quiosques funcionam como barreira ao transporte de sedimentos. TERRA DE AREIA O município de Terra de Areia é, junto com Osório, o que apresenta menor extensão de faixa litorânea com aproximadamente 3 quilômetros. As características desta orla são a baixa densidade habitacional em uma urbanização composta de pequenas casas de veraneio. Neste trecho do litoral norte foram catalogados apenas 3 quiosques sendo que todos apresentam as mesmas características: são pequenos, construídos em madeira em mau estado de conservação, não apresentam sanitários e nem ligação a rede de água ou luz localizam-se na base da duna frontal ou sobre a mesma. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 7

ARROIO DO SAL O município de Arroio do Sal apresenta uma faixa de praia de grande extensão, 23 quilômetros, onde o padrão de urbanização de a densidade são pequenos, com casas com 1 e 2 pavimentos e densidade media e torno de 20 a 30 habitantes por hectare. Foram catalogados 43 quiosques, sendo que em 1998 eram 25, denotando um crescimento de aproximadamente 40% no número de estabelecimentos e 100% dos quiosques vistoriados não apresentavam um padrão. Encontramos, também, estruturas de quiosques que foram abandonados e que estão se deteriorando. TORRES No total foi verifica a existência de 40 quiosques junto aos 17 quilômetros de extensão da orla de Torres, sendo que é possível observar a grande incidência de quiosques construídos em alvenaria, padronizados e com sanitários (81%). Estes valores percentuais representam a grande quantidade de estabelecimentos existentes no calçadão da Praia Grande. 2 FASE A segunda etapa deste trabalho - o processo de mobilização através do envolvimento e articulação do poder público municipal e federal e comprometimento dos diferentes atores na gestão ambiental da faixa de praia, contou com realização de 02 reuniões, a primeira na sede da FEPAM e a outra na região, no Litoral Norte. Na primeira reunião, realizada em 27 de novembro de 2001, participaram em torno de 40 pessoas, entre técnicos representantes das prefeituras municipais, secretários municipais e representantes de outros órgãos públicos resultou na concordância sobre a necessidade de uma atuação voltada para equacionar os problemas detectados. Nesta reunião foram apresentados o diagnóstico com a situação atual do uso da faixa de praia, os critérios ambientais adotados pelo órgão ambiental do Estado e informações gerais sobre o Projeto Orla Marítima em desenvolvimento pelo Governo Federal. A partir daí, definiu-se as condições de um comprometimento dos municípios para a apresentação de uma proposta de planejamento relativa a ocupação da orla, bem como as formas de atuação durante o verão de 2002. Optou-se pela elaboração de um Termo de Compromisso entre o órgão ambiental e as Prefeituras, no qual seriam estabelecidos os elementos mínimos que integrariam o Plano Municipal de Uso da Faixa de Praia, bem como os prazos para o seu atendimento. A apresentação das diretrizes gerais do Projeto Orla Marítima por um funcionário do Ministério do Meio Ambiente permitiu contextualizar as ações e verificar a sua convergência com a iniciativa federal. O referido projeto visa repassar atribuições de gestão desse espaço para a esfera municipal, incorporando normas ambientais na regulamentação dos usos dos terrenos e acrescidos de marinha, buscando uma mobilização social neste processo e a descentralização das políticas públicas. Envolve a Secretaria de Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente e a Secretaria de Patrimônio da União do Ministério do Planejamento. A segunda reunião foi realizada em Capão da Canoa, em 20 de fevereiro de 2002 com a participação de todas as Prefeituras, e representantes do Ministério Público, com o objetivo de formalizar o compromisso assumido na reunião anterior. Na própria reunião foram assinados a maioria dos Termos de Compromisso. O Termo de Compromisso ratificou o comprometimento assumido pelos município e definiu prazos e os procedimentos a serem adotados na elaboração dos Planos de Uso da Faixa de Praia. Neste Termo, também, está definido a necessidade de realização de consultas públicas através de Audiências Públicas, de responsabilidade da prefeitura para divulgação e manifestação da população do plano apresentado. Foi possível verificar que houve uma sensibilização para o problema e uma motivação no sentido de buscar soluções ambientalmente adequadas, já que todos os Municípios compareceram ao evento. Houve grande interesse, principalmente dos veículos da imprensa local, na divulgação da reunião e seus desdobramentos futuros. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 8

