GRUPO DE ESTUDOS EM SOFRIMENTO PSÍQUICO CONTEMPORÂNEO: IMPLICAÇÕES PARA A EXPERIÊNCIA SINGULAR E COMPARTILHADA

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Transcrição:

1 GRUPO DE ESTUDOS EM SOFRIMENTO PSÍQUICO CONTEMPORÂNEO: IMPLICAÇÕES PARA A EXPERIÊNCIA SINGULAR E COMPARTILHADA PATRÍCIA MENDES LEMOS 1 HILANA SOUSA FERREIRA 2 FRANCISCO HÁLLISSON FARRAPO SÁ 3 Resumo: O relato de experiência exposto aqui apresenta a descrição de nosso percurso no Grupo de Estudos em Sofrimento Psíquico contemporâneo na perspectiva fenomenológica, o qual foi promovido pelo Programa de Iniciação Científica (PROIC) da Faculdade Luciano Feijão (FLF). Utilizamos a abordagem fenomenológica para compreensão das temáticas estudadas, considerando o conceito de experiência, na busca por compreender quais os sentidos atribuídos ao grupo pelos discentes. Apresentamos como resultados do processo grupal: o interesse pela produção científica, o olhar amplo e complexo sobre os modos de sofrer contemporâneos e o estreito envolvimento como os conteúdos refletidos. Palavras-chaves: Sofrimento Psíquico. Contemporaneidade. Grupo de Estudos. A assimilação teórica não prescinde da experiência. É pela experiência que nos envolvemos com as leituras e estudos para então criarmos e significarmos a partir deles. Experiência significa vivência + consciência de algo, uma apropriação de conteúdo ou significado que faz uso de um processo de dar-se conta sobre uma novidade que se deseja saber (ALVIM, 2014). Trata-se de uma forma de saber que advém do campo experiencial, necessariamente passando pelo crivo interno do sujeito que conhece, atravessando suas convicções, preconceitos, fantasias, história passada e aspirações futuras. Ao propormos a temática do grupo de estudos em questão, não pudemos nos eximir da responsabilidade de promover um processo de estudos e apropriação de conteúdos complexos, que levasse em conta a experiência dos aprendentes e os implicasse no processo de produção do conhecimento de modo responsável e desafiador. Tendo consciência de que 1 Mestre em Psicologia (UFC/CE). Docente do Curso de Psicologia da Faculdade Luciano Feijão (FLF). E-mail: ptmenl_78@hotmail.com. 2 Graduanda em Psicologia pela Faculdade Luciano Feijão (FLF). E-mail: hilanasferreira@gmail.com. 3 Pós-graduado em Metodologia do Ensino em Língua Portuguesa e História pelo Instituto de Teologia Aplicada (INTA). Graduando em Psicologia pela da Faculdade Luciano Feijão (FLF). E-mail: hallisonsa@hotmail.com.

2 os conteúdos trabalhados diriam respeito não somente a conceituações teóricas abstratas, distanciadas da realidade vivida pelos (as) discentes participantes, mas fundamentalmente a fenômenos do cotidiano de nossa sociedade atual, intuímos a necessidade de um método que nos permitisse facilitar a relação indissociável entre os estudos sugeridos e a vida concreta dos participantes do grupo. Para tanto, adotamos como método o círculo de leitura, levando em conta a bibliografia recomendada, aliada ao estudo partilhado e às reflexões advindas da troca de experiências e dos diferentes posicionamentos e conhecimentos prévios dos participantes. Os círculos de leitura são uma modalidade de prática leitora organizada em prol da partilha de textos e de pontos de vista sobre eles. Foram realizados encontros durante os quais não se desenvolveram apresentações expositivas, mas exercícios coletivos de leitura e de discussão, orientados por um (a) ou mais leitor (es)-guia, ou mediador (es) de leitura, o (s) qual (is) era (m) definido (as) prévia e voluntariamente no encontro anterior. O círculo caracterizou-se por um movimento em que todos se envolveram, através do diálogo mediado, podendo trocar sucessivamente de lugar ou papel. Tal procedimento metodológico concedeu a possibilidade de uma leitura viva e não solitária, onde o conhecimento pôde ser partilhado e modificado pelas trocas relacionais (BOHM & MARANGONI, 2011). A metodologia de orientação fenomenológica esteve presente em relação às categorias teóricas, com vistas à descrição exaustiva dos conceitos, bem como à captação dos aspectos mais essenciais dos temas centrais das leituras realizadas (MOREIRA, 2004; DARTIGUES, 2002). Tendo como foco uma vertente compreensiva, ao invés de explicativa ou interpretativa, a fenomenologia permite a emergência da experiência, a qual se vincula ao conceito estudado, promovendo uma relação nova de significação. Evidencia-se, assim, aquilo o que faz sentido para o leitor-aprendente, por acoplar-se à sua experiência vivida (sentida, imaginada, lembrada, pensada), e a partir dela se resignificar. Quer dizer que, ao entrar em contato com o conteúdo estudado, os leitores-discentes buscavam em si o arsenal de conhecimentos prévios existentes, bem como sua bagagem existencial, numa tentativa não meramente racional, mas sentida, de compreensão e apreensão da realidade.

