Mesa Redonda: Subjetivações contemporâneas e suas relações com a construção do bem-estar.

Transcrição

1 Mesa Redonda: Subjetivações contemporâneas e suas relações com a construção do bem-estar. Marcelo Naputano (UNESP/Assis; UNICENTRO), Paulo Victor Bezerra (UNESP/Assis; UNICENTRO), Maytê Gouvêa Coleto (UNICENTRO). Uma parte expressiva das ciências humanas tem se dedicado significativamente à caracterização do cenário contemporâneo em seus múltiplos aspectos: econômico, social, político, psicológico, dentre outros. É consenso que importantes transformações estão em curso. O que não é consenso é se assistimos a uma ruptura radical do paradigma bastante conhecido e chamado de Modernidade ou se estamos diante, apenas, de sua nova versão ou até de seu refinamento e radicalização. Vivemos na chamada época da globalização e da aproximação das diversas culturas que, por vezes, parece enriquecedora e, outras vezes, ameaçadora em relação às identidades individuais e coletivas. Os debates teóricos sobre o tema se polarizam a favor ou contra o processo de interligação de povos, nações e Estados Nacionais e colocam em evidência a discussão sobre os possíveis significados e limites da identidade e da cultura que, no passado, eram tomadas como objetos consolidados, seguros e impermeáveis. Assim, esta mesa redonda organiza-se em torno da temática dessas emergentes configurações subjetivas e suas relações com a construção tanto do bem-estar quanto do mal-estar. Nossa proposta dentre essas novas configurações compreende três relatos científicos de trabalhos acadêmicos. A primeira delas focaliza o processo de formação de identidades culturais nos filhos a chamada segunda geração de imigrantes italianos para o Brasil na década de 50, por meio de uma pesquisa de campo realizada na cidade de Pedrinhas Paulista no oeste do interior de São Paulo, oferecendo a possibilidade da compreensão das identidades híbridas que se colocam como uma das importantes construções de subjetividade no mundo atual, profundamente marcado por fluxos ininterruptos de migrações com evidentes resultados na saúde de cada um. O outro trabalho lança-nos o desafio de compreender as subjetividades constituídas numa teia de relações antes notadas como desconexas, e num universo de intensa mobilidade. Partindo da ideia de que o homem contemporâneo está envolto numa pluralidade de intensas estimulações e sedutores convites à urgência do gozo instantâneo, o descarte, a reposição e atualização que regem a produção material da vida regem também as produções subjetivas. O

2 paradigma tecnocrático sufoca quaisquer manifestações de descontentamento com esta vida ou de sofrimento mais severo diretamente no corpo, com a administração de drogas paliativas que tiram do sujeito até mesmo a possibilidade de dar vazão a seus sofrimentos. Por fim, apresentamos um panorama das possibilidades de vivência da maternidade atualmente, destacando a partir da análise de gênero, as contradições, mudanças e permanências nesse campo. Palavras-chave: Subjetividade; Contemporaneidade; Saúde. Identidades culturais em imigrantes de segunda geração: Os filhos de Pedrinhas Marcelo Naputano (UNESP/Assis; UNICENTRO). Resumo: No mundo contemporâneo as migrações internacionais e suas discussões a respeito das identidades culturais são consideradas de grande relevância para a saúde psicológica de seus protagonistas em suas experiências e processo de subjetivação através dos encontros/desencontros com o outro cultural. Todos nós vivemos na chamada época da globalização e da aproximação das diversas culturas que, por vezes, parece enriquecedora e, outras vezes, ameaçadora em relação às identidades individuais e coletivas. Os debates teóricos sobre o tema se polarizam a favor ou contra o processo de interligação de povos, nações e Estados Nacionais e colocam em evidência a discussão sobre os possíveis significados e limites da identidade e da cultura que, no passado, eram tomadas como objetos consolidados, seguros e impermeáveis. A partir de teóricos que tratam da identidade nas atuais condições de mobilidade geográfica, social, cultural e psicológica, a presente investigação focaliza o processo de formação de identidades culturais nos filhos a chamada segunda geração de imigrantes italianos para o Brasil na década de 50, por meio de uma pesquisa de campo realizada na cidade de Pedrinhas Paulista no oeste do interior de São Paulo. Metodologicamente, esta pesquisa se orienta pelos paradigmas contemporâneos emergentes nas ciências, tendo a pesquisa qualitativa e a psicologia social construcionista como principais referências. O locus da pesquisa de campo, a pequena cidade de Pedrinhas Paulista, fundada por imigrantes italianos e, hoje, habitada majoritariamente por seus filhos os filhos de Pedrinhas oferece uma situação muito especial para o estudo e a compreensão de identidades híbridas que se colocam como uma das mais desafiadoras construções de