Dentro do contexto do Projeto Orla Marítima, de compatibilizar as políticas ambiental e patrimonial no trato dos espaços litorâneos, partiu-se para reuniões com a Gerência Regional do Patrimônio da União no Rio Grande do Sul. Verificou-se grandes dificuldades na compatibilização de critérios de atuação devido a diferentes interpretações da legislação quanto ao uso público das praias, o que viabilizaria ou não a implantação de quiosques mediante concessão das prefeituras. Esgotadas as possibilidades de articulação com o SPU em nível regional, partiu-se para uma solicitação formal da Secretaria do Meio Ambiente do Estado do RS ao Ministério do Meio Ambiente para que fosse gestionado junto ao SPU, em âmbito federal, a possibilidade de regularização destas atividades na faixa de praia, desde que condicionadas a critérios ambientais. Esta iniciativa busca respeitar as peculiaridades de cada Estado e reforçar o caráter de gestão ambiental, dentro dos princípios do gerenciamento costeiro. Em continuidade ao processo, cumprindo ao acordado no Termo de Compromisso, as prefeituras apresentaram seus planos de uso da faixa de praia, contendo memorial das atividades e obras pretendidas, plantas com localização das mesmas e cronograma para a implantação e adequação do previsto. Estes planos foram protocolados na Fepam, visando a obtenção de uma Declaração de Viabilidade Ambiental. Dos 10 municípios envolvidos neste processo, 07 apresentaram seus planos dentro do prazo, 01 entregou fora do prazo sem protocolar e 02 solicitaram novos prazos. É importante salientar o interesse do município de Palmares do Sul, que possui balneário ao sul da área de trabalho, e solicitou a sua inclusão neste processo. A análise preliminar dos planos apresentados permitiu a reavaliação de critérios, sendo as intervenções classificadas em duas categorias viáveis, com ajustes e inviáveis, em conflito com as diretrizes ambientais. As propostas apresentadas refletem a preocupação local com a padronização dos quiosques, variando de 12 m 2 a 70 m 2 ; com a preservação das dunas através da construção de passarelas de transposição e medidas de contenção e deferentes distanciamentos entre os quiosques, em função da densidade de ocupação. Os critérios de avaliação do plano consideram a realidade da ocupação da faixa no Litoral Norte do Estado, a intenção da comunidade representada pelas contribuições nas audiências públicas e pelo poder público municipal e diretrizes gerais de proteção ambiental manutenção da paisagem, preservação das dunas, não contaminação do ambiente e que estas áreas são públicas de uso comum do povo, devendo ser garantido seu do uso público. Os principais critérios adotados na análise foram: - somente serão licenciadas na faixa de praia as atividades contempladas no Plano Municipal; - os tipos de estabelecimentos e instalações propostos serão avaliados considerando-se aspectos de proteção ambiental, densidade demográfica, paisagem e cultura local de uso da faixa de praia; - não será admitida qualquer intervenção que venha alterar as condições naturais das dunas frontais; - não poderá haver obstrução significativa da paisagem característica local; - as.edificações devem ser de pequeno porte, com estruturas leves, de fácil remoção, sobre palafitas; - não poderão ser lançados esgotos sanitários, mesmo que tratados, na faixa de praia e as águas servidas provenientes de copa e cozinha, deverão ter alternativa adequada de disposição dos efluentes. Após análise prévia dos planos, foram realizadas reuniões com os representantes dos municípios buscando uma avaliação conjunta e a percepção das necessidades locais, bem como a preparação das audiências públicas. Nestas reuniões observou se o nível de envolvimento do poder municipal na elaboração dos planos e seu comprometimento com a implementação. Em algumas prefeituras houve o envolvimento direto da prefeito municipal e em outras, somente dos técnicos da área de meio ambiente e secretaria de obras. A inclusão no Termo de Compromisso da obrigatoriedade da realização de Audiências Públicas garante que os Planos de cada municipalidade sejam divulgados à sociedade em geral e permite que os atores envolvidos discutam e avaliem o seu conteúdo, legitimando as propostas. As primeiras quatro audiências, realizadas em Tramandaí, Imbé, Capão da Canoa e Balneário Pinhal, demonstraram que a parcela da população com participação mais representativa foi a dos quiosqueiros, devido ao seu estreito grau de envolvimento com as mudanças propostas. Percebeu-se nítidas diferenças na aceitação do Plano, de forma proporcional ao engajamento dos comerciantes na sua elaboração, que, em alguns casos ocorreu através de reuniões prévias às audiências. Verificou-se, ainda, que nos casos em que houve a participação pessoal do Prefeito, o Plano demonstrou ser mais respeitado pela comunidade. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 9