3 O viés fenomenológico concedeu, portanto, uma compreensão significada pelos participantes, em que a hermenêutica dos textos esteve atrelada a um sentido singular, o qual emergiu do diálogo recíproco, numa simbolização fruto de consensos e divergências expressas entre os discentes e docente, integrantes do grupo, na efetivação do círculo de leitura. Fundamentamo-nos na concepção de Paulo Freire (FREIRE, 1993/1981, 1987) da palavra como leitura do mundo, onde se constitui a representação da relação dos discentes com a cultura e o contexto social de constituição de suas subjetividades. Analisamos, ainda, à luz da filosofia heideggeriana, que os estudos e as leituras compartilhadas puderam possibilitar a expressão do dasein ou ser-no-mundo por refletirem a condição indissociável da relação dos discentes com a sua vida social e concreta (LYRA, 2008). O Grupo de Estudos em Sofrimento Psíquico Contemporâneo na perspectiva fenomenológica foi promovido pelo Programa de Iniciação Científica (PROIC) da Faculdade Luciano Feijão (FLF), constituindo o seu período de vigência de 1 (um) ano, de Março de 2016 a Março de 2017, tendo contado com a participação de 20 (vinte) discentes de diversos semestre do curso de Psicologia da mesma instituição. O processo de estudos em grupo buscou promover o aprofundamento da compreensão dos discentes sobre o sofrimento psíquico contemporâneo na perspectiva fenomenológica, através de leituras compartilhadas sobre o tema, com foco nos conceitos de sofrimento psíquico, contemporaneidade e abordagem fenomenológica. A carga horária de 20 horas mensais distribuiu-se da seguinte forma: 2 (duas) horas de leitura em grupo em um encontro de periodicidade semanal; 1 (uma) hora semanal para orientação individual (orientação para produção de trabalhos científicos) e 2 (duas) horas de estudos individuais e planejamento de atividades. Os estudos e leituras realizadas foram divididos em dois blocos de estudo de categorias teóricas (ECT): ECT I: Conceitos de sofrimento psíquico e contemporaneidade; ECT II: Abordagem fenomenológica do sofrimento psíquico.

4 Tivemos como objetivo principal promover o aprofundamento da compreensão dos participantes sobre o sofrimento psíquico contemporâneo, assumindo a postura fenomenológica (de compreensão dos conteúdos), através de estudos sobre a temática, além de realizar atividades de pesquisa e intervenções, como elaboração de resumos para apresentação em eventos científicos e Ações de mobilização social. Os objetivos específicos alcançados versaram sobre: 1) Promover uma compreensão crítica do conceito de sofrimento psíquico contemporâneo; 2) Compreender, de modo aprofundado e aplicado, a perspectiva fenomenológica em Psicologia; 3) Relacionar a prática clínica e de saúde ao olhar social em Psicologia; 4) Estimular a elaboração de resumos e artigo (s) científico (s), bem como a participação por meio de apresentações em eventos científicos sobre o tema. A partir de uma tradição humanista-fenomenológica, pudemos pensar o sofrimento psíquico, dimensão há muito estudada pela ciência psicológica, como uma condição a priori da existência humana. Tal afirmação, porém, é insuficiente e não nos isenta da árdua tarefa de compreender o sofrimento psíquico não apenas em suas nuances existenciais e comportamentais, mas fundamentalmente, nos aspectos em que ele é atravessado pela situação histórica, ou seja, pelo contexto da contemporaneidade. Em quaisquer áreas de atuação, tanto o discente em Psicologia como o profissional psicólogo, deparam-se com o fenômeno dos complexos modos de sofrer contemporâneos, os quais se manifestam como ausência de potência, sentimento de vazio, experiência de desespero, fenômeno depressivo, relações de adição, expressões de ruptura e violência, entre outros. Torna-se, portanto, um investimento necessário o da compreensão das características e dos modos de produção desse sofrimento, que tem suas raízes não apenas nas significações individuais, mas na época em que vivemos. Este relato de experiência de nossos encontros, que constituíram o processo grupal em torno da temática referida, visa a retratar com fidedignidade os aspectos mais fundamentais de nossa construção conjunta, destacando os elementos emblemáticos que marcaram a nossa caminhada. Para tanto, expressamos, nos tópicos a seguir, a análise de temáticas apreendidas da experiência compartilhada (entre a docente e os (as) discentes),