3 subjetividade no mundo atual, profundamente marcado por fluxos ininterruptos de migrações com evidentes resultados na saúde de cada um. Portanto, em nossa pesquisa, buscamos, ao caminharmos juntos aos nossos filhos de Pedrinhas, especificarmos como a atenção aos processos e às relações sócio-históricas nos permitiram observar as diferenças, as construções culturais e as possíveis identificações como construções sociais em um campo de confrontos e de trocas sociais entre as diversas culturas na produção de novas subjetivações e a produção de um estado diferenciado de sofrimento a respeito das experiências de seus pais. Os nossos filhos de Pedrinhas, como ius migrantes, podem ser considerados um exemplo local de uma construção de uma identidade cultural hibrida como um processo produtor de saúde e bem-estar social. Palavras-chave: Imigração. Culturas. Identidades. A vida light e suas implicações para os estados de saúde e doença Paulo Victor Bezerra (UNESP/Assis; UNICENTRO) Resumo: Uma parte expressiva das ciências humanas tem se dedicado significativamente à caracterização do cenário contemporâneo em seus múltiplos aspectos: econômico, social, político, psicológico, dentre outros. É consenso que importantes transformações estão em curso. O que não é consenso é se assistimos a uma ruptura radical do paradigma bastante conhecido e chamado de Modernidade ou se estamos diante, apenas, de sua nova versão ou até de seu refinamento e radicalização. A falência da racionalidade como grande organizador da sociedade e condutor dos destinos do homem, lança-nos o desafio de compreender as subjetividades constituídas numa teia de relações antes notadas como desconexas, e num universo de intensa mobilidade. O homem contemporâneo está envolto numa pluralidade de intensas estimulações e sedutores convites à urgência do gozo instantâneo. O descarte, a reposição e atualização regem a produção material da vida e, como não poderia deixar de ser, também as produções subjetivas. Se antes o principal deflagrador do sofrimento psíquico era a rigidez moral e a forçada adequação do sujeito às normas sociais, o cenário atual é marcado pelas patologias do excesso, adições, Burnout, pelo tédio e um emblemático esvaziamento do simbólico. Os portadores de transtornos mentais severos que, outrora, eram estigmatizados e confinados a lugares, físicos e simbólicos,

4 específicos, mas contavam com o direito de sintomatizar, surtar, enfim de dar alguma vazão ao sofrimento instalado em seus corpos, encontram, no cenário atual um nãolugar nas praticas efetivas da saúde, ou disputam ferrenhamente um texto nas diretrizes de tais políticas. O paradigma tecnocrático sufoca quaisquer manifestações de descontentamento com esta vida ou de sofrimento mais severo diretamente no corpo, com a administração de drogas paliativas que tiram do sujeito até mesmo a possibilidade de dar vazão a seus sofrimentos. Esta mesa biopolítica prescreve a minimização dos riscos, tão presentes na modernidade e até definidoras desta, incentivando a permanência num estado de mera sobrevivência, propondo uma vida light, cheia de experiências e vivencias diet. Isto posto, o objetivo de nossa discussão é expor alguns dos determinantes dos modos de subjetivação no contemporâneo pensando em seus efeitos para os estados de saúde e adoecimento de uma forma ampla. Palavras-chave: Biopolítica. Contemporâneo. Subjetividade. Saúde. As vivências da maternidade, suas contradições, mudanças e permanências Maytê Gouvêa Coleto (UNICENTRO) Resumo: Nesse trabalho pretende-se apresentar um panorama das possibilidades de vivência da maternidade atualmente, no Brasil, destacando a partir da análise de gênero, as contradições, mudanças e permanências nesse campo. Nesse sentido, é preciso contextualizar as transformações que vem acontecendo na sociedade brasileira no que se refere ao papel das mulheres e suas possibilidades de participação social, bem como, as alterações na organização familiar. Desse modo, será possível visualizar um novo quadro a respeito: às mulheres coloca-se a escolha ser ou não ser mãe, antes destino certo de cada uma, embora, saibamos que uma resposta negativa à pergunta ainda possa gerar certos constrangimentos. Por sua vez, já uma resposta afirmativa deflagra uma série de outras questões quando?, como?, onde?, com quem?. Essas novas condições femininas implicam novas formas de lidar com fatos tão conhecidos da humanidade como o sexo, a concepção, a gravidez, o nascimento, a criação das crianças etc. Assim, surgem novidades tanto no plano das vivências individuais como das coletivas, muitas delas implicando a necessidade de novas políticas públicas e outras garantias. Especificamente na área da saúde, os proclamados

5 direitos sexuais e reprodutivos ainda necessitam de concretização na vida das mulheres brasileiras. Infelizmente, é comum verificarmos todo o tipo de carência, desrespeito e violência no que se refere ao tratamento das mulheres seja no setor público ou mesmo privado de saúde. De modo que observamos, por exemplo, a convivência de políticas públicas de humanização do parto ao lado de um fenômeno recém batizado de violência obstétrica, mas velho conhecido de muitas parturientes no país. Saídas para essas realidades fazem-se urgentes. O trabalho social de gerar filhos não pode ser vivido como um sofrimento, considerando que os maiores ônus ainda sejam atribuídos às mulheres e não divididos socialmente. Cabe compreendermos as reais e atuais demandas das mulheres e também algumas soluções que criativamente vem sendo empregadas para trazer mais conforto, bem-estar e saúde às mulheres que geram e cuidam de crianças. Palavras-chave: Maternidade. Família. Gênero. Política. Saúde.