3 FASE Na etapa de viabilização dos planos, espera-se que os municípios envolvidos passem a atuar na faixa de praia de uma forma mais orientada e controlada, já que todas as atividades desenvolvidas na orla serão de responsabilidade da Prefeitura, o que otimiza a fiscalização da sua implantação dentro do cronograma previamente estabelecido. Esta ênfase na responsabilidade da esfera municipal de poder, permite um maior comprometimento local e possibilidades mais concretas da manutenção da qualidade dos recursos ambientais da zona costeira. CONSIDERAÇÕES FINAIS O conhecimento de uma realidade de uso e ocupação inadequados da faixa de praia, com reflexos na paisagem litorânea, contaminação de recursos naturais e interferência na dinâmica ambiental, indicou ao poder público estadual a necessidade de uma atuação voltada para a solução dos problemas. Todo o processo de gestão ambiental procurou respeitar as características diferenciadas de cada localidade, tanto no que se refere ao tipo de usos e atividades praticados na faixa de praia, quanto a sua importância como fator econômico para as comunidades. O reconhecimento pelo órgão ambiental estadual das peculiaridades de cada comunidade reforçou a importância do planejamento municipal. Além disso, dentro dos princípios do Projeto Orla marítima, foi viabilizada uma ação local dentro de um contexto federal e, em consonância com as diretrizes da política ambiental estadual, consolidou-se um processo de gestão compartilhada. É importante registrar as dificuldades encontradas para compatibilizar procedimentos e atuação entre o Estado e o Serviço de Patrimônio da União, que até o momento ainda estão em discussão buscando uma ação mais integrada. A mobilização dos atores no âmbito municipal teve como facilitador a atuação da equipe do Programa de Gerenciamento Costeiro, que tem um trabalho reconhecido e muito próximo dos técnicos municipais da área de meio ambiente. Esta integração permitiu uma adesão total das prefeituras aos Termos de Compromisso para adequação das atividades e, planos municipais, em sua grande maioria, dentro dos critérios ambientais adotados pela FEPAM. Nas audiências públicas foi constatado que quanto maior o envolvimento do poder executivo municipal, maior aceitação mereceu o Plano. A participação mais significativa foi dos quiosqueiros, por tratar-se de setor diretamente atingido. Embora as reuniões tenham sido divulgadas na imprensa, os veranistas não se envolveram no processo, possivelmente pela necessidade de deslocamento até o litoral norte em época de inverno. Não foi realizada pesquisa específica com a população de veranistas, porém, em trabalho paralelo realizado pelo GERCO sobre aspectos antropológicos da Zona Costeira, foi constatado que as pessoas tem boa aceitação e até mesmo expectativa por atendimento de quiosques na faixa de praia durante o veraneio. A perspectiva de concretização das melhorias ambientais propostas nos Planos de Uso da Faixa de Ppçraia, tais como diminuição da contaminação por efluentes de águas servidas, padronização das construções, maiores afastamentos entre as mesmas e possibilidade de uma fiscalização mais efetiva, permite concluir que houve uma importante contribuição para a melhoria da qualidade ambiental da orla marítima, legitimada pelo envolvimento da comunidade e pelo comprometimento do poder público municipal, em articulação com o órgão ambiental estadual. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 10

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Diagnóstico da Situação Atual da Faixa de Praia quanto aos Quiosques, bares e Restaurantes do Litoral Norte do RS. 2001. Fundação de Proteção Ambiental FEPAM Porto Alegre, RS. 93p 2. NICOLODI, J.L. 1999. Os Impactos produzidos pelas Ressacas no Balneário de Cidreira, Litoral Norte do Rio Grande do Sul. Trabalho de Graduação do curso de Geografia. UFRGS. Porto Alegre. 3. NICOLODI, J.L.; FERRARO, L.M.W.; LAYDNER, C.; PINEDE, D. 1999. O Campo de Dunas do Litoral Norte do Rio Grande do Sul: Potencialidades, Usos e Restrições. In: VII Simpósio Brasileiro de Geografia Física Aplicada. Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Anais. V. 1, p 292 294. 4. PROJETO ORLA, Fundamentos para Gestão Integrada. 2001. Ministério do Meio Ambiente. Secretaria de Qualidade Ambiental nos Assentamentos Humanos. Distrito Federal, brasil. 50p. 5. SILVA, R. P. 1998. Ocorrência, Distribuição e Características Morfodinâmicas dos Sangradouros na, T.M. 2001. A produção do espaço no Litoral Norte: uma analise preliminar. In: Zona Costeira do RS: Trecho Rio Grande Chuí. Instituto de Geociências. UFRGS. Tese de mestrado. 6. STROHAECKER, T. Ensino de Geografia, Planejamento Ambiental e Gestão Territorial. Associação dos Geógrafos Brasileiros Seção Porto Alegre. 216 p. 7. TOMAZELLI, L.J. 1993. O Regime de Ventos e a Taxa de Migração das Dunas Eólicas Costeiras do Rio Grande do Sul, Brasil. In: Pesquisas. IG\UFRGS. Porto Alegre, RS, Brasil. V. 20, p 18 26. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 11