5 adotando como foco os significados singulares advindos dos relatos e observações do grupo. Tal compreensão partiu de instrumentos como diário de campo (registrado pela docente coordenadora do grupo), avaliações orais e escritas, atividades executadas durante os encontros (como dinâmicas, discussões realizadas a partir da apresentação de estímulos audiovisuais e construções conceituais conjuntas). SOBRE AS 3 DIMENSÕES: SOFRIMENTO PSÍQUICO, FENOMENOLOGIA E CONTEMPORANEIDADE No início do processo em grupo, os participantes vivenciaram uma atividade de construção conceitual conjunta, em que partilharam os seus conhecimentos e especulações sobre os 3 (três) conceitos centrais que constituem o tripé conceitual do grupo de estudos (tabela 1). Ao longo dos encontros, os conteúdos foram sendo aprofundados, a partir das leituras (prévias aos encontros presenciais) e das discussões em grupo, num exercício de refletir o novo e retornar às primeiras impressões. Esse movimento de ir e vir possibilitou aos participantes a compreensão experienciada e promoveu a facilitação da assimilação de conceitos mais complexos. Tabela 1: Significações dos conceitos centrais constituintes da temática do grupo. Significações acerca dos conceitos centrais Sofrimento Psíquico Fenomenologia Contemporaneidade Constitui-se em relação aos padrões sociais Relaciona-se com a obrigação ou o dever de ser feliz Harmonização entre o homem e os fenômenos sociais que o atingem Postura de respeito e abertura à diferença Período de turbulências, vivência de tempo acelerado, falta de tempo Alto nível de estresse

6 Experiência de ansiedade, medo e insegurança Sinônimo de dor, frustração do desejo por algo, pensamentos negativos Epoché: suspensão de julgamentos prévios Descobrir o que está encoberto Extrair algo guardado dentro dos sujeitos Caracterização do contexto político e socioeconômico / Capitalismo tardio Novas tecnologias e modos de relações (virtuais) / Acessibilidade fácil e rápida às informações Ausência de autoconhecimento Existência atrelada ao sentido Experiência de desejo e conquista de poder Experiência de angústia e inquietação Parte da busca por equilíbrio, por agir de modo centrado Processo de busca que contribui ao crescimento e ao desenvolvimento Busca exacerbada pela perfeição Todas as pessoas têm de ter e ostentar para ser Tempo de Angústia Ausência da experiência de amor Relações baseadas na superficialidade e artificialidade Pensamentos acelerados Para compreender teoricamente como se caracteriza e se define a contemporaneidade, pautamo-nos nas ideias gidderianas (GIDDENS, 2002) acerca da Modernidade Tardia, bem como nos conceitos de Modernidade Líquida e Ética pósmoderna de Zygmunt Bauman (2011). Numa aproximação intencional, relacionamos essa leitura mais social dos fenômenos psicológicos com a perspectiva fenomenológica, que se apresenta como método de investigação e ao mesmo tempo como modo de compreensão

7 das leituras acerca do fenômeno estudado (TATOSSIAN & MOREIRA, 2012; MESSAS, 2008). Entendemos o sofrimento psíquico como aspecto fundamental da vida humana e elemento intrínseco a esta condição. Como dimensão humana, o sofrimento psíquico diz de algo que é ao mesmo tempo construído social e historicamente, e constituinte dos sujeitos, de modo que não é possível pensar em produção humana sem a experiência do sofrimento psíquico (OLIVEIRA, 2014, DANTAS, 2009). O termo psíquico, embora suponha uma conotação meramente psicológica, inclui aspectos sociais, culturais e históricos, visto que partimos de uma concepção da Psicologia Social Crítica, para além das limitações de psicologias tradicionais de cunho introspeccionista. Nessa leitura, torna-se clara nossa consideração da relação indispensável entre o sofrimento psíquico e o contexto social contemporâneo. Sabemos que o conceito amplo de Saúde Mental vem romper com a perspectiva de tratamento focado na patologia, adotando uma noção de busca de crescimento psíquico, e incluindo ações de prevenção de problemas mentais, ou seja, o cuidado ao sofrimento psíquico (CASTEL, 1986). Nesse sentido, a definição de sofrimento psíquico também passa por transformações, assim como as políticas, os discursos e as práticas em geral, podendo ter na acepção contemporânea, uma definição como aquilo o que abrange todas as formas de vulnerabilidade psíquica ligadas a situações distintas de exclusão, precariedade, perda de suporte, dos laços sociais. Em suas formas de manifestação, o sofrimento contemporâneo evidencia dificuldades do sujeito de se expressar por meio da palavra, tomando formas somáticas, de adicções ou comportamentos violentos (DANTAS, 2009). CONTRATO DE CONVIVÊNCIA, ESTABELECIMENTO DE VÍNCULO E CONDIÇÕES PARA O PROCESSO GRUPAL O grupo foi estimulado a pensar e a estabelecer as regras e as condições para o desenvolvimento do processo. Essa atividade foi primordial para o bom andamento dos encontros, especialmente por despertar nos integrantes o compromisso e a implicação

8 pessoal, constituindo uma referência importante a ser lembrada nos momentos de maior dificuldade ou descompromisso. Foram condições necessárias na percepção do grupo: - O não julgamento : consiste na atitude de não avaliação ou depreciação das colocações e pensamentos uns dos outros; - Falar o que pode ser dito : tendo em vista que os conceitos evocariam conteúdos pessoais, por terem estreita relação com o contexto de vida atual, os integrantes deveriam expressar apenas o que se sentissem à vontade para manifestar, evitando a exposição da intimidade ou de questões não elaboradas que viessem a provocar algum mal-estar, o qual não pudesse ser sanado no contexto do grupo; - Grupo fechado: a partir do 3º encontro, não seria permitida a entrada de novos participantes, visto que o grupo previa uma carga horária mínima para certificação, além da necessidade de vinculação entre os participantes; - Autonomia: os integrantes deveriam manter uma relação de autonomia e independência, priorizando posturas como de iniciativa e participação, sem esperar pelas decisões do coordenador ou pelas ações dos demais integrantes, mostrando compromisso com o crescimento do grupo. Nesse sentido, foram formadas comissões, nas quais os discentes se inseriam voluntariamente, de acordo com suas habilidades e interesses, realizando papeis e funções específicas: 1) comissão de elaboração do material e das atividades; 2) comissão de divulgação e informações de eventos científicos; 3) comissão de organização de temas e resumos para a apresentação nos eventos científicos de temáticas relacionadas. - Frequência e horário: os integrantes foram orientados e estimulados a cumprir a carga horária mínima, respeitando os horários estabelecidos para os encontros presenciais; - Produção científica: foi esclarecido aos participantes que o grupo de estudos estava vinculado ao Programa de Iniciação Científica (PROIC) da FLF, requerendo o compromisso com a produção científica, devendo apresentar os seus resultados à comunidade acadêmica, especialmente quando da realização dos Encontros Acadêmicos (evento anual da faculdade).

9 DAS TEMÁTICAS EXPERIENCIADAS: A EMERGÊNCIA DE SENTIDOS E VIVÊNCIAS PARA A ASSIMILAÇÃO E A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO O grupo de estudos contou com 2 (dois) planos semestrais, os quais continham as temáticas a serem abordadas, além das referências teóricas utilizadas (capítulos de livros e artigos científicos). Os integrantes também poderiam sugerir outros textos que conhecessem e achassem elucidativos desde que tivessem relação com os temas previamente definidos. Desse modo, os subitens que seguem dizem respeito às categorias emergidas como mais significativas na experiência dos discentes (estando descritas através de temas representativos da experiência essencial do grupo). Estas foram apreendidas dos relatos dos integrantes ou da compreensão do que essas temáticas despertaram em termos de envolvimento pessoal, mobilização das relações grupais, interesse como tema de pesquisa ou produção científica. SER CONTEMPORÂNEO: RECONHECENDO OS NOSSOS MODOS DE SOFRER ATUAIS As temáticas sobre a contemporaneidade marcaram significativamente a experiência dos participantes, os quais puderam se identificar de modo implicado com o contexto social atual, o que facilitou sua compreensão de conceitos de maior complexidade. As associações constantes com experiências vividas, os exemplos compartilhados, as sensações de esclarecimento descritas como confirmadoras e capazes de ampliar o olhar sobre a realidade, mostraram o quanto os participantes tornaram-se capazes de relacionar, como maior propriedade, o momento histórico e social com os modos de expressão do sofrimento psíquico. Compreendemos que o sofrimento e o adoecimento psíquicos adquirem contornos específicos, os quais constituem desdobramentos de sua relação com aspectos característicos da crise cultural contemporânea (LEMOS, FREIRE, 2011, LEMOS, RODRIGUES, MONTEIRO, 2014). As transformações de uma época interferem nas dimensões subjetiva

10 e social, definindo modos de sofrer e adoecer próprios, que desafiam os sujeitos ao seu cuidado, dados os seus aspectos de complexidade e sutileza. São características do contexto histórico atual que implicam diretamente na constituição da identidade e dos modos de sofrer do sujeito na contemporaneidade: - a fragilização das referências simbólicas e institucionais; - o imediatismo em detrimento da percepção da construção histórica e de que os fenômenos se dão de forma gradual ou processual; - o desinteresse e a desapropriação do posicionamento ético-político dos sujeitos; - a fragilidade do laço social; - a experiência midiatizada do mundo substituindo a interação social; - o apelo aos ideais de saúde e bem-estar; - a negação da morte e do sofrimento como condições humanas; - a crise da autoridade e da assimilação de limites; - a perda da capacidade de simbolização e produção de sentidos; - as condutas extremistas, a intolerância à diferença e as diversas formas de violência; entre outros aspectos (LEMOS, RODRIGUES, MONTEIRO, 2014). FENOMENOLOGIA PARA QUÊ? O DESAFIO DA DESCOBERTA A experiência mais significativamente marcante no que compete à fenomenologia foi o grau de dificuldade que os participantes vivenciaram por um lado, e por outro, a possibilidade de compreensão e elucidação de alguns conceitos e fenômenos por um novo viés. Na prática, a fenomenologia foi vivenciada como uma atitude de abrir mão dos próprios preconceitos para a compreensão de algo, e a discussão e a descrição exaustivas das categorias teóricas para a apreensão dos seus aspectos essenciais. Os participantes mencionaram encontrar um sentido nas coisas a partir do exercício fenomenológico. A dificuldade a que se referiam tinha a ver com a compreensão filosófica da abordagem. E vivencia-la como metodologia no processo grupal permitiu desmistificar algumas percepções equivocadas e perceber o alcance amplo e complexo que a abordagem possibilita em termos de assimilação do conhecimento. Destacaram, por exemplo, o seu desconhecimento das definições de corpo, intuição, inconsciente e liberdade pela vertente da fenomenologia, acreditando anteriormente que tais conceitos fossem

11 restritos a outras abordagens teóricas. Além disso, inferiram que a fenomenologia ficou marcada como uma possibilidade futura de intervenção no campo da psicologia clínica e social. RELAÇÕES VIOLENTAS ENTRE OS GÊNEROS: ROUPA SUJA SE LAVA EM CASA? Houve uma grande implicação do grupo com a temática da violência doméstica e familiar, saindo de uma postura preconceituosa e fechada para assumir uma visão mais ampla sobre o fenômeno, sentindo-se verdadeiramente comprometidos com a questão. As reflexões versaram sobre: a participação da sociedade na intervenção frente ao fenômeno, a compreensão de que os papeis de vítima e algoz não se dão por padrões delimitados, a violência como um processo de constituição social e não como expressão meramente individual e patológica, a dinâmica complexa das relações de desigualdade de gênero. O envolvimento dos participantes inspirou um tema de pesquisa, cujos resultados parciais foram apresentados nos Encontros Acadêmicos, tendo levado ao título de 1º lugar e Menção Honrosa no Evento. DEPRESSIVIDADE E SOLIDÃO: HÁ ESPAÇO PARA SER TRISTE E SOZINHO NO MUNDO DE HOJE? Pensar as características do mundo atual e sua relação com o fenômeno depressivo possibilitou aos integrantes compreender os aspectos sociais e culturais que implicam na patologização e medicalização do sofrimento humano. Além de entender que a tristeza e a solidão são expressões indissociáveis da condição do ser humano. No entanto, num entorno adoecedor, as pessoas em geral são impedidas de manifestar suas frustrações e dores, vivendo sobre o imperativo da felicidade. As reflexões acerca do individualismo, do hedonismo, da indiferença ao outro e da ausência ética, como características da contemporaneidade, levaram

12 à emergência de muitas experiências pessoais e vivências concretas que serviram à compreensão do fenômeno depressividade como algo singular e coletivo. Discutiu-se que a depressão se manifesta atualmente como um sofrimento psíquico advindo da incapacidade de viver significativamente, constituindo um processo de despotencialização dos sujeitos, estando relacionada a uma incoerência entre o sentir, o pensar e o agir, a qual é produzida pela incapacidade de experienciar simultaneamente os significados contraditórios associados com práticas discursivas culturalmente conflituosas. O fenômeno depressivo está, portanto, associado ao individualismo, à falta de sentido, ao vazio que caracteriza a vida da sociedade contemporânea (MOREIRA, SLOAN, 2002). SUICÍDIO: QUEM NUNCA PENSOU NA MORTE COMO POSSIBILIDADE? O assunto foi impactante ao grupo e despertou o interesse e a motivação dos discentes, gerando compromisso com a questão. Abordado com a delicadeza necessária, o suicídio passa a ser visto como um evento que se aproxima da vida cotidiana das pessoas, tanto como um fenômeno social crescente, como uma possibilidade para as dores existenciais, para o desespero e a angústia de nossos tempos. Pensar na morte como possibilidade é se aproximar da experiência da pessoa com comportamento suicida com respeito, despindo-se de uma postura preconceituosa ou de uma concepção meramente psicopatológica. Entendemos o comportamento suicida como um fenômeno multifatorial, pelo qual devem ser acolhidos tanto os fatores de risco (predisponentes) quanto suas causas (precipitantes). Desse modo, o ato suicida abrange o viés individual, social e cultural. A taxa de suicídio numa determinada região aponta para o seu grau de sofisticação cultural, isto porque o ato vai contra o mais básico dos instintos, o instinto de autopreservação, sendo, portanto, os modos de convivência social e os valores de uma determinada sociedade que delineiam as condições para o aumento do número de suicídios (FUKUMITSU, 2014). Foram pensadas as diferentes motivações para o suicídio, assim como as características sociais de um contexto constituído pela negação da dor, pela minimização das

13 possibilidades de expressão do sofrimento, de desigualdades sociais ferrenhas, de posturas discriminatórias, entre outras características que não sinalizam para condições de acolhimento e reconhecimento do sofrimento do outro. As discussões geradas culminaram com a Mobilização para a Prevenção do Suicídio, ação que contou com diversos parceiros e abordou o assunto para a comunidade discente e docente, elucidando a necessidade de se debater o assunto que implica a todos na busca pela prevenção e diminuição dos índices do fenômeno, identificado como crescente na região. PRAZER E SOFRIMENTO NO ABUSO DE SUBSTÂNCIAS: ATIRE A PRIMEIRA PEDRA AQUELE QUE NÃO TEM A SUA CACHAÇA! A discussão sobre o abuso e a dependência química quase sempre vem acompanhada de posturas controversas que vão desde uma posição moralista e enrijecida até uma posição de maior abertura, que sustenta a possibilidade de uma convivência livre com as substâncias psicoativas. Os diversos modelos existentes de atendimento e abordagens aos adictos mostram os diversos posicionamentos frente à questão. Diante de um mundo adverso e inóspito, o encontro com as substâncias psicoativas transforma o modo como o sujeito se sente, levando-o ao alcance de possibilidades antes desconhecidas. Tais substâncias passam a ser valorizadas como via de acesso a um viver mais agradável e pleno, encerrando a promessa de sentir-se melhor. A dependência configura-se quando a confiança nessa promessa obscurecer todos os outros apelos do mundo, fazendo com que o cuidado consigo mesmo fique limitado a esta única forma de promoção de um viver melhor (SIPAHI, VIANA, 2001, p. 504). Ao abordar o fenômeno de modo mais despido de preconceitos, partindo do pressuposto de que a dinâmica psíquica dos sujeitos busca modos de escape e alívio de suas dores e angústia, e de que o contexto social favorece comportamentos adictos de grupos e indivíduos, o grupo envolveu-se num debate relevante, pensando em algumas possiblidades de compreender e lidar com o fenômeno no campo da Psicologia.

14 AUTOAVALIAÇÃO E AVALIAÇÃO COMPARTILHADA: OLHANDO PARA SI E PARA O OUTRO NA IMPLICAÇÃO POR UMA CONSTRUÇÃO MÚTUA A autoavaliação e a avaliação do grupo foram ferramentas importantes para o (re) planejamento de ações, para despertar o maior engajamento entre os participantes, e para a apreensão dos sentidos atribuídos por eles sobre a experiência vivida. O quadro abaixo demonstra os aspectos destacados pelos discentes, tomando como pontos avaliados: o aprofundamento teórico, a metodologia, a participação, a realização de leituras prévias, a motivação pessoal e a interação no grupo. Tabela 2: Avaliação compartilhada e autoavaliação. O que eu recebi da Como eu contribuí O que precisa ser Resultados obtidos experiência com o com o grupo de melhorado (em mim grupo de estudos? estudos? ou no grupo)? Aprendizado Interesse Ter mais dinâmicas Troca de experiências Sentimento de gratidão, estímulo à sensibilidade, à tolerância com as diferenças Curiosidade Disciplina quanto à realização das leituras prévias Produções científicas Conhecimentos novos Participação Cansaço pessoal pela sobrecarga de atividades desempenhadas pelos discentes ou pelo deslocamento (alguns vinham de outras cidades) Ações de Mobilização Social Compreensão de Produção teórica Ter mais atividades de Maior interesse pela temáticas complexas campo pesquisa

15 Contato com a abordagem fenomenológica Visão ampla dos fenômenos psicossociais Realização de leituras prévias Planejamento e sugestão de atividades Desconstrução de preconceitos Qualidade do material teórico Metodologia que estimula a participação Características da facilitadora do grupo: paciência, conhecimento, boa condução do grupo O ESTÍMULO À PESQUISA NO OLHAR ÁVIDO PARA OS FENÔMENOS DO MUNDO ATUAL Partindo dessas reflexões teóricas que mobilizaram os estudos do Grupo, foram realizadas, entre outras, as seguintes atividades ao longo do processo: - Escrita de resumos expandidos com vistas à apresentação e publicação nos Anais dos Encontros Acadêmicos e no Seminário PROIC, eventos que compõem o calendário científico da FLF; Realização de relatórios mensais e semestrais; Participação em Roda de Conversa sobre o Movimento Antimanicomial Sobralense; Participação de alunos e coordenador do grupo em eventos científicos externos à instituição; Mobilização Social para a Prevenção do Suicídio; Oficina de produção de resumos e artigos científicos. Dentre as produções realizadas e Apresentações em Eventos Científicos, destacamos:

16 - Apresentação de Palestra em Mesa Redonda. III Epoché Encontro de Psicopatologia e Fenomenologia. Tema: Solidão e adição a jogos virtuais: uma compreensão fenomenológica. - Elaboração de resumos para apresentação em Eventos Científicos: 1) Tema: Uma compreensão fenomenológica do sofrimento psíquico da família de pacientes em cuidados paliativos; 2) Tema: A experiência ansiosa em adolescentes na contemporaneidade: uma leitura fenomenológica; 3) Tema: Uma análise contemporânea sobre a relação entre felicidade e produtividade no trabalho; 4) Tema: Sofrimento psíquico de sobreviventes do suicídio na perspectiva fenomenológica; 5) Tema: O fenômeno bullying e os desafios do sofrimento psíquico no contexto educacional; 6) O suicídio como expressão do sofrimento psíquico contemporâneo: uma compreensão fenomenológica. - Apresentação nos I Encontros Acadêmicos da FLF dos Trabalhos na Modalidade Oral: 1) Tema: Solidão e adição a jogos virtuais: uma compreensão fenomenológica. MENÇÃO HOROSA: 1º lugar na modalidade oral. 2) Violência Doméstica na Contemporaneidade: Sobre os modos de expressão do sofrimento psíquico feminino. MENÇÃO HONROSA: 1º lugar na modalidade oral. 3) Tema: Sofrimento e luto após término de relação amorosa: uma análise fenomenológica. - Elaboração de trabalho completo para publicação nos Anais do I Encontros Acadêmicos: 1) Solidão e adição a jogos virtuais: uma compreensão fenomenológica. 2) Violência Doméstica Na Contemporaneidade: Sobre os modos de expressão do sofrimento psíquico feminino. CONSIDERAÇÕES FINAIS O grupo de Estudos permitiu aos discentes o contato com temáticas densas, que permeiam a contemporaneidade e atravessam a experiência de cada sujeito. A proximidade

17 dos temas com a realidade concreta permitiu uma maior motivação para o aprimoramento das leituras e ações elaboradas em conjunto. O treino ao desenvolvimento de atividades de cunho científico, como elaboração de resumos e trabalhos, apresentações orais e publicações, contribuiu para o crescimento acadêmico e a formação dos participantes. A metodologia utilizada apontou para a necessidade de re (invenção) de estratégias e metodologias de ensino promotoras da participação, do compromisso e da motivação dos discentes. A ações desenvolvidas do Grupo constituíram a representação do vivido experiencial dos discentes, a partir do contato com um dado conteúdo, que se colocou como (pré)texto para a própria autoria na ressignificação de seu ser no mundo. GROUP OF STUDIES IN CONTEMPORARY PSYCHIC SUFFERING: IMPLICATIONS FOR THE SINGULAR AND SHARED EXPERIENCE Abstract: The experience report exposed here presents the description of our course in the Group of Studies in Contemporary Psychic Suffering in the phenomenological perspective, which was promoted by the Scientific Initiation Program (PROIC) of Luciano Feijão College (FLF). We use the phenomenological approach to understand the themes studied, considering the concept of experience, in the search for understanding the meanings attributed to the group by the students. We present as results of the group process: the interest in scientific production, the broad and complex view of contemporary ways of suffering and the narrow involvement as reflected contents. Keywords: Psychic Suffering. Contemporaneity. Study group. Experience. REFERÊNCIAS ALVIM, M. B. Awareness: experiência e saber da experiência. Gestalt-terapia: conceitos fundamentais. FRAZÃO, L. M., FUKUMITSU, K. O. (ORG.). 1ª ed. São Paulo: Summus, 2014. BAUMAN, Z. Vida em fragmentos: sobre ética pós-moderna. Rio de Janeiro: Zahar, 2011.

18 BOHM, V.; MARANGONI, M. C. T. Círculo de leitura: resignificando experiências. Estud. interdiscipl. envelhec., Porto Alegre, v. 16, n. 1, p. 143-157, 2011. CASTEL, R. Nouveaux Concepts en Santé Mentale. Social Science and Madecine, n.22, 1986. DANTAS, M. A. Sofrimento Psíquico: modalidades contemporâneas de representação e expressão. Curitiba: Juruá, 2009. DARTIGUES, A. O que é fenomenologia? São Paulo: Centauro, 2002. FREIRE, P. A importância do ato de ler. São Paulo: Cortez, 1993/1981. FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. FUKUMITSU, K. O. O psicoterapeuta diante do comportamento suicida. Psicologia Psicologia USP. n. 3, v. 25, p. 268-273, 2014. GIDDENS, A. Modernidade e identidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002. LEMOS, P.M., FREIRE, J.C. Os contornos tardo-modernos do sofrimento e do Adoecimento psíquico: proposições éticas para o Centro de Atenção Psicossocial. Psicologia em Revista, Belo Horizonte, v.17, n. 2, p.303-321, ago. 2011. LEMOS, P.M., RODRIGUES, A. G., MONTEIRO, D.A. Sofrimento psíquico e as marcas da crise cultural contemporânea. In: OLIVEIRA, et. al. Sofrimento psíquico e a cultura contemporânea: perspectivas teórico-clínicas. Fortaleza: EdUECE, 2014. LYRA, E. Heidegger e a Educação. APRENDER: cad. de Filosofia e Psic. da Educação. Ano VI, n. 10, p. 33-55, 2008. MESSAS, G. P. Psicopatologia fenomenológica contemporânea. São Paulo: Roca, 2008. MOREIRA, V. O método fenomenológico de Merleau-Ponty como ferramenta crítica na pesquisa em psicopatologia. Psicologia: Reflexão e Crítica. Porto Alegre, v. 17, n. 3, p. 447-456, 2004. OLIVEIRA, et. al. Sofrimento psíquico e a cultura contemporânea: perspectivas teórico-clínicas. Fortaleza: EdUECE, 2014. SAPAHI, F. M., VIANNA, F. C. Uma análise da dependência de drogas numa perspectiva fenomenológica existencial. Análise Psicológica. v. 4, n. XIX, p. 503-507, 2001. TATOSSIAN, A.; MOREIRA, V. Clínica do Lebenswelt: psicoterapia e psicopatologia fenomenológica. São Paulo: Escuta, 2